domingo, 31 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 128 - Por Luiz Domingues

Uma panorâmica da banda em ação! Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Catia Cristina/ICBR

Que sensacional foi quando tocamos a música, "Desprogramação", com bastante suavidade, bem a seguir a cartilha do Folk-Rock sessentista, ou seja, foi uma delícia executá-la na sua plenitude ao melhor sabor do Rock Rural, portanto, a honrar uma das nossas múltiplas influências!

Eu que já adorava essa canção quando o Laert nos mostrou assim que a compôs por volta de 1977, fiquei muito feliz quando nessa fase pós-2020, ela foi relembrada quase que na sua íntegra (somente um verso esquecido foi substituído por outro criado em 2024), devidamente rearranjada e nesse dia tocada ao vivo no palco do Instituto Cultural Bolívia Rock. 

É verdade que nós a havíamos tocado durante a nossa participação no programa Rádio Matraca, bem recentemente, porém, ao vivo perante público, foi a primeira vez mesmo, inclusive a se contabilizar a fase inicial da banda nos anos 1970.  

"Desprogramação" - Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=hrQa4YT8Zn4

Carlinhos Machado ao fundo na bateria, Laert Sarrumor e eu (Luiz Domingues) em ação. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Catia Cristina/ICBR

Com a receptividade a se mostrar enorme da parte da audiência, nos soltamos ainda mais. Então chegou a hora de tocarmos "Serena". música que foi a primeira que trabalhamos na história da banda, bem no começo das nossas atividades em abril de 1976, antes mesmo do Laert ingressar na formação. A ideia original era do Osvaldo e posteriormente o Laert contribuiu para se tornar coautor. Nesta versão pós-2020, eu e Wilton trouxemos contribuições e a feição da música mudou certamente em relação ao seu formato antigo, porém, a manter fidedignas as suas raízes setentistas genuínas, inclusive a acrescentar partes inspiradas na vertente do Rock Progressivo, ou seja, com o Boca do Céu a soar como aspirara nos anos setenta, finalmente!

"Serena" - Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=jXBgqOr3rV8

Chegara o grande momento de show que qualquer banda que já tem um sucesso na manga usufrui e neste caso, a nossa primeira música gravada oficialmente, "1969", representou para nós esse momento especial no qual algumas pessoas tendem a se arrepiar na plateia. Claro que estou a exagerar, a banda estava longe ainda de ter esse apelo popular maciço, mas sim, muita gente ali presente reconheceu a canção aos seus primeiros acordes, portanto, essa foi uma outra marca admirável que essa banda alcançou, enfim.

É bem verdade que tivemos um momento atrapalhado, pois o clip que foi exibido no telão, entrou indevidamente com o áudio ativado e assim, uma estranha repetição ocorreu nos seus instantes iniciais a gerar um desconforto para a banda, principalmente ao Laert que a interpretava como voz solo. 

"1969" - Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e acervo: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=YGsoyeK5zd8

Para encerrar e justificar a falta de mais músicas autorais preparadas para tocarmos ainda, eis que homenageamos uma banda clássica do Rock brasileiro dos anos setenta, entre muitas que adorávamos e que cala fundo principalmente para o Laert, fã ardoroso de um de seus ex-membros, o saudoso, Tico Terpins. E assim tocamos com muito prazer a música: "Boeing 723897" do Joelho de Porco, com vigor e prazer pela lembrança que tanto embalou o Boca do Céu naquela década.

"Boeing 723897" (Joelho de Porco) - Boca do Céu no ICBR de São Paulo. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=8ZGWKeXNKEE

Flagrantes do Boca do Céu e sua convidada especial, no palco do ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Acervo e cortesia: Osvaldo Vicino. Still de vídeo

Para encerrar, o Kurandeiro-mor, Kim Kehl subiu ao palco e também foi convidada a participar do coro, a proprietária do Instituto Cultural Bolívia Rock, Catia Cristina. E assim, tocamos o clássico: "Concheta" do Língua de Trapo, para delírio generalizado e a provar a relação umbilical que o Boca do Céu mantém com o Língua de Trapo, ou seja, tudo faz parte da anatomia buco maxilo facial de qualquer forma. 

