domingo, 31 de março de 2013

Autobiografia na Música - Boca do Céu / Bourréebach - Capítulo 55 - Por Luiz Domingues


De volta a falar da minha banda, infelizmente, nos últimos meses de 1978, as faltas do Osvaldo chegaram em um patamar insuportável, e na iminência do prazo limite para enviar nosso material ao festival do Teatro Paulo Eiró, resolvemos desistir de enviá-lo. Ficamos chateados mais uma vez, pois caracterizou mais uma derrota. Ao mesmo tempo em que eu e Laert melhorávamos, a banda andava para trás, com a desanimação do Osvaldo, e a falta de comprometimento mais incisivo do Zé Claudio. Este último, não faltava nos ensaios, mas era nítida a percepção que tínhamos, eu e Laert, que ele não vestia a camisa da banda, e estava ali só a observar o que poderia ocorrer. Tudo bem, era um direito dele pensar e agir assim, mas não era o que desejávamos, ainda mais com o Osvaldo a entrar em uma fase de distanciamento de nossos ideais. Dessa forma, resolvemos adotar o mesmo procedimento que havíamos tido em relação ao baterista, Fran Sérpico, no início do ano, e marcamos um encontro com o Osvaldo, para que ele esclarecesse o motivo de suas faltas constantes. E tudo revelou-se da pior maneira para a nossa banda... ele foi honesto, e disse que não estava mais com vontade de tocar, pois estava a namorar, e assim, por focar em outras motivações na sua vida, naquele momento. Portanto, foi mais que um distanciamento da banda, ele estava a distanciar-se do próprio Rock, como instituição, ideal e modo de vida. Nesses termos, impossível contra-argumentar, e foi assim, que o membro fundador, e iniciador da primeira fagulha, partiu. Fiquei chateado, claro. Na prática, o Osvaldo foi o amigo que abriu-me a primeira porta na música. Se isso borbulhava loucamente na minha cabeça há anos, concretamente a descrever, só fui engajar-me mesmo a partir do convite dele, em um dia qualquer de abril de 1976. Antes, apenas tinha o sonho na cabeça, e formulações fictícias a partir de 1975, quando formei duas bandas que nunca chegaram nem perto de um instrumento musical (Satanaz e Medusa). Aquilo fora apenas uma ideia na cabeça, e embora chegássemos a compor horríveis músicas, só na base de melodias e letras bisonhas, sem a intervenção de instrumentos, foi só a partir daí, que fui engajar-me com a música (Boca do Céu), pois o Osvaldo tocava e tinha uma guitarra "de verdade"... mas, fazer o quê ? O amigo entrou em outra expectativa, cortou o cabelo, passou a andar vestido como o John Travolta, e a frequentar Discothéques. Se perdera o vínculo primordial de 1976 (na verdade não perdeu, muitos anos depois eu tive o prazer de saber disso), nada poderíamos fazer, a não ser acatar sua decisão, e tocar a vida para a frente. O Zé Claudio, por incrível que pareça, surpreendeu-nos, pois aceitou prosseguir, mesmo com a saída do Osvaldo. Dele que tínhamos a impressão de ser um rapaz alheio, ficou essa surpresa positiva. 
As garotas também ficaram divididas com a saída do Osvaldo. Se com ele, as coisas estavam devagar, com a desclassificação prévia do FICO, e a nossa própria desistência em relação ao festival do Teatro Paulo Eiró, agora abatera-se um desânimo, também sobre elas. Dessa forma, nem Eva, nem Pollyana Alves ficou... perdemos Janis Joplin e Karen Carpenter, de uma só vez...
Ao final do ano de 1978, o Laert estava também preocupado com o vestibular, e assim, a precisar estudar, e eu às voltas com o alistamento militar. Estava na quarta chamada, e já havia até tirado medidas de farda; capacete e coturno. Uma quinta e decisiva chamada estava marcada para janeiro de 1979, e mostrava-se como uma perspectiva sombria que poderia atrapalhar-me, e muito, nos meus planos para seguir na banda.
E assim encerrou-se 1978, um ano muito difícil para o Boca do Céu / Bourréebach, onde só tivemos revés; adversidades; perdas, e regredimos em muitos aspectos, praticamente a perder a evolução que tivéramos em 1977.


