terça-feira, 30 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 377 - Por Luiz Domingues


Com mais duas negativas de gravadoras a repercutir como um sinal de derrota, o ânimo da banda diminuíra drasticamente. Já não houve a obstinação que tínhamos por ensaiarmos com constância, outrora uma marca registrada de nossa banda, e fora a parte prática, dessa falta de empenho, que refletir-se-ia em algum momento com a ferrugem a ser acumulada inevitavelmente, a grande erva daninha que estávamos a ver crescer à nossa volta, foi de ordem psicológica.

A minar-nos nesse sentido, vários fatores externos precipitaram as animosidades pessoais, desavenças, irritabilidade etc. Em um momento de crise, a tendência em tempos de escassez de recursos e falta de perspectivas de melhora, foi no sentido de haver desgaste psicológico. Isso acontece em qualquer tipo de empreendimento onde existam sócios, e uma banda de Rock é também uma pequena empresa, gerida por um grupo de sócios.

Assim, o clima começou a azedar internamente na banda, desde que nos frustráramos com a inoperância do Studio V, mas em uma primeira instância, nós tiramos uma força das entranhas para prosseguir e ainda bem, algumas oportunidades ainda surgiram no momento imediatamente após o rompimento com os empresários, a relativizar as insatisfações pessoais de cada um e possíveis desentendimentos surgidos por conta desse clima ruim, no âmbito interno da banda.

Mas após a tentativa de abordagem com a gravadora BMG-Ariola, com tamanha demonstração de desdém do sujeito que nos recebeu, creio que as nossas forças esvaíram-se de vez.

Conforme eu já mencionei anteriormente, o Zé Luiz vinha a receber pressões familiares para tomar um rumo tradicional na sua vida profissional e que não mais se iludisse com uma carreira artística, que não lhe garantia a estabilidade sócio/financeira.

Rubens já não estava tão entusiasmado com o rumo adotado pela banda e passara a questionar a mudança radical (na verdade, a terceira mudança), que nos levara para um caminho a avançar sobre o Hard-Rock oitentista, quando praticamente suprimiu-se o material antigo, notadamente a verve do Jazz-Rock que nos marcara nos primeiros anos da banda.

Ele teve razão, é claro, mas em termos. De fato, abandonar completamente o material antigo da banda não foi uma estratégia salutar. O ponto válido nessa tática, houvera sido apenas o da busca de uma colocação dentro do mundo das gravadoras majors, mas foi um risco grande, pois ao não conseguirmos tal intento, estivemos apenas a frustrar o nosso público que gostava de nossa carreira como um todo, portanto, também do material antigo, composto sem a preocupação em agradar produtores de gravadoras ou agentes da mídia mainstream.

O Beto achava que deveríamos continuar firmes com essa estratégia e o fato de estarmos a receber negativas sistemáticas das gravadoras abordadas até então, não significaria que a insistência não daria certo mais para a frente. Eu, de minha parte, só queria que a banda prosseguisse unida, a lutar e continuar a sua trajetória. 

De fato, eu concordei parcialmente com as colocações de Beto e Rubens, mas a tentar fazer um mistura entre as duas propostas. Nesses termos, eu achava válido tentar prosseguir a insistir na mesma estratégia para alcançar uma colocação em uma gravadora major, portanto com possibilidades adequadas para tal, mas também desejei que a história da banda fosse respeitada e assim, que as músicas clássicas do repertório, voltassem ao set list dos shows, com exceção das mais pesadas do EP de 1985, pois nesse aspecto, as considerava realmente despropositadas.

Diante desse desânimo generalizado, o Beto que era sempre pragmático em seu modo de ser, propôs mudanças até na formação da banda. Isso causou um mal-estar interno, e tal ideia haveria de se tornar um fator de discórdia que tornar-se-ia cancerígeno, com o perdão da metáfora forte, e que seria em alguns meses, um fator decisivo para o final das atividades da banda.

Tiro todo o peso desse ato, das costas do Beto, pois sei que a sua intenção foi outra, completamente, deixo esse aspecto bem claro. A sua vontade para fazer algo diferente para movimentar a banda e dar-lhe sobrevida, foi a sua real intenção, mas o Rubens não levou para esse lado e o clima doravante, só foi a piorar no âmbito interno da banda.

Dessa forma, o Beto propôs que conversássemos com Daril Parisi, nosso amigo e um grande guitarrista e tecladista, que estava sem banda naquele momento, com o súbito término das atividades do Platina. Na sua ótica, uma mudança de formação com Daril a ingressar em nossa banda, para possivelmente tornar a nossa formação em um quinteto, faria muito barulho e seria portanto um alento para tomarmos um novo fôlego.

Teoricamente, não foi uma má ideia, mas por outro lado, não haveria nenhuma garantia de que uma mudança assim levar-nos-ia a alguma melhora significativa.
O grande guitarrista, tecladista e professor: Daril Parisi, em foto bem mais atual

Particularmente, eu não apreciava muito a ideia. Por não conseguir vislumbrar que isso fosse uma estratégia com possibilidade de nos dar um novo impulso, mas compreendo o ponto de vista do Beto em tentar tirar um fato novo para nos tirar do estado de desânimo.