"Concheta" (Língua de Trapo) - Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=7T8q3eFdq8Q

Boca do Céu, com os convidados especiais, Kim Kehl (segundo da esquerda para a direita) e Catia Cristina (a usar calças vermelhas), a tocarmos o clássico do Língua de Trapo": "Concheta". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Encerrada a nossa apresentação em altíssimo astral, saímos satisfeitos ao extremo do palco. Que prazer foi colocar essa banda no palco novamente e desta feita com o padrão de qualidade sonora que não tivemos como apresentar nos anos setenta.

O agradecimento final! Da esquerda para a direita: O convidado especial, Kim Kehl, Wilton Rentero, Laert Sarrumor, Catia Cristina (a proprietária do ICBR de São Paulo), Renata "Tata" Martinelli. eu (Luiz Domingues), Carlinhos Machado e Osvaldo Vicino. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Acervo e cortesia: Catia Cristina/ICBR. Click: Deco Wanderley Konayagui

De minha parte, a satisfação foi imensa, com uma sensação quase indescritível, que sim, manteve o sentimento do dever cumprido, mas foi além com um fator maior, difícil de ser exprimido em palavras, a se tratar de uma espécie de bem-estar comigo mesmo a se revelar como uma experiência muito agradável.

Mais flagrantes do show: Foto 1: Wilton Rentero e a cantora convidada, Renata "Tata" Martinelli. Foto 2: Laert Sarrumor, Carlinhos Machado ao fundo na bateria, eu (Luiz Domingues) e Osvaldo Vicino. Foto 3: Na mesma sequência da foto anterior. Foto 4: Carlinhos Machado em ação. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Bem, reflexões emotivas e/ou sensoriais a parte, eu precisei ser ligeiro, pois a minha banda, Os Kurandeiros, precisa subir ao palco e entre outras coisas, eu precisei trocar de figurino para me apresentar com outra identidade visual e me recompor, pois estava exaurido. Apesar disso, melhor preparado fisicamente do que em outras ocasiões recentes nas quais eu sentira o peso da idade, apesar do calor e do cansaço, físico e emocional neste caso, fui me preparar no camarim, com relativa tranquilidade para poder voltar ao palco e atuar com Os Kurandeiros, inclusive para cumprir um show de maior extensão, com quase uma hora e meia em relação ao show de choque de cerca de trinta e cinco minutos que fizemos com o Boca do Céu.

E se eu estava cansado, imagine então o Carlinhos que tocara com duas bandas e faria o show maior a seguir.  

Já no momento pós-show, tivemos boas surpresas, inclusive com velhos amigos e incentivadores do Boca do Céu nos anos setenta, presentes no Instituto Cultural Bolívia Rock a nos fornecer uma dose maciça de emoção!

Bem na frente, as filhas de Adelaide Giantomaso, Juliana  e Renata Miranda e a própria Adelaide a vestir a camiseta azul do Boca do Céu. Sentado do lado direito, Eduardo Viscome. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

E além desse reencontro incrível com pessoas que estiveram conosco nos anos setenta, recebemos todo o carinho de diversos outros amigos e inclusive da proprietária do Instituto Cultural Bolívia Rock, a simpática Catia Cristina, que nos tratou de uma forma esplêndida.

Na primeira foto, Renata Miranda, Wilton Rentero, Osvaldo Vicino, Laert Sarrumor e Adelaide Giantomaso. Foto 2: O comunicador, Rogério Utrila (que apresentou o nosso show), Laert Sarrumor e o exímio guitarrista, Adilson Oliveira. Atrás, o guitarrista Marcos Mamuth conversa com Wilton Rentero. Foto 3: Eu (Luiz Domingues), Laert Sarrumor, Catia Cristina, Marcia Oliveira (esposa do Laert Sarrumor e empresária do Língua de Trapo e Boca do Céu) e o percussionista do Língua de Trapo, Marcos Martins. Foto 4: Pedro Paulo Vicino e seu pai, Osvaldo Vicino. Foto 5: Clicks, acervo e cortesia: Weber Japoneis 