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sábado, 30 de março de 2013

Autobiografia na Música - Boca do Céu / Bourréebach - Capítulo 54 - Por Luiz Domingues


Chick Corea também foi incrível, embora mais centrado no Jazz Fusion. O virtuosismo dele, hipnotizou a plateia e os solos ao sintetizador Mini-Moog, principalmente, arrancou uivos dos rockers presentes na plateia, para desconforto de alguns jazzistas arrogantes, e preconceituosos.
O show do tecladista suíço, Patrick Moraz, foi centrado no seu disco solo, denominado : "I". O grande atrativo de sua apresentação residiu pelo fato em ter tido uma meteórica passagem pelo “Yes”, a gravar o álbum, "Relayer". Claro, se não fosse por isso, não teria despertado todo esse interesse, pois sua carreira solo só tinha alguma relevância por essa ligação, e jamais por ser ex-tecladista da obscura banda Prog-Rock, suíça, "Refugee". Pairava também no ar, a expectativa por ele ter envolvido-se com a banda Prog Rock carioca, "Vímana", que causou furor no meio rocker brazuca. E um fato inusitado ocorreu no show do Patrick Moraz : uma participação do guitarrista, Sérgio Dias, dos Mutantes, deixou um mal-estar no ar. Quando o Sérgio entrou no palco, ficou nítida a impressão que aquilo fora improvisado, com roadies a empurrar o amplificador às pressas, e o Sérgio a surgir inesperadamente, a plugar sua guitarra, e sair a solar a esmo. O Patrick Moraz pareceu-nos estar assustado com a situação, e denotou-nos a impressão de que fora surpreendido, e que sobretudo, não gostara da intervenção. Mas particularmente, mesmo com esse mal-estar instaurado, achei que foi o ponto alto da apresentação (pasmem !), que estava entediante até então, com Moraz só a tocar piano acústico, acompanhado de percussionistas de uma Escola de Samba, conduzida pelo músico brasileiro, Djalma Correa. Fãs do Yes frustraram-se com a insipidez musical de Moraz nessa apresentação.


Achei na internet, essa resenha escrita por vários jornalistas da saudosa revista : "Rock, a História e a Glória", sobre o Festival de Jazz de SP' 1978 :

http://www.clubedejazz.com.br/noticias/noticia.php?noticia_id=695

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Autobiografia na Música - Boca do Céu / Bourréebach - Capítulo 53 - Por Luiz Domingues


Concentramos nossas forças no objetivo em participarmos do Festival do Teatro Paulo Eiró, a manter a mesma dinâmica de ensaios.


Conforme já havia comentado anteriormente, nosso guitarrista, Osvaldo Vicino, dava sinais de dispersão já há algum tempo, mas nesse segundo semestre, parece que degringolou mesmo, com sistemáticas faltas, e um ar desinteressado nos ensaios, a contrastar com o comportamento norteado pela força de vontade, que exibira desde o começo, em 1976. A gota d'água deu-se no dia em que íamos para o ensaio, a caminho da residência da Pollyana Alves, em um sábado, e o vimos  a caminhar em uma rua próxima à Av. Paulista, com cabelos cortados, e a usar um figurino ao estilo do John Travolta. Dias depois, ele confessou-nos que dirigia-se à uma Discothèque... suportamos tal situação mais um pouco, mas a ruptura estava anunciada.
Nessa época (setembro de 1978), fui com o Laert assistir alguns shows do Festival de Jazz de São Paulo, que causou muito alarde à época. Foi uma edição do famoso Festival de Montreux / Suíça e muitas atrações internacionais excelentes apresentaram-se.
Eu e o Laert (encontramo-nos com Pollyana Alves e sua irmã, a super simpática, Eliana Rímoli Alves, também ali no ambiente do festival), fomos ver “Chick Corea”; “John MacLaughlin”; “Patrick Moraz”; “Hermeto Paschoal”; “Egberto Gismonti” etc. Pela TV, nos outros dias em que não fomos (fomos em dois), vi “B.B.King”; “Etta James”; “Al Jarreau”...
Por exemplo, ao assistir o show pela TV, constatei que Etta James exagerou, ao levantar a blusa, e cantar com os seios desnudos, por alguns instantes e isso provocou uma reação indignada do comentarista da TV Cultura de São Paulo, Zuza Homem de Mello, que ignorou o show sensacional que ela estava a realizar, para centrar a sua indignação pelo ato dela, mediante suas impressões moralistas. 