Infelizmente o Rubens não pensou sob esse aspecto e ao levar para o lado pessoal, sentiu-se preterido. Também o entendo, pois afinal de contas ele foi a célula mater da nossa banda. Imaginara a criação d'A Chave do Sol com esse exato nome, ainda na tenra infância, ao escutar os discos do Jimi Hendrix, provenientes da coleção de seu irmão mais velho, Rafael Gióia. Ainda adolescente, Rubens chegou a formar uma banda com esse nome, embora não seja contabilizada na história oficial de nossa banda em específico, mas é um fato. Portanto, claro que eu entendo e muito, que tenha se aborrecido com tal ideia do Beto.

Então, chegamos em um ponto onde ficamos desunidos, sob um fogo cruzado de indisposições, mal-entendidos e cada um a estabelecer uma leitura diferente da situação. Rubens chateado com o repertório dos shows a estar sem menção ao material antigo e com a ideia de incorporar mais um guitarrista na banda, sobretudo. Beto a tentar criar fatos novos para dar alento à banda. Zé Luiz a viver uma crise pessoal ao questionar a sua permanência na banda e até na música, e eu, só a desejar que a banda sobrevivesse, ao tentar restabelecer a união interna e o foco.

Uma jam-session foi feita de uma maneira bastante informal com o Daril Parisi que era (é), um gentleman e mostrou-se muito honrado com o convite para uma conversa, e a lembrança de seu nome. Ele admirava a nossa banda, na mesma medida em que apreciávamos o Platina. 

Entrar para a formação d'A Chave do Sol foi uma ideia que lhe enalteceu muito, no entanto, ele que era sensível e muito inteligente, ao perceber que tal ideia do Beto, não se mostrara unânime por verificar o astral da banda bem baixo, não forçou nenhuma barra, embora de sua parte, estivesse animado para assumir, desde que fosse um desejo muito claro de todos os membros da banda e infelizmente, não foi essa a realidade.

Nada contra o Daril, muito pelo contrário, sempre o considerei um grande músico, compositor e um excepcional Ser Humano.

Se o clima já estava ruim no interno da banda, infelizmente as perspectivas pioraram. Mais uma vez tiro a carga de culpa das costas do Beto, pois sua intenção foi a melhor possível. 

E daqui para frente, os próximos capítulos serão tristes, com poucos momentos de histórias engraçadas e muitas reflexões sobre o quanto o desgaste nos fez mal, ao ponde de estremecer até amizades, infelizmente.

Bem, da parte do Zé Luiz também teve um efeito ruim tal ideia do Beto. Ele não era contra uma mudança de formação com a entrada de um quinto membro, em princípio, mas o seu estado de ânimo por conta de problemas existenciais, familiares, pessoais e até sócio/financeiros (sobretudo esse último item, eu acredito), o atormentara internamente e tal tentativa da parte do Beto para salvar a banda, lhe soou como infrutífera. Faltava um triz para ele nos revelar então o que lhe afligia pessoalmente, e o desfecho para a banda não poderia ser pior, mas ainda não vou comentar sobre isso.

Rubens ficou muito arredio com essa ideia do Beto, e foi a afastar-se de nós, sob um processo irreversível eu diria, pois no segundo semestre, ele mal comparecia aos ensaios, chateado que estava com os rumos da banda.

Bem, em meio a essa crise interna, os fãs nem desconfiavam que passávamos por isso, e dessa maneira, oportunidades de realizarmos shows e aparições midiáticas continuavam a aparecer, se bem que a diminuir gradativamente em sua demanda, pois como já deixei claro em vários capítulos anteriores, quando um artista começa a despontar, é necessário que tal "momentum" seja agarrado com as duas mãos e se possível, com os pés também! Como não tínhamos um empresário preparado o suficiente para aproveitar essa profusão adequadamente, com métodos e contatos adequados para tal, estávamos a perder a nossa vez.  Na verdade, já havíamos perdido, hoje eu enxergo esse fato com clareza...

Continua...

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 376 - Por Luiz Domingues



Bem, apesar de estarmos com o bem pouca energia nessa época, houve a atenção para os dois encontros que poderiam nos oferecer um novo alento, com certos executivos de gravadoras. O primeiro, contato seria a tentativa de Eliana Dinola em abordar o produtor da Warner, Liminha. E a segunda ação, mais plausível, a tratar-se da reunião prometida com o gerente de contratações da BMG-Ariola, contato estabelecido através do divulgador Marco "Bip Bip" Correa, que tornara-se nosso amigo.

Sobre a irmã de Zé Luiz, eu já elenquei anteriormente as suas qualidades pessoais que a credenciaram a tentar uma abordagem. No bojo, acrescento o óbvio, ou seja, a extrema boa vontade dela para nos auxiliar, visto que tinha sua vida para gerenciar, mediante casa e uma filha pequena para cuidar, além das suas atividades profissionais etc.