Na primeira foto, o casal de amigos músicos, Elias e Ariani Salari com Osvaldo Vicino. Na segunda foto, o casal de amigos, Maria Cecília Lohner e Paulo Peres Bergamo, o músico, Isidoro Hofacker e sua esposa, a cantora Ana Gallian e Catia Cristina. Foto 1: Acervo e cortesia: Osvaldo Vicino. Click: Pedro Paulo Vicino. Foto 2: Click, acervo e cortesia: Weber Japoneis

Três componentes do Boca do Céu a autografar set list do Show para ser guardado no museu do ICBR: Laert Sarrumor (com Wilton Rentero próximo e ao fundo, o filho de de Osvaldo Vicino, Pedro Paulo Vicino, na foto 1. Eu (Luiz Domingues) e Catia Cristina na foto 2 e na foto 3: Osvaldo Vicino. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. Acervo e cortesia: Catia Cristina./ICBR. Clicks 1 e 3: Catia Cristina/ICBR Click 2: Deco Wanderley Kanayagui  

E ainda tivemos o prazer, eu e Laert de visitar e autografar fotos nossas oriundas de shows do Língua de Trapo e no meu caso em específico, da Patrulha do Espaço, clicadas pelo saudoso, Edgar Franz, o popular "Bolívia", cuja viúva, Catia Cristina, mantinha tal museu muito bem cuidado. 


Eu, Luiz Domingues a assinar a foto clicada pelo saudoso Edgar Franz, popular "Bolívia", durante um show da Patrulha do Espaço que ele cobriu. e na segunda foto, a viúva de Edgar Franz "Bolívia, e proprietária do ICBR, Catia Cristina, celebra a minha assinatura na foto, peça do museu fotográfico do casal. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Acervo e cortesia: Catia Cristina; Clicks: Deco Wanderley Kanayagui 

Foi uma notada memorável e acredito que valeu a pena esperar quarenta e seis anos para acontecer essa volta triunfal do Boca do Céu ao palco.  

Laert Sarrumor também a autografar fotos de shows clicados pelo saudoso "Bolívia", o grande Edgar Franz. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Catia Cristina/ICBR.

Satisfeitos ao extremo pelo bom desempenho que tivemos, felizes pela receptividade e honrados com a camaradagem generalizada que ocorrera entre as bandas, acreditamos que o saldo foi muito além do que esperávamos. Sobrou emoção nesse dia para a nossa "velha nova" banda. Como se dizia nos anos setenta: "Hoje é dia de Rock" e esse 17 de fevereiro de 2024 entrou para a história da banda como tal afirmativa a se provar certeira nesse aspecto.

Nos bastidores do show, Laert Sarrumor e Adelaide Giatomaso, colegas de colégio no ano de 1977 e ela, então namorada do primo de Wilton Rentero, foi quem indicou para a nossa banda a persona de Wilton para entrar na nossa formação na ocasião e nos fotografou, a se constituir tal peça da única foto da qual dispomos na ocasião para registrar a nossa atuação nos anos setenta. Que emoção para todos foi tê-la na plateia a nos prestigiar, tantos anos depois. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Weber Japoneis

Antes do show começar, eu já havia sido avisado que a Adelaide Giantomaso estava presente na casa junto de suas duas filhas e o namorado de uma delas. Já na primeira música, eu a avistei na plateia e sinalizei para ela. Fiquei muito feliz com a sua presença. Namorada e depois esposa até os dias atuais de 2024 do primo de Wilton, Sidnei, foi ela que ao se tornar colega de escola do Laert em 1977, indicou Wilton Rentero para adentrar a formação da nossa banda e embora não haja a confirmação da parte de ninguém, nem dela mesma, lhe é atribuído o feito de haver "clicado" a única foto oficial que temos da nossa banda registrada nos anos setenta, ou seja, que tesouro incomensurável para o nosso grupo! 

