Eu diria que logo no primeiro instante, tratávamos essa diversidade como
 o nosso maior trunfo.
O fato de ser uma banda aberta a várias 
sonoridades, deu-nos muita esperança em alcançar o mainstream, pois 
o nosso espectro artístico estava aberto a um público muito mais 
abrangente do que nossas bandas pregressas mais recentes (Patrulha do 
Espaço e Big Balls, só para citar duas), essas sim, fechadas em um nicho 
restrito do Rock underground. No início, almejávamos agregar os 
fãs menos radicais de nossas bandas de Rock mais recentes, mas poder 
atingir também fãs do Jota Quest; Skank; Nando Reis, e parcelas de 
público jovem adulto, seguidores de MPB então "moderna" (Lenine; Zeca Baleiro, Marisa Monte 
etc), e até o nicho da Black Music.
Com o 
passar do tempo, essa extrema 
abertura estrangulou-nos ironicamente sob um outro sentido, eu diria, não 
artístico, nem 
midiático, mas no setor empresarial, pois sem conseguir alavancar voos 
mais altos, os espaços no underground mostraram-se mínimos para a nossa 
sonoridade. Esse fator foi decisivo para sufocar a banda e matá-la por 
inanição em um momento futuro, mas uma volta seguir-se-ia mais para a 
frente (muito longe para falar disso ainda...). Todavia, acredito que no
 decorrer da narrativa, isso ficará ainda mais claro. Nesses primeiros 
ensaios o clima mostrava-se com muita camaradagem e 
descontração. Foi um bálsamo estar em um ambiente de trabalho leve.
Convencionou-se
 que os ensaios dessa nova banda 
seriam as segundas, por que três de seus cinco membros, atuavam em 
trabalhos musicais paralelos ou como side-man de artistas da MPB, caso 
do guitarrista Tadeu Dias, com Simoninha, ou bandas cover na noite, caso
 de Alex Soares
 e Marcelo "Mancha".
Eu já era bem experiente na época, e sabia que isso 
era um problema e uma verdadeira bomba relógio ativada para explodir na 
frente, mas levantar essa questão ali seria causar um tumulto 
desnecessário, visto que todos os que tinham esses impedimentos 
sentir-se-iam incomodados, e negariam que essa vida dupla poderia 
refletir 
negativamente no destino da banda autoral que estávamos a criar. 
Além
 do mais, eu fui o último a chegar e para ir além, não tenho essa 
característica de fazer cobranças, quem conhece-me, sabe que sou flexível
 e paciente. As primeiras músicas que praticamente já estavam 
prontas, fecharam-se com a minha entrada, e a definição de linhas de 
baixo. Os arranjos foram definidos e logo a seguir, mostrei uma ideia de
 balada que eu tinha, e deveria ter sido aproveitada pela Patrulha do Espaço, mas 
não aconteceu naquele trabalho.
O Xando desenvolveu-a, criou letra e nasceu assim: 
"Amanhã de Sonho". 
O baterista, Alex Soares, em foto de Grace Lagôa, no final de 2004 
Poxa... era uma balada Pop, com condições de tocar no 
rádio, ser trilha de novela, mas ao mesmo tempo de um nível acima de 
qualquer suspeita, para provar a nós mesmos, que poderíamos trilhar um 
caminho interessante, ao almejar voos maiores, sem ter que apelar. No
 entanto, o clima ameno dos primeiros ensaios ficou um pouco tenso 
quando o Xando ligou-me após um ensaio para expor uma situação que 
estava por incomodá-lo, em relação ao vocalista, Marcelo "Mancha". Essa 
situação não era pessoal, tampouco técnica, mas de ordem artística, no 
tocante à identidade dele para com o trabalho.
Após expor os seus motivos, entendi e concordei com a argumentação.
Continua...






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