Ela possuía mesmo uma capacidade de expressão extraordinária, e ao se apresentar como uma produtora musical, passou facilmente pela triagem inicial na organização, e assim marcou uma reunião com o Liminha em pessoa. Não que a subestimássemos, de forma alguma, mas ficamos realmente estupefatos quando ela noticiou-nos que a reunião já estava agendada, para reforçar a nossa completa confiança em seu tino comercial, com a exceção evidente do Zé Luiz, que conhecia muito bem a obstinação e capacidade de sua irmã mais velha.

Enquanto isso, aguardávamos um sinal semelhante que seria da parte do divulgador, "Bip Bip", que também veio logo. Uma reunião estava agendada portanto, com o produtor conhecido por um apelido prosaico a dar conta da proeminência de seu abdomen.

Ele seria o profissional que batia o martelo, pró ou contra, na decisão final de se contratar ou não, para a companhia, como diretor de repertório da gravadora.

Então, nós resolvemos quebrar o protocolo básico, e ao invés de escalarmos a namorada do Zé Luiz, e nossa produtora executiva, Eliane Daic, para falar com o tal sujeito robusto, resolvemos irmos nós mesmos. Sabíamos que era errado e quebrava a regra básica de que o artista em pessoa não deve participar desse tipo de negociação, mas neste caso, tratou-se de uma instrução que veio diretamente do "Bip Bip", que nos alertou que o tal maioral não mantinha cerimônia com protocolos, e gostava de falar direto com o artista, sem ter que lidar com a conversa ensaiada da parte de empresários & produtores, e a exercer a sua conversa padrão de vendedores.

A julgar pelas alcunhas de ambos, e o patamar de inferioridade momentânea que a gravadora ostentava naquele instante oitentista, a amargar uma posição abaixo da concorrência, fez sentido que a praxe institucional fosse abolida e as abordagens ocorressem na base da total informalidade.

No Rio, a irmã do Dinola conseguiu de fato a reunião. No gabinete do Liminha, ela falou, a usar a sua habilidade verbal de vendedora nata, e foi muito bem tratada pelo produtor. Contudo, não conseguiu lograr êxito, pois o discurso dele foi o padrão, ao alegar que a nossa banda não estava coadunada com o que eles acreditavam naquele instante.

Pura verdade, e nós já sabíamos disso, aliás, há anos... portanto, cabe observar que a nossa insistência em abordar a Warner, seguidas vezes, e a usar vários meios para tal, fora em si, uma péssima estratégia. Sob uma metáfora grosseira que estabeleço, pareceu a tática de caçadores de autógrafos a tentar burlar a segurança de hotéis, onde artistas famosos estão hospedados...

Por isso, hoje eu tenho a convicção de que ao termos sido rejeitados pela primeira vez e sabedores na época, que independente da qualidade artística e/ou possibilidade comercial da banda, uma segunda tentativa de abordagem caracterizou um erro estratégico, a nos estigmatizar. O que dizer então da terceira, quarta, quinta tentativa?

Acho que ficamos marcados na gravadora como os cabeludos anacrônicos e desagradáveis a caracterizar uma demonstração de teimosia insuportável. 

Eliana Dinola foi mega gentil para conosco e tenho certeza de que não tentou nos ajudar apenas pelo seu laço sanguíneo com o Zé Luiz, mas por que gostava da banda. Todavia, apesar dessa imensa boa vontade, também não conseguiu um resultado melhor que o de Sonia, a representar o Studio V. Na prática, apesar de seu empenho, nenhuma abordagem daria certo pelo evidente disparidade de mentalidade da parte deles em relação ao nosso trabalho que lhes soava antagônico aos seus princípios.

E nessa altura, o fato de termos tentado várias abordagens, só piorou a situação, acredito, ao pensar hoje em dia. 

Outro fator: mais um fato impossível de ser detectada ali no momento, mas hoje é algo cristalino, é o fato de que o BR-Rock  80's estava encerrado. A grande onda que lhe caracterizou com aura de um movimento, cena, chame como quiser, houvera quebrado na areia da praia. A citar dos artistas expoentes que surgiram nessa "onda", somente quem conseguiu solidificar-se individualmente ainda teve e continuou a ter espaço na mídia e portanto, a contar com um gerenciamento profissional sustentável, doravante. De 1986 para a frente, isso já esteve delimitado claramente, mas lógico que ninguém teve essa visão na época.

Portanto, a chance para artistas que jamais estiveram compactuados com a estética oitentista, se mostraram infinitamente piores ainda, em relação aos que surfaram na crista da onda, e agora viam a onda a arrefecer-se. Duas situações que embaralharam essa visão na época e nos deu esperança, na verdade não foram sinais para absolutamente nada para se animar concretamente. Foram na verdade, falsos sinais que não soubemos interpretar na ocasião.

O primeiro caso foi o do grupo, Ultraje a Rigor que surpreendeu à todos, com uma repaginada radical no seu visual, ao dar a entender que assumiria uma identidade Hard-Rock, para deixar de lado a roupagem supostamente coadunada com a estética Pós-Punk adotada em seus primórdios, e momento de pico na mídia.