Eduardo Viscome e Amaury Martins, dois grandes incentivadores do Boca do Céu nos anos setenta e que foram nos prestigiar em 2024! Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Weber Japoneis

E por falar em mais presenças incríveis ali a nos prestigiar, devo registrar também as personas de Eduardo Viscome e Amaury Martins, ambos testemunhas oculares e auditivas dos nossos esforços juvenis empreendidos nos anos setenta para alavancar a carreira do Boca do Céu. Personas recorrentes nos nossos ensaios e também nas poucas apresentações que fizemos naqueles anos, foi com alegria imensa que os vi a nos prestigiar no ICBR neste momento de 2024.

Mais flagrantes do show: Foto 1: Wilton Rentero. Foto 2: Carlinhos Machado. Foto 3: Osvaldo Vicino. Foto 4: Luiz Domingues. Foto 5: A cantora convidada, Renata "Tata" Martinelli. Foto 6: Laert Sarrumor, com Renata "Tata" Martinelli ao seu lado. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Mais novas alvissareiras vieram logo a seguir! Acertamos a entrada da banda no estúdio para muito breve e assim, estaríamos ainda em março de 2024 a adentrar as dependências do estúdio Prismathias de São Paulo e sob a condução do ótimo, Danilo Gomes Santos, iniciaríamos a gravação de um novo lote de canções e a primeira escolhida foi: "Rock do Cometa".

Continua...

quarta-feira, 27 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 127 - Por Luiz Domingues

Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, a nossa convidada especial, Renata "Tata" Martinelli, Laert Sarrumor, Carlinhos Machado (atrás na bateria e encoberto), eu (Luiz Domingues), e Osvaldo Vicino. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Quando subimos ao palco, a confiança que experimentamos foi muito boa. O fato do Carlinhos Machado ter entrado oficialmente na banda se mostrou decisivo no sentido de que através da sua experiência, ele dividiu comigo e Laert a missão de dar respaldo para Wilton e Osvaldo, ambos com menos rodagem que nós. 

Dessa forma, ao dar segurança nas contagens, propor a pulsação e segurar nas suas mãos o andamento, já foi um reforço e tanto. Fora a segurança na condução, a manter a banda tranquila mediante um pilar na retaguarda para que todos pudessem tocar seguros e mais um dado que eu conhecia muito bem a bordo da nossa atuação com Os Kurandeiros: os backing vocals bem afinados que ele costumava fazer, que sempre enriqueciam demais as apresentações. 

Havíamos convidado a cantora d'Os Kurandeiros, Renata "Tata" Martinelli para atuar conosco na apresentação. Ela que brilhantemente gravou backing vocals para a canção "1969" que lançamos em 2023, mas por um conflito de agendas, não conseguiu fazer parte de nossos ensaios, se preparou conforme foi possível para esse show, apenas a escutar vídeos de nossos ensaios e trocar informações com o Laert pelas redes sociais. 

Na primeira foto: Laert Sarrumor no primeiro plano, com Renata "Tata" Martinelli e Wilton Rentero ao seu lado. Na segunda foto: Laert Sarrumor e eu (Luiz Domingues) ao seu lado. Na foto número três, vemos Wilton Rentero e Renata "Tata" Martinelli. Na foto número quatro, Laert Sarrumor na linha de frente com Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues) na retaguarda. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2027. Click, acervo e cortesia: Marcos Viana "Pinguim"

Começamos com "Rock do Cometa" e a música fluiu muito bem. Com segurança generalizada, balanço Rock'n' Roll e backings bem cumpridos, a música deu o cartão de visitas da banda com segurança, como música de abertura do show. Que maravilha tocarmos essa canção surgida pela criação do Laert lá no longínquo ano de 1977, e que tanto sonhamos executar ao vivo nos shows de Rock que nunca tivemos a oportunidade de realizar na sua plenitude naquela época e que neste instante de 2024, conseguimos enfim, com a devida desenvoltura!

Eis um trecho do "Rock do Cometa". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Lucas Costa Pinheiro

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=tmcwwqZK6eE

No entanto, eis que ainda inexperiente no uso de pedais de efeitos e ainda por cima a usar um módulo com muitos "presets" e não uma pedaleira tradicional, o Wilton Rentero não controlou corretamente o pedal de volume e assim, o seu solo saiu com um volume bem baixo, inclusive aquém do volume que ele ajustara para tocar a base das músicas.