B.B. King foi maravilhoso. Foi a primeira vez que o Rei do Blues veio ao Brasil e todos ficamos maravilhados com a presença desse grande mestre, em palco paulistano. Anos depois e ele passou a comer pastel, nas feiras livres de São Paulo, tamanha a quantidade de vezes em que voltou para tocar aqui, mas naquela época, foi uma novidade extraordinária.



Nos shows que assisti ao vivo, adorei o John MacLaughlin. Com um quarteto afiado. Lembro-me de que na banda dele, o baixista foi o Fernando Saunders, que posteriormente tocou com Jeff Beck, e outras feras. Na bateria, teve a presença de Tony Franklin, e no violino, L. Shankar, cuja presença aqui causava furor entre os Hippies locais, por este músico ser sobrinho do citarista indiano, Ravi Shankar. Apesar da óbvia influência jazzística, via fusion, esse quarteto tinha pegada, como rockers, a tocar com uma garra incrível, fora o seu virtuosismo habitual.


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sexta-feira, 29 de março de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 22 - Por Luiz Domingues

E assim, ficou marcado para o dia 11 de abril de 1980, essa apresentação / aula, algo que jamais pensei em participar anteriormente. E só a empreender ensaios acústicos com o intuito de anotar a harmonia das canções, preparamos um repertório bem óbvio para banda executar, com canções provenientes do repertório de artistas como : Beatles; Led Zeppelin; Doobie Brothers; Cat Stevens; James Taylor; Rolling Stones, e músicas solo dos quatro Beatles, primordialmente.
O Paulo Eugênio surpreendeu-nos, pois convidou um tecladista à nossa revelia. Eis minha surpresa ao encontrar inesperadamente com o Tato Fischer, em um desses ensaios informais ! Não que incomodasse-me, de forma alguma, mas foi engraçado vê-lo depois de alguns meses em que eu, Cido Trindade, e Sergio Henriques o acompanhamos (amplamente já descrito no capítulo : "Trabalhos Avulsos"). E de certa forma, confirmou mesmo que nós havíamos agido certo ao deixarmos esse trabalho com ele, em 1979, pois ele acenara com novas datas somente a partir de março de 1980, mas pelo visto, não logrou êxito, e sendo assim, aceitou prontamente tocar conosco, a denotar que seus planos pessoais realmente não haviam dado certo, infelizmente, vindo a precisar também desse cachet. E assim, com um bom cachet, e a promoção interna nas diversas unidades da escola por São Paulo, com um bonito cartazete, o show "Flashback 60's & 70's ocorreu no dia 11 de abril de 1980.
E vou contar : foi um dos melhores shows de toda a trajetória do Terra no Asfalto até esse ponto da carreira dessa banda, com tudo a dar certo. Som e luz com qualidade; público quentíssimo que abarrotou o teatro (quinhentas pessoas na lotação oficial, mas seguramente com mais gente presente, pois havia muitas pessoas sentadas no chão ou pelos corredores).  Só não deu certo sob um aspecto : deveria ter havido uma série de shows em diversas unidades espalhadas pelos bairros de São Paulo, mas a direção da Cultura Inglesa cancelou todos, ao só manter um, na unidade da cidade de Campinas, um mês depois, ao alegar que a excitação dos alunos inviabilizou o processo pedagógico de evento. E de fato, eles tiveram razão, pois no primeiro acorde da canção dos Beatles,  "From Me to You", o teatro veio abaixo, e ali tornou-se um show de Rock, sem atenção à aula de inglês, coisa nenhuma, com todo mundo em pé a dançar, e tentar chegar perto do palco...

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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 21 - Por Luiz Domingues



Este cartaz acima, é um dos raros documentos oficiais preservados sobre a carreira do Terra no Asfalto. E mesmo assim, está a conter erros crassos em seus dizeres, infelizmente. Por exemplo, assinala os nomes do Cido Trindade e do Fernando Mu, mas na verdade, ambos já haviam deixado a banda, recentemente. Ao invés do meu nome, está o do Gereba como baixista, e neste cartaz que guardei, eu o rasurei, e escrevi meu nome à caneta. E também omite o nome do novo baterista, Luis "Bola". Mas, por tratar-se de um material importante para a memorabilia / portfolio, ei-lo aqui, preservado devidamente.