Muita gente que estava na trincheira oposta, do Rock pesado, comemorou tal mudança de posicionamento da banda de Roger Moreira & Cia, por acreditar ser uma sinalização de que o mundo mainstream estaria a se abrir para uma outra estética, e a sinalizar a libertação dos tentáculos dos seguidores de Malcolm McLaren. Mas foi um ledo engano, pois a banda mudara apenas o seu visual, ao adotar o figurino de bandas norte-americanas de Hard-Rock em voga, a apresentar cabeleiras imensas e armadas com muito laquê, bem no gosto, ou mau gosto a ser realista, daquela egrégora pesada, porém Pop, dos anos oitenta. O trabalho deles continuou igual em essência, com sonoridade Rock'n' Roll bem básica, e ênfase total nas letras com teor de deboche.

Um outro exemplo de sinalização errada, ocorreu com o próprio "Sepultura". De fato, essa banda mergulhou em uma fase de franca ascensão meteórica e de cunho internacional, muito impressionante, e os devidos ecos do seu sucesso retumbante, lhe proporcionou algumas portas abertas no Brasil, que nem mesmo eles, os seus componentes, esperavam que se abrissem. Acredito que pelo fato de ser uma banda orientado pelo Metal extremo, não teria, em tese, nenhuma possibilidade de atingir um público não coadunado com tal estética, pela total falta de apelo Pop em sua música radical, por mínimo que fosse.

Portanto, ao deparar-se com pessoas completamente de fora do nicho do Heavy-Metal, a comparecer aos seus shows, como atores globais e alguns playboys desavisados, por exemplo, a única explicação razoável para tal fenômeno de aceitação insólita, residira na histórica "macaquice" do brasileiro em valorizar uma manifestação artística que antes desprezava ou ignorava, somente pelo fato de que os "gringos" estavam a ovacioná-la. A trocar em miúdos: por modismo.

Não posso cravar essa hipótese como incontestável, mas creio que é bastante sólida para explicar portanto o fenômeno estranho em ver pessoas completamente alheias ao mundo do Heavy-Metal, quiçá o Metal extremo, ainda mais radical e anti-Pop em sua essência, a frequentar os shows do Sepultura e a serem fotografadas em camarotes caros de casas de shows badaladas do Rio e São Paulo, com copinho de Whisky importado na mão, e a fazer careta com língua de fora e "malocchio" com a outra mão...

Dessa forma, o fenômeno Sepultura não caracterizou na prática, nenhuma tendência de mercado no âmbito das gravadoras que aqui operavam a indústria da música local. Tal banda estava na verdade, a surfar no seu êxito pessoal e no qual deteu todos os méritos, sem dúvida, mas isso não significou dizer que o Rock pesado teria espaço como um todo, a abrir chances reais para outras bandas existentes no mercado.

Feita essa análise, resta-me falar sobre a reunião com o tal produtor fonográfico conhecido por uma alcunha prosaica.

Ao cair da tarde de um dia útil, ao final de abril de 1987, eu, Luiz e Beto Cruz, fomos ao gabinete do produtor citado, com o nosso material em mãos e imbuídos de esperança por um resultado satisfatório. Isso por que o clima de descontração que aquela gravadora mantinha em seus meandros, aliado ao fato de que não parecia estar preocupada em fechar questão com a estética A, B, ou C, foram alentos para nós, sempre inferiorizados por sermos considerados como "outsiders" naquela década.

O apoio do "Bip Bip", que era uma persona muito respeitada na gravadora, e nos vira em ação nos shows de Caraguatatuba-SP, também haveria de somar-se nessa equação.

Enfim, chegamos ao gabinete do rapaz, e apesar de recebidos com educação por ele, a sua apatia denotou a total falta de interesse na conversa. Entregamos-lhe o material de portfólio e a fita K7 com a demo-tape de nossa banda, e ele mal falara conosco até então.

Foi quando, ele deu uma folheada no material e o fechou bruscamente, como se aquilo o estivesse a incomodar, e por conseguinte, a obrigá-lo a perder tempo com algo que absolutamente não lhe interessava. Então, com uma certa truculência a denotar uma mise-en-scène ensaiada, ele ligou o tape deck que tinha próximo de si, e nos disse que estava empolgado com uma banda gaúcha que estava a produzir, e seria o novo "estouro na mídia".

Começamos a ouvir então o som do TNT, que não era uma banda ruim, eu reconheço, e detinha até as suas qualidades, e note-se, sem comungar com o Pós-Punk como seria sempre de se esperar naquela época.

Mas também, não era nada de mais, a tratar-se de uma banda comum, sem nenhum atrativo excepcional e inquestionável que fizesse dela, algo "especial". Durante aqueles minutos em que ficamos em silêncio a ouvirmos o som do TNT, ficara claro o desprezo do tal produtor em sequer mencionar a intenção de ouvir um segundo sequer de nossa música...

Bem, nós ouvimos duas ou três músicas do TNT, e ao desligar o tape deck, ele iniciou um monólogo sobre o quanto acreditava que tal banda faria um sucesso retumbante. Foi então que eu descobri que isso era uma praxe nesse mundo das corporações musicais. O produtor da Warner usara desse expediente dentro da Kombi do Zé Luiz (história contada em detalhes, vários capítulos atrás), quando desconversou sobre o som de nossa demo-tape que tocava no som do carro, e emendou um discurso sobre a maravilha que era o "Camisa de Vênus". 