Logo que a música se encerrou e recebemos os primeiros aplausos e gritos de euforia da parte da plateia, algo não usual ocorreu, pois ante tal dificuldade, observada, O Laert tomou uma atitude de improviso quando nos conclamou a tocarmos de pronto o trecho final novamente, com o Wil alertado a aumentar o volume. Confesso que na hora que o Laert tomou tal atitude inesperada, eu temi pelo pior, pois além da situação vexatória do erro ter sido exposto publicamente sem necessidade do público tomar ciência da nossa falha, o ato de exaltar a banda, que tinha dois membros inexperientes nas suas fileiras, para começar a tocar de novo sob um determinado trecho como se fosse um ensaio, se mostrou uma temeridade na minha imediata percepção, pois a falta de malícia de palco poderia gerar um desastre. De fato, tentamos de pronto retomar tal trecho alardeado e ficou caótica a tentativa de tocarmos tal detalhe novamente. Foi quando o Carlinhos tomou as rédeas da situação, deu o sinal da contagem e nós entramos certo, e desta feita, o solo ficou bem melhor, é verdade, mediante o ajuste do volume melhor ajustado.

Depois no camarim, o Laert me disse que tomara essa atitude inesperada para que o Wil não se prejudicasse e por conseguinte a banda, pois ele de fato, controlou melhor melhor o seu pedal doravante e assim, o show como um todo não foi cumprido com tal falha estrutural.  Na hora eu aceitei a argumentação e raciocínio dele, embora no meu caso eu não teria feito o mesmo. Penso que no intervalo da primeira para a segunda música, um recado passado discretamente para o Wil, teria tido o mesmo efeito.

Mas sem problema, pois o público levou na brincadeira tal princípio de tumulto ali estabelecido e o show prosseguiu com muita desenvoltura, a engrenar de vez, e ir até o seu final de uma forma muito boa. Portanto, mesmo a discordar do procedimento, admito que tal gesto tenha surtido um efeito positivo para a continuidade da nossa performance.

Momentos mágicos do show! Foto 1: Osvaldo Vicino. Foto 2: Eu (Luiz Domingues). Foto 3: Carlinhos Machado. Foto 4: Wilton Rentero. Foto 5: a nossa convidada especial, a fadinha d'Os Kurandeiros: Renata "Tata" Martinelli. Foto 6: Laert Sarrumor. Foto 7: Uma panorâmica da banda em ação, com o telão a exibir o emblemático anúncio do "tatu"da revista Rolling Stone brasileira dos anos setenta, uma das referências das quais o Laert cita na letra da canção "1969". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Adveio então "Astrais Altíssimos". Na minha mente, passou a ideia de que tocáramos essa música no primeiro show da banda em fevereiro de 1977 e agora estávamos ali a tocar de novo, que constatação incrível a ser anexada ao quadro de recordes que a nossa banda passou a bater, por conta do resgate que assumimos realizar!

Pois foi com um imenso prazer que eu verifiquei que a executamos com vigor e muita graciosidade. E mesmo que soasse à maioria das pessoas ali presentes como uma grande novidade pelo seu caráter desconhecido até então, a música provocou risadas pelo fato do seu refrão usar do humor em meio a um jogo de palavras que induz a um efeito de compreensão em torno da escatologia, ainda que na prática o Laert tenha feito uma brincadeira com a tabela periódica da química.

Eu já podia mensurar o quanto essa música haveria de explicar para muitos ouvintes novos do Boca do Céu sobre como se deu o desenvolvimento do trabalho do Língua de Trapo a posteriori. Ou seja, a veio satírica do Laert como compositor, nós já conhecíamos desde 1976, cerca de três anos antes da movimentação preliminar que desencadeou o surgimento do Língua de Trapo e a posteriori quando explodiu ao grande público.

"Astrais Altíssimos" - Boca do Céu no ICBR de São Paulo - 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Of6LTknb9Jg

Perfeitamente desenvoltos no palco e a recebermos a ótima receptividade da parte do público, seguimos em frente e chegara a vez de colocarmos a nossa pérola Folk-Rock em destaque, momento esse eu haveria de desfrutar a me sentir a tocar nos anos sessenta com o Arlo Guthrie, The Band e Lovin' Spoonful para citar três bons exemplos e por que não (?), com Bob Dylan... 