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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 20 - Por Luiz Domingues

Com a saída de Fernando "Mu" e Cido Trindade, colocamos o Luis Bola na bateria, com Gereba e Wilson a assumir as guitarras. Ficamos chateados com as perdas, e o Paulo Eugênio, no impasse criado por essa situação gerada, congelou alguns contatos.
Com isso, perdemos o bom embalo que estávamos a obter, e para nosso azar, ficamos também sem local para ensaiar, pois o Bar Opção impossibilitou-nos em continuarmos a usar as suas dependências, já que passara a abrir nas partes matutina e vespertina, para servir almoço, como restaurante. Em nenhuma residência dos membros poderia haver tal possibilidade. Paulo Eugênio morava em uma casa ampla nas Perdizes, mas sem condições para disponibilizá-la, devido a morar com o pai idoso.
Gereba e Wilson moravam em um quarto de pensão; e eu tinha a minha edícula no quintal da minha residência, mas após o tempo do Boca do Céu, nunca mais promovi ensaios por lá, por conta de problemas com vizinhos, e outras questões, das quais já relatei nos capítulos do Boca do Céu. E na habitação do Luis Bola, seria impossível, também, visto que ele morava em um sobrado de pequeno porte, germinado, e não conseguia nem estudar sua bateria, por problemas com vizinhos, também.
Dessa forma, além da falta de datas e reformulação da banda, houve muita dificuldade logística para promover tais mudanças. A próxima data, no entanto, foi um achado, e confesso, animou-me bastante. Fugindo ao padrão de bares e casas noturnas, onde tocávamos costumeiramente, o Paulo Eugênio fechou uma exótica participação da banda em um evento promovido por uma tradicional escola de idiomas. Fomos tocar no Teatro da Cultura Inglesa, uma famosa escola de inglês, com orientação britânica, na sua sede da Av. Higienópolis, no bairro de mesmo nome, zona oeste de São Paulo.
A ideia seria a de tocarmos um repertório formado por clássicos britânicos e americanos do Rock 1960 / 1970, com os estudantes a receber um libreto, a conter todas as letras, para cantar junto. E a instrução da escola seria para o Paulo Eugênio falar em inglês
 o tempo todo entre as canções, para estimular a conversação. Como ele trabalhara muitos anos como guia turístico em excursões à Disney World, seu inglês era satisfatório, e foi aprovado pelos pedagogos britânicos da escola.
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quarta-feira, 27 de março de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 22 - Por Luiz Domingues

Tive que aprender e decorar várias deixas de entrada e saída de cena. A banda entrava com esse uniforme ridículo, tocava duas músicas, e a seguir voltava ao camarim para trocar-se novamente.
Voltávamos com calça e camiseta branca, e um paletó cor de laranja. Depois colocávamos um chapéu ao estilo "cowboy' norteamericano para tocar um "Country", e daí em diante, mudávamos pouca coisa até o final, com exceção do Laert; Pituco, e o ator, Paulo Elias, que trocavam de figurino, praticamente a cada música.

O show foi estruturado para intercalar áudio; vídeo, e intervenções cênicas, fora a estratégica troca de vocalistas. Enquanto o Laert trocava-se, o Pituco estava em cena, e vice-versa. E no caso dos dois atuar juntos, havia deixas de áudio e vídeo, ou intervenções do ator, Paulo Elias, aliás, hilárias. Nesse período de outubro, tive que desdobrar-me para aprender as músicas, e decorar essas marcações todas.