Agora o tal senhor robusto fizera ainda pior, pois em meio a uma reunião formal para se analisar o material de uma banda, no caso a nossa, a estratégia desdenhosa e vergonhosa que ele adotou sem cerimônia, fora nos fazer ouvir o trabalho de uma outra banda...

Nos anos noventa, eu passaria por algo igual com o Pitbulls on Crack, quando através de uma tentativa de mostrar um novo trabalho ao então incensado produtor, Miranda, este respondeu a apertar o botão "play" da máquina de gravação do estúdio Be Bop, e assim nos obrigou a ouvir o som do grupo: "Mundo Livre S/A", certamente uma maneira sutil de nos dizer que o nosso som era inadequado em sua avaliação, e aquele outro trabalho que nos mostrava, seria a grande "Coca Cola gelada do deserto".

Muitos anos depois, um amigo meu que militou a vida toda no mundo corporativo, mas não ligado às artes, portanto ainda mais monolítico, me disse que a tática padrão para lidar com assuntos indesejáveis era o do desestímulo sutil. Ele houvera sido treinado a nunca abordar o assunto de forma cartesiana com a pessoa, mas a permanecer alheio e emitir sinais sutis contrários, a elogiar opostos, para criar assim o efeito da inibição ao interlocutor. E caso a pessoa insistisse ou pior ainda, perdesse a compostura ao partir para a agressão verbal, a postura seria ficar em silêncio profundo e suportar a verborragia, até a pessoa cansar de falar, para no primeiro momento de pausa possível, dar por encerrada a conversa, e educadamente pedir para a pessoa retirar-se.

É até engraçado, mas ao mesmo tempo denota a frieza corporativa desumana nas relações em geral. Não se tratava, portanto, de um complô montado exclusivamente contra nós, nem mesmo seria o caso de alimentar a teoria da conspiração, pois tal tática de desdém com ares blasé, era/é uma praxe corporativa, tão somente.

Falou, então sr. robusto... pois que fosse feliz a acumular a sua gordura abdominal, até explodir como a "Dona Redonda" do "Saramandaia", talvez a usar TNT para estimular a sua ida aos ares!
 
Uma última tentativa de abordagem às gravadoras ocorreu de nossa parte, em meados de junho, mas isso, eu conto nos próximos capítulos.
Continua...

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 375 - Por Luiz Domingues


De  volta à São Paulo, após os shows em Caraguatatuba-SP, nos próximos dias, não tivemos compromissos oficiais. Só nos restara então, centrarmos a nossa atenção para a reunião que possivelmente seria agendada com o executivo da BMG-Ariola, e também houve uma remota esperança de que a irmã do Zé Luiz conseguisse uma audiência com Liminha, na Warner, em mais uma tentativa nossa empreendida com tal gravadora.

De nossa parte, além dessa atenção, o que fizemos de prático foi lançar mais uma edição do fanzine. Independente de estarmos com um nível de tolerância bem mais baixo em termos de animação, o ato de lançar o fanzine trimestralmente foi uma obrigação adquirida, pois os fãs que o recebiam, eram assinantes.
Fachada do Edifício Dinola, localizada na Rua dos Pinheiros, localizada no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Na parte da frente, hoje em dia funciona a loja de artigos de cerâmica e porcelana dos irmãos Bete e Zé Luiz Dinola. Na porta ao lado, no andar térreo, funcionava o consultório odontológico do Dr. Dinola, pai de ambos, e o escritório anexo, onde tanto trabalhamos em prol d'A Chave do Sol.

Então, eu e Zé Luiz voltamos ao velho escritório anexo ao consultório odontológico de seu pai, o grande doutor João Batista Dinola, outra figura sensacional que muito nos ajudou, assim como o Dr Rafael Gióia Junior, pai do Rubens. A residência da família Gióia foi o nosso QG e estúdio de ensaios por anos, e o mesmo devíamos em agradecimento ao pai do Dinola, que nos cedera o seu escritório, desde 1983, mais ou menos, para ações de produção do fã clube, Núcleo ZT, e demais ações de divulgação que fazíamos.

Eduardo Russomano, depois que rompemos com o núcleo ZT, continuou como funcionário contratado da banda para serviços gerais na produção e no fã-clube, mas nesta altura, com os shows a escassear, não tínhamos mais como mantê-lo como funcionário remunerado, infelizmente. Ele ainda nos ajudou a preparar essa edição do fanzine em seu número oito e continuaria a nos auxiliar como amigo, doravante, mas sem vínculo obrigatório, a cumprir expediente diário. Bem, perder Russomano representou um retrocesso certamente para nós.

Outro aspecto a ser mencionado, o Zé Luiz esteve mais calado, taciturno mesmo nesses dias e logo descobriríamos a razão de ser de seu mau humor. Ele havia sentido muito o impacto da frustração por nós termos nos iludido em demasia com o Studio V, e a promessa alardeada de que entraríamos no elenco de uma gravadora major. Todos nós sentimos, mas para ele, houve elementos particulares muito angustiantes que o atormentaram nessa questão, e que só a partir dessa fase, começamos a entender, verdadeiramente.