Continua...

sábado, 23 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 126 - Por Luiz Domingues

O palco a ser preparado para um grande momento do Boca do Céu na sua versão do III milênio! Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Chegamos ao ambiente do Instituto Cultural Bolívia Rock com a confiança bem grande de que estávamos bem preparados e certamente que o fato do show ter a presença de bandas amigas e mais do que isso, com certos componentes a fazer parte de mais de uma banda, nos deu a tranquilidade definitiva sobre estarmos amplamente respaldados.

O fato de haver amizade estabelecida por múltiplas conexões entre os componentes das três bandas, foi a garantia de que o amparo seria automático e assim ocorreu.

Carlinhos Machado, nosso baterista e também d'Os Kurandeiros, era igualmente baterista da banda "Los Interessantes Hombres sin Nombre", portanto, teria uma participação muito além da órbita artística, mas a se revelar verdadeiramente atlética nessa noitada. Eu mesmo, também teria uma jornada não tão intensa quanto à do Carlinhos Machado, todavia, de característica dupla, pois tocaria com o Boca do Céu e com Os Kurandeiros.

Wilton Rentero a se preparar no soundcheck, com a presença da técnica de som da casa, Talita, de costas ao fundo. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Os guitarristas d'Os Kurandeiros, meus amigos e colegas, Kim Kehl e Phil Rendeiro ajudaram muito os nossos guitarristas, Osvaldo Vicino e Wilton Rentero e assim, o soundcheck foi cumprido com extrema cooperação e camaradagem. 

Wilton Rentero e Kim Kehl em clima de camaradagem Rocker total! Boca do Céu no ICBr de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Encerrada essa fase de preparação, a banda de nossos amigos, "Los Interessantes Hombres sin Nombre" fez o seu trabalho de soundcheck e ficou pronta para entrar em cena. A casa já estava pronta para abrir as suas portas ao público e o clima de animação era enorme da parte da nossa "velha nova banda".  

Fomos muito bem recebidos também pela proprietária da casa e por todos os funcionários. Catia Cristina, sempre se mostrou como uma fã incondicional d'Os Kurandeiros e do Língua de Trapo, portanto estava esfuziante por receber Os Kurandeiros e o Boca do Céu, sabedora que eu e Laert Sarrumor tivemos o Boca do Céu como banda primordial da carreira de ambos e a registrar ali no palco de seu estabelecimento uma marca histórica, ou seja, a sua grande volta aos palcos, após um longo hiato a conter longos quarenta e seis anos (1978-2024).

O público começou a entrar nas dependências do Instituto Cultural  Bolívia Rock e logo o grupo "Los Interessantes Hombres sin Nombre" subiu ao palco.

Na primeira foto, o excelente guitarrista, Marcos Mamuth. Na segunda, o baterista mais requisitado de São Paulo, Carlinhos Machado. Na terceira, o excepcional baixista, Ayrton Mugnaini Junior e na quarta foto, uma panorâmica do grupo "Los Interessantes Hombres sin Nombre" em ação no palco. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Encerrado o ótimo show do "Los Interessantes Hombres sin Nombre", com as suas canções cheias de identidade Rocker/Bluesy/Soul, nos preparamos para subir ao palco. 

Fato inacreditável, desde 1978 não fazíamos isso como unidade de banda de Rock e com essa formação do quarteto original, desde 1977, quando eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino, Wilton Rentero e Laert Sarrumor estivemos no palco do ginásio de festas do Palmeiras, para participarmos de duas fases de eliminatórias do festival Fico nesse citado ano.

Portanto, quanta emoção por reunirmos a velha tropa de novo em um palco e desta feita com o objetivo de fazer um show de Rock de verdade. Que momento para essa banda, para esses velhinhos Rockers do século XXI e no meu caso em específico, que alegria chegar no final da carreira e da vida com esse resgate cumprido!

Continua...