Quando a noite chegou, nos arrumamos e ficamos à disposição da produção local, pois um link ao vivo de uma emissora de Rádio faria a cobertura do evento, e queriam que participássemos a conceder entrevistas, e a criar motivação em torno de testemunhais para incrementar a divulgação.
Muito bem, seria positivo colaborar nesse 
sentido e quanto mais gente viesse, melhor para a banda, apesar desse 
show em específico, ter sido pago com cachê fixo, sem preocupação com a féria da 
bilheteria. Lembro-me então de uma pequena parafernália 
eletrônica ter sido montada pela rádio, e o repórter a nos abordar para 
fazer perguntas e nos pedir testemunhais.
Pela excitação toda, 
pareceu uma ambientação de show de Rock de banda internacional 
mainstream, e claro que estávamos a apreciar esse, digamos, glamour. 
Finalmente
 liberaram a entrada do público, já com a noite a avançar. Foi de fato
 uma multidão e na pequena estrada vicinal de acesso, deu para se avistar
um congestionamento. De fato, o evento seria um sucesso, pelo que 
estávamos a presenciar. 
Chegou a hora, e a banda de abertura 
iniciou a sua apresentação. Arrancaram bons aplausos da plateia, mas deu
para sentir que a grande massa estava ali para nos assistir, e isso foi sensacional e 
raro para nós, acostumados que estávamos a não ter essa atenção, 
infelizmente, e foram os ossos do ofício de uma banda a trabalhar no patamar underground.
Mas
 se tornara preocupante, no entanto, que na aparência, parecia ser um público 
típico para bandas de Heavy-Metal, pois o visual das pessoas, em sua 
imensa maioria, se mostrava como um autêntico autêntico uniforme: a cada dez, dez usavam 
camisetas pretas com estampas de bandas de Heavy-Metal. Foi um 
indício, mas não podíamos formular um preconceito baseado em uma mera constatação meramente visual. Se estavam ali, se vieram de várias 
cidades vizinhas em excursões (a denotar interesse e sacrifício), foi por que gostavam de nossa banda, não acha, leitor?
O Velho Lobo encerrou 
a sua performance e após alguns ajustes feitos pelos roadies, nós subimos 
enfim no palco. A excitação foi enorme, o público se mostrou bem grande. Com 
gritinhos típicos, aplausos e aquela sensação de adrenalina típica de 
início de show, começamos... 
Todos os pontos chave de nosso show, onde estávamos acostumados a provocar reações de euforia, não contiveram nenhum grande respaldo por parte deles. Sentíamos que nos olhavam com perplexidade, até pelo nosso visual, o que foi bastante decepcionante para nós também, pois a nossa vibração que emitíamos, definitivamente, não foi igual à deles.
Quando anunciamos que o show estava a se aproximar do seu final, um coro surgiu e ganhou força entre o público: "Olho animal, Olho animal, Olho animal". Queriam, naturalmente, ouvir a música que tocara insistentemente na emissora de rádio de Fernandópolis, e claro, gostavam da Patrulha do Espaço que chegara à eles, na sua fase mais pesada, através dos discos: "Patrulha 85" e "Primus Inter Pares", praticamente álbuns de Heavy-Metal em sua essência.
Não conheciam a história da banda a fundo, a fase inicial com Arnaldo Baptista, nos anos setenta, tampouco a fase do Power-Trio que fora prolífica... e muito menos entenderiam a proposta do "religare" que esta formação trazia em seus anseios artísticos, desde 1999.
Em suma, conheciam a fase mais obscura (ao meu ver, não quero tecer juízo de valor e contrariar quem não pensa assim e gosta dessa fase pesada da banda), com uma Patrulha do Espaço mais pesada e a flertar com o Heavy-Metal. Estava explicada a expectativa criada, e a perplexidade por nos ver a usarmos calças boca de sino e bata indianas ao sabor hippie, e a tocarmos as músicas de intensa inspiração "1960 & 1970", provenientes do álbum Chronophagia, e as clássicas da banda, incluso da fase Arnaldo Baptista.
Em nenhum momento nos hostilizaram, mas a 
decepção ficara nítida. Achavam que destilaríamos o repertório dessa fase 
pesada da banda, mas nós, pelo contrário, estávamos com a proposta sonora e
 visual, completamente antagônica!
Bem, o Rolando Castello Junior teve presença 
de espírito e no auge do coro por "Olho Animal", apanhou o microfone e 
pediu desculpas, ao dizer que essa canção não estava no repertório, mas 
voltaríamos em breve, e assim prometeu tocar para eles. Um princípio de 
ovação foi ouvida, a denotar que haviam se resignado com tal frustração e
 compraram a promessa do baterista e membro original da fundação da 
banda. De fato, um ano depois voltamos à Jales e cumprimos a promessa, mas isso eu conto depois... 
O
 público foi a escoar lentamente do local, mas para nós, ficou um sentimento de 
estranheza muito grande. Tocar para um público que nutre outras 
expectativas é uma possibilidade que pode ocorrer na carreira de qualquer artista, mas 
nesse caso, a estranheza fora mútua, pois tanto nós, quanto eles, o 
público, estivemos estupefatos pelo falta de sincronia, na medida em que 
ambos, esperavam uma grande festa e por motivações diferentes, ficou um 
gosto de frustração para todo mundo. Pelo esforço todo da produção em ter divulgado tão bem o espetáculo, 
esperávamos um público quentíssimo, a reagir exatamente como o público 
de nossos melhores shows, desde 1999. 
As condições de som e iluminação foram boas, o
 volume de pessoas ali presente, se mostrou enorme, e a expectativa gerada pelo show, muito 
grande, portanto, haveria de ser o cenário ideal que esperávamos. E da parte deles, o 
público, esperavam a Patrulha do Espaço pesada dos discos que mencionei e sonhavam
 com os riffs de "Olho Animal" e "Robot", por exemplo. Foi, portanto, um choque térmico para ambos, e tal falta de sinergia, transformou toda aquela expectativa em uma sensação de frustração generalizada. 
Todavia, a noite/madrugada ainda reservar-nos-ia mais algumas surpresas...







 
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