E houve empecilhos ! Pois a banda ainda estava com muitas datas marcadas do show antigo, para cumprir. Logo na metade de outubro, eu viajei com eles para Curitiba / PR, pois eles fariam duas semanas de show em um teatro de lá (Teatro Paiol), e a minha presença seria imprescindível por alguns motivos :

1) Durante o período da tarde, ensaiaríamos no teatro, onde eles apresentar-se-iam a noite. Nos shows, o baixista, Mário Campos que estava interino, desde a saída de Luiz Lucas, tocava, mas a tarde, ensaiávamos o novo show, com a minha participação;

2) Haveria apresentações na TV local, e como novo membro, eles queriam que eu aparecesse em ação, nessas circunstâncias;

3) Mesmo sendo o show antigo, algumas músicas permaneceriam no set list do novo show, portanto, queriam que eu tocasse ao vivo um pouco, para entrosar-me com a banda;


E lá fui eu com o Língua, para ficar duas semanas de outubro de 1983, com eles em Curitiba, infelizmente a produzir assim, um raro hiato de ensaios com a Chave do Sol, e dessa forma, causar a primeira indisposição pela situação em tocar em duas bandas simultaneamente. Em Curitiba, já começaram a surgir os inúmeros casos engraçadas de bastidores, que contarei nos próximos capítulos.
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Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 21 - Por Luiz Domingues

Para não prejudicar A Chave do Sol, nesse período inicial de ensaios com o Língua de Trapo, eu saía mais ou menos às 18:00 horas do ensaio realizado na casa do percussionista, Fernando Marconi, e o Zé Luiz Dinola esperava-me nas imediações, para dar-me carona, no seu "Corcel II"... chegávamos às 19:00 horas. mais ou menos na casa do Rubens, e ensaiávamos até às 22:00 horas. Claro, esse foi o meu primeiro baque, pois a carga horária com a Chave diminuíra, e os colegas mal disfarçavam o seu descontentamento com esse novo estado de coisas. Mas o que eu poderia fazer ? E à medida que decorava as músicas do novo show do Língua de Trapo, percebia que não seriam só as músicas a ser preparadas. Precisava, na verdade, adaptar-me, e rápido, às diversas marcações de tempo, do show.
Nesta altura, o Língua de Trapo possuía uma dinâmica de show sincronizada. Havia diversas trocas de figurinos, intervenções com piadas gravadas em áudio; intervenções de vídeo com filmagens em Super 8; intervenções com locução ao vivo; intervenções do ator, Paulo Elias... enfim, era tudo milimetricamente sincronizado, para estabelecer um tempo de teatro, ao show. No início, sem possuir nenhuma técnica teatral, achei que não conseguiria adaptar-me com todos esses detalhes, mas pelo contrário, não só decorei, como em pouco tempo, estaria até a improvisar. Mas não quero atropelar, contarei na hora certa.


Por ora, a intercalar-se aos ensaios, lembro-me de uma sessão de fotos realizada no cemitério São Paulo, em Pinheiros, e diversas visitas a uma costureira no bairro da Vila Olímpia, que prestava serviço para a banda, desde a turnê iniciada com o primeiro LP. Havia dois kits com figurino básica do show, e adereços que mudavam no decorrer do espetáculo. O primeiro Kit, do começo do Show, era ridículo ! Tratava-se de um terno com calça verde; camisa amarela, gravata azul, e paletó verde. Nem preciso dizer que entrávamos vestidos como bandeira do Brasil, não é ?

Ha ha ha... sentia-me o "Brasilino" (um personagem de história em quadrinhos que representava o garoto propaganda de uma famosa fábrica de móveis residenciais populares, chamada "Fábrica de Móveis Brasil") ...
Quando as luzes acendiam-se, e o público via-nos com essa roupa ridícula, já riam antes da primeira nota a ser tocada. Lembro-me em ter ido algumas vezes à essa costureira, para tirar medidas, e fazer ajustes.



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Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 20 - Por Luiz Domingues

Minha segunda passagem pelo Língua de Trapo foi um "choque de gestão", como diz-se por aí. Mas não só pela questão técnica de palco, mas também por todo o sentido de organização; gerenciamento; planejamento de carreira; mídia; logística, e organização de portfólio. E teve mais: por ser uma banda centrada na estética da sátira e humor, o Língua usava diversos recursos extra / musicais, onde tive a oportunidade de aprender novos conceitos artísticos. A encenação, mesmo ao tocar um instrumento, era muito importante, e daí, desenvolvi vários macetes como ator, mesmo.