Já sabíamos que ele estava a ministrar aulas particulares como forma de ganhar dinheiro extra, sem esperar nada da banda. Mas o que não sabíamos, foi que estava a sofrer pressões familiares já há algum tempo para buscar uma maior solidez financeira na sua vida.

Dessa forma, o seu comportamento em relação aos assuntos da banda doravante, só foi piorando e o pior estava por acontecer em relação à esse sentimento que estava nutrindo.

Sobre a edição do fanzine lançado em abril de 1987, esta seguiu o mesmo padrão editorial e no tocante ao lay-out dos demais, anteriores e nada poderíamos fazer para melhorá-lo naquele momento de escassez financeira e tensão crescente no interno da banda, pelos acontecimentos arrolados nos últimos capítulos.

Eis uma descrição de seus tópicos:
 1) Shows que rolaram - Uma descrição dos shows que realizamos do início do ano nas cidades paulistas de Itanhaém e Águas de São Pedro. Mas a ênfase foi mesmo dada aos cinco shows que compuseram a mini temporada no Centro Cultural São Paulo, em fevereiro e o do Teatro Mambembe em março.

Aliás, um dado interessante que esqueci de mencionar no capítulo correspondente, mas o fanzine tratou de refrescar a minha memória: de fato, ao tocarmos, "18 Horas", durante o show do Teatro Mambembe, música clássica do repertório da nossa banda e que inclusive, nós não a executávamos há meses por conta da preferência em exibir o novo material, com teor Hard-Rock. Bem, assim, causou comoção aos fãs, e o Beto também a tocou, a estabelecer um duelo de solos com o Rubens ao seu final, para estendê-la muito, aliás, uma prática ultra setentista ao se alongar canções muito além de sua metragem tradicional de estúdio, para valorizar a introdução de longos improvisos, com solos.

2) Uma brincadeira, como sempre eu gostava de fazer, disse que os óculos "iluminados" com leds verdes que o Zé Luiz usara no Centro Cultural São Paulo, vieram do planeta "Glapaux", trazidos como um presente pela persona de Edgard, o "ET", que seria, conforme se forjou a brincadeira entre nós, um Ser oriundo desse distante mundo...

3) Revista - Mais descrições de publicações onde havíamos sido retratados recentemente e uma nota sobre uma edição da revista Som Três, quando pela primeira vez, foi citada a criação de uma fã-clube independente d'A Chave do Sol, com sede no Rio de Janeiro. Foi verdade, tal ação veio da parte de um rapaz muito jovem, que nos admirava e por conta disso, entrou em contato para pedir autorização para tal empreendimento.

O seu nome era: Ricardo Aszmann, um adolescente morador do bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro. Logo o conheci pessoalmente e nos tornamos amigos. Rick Aszmann não apenas administrou esse fã-clube com grande entusiasmo, como muito ajudaria a banda em ações de divulgação no Rio, sempre a projetar oportunidades boas para nós.

Somos amigos até os dias atuais e certamente para sempre, pois nos falamos constantemente pelas Redes Sociais da Internet. Rick estudou guitarra e violão, fez faculdade de música, foi side-man de artistas, formou bandas e é um professor muito requisitado no Rio.

Já gravou discos solo, e atualmente (2015) articula uma banda eclética, com forte influência de Jazz e Black Music, para atuar pela noite carioca.

Rick apoiou-me desde quando eu tive a ideia de começar a escrever minha autobiografia em 2011, na plataforma da comunidade "Luiz Domingues", da saudosa e insuperável Rede Social Orkut, e vem a acompanhar o texto que caminha para a finalização aqui no meu Blog 2 e também no Blog 3, neste momento de 2015 (com formatação de capítulos diferente, como livro impresso).

4) Tornou-se muito constrangedor ao ler hoje em dia, mas ao mesmo tempo engraçado, uma nota ridícula que deu conta de que durante os shows do Centro Cultural, o Beto Cruz quando cantava a música: "Ninho do Amor", se aproximava de minha pessoa e apontava-me quando cantava trechos em que a letra narra a história de um sujeito sobre a preferência por ninfetas... na realidade, se tratava de uma brincadeira para mexer com o público nos shows e eu quis explorar isso como algo engraçado para o fanzine.

5) TV - Além dos programas de TV que fizéramos de janeiro de 1987 até aquele ponto de abril, eu citei o programa: "Super Special" da TV Bandeirantes, que realmente deu apoio testemunhal para promover a nossa temporada no Centro Cultural São Paulo.

6) Rádio - Destaque para mais uma entrevista no histórico programa: "Balancê", da rádio Globo/Excelsior. Falei também sobre programas da emissora 97 FM que estavam a nos auxiliar com execuções de músicas, casos de: "Reinação" (comandado por Leopoldo Rey), e Riff Raff, do Richard Nacif. A música "Desilusões" realmente estava para entrar na programação da emissora, e de fato, isso veio a ocorrer.

Houve também a notícia de que o programa: "Sinergia" de Valdir Montanari, anteriormente transmitido pela USP FM, estaria de mudança para a Alpha FM e assim, tivemos a certeza de que teríamos mais um espaço, certamente.

