A seguir, vinha um samba-de-breque, daqueles bem tradicionais, ao estilo do Moreira da Silva, velha guarda carioca etc. Chamava-se
 "Samba do Inferno" e brincava com a Divina Comédia, de Dante Alighieri, 
ao perpetrar piadas políticas daquele momento de 1983 / 1984. Claro, quem faz 
música satírica, sabe (perguntem ao Juca Chaves...), que a data de 
validade das músicas é limitadíssima. Rapidamente uma piada  com tal teor fica anacrônica. e 
tempos depois, perde o imediatismo da situação. Quando é necessário 
explicar a piada no contexto do seu tempo, perdeu mesmo a graça, e fica 
apenas como um objeto para estudiosos, musicólogos e / ou preservadores / resgatadores
 de matéria cultural. Mas, claro, compositores como Laert Sarrumor, Carlos Mello
 e Guca Domênico, entre os principais compositores do Língua de Trapo, 
sabiam disso muito bem, e certamente que não preocupavam-se com a vida curta das
 piadas, ao produzir sempre novidades frescas, ao sabor das atualidades, 
principalmente no mundo sociopolítico. A interpretação desse, 
"Samba do Inferno", foi aquém das músicas anteriores, no quesito da performance;
figurino ou efeitos especiais. Mas a letra da música tinha seus bons 
momentos, com tiradas políticas pertinentes à sua época.
"Samba do Inferno" (Carlos Mello - Lizoel Costa)
Um belo dia, depois do expediente
Quando eu botava no cabide o meu terno
Tive um mau súbito, morri de-repente
Indo parar nas profundezas do inferno
Passei no céu, mas resolveram me barrar
Burocracia lá no céu é o que é que há
É que eu morri sem preencher regulamento
Que dá direito a residir no firmamento
Levei cartão, ganhei status de banido
Pois me levaram direto pro purgatório
Um anjo disse: "Faça um último pedido"
Lhe perguntei onde é que fica o purgatório
Fui sem escalas lá pros quintos dos infernos
Onde Satã me fez assinar um caderno
E disse: "Nego, tudo aqui é organizado"
Teve um rebu, agora tudo é estatizado
Lá no Inferno, todo mundo come alcatra
Só dá ministro, e presidente de nação
Tá entupido de fãs do Frank Sinatra
E de apresentadores de televisão...
"Samba do Inferno" (Carlos Mello - Lizoel Costa)
Um belo dia, depois do expediente
Quando eu botava no cabide o meu terno
Tive um mau súbito, morri de-repente
Indo parar nas profundezas do inferno
Passei no céu, mas resolveram me barrar
Burocracia lá no céu é o que é que há
É que eu morri sem preencher regulamento
Que dá direito a residir no firmamento
Levei cartão, ganhei status de banido
Pois me levaram direto pro purgatório
Um anjo disse: "Faça um último pedido"
Lhe perguntei onde é que fica o purgatório
Fui sem escalas lá pros quintos dos infernos
Onde Satã me fez assinar um caderno
E disse: "Nego, tudo aqui é organizado"
Teve um rebu, agora tudo é estatizado
Lá no Inferno, todo mundo come alcatra
Só dá ministro, e presidente de nação
Tá entupido de fãs do Frank Sinatra
E de apresentadores de televisão...
Tem ruas largas onde até um jato pousa
A maior delas chama Anastácio Somoza
E adivinhe quem por lá comanda a plebe
É o Adolfinho com o Xá Reza Pahlevi
Lá no inferno, as mulheres andam nuas
Mostrando tudo, até o fruto proibido
Mas seu Satã ferra com a gente, senta a pua
É que no inferno nem um homem tem libido
Ontem eu fugi pro paraíso com um sujeito
Que fez o mapa do inferno pelo jeito
Diz que é poeta e cheio dos guéri-guéri
Seu nome acho que é Dante Alighieri...
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