Inspirava-me nos Mothers of Invention; Sha-na-na e Bonzo Dog, entre outras bandas internacionais que exageravam nessa teatralidade no palco, além do Joelho de Porco, claro. Eu aproveitava os contatos, mas tudo dentro de um mínimo de ética. O pessoal do Língua sabia que eu não largaria, A Chave do Sol, portanto esse foi um ponto inicial. E sempre que surgiu a oportunidade para arregimentar um contato, os membros do Língua sabiam que eu tinha essa intenção, e mesmo não apreciando muito a ideia, aceitavam.
Muitos contatos para A Chave do Sol foram alinhavados em minhas andanças com o Língua de Trapo pelos bastidores de estações de Rádio e TV. Que eu lembre-me a grosso modo, conheci os bastidores de programas femininos vespertinos, como "A Mulher Dá o Recado" da TV Record; "Mulheres em Desfile", da TV Gazeta; "Realce", também na TV Gazeta; além de "Perdidos na Noite", que começou na Gazeta, mas foi um derivado da Rádio Globo, onde sob formato radiofônico, chamava-se "Balancê". Aliás, o Balancê da Rádio Globo tem histórias... no momento oportuno, contarei tudo. Na "Fábrica do Som", da TV Cultura, nós éramos bem relacionados nessa época, mas graças ao Língua, eis que conheci a produção do programa, "Panorama", uma revista cultural muito boa.

Outro contato de rádio ótimo, deu-se no programa, "Matéria Prima", da Rádio Cultura AM. O apresentador era um ex-hippie do colégio Equipe, reduto Freak no meio estudantil paulistano dos anos setenta. Chamava, Serginho Groisman... conheci também muitos profissionais da imprensa escrita. O Língua de Trapo, por ser uma banda fundada dentro da tradicional faculdade de jornalismo Cásper Líbero, possuía muitos contatos também na mídia escrita. O próprio, Carlos Mello, era articulista d'O Estado de São Paulo, e Guca Domênico chegou a trabalhar depois de formado, na Folha de São Paulo. Mas não lembro-me de algum contato desses oriundos do Carlos ou do Guca, ter revertido diretamente para A Chave do Sol, posteriormente. Falei basicamente nos contatos de rádio e TV que deram certo para A Chave do Sol, posteriormente, mas houve vários outros que não deram em nada.


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segunda-feira, 25 de março de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Jungô) - Capítulo 31 - Por Luiz Domingues


Assim que chegamos ao ensaio, no dia seguinte, e por não ter demonstrado nada estranho, durante o percurso em que viajamos juntos até o local, Cido pediu a palavra, e surpreendeu a todos (e dada a circunstância descrita, principalmente eu mesmo), ao comunicar-nos que estava a sair da banda. Sua alegação foi a de que pensara em sua casa, na última noite, e chegara à conclusão de que precisava parar de tocar por um período, para dedicar-se o dia inteiro ao estudo de seu instrumento, assim a visar melhorar seu nível técnico a ser atingido. Tudo bem em ter esse pensamento, mas e nós, como ficaríamos diante dessa resolução pessoal e repentina de sua parte ?Pois jogamos fora um mês de trabalho, na verdade mais que isso, pois um mês foi o meu período na banda, entretanto, eles já vinham juntos desde 1979, a acompanhar o Paulinho Boca de Cantor, e posteriormente, Eliete Negreiros, fora o tempo em que compuseram aquelas músicas instrumentais, todas.
Fiquei muito desapontado com a atitude volúvel, e pouco compreensiva dele, mas nem senti muito pela banda, pois aquele trabalho, apesar da sua sofisticação musical, não era de minha predileção, e os membros, veladamente, achavam-me fraco e deslocado ali. A banda desintegrou-se com essa notícia, pois ninguém mais esboçou forças em prosseguir, pois isso denotaria ter que arrumar um novo baterista, e ensaiar tudo de novo, após um mês a preparar um novo baixista, no caso, eu mesmo. E assim terminou a história do "Jungô", melancolicamente, em uma tarde de agosto de 1980.
Eu tocaria algumas vezes com o Renato Consorte Filho em 1982, visto que sob um outro trabalho avulso que fiz, novamente coincidiu dele aparecer na minha trajetória. Mais para frente, mencionarei esse trabalho, que consistiu em acompanharmos uma cantora e compositora de MPB.

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