7) Mais um aspecto técnico, dei a entender que o Rubens tencionava adquirir um novo equipamento ou quiçá uma nova guitarra para breve. Houve a intenção, sim, de comprar um novo amplificador, mas infelizmente isso não se concretizou.

8) Promoção - Resolvemos criar uma promoção diferente para movimentar o fã-clube. Ganharia uma foto autografada da banda, quem enviasse a melhor redação com o tema: "por que eu gosto d'A Chave do Sol"

9) Fã-Clube - E a fase foi tão boa nesse campo, pelo menos, que além do Rick Aszmann no Rio, outro fã clube foi fundado no interior de São Paulo. Vinha de Oswaldo Cruz-SP, a iniciativa de um garoto que já mantinha um fã-clube chamado: "Defensores do Heavy-Metal". Claro que aceitamos e lhe outorgamos o nosso aval para ele iniciar as suas atividades. Infelizmente, ao contrário do Rick Aszmann no Rio, que realmente se esforçou e ajudou demais a banda, até a acompanhar a sua dissidência no momento de pós- rompimento ao final de 1987.

10) Fofoca - Uma brincadeira com a minha própria pessoa, a nota afirmou que estava a chegar cartas de fãs a afirmar que eu me parecia com alguns astros do Rock internacional. Isso foi verdade e as citações de figuras como: Steve Harris, Steve Vai, Bruce Dickinson, e Ian Astbury, do The Cult. Na minha opinião, todos não tinham nada a ver comigo e o mais próximo pela fisionomia facial foi: Ian Astbury. Convenhamos, Steve Vai é sósia de Paulo Zinner, o baterista do Golpe de Estado...

Rubens ainda namorava a Gibson SG double neck que pertencia ao Marcos Cruz, irmão do Beto. Eu também namorava o Rickenbacker ano 1967 que ele estava a vender, também, mas ambos ficamos a ver navios, pois sem dinheiro para tal, os dois instrumentos foram arrematados pelo músico/colecionador, Marcus Rampazzo.

Outra história verdadeira e emocionante para nós: de fato de que o Zé Luiz circulava com bicicleta pelo bairro de Interlagos, portanto bem longe de sua casa, quando estourou o pneu e teve que pedir carona para voltar. O caminhoneiro que o auxiliou, foi mesmo um fã d'A Chave do Sol, ou seja, foi inacreditável como não tínhamos a real dimensão de nossa popularidade, ao acharmos que éramos só conhecidos no nicho do Rock underground. 

Como o Edgard houvera aprovado a brincadeira que eu havia feito na edição anterior do fanzine, ao insinuar que ele fosse gay. quando "soltara a franga" ao encontrar a travesti, Roberta Close pelas ruas de Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo, eu insisti na brincadeira e neste novo momento, inventei que ele ficara furioso com a insinuação. Para atiçar mais a brincadeira, escrevi ao final: "Não precisa ficar nervoso Edgard, não foi essa a nossa intenção, mas que você gostou do encontro, gostou, não negue sua louca"... 
Ele riu muito dessa continuação da piada e realmente não se ofendeu, ainda bem.

11) Fãs - Além da tradicional publicação de endereços de fãs interessados em conhecer outros fãs, eu também citei um concurso que acontecia na Revista Som Três, que criara uma enquete para saber que artistas seriam sugeridos para compor o elenco de atrações de um possível Festival Rock in Rio 2. Conclamamos os fãs a escrever e nos dar apoio.

Zé Luiz trabalhou nesse lay-out desta edição do fanzine, nitidamente para não me deixar sem apoio, pois sabia de minha inabilidade para trabalhos manuais. Eu escrevia todo o texto, mas sempre fui zero à esquerda para artes gráficas, desenho etc...
O clima já não estava bom e fatos que estavam para acontecer em breve, trataram de piorá-lo ainda mais.

Teríamos um show para fazer em maio, apenas, e as tais reuniões com novas tentativas de abordagem à gravadoras. O que eu não pude imaginar, foi que esse show de maio, estava fadado a ser o último d'A Chave do Sol com a sua formação clássica...
Continua...

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 374 - Por Luiz Doimingues

Uma rara foto desse show de Caraguatatuba-SP, em abril de 1987. Zé Luiz tocou em um praticável muito alto, acima das cabeças dos amplificadores, sob um padrão de festival internacional, portanto. Click do nosso roadie, Eduardo Russomano, com uma máquina Polaroid

No dia do show, deu para sentir que a expectativa na cidade esteve alta, e apesar de não haver muitos artistas populares escalados para se apresentar, tudo levou a crer que haveria uma multidão na praia.
Ao final da tarde, um micro ônibus da prefeitura foi disponibilizado para levar as bandas, e quase todo mundo quis ir logo e dessa forma, acompanhar a maratona toda a ficar no hotel e esperar a vez de tocar.

Quando descemos do veículo, uma enxurrada de adolescentes cercou-nos, com canetas e papel à mão, a visar caçar autógrafos de todos que desciam. Mas ninguém se iludiu com tal assédio, pois esses jovens falavam aos gritos uns para os outros: -"quem é esse aí?", assim que recebiam o autógrafo, a denotar não conhecerem ninguém, nem mesmo o Donizeti, supostamente um artista popular. Lembro-me bem do saudoso, Hélcio Aguirra, a comentar comigo: -"veja o que enfrentaremos daqui a pouco... nem sabem quem somos"... 

O cantor sertanejo, Donizeti, estava conosco nessa comitiva, e parecia tímido em princípio, mas logo foi a ambientar-se entre os Rockers. Ele era gente boa, e nós apreciamos a sua humildade ao conversamos com ele.

Ele nos disse que estava bastante temeroso em enfrentar um público possivelmente Rocker que o detestaria, mas nós o tranquilizamos, a dizer-lhe que não haveria indício algum que aquele público fosse pautado por essa característica, e que também tínhamos as nossas dúvidas sobre a mesma questão, mas de maneira inversa, ou seja, que fosse uma massa popular avessa ao Rock e nos hostilizasse.

Tudo foi obscuro naquele instante, como uma incógnita para todos naquele momento pré-show, a gerar especulações as mais estapafúrdias. No backstage, tudo pareceu ser simples, com um camarim improvisado como tenda de circo, mas com saletas individuais, para cada banda, portanto, bem organizado.

A multidão presente na praia já era enorme ao cair da tarde, e a temperatura amena, talvez um pouco fria para os padrões dos habitantes daquela localidade, acostumados com o típico calor daquela cidade praiana.

Donizeti foi chamado ao palco e subiu, corajosamente eu diria, pois teve a real noção que estava a ser o artista "open act" de quatro bandas de Rock pesado e ao contrário, ele faria uma apresentação intimista e acústica, na base da voz & violão.

Infelizmente, ele foi bastante hostilizado pelo público, e alguns mais abusados, insistiram em arremessar bolas de areia comprimidas em sua direção. Ficamos chateados com tal atitude, claro, pois ele foi um artista a tentar dar o seu melhor ali em cima, e independente de gostarem ou não do seu trabalho, a hostilidade foi descabida e vergonhosa.

E para relembrar artistas hostilizados pelo público, eis acima a figura de Sérgio Ricardo a quebrar o violão em 1967, por protesto às vaias que recebia no Festival de MPB da TV Record. Ou, poderíamos dizer que foi  muito "MODderno", por quebrar violões em cena, como contemporâneo de Pete Townshend...

Ele seguiu em frente, fez seu set sem cortes e ao sair, mesmo chateado com a recepção deselegante com a qual fora tratado, mostrou-se resignado. Nós o cumprimentamos pela coragem, e principalmente por não esmorecer ou tampouco perder a cabeça e responder com revolta ao microfone etc. Nem todo artista tem esse sangue frio numa situação dessas, vide Sérgio Ricardo no Festival de MPB da TV Record em 1967.

Chegara a hora das bandas de Rock e o Proteus foi chamado ao palco. O seu show era energético por natureza intrínseca, com os três membros da linha de frente a exercer uma mise-en-scène compatível com bandas internacionais de Hard-Rock oitentistas, e com o Kiss, como inspiração máxima. Com o apoio das explosões do Calil, Ciro Bottini & Cia. divertiram o público que respondeu com gritos e aplausos.

Ficamos todos mais relaxados, pois ficou claro que o público queria diversão e mesmo não sendo Rocker em essência, estava a se divertir a farra pela euforia gerada e assim, não haveria de ser diferente com as demais bandas, também.

Com P.A. de grande porte e iluminação de porte, teve a infraestrutura de um show internacional feito em estádio, portanto, a pressão sonora estava muito forte e a iluminação, esfuziante.

O Golpe de Estado estava escalado para tocar a seguir, mas o vocalista, Catalau, não estava presente nos bastidores enquanto p Proteus se apresentava. Os outros três membros do Golpe de Estado haviam viajado conosco na comitiva, mas Catalau não dera sinal de vida até então, embora estivesse ciente dos compromissos. Em uma época onde não existia telefones celulares, eles podiam apenas torcer pela chegada do seu vocalista.

Diante dessa situação, fomos tocar e lhe demos assim mais tempo para que a sua situação interna desagradável fosse solucionada.

Quando subimos ao palco, após uma apresentação entusiasmada de um comunicador de rádio local, que foi o mestre de cerimônias do show, a multidão estava imensa. Foi o maior público que a nossa banda estava a receber, sem dúvida alguma.
Uma pena, mas essa foto rara desse show está tão escura, por conta de ser proveniente de uma máquina polaroid, bem simples. A sua autoria foi de Eduardo Russomano, nosso roadie na ocasião, escondido atrás dos amplificadores.

Com um palco de dimensão gigante, pudemos correr pelo palco com a mesma desenvoltura de bandas internacionais, e a cada corrida que eu empreendi, sentia o canhão "Super Trouper" da iluminação a me seguir, e envolver-me através de uma uma bolha de luz branca, e esta sensação foi ótima, pois deu-me a certeza de que o show estava a ser bem cuidado, apesar de não ter havido soundcheck, tampouco, mapa de luz que orientasse o iluminador e os seus assistentes.

O público respondeu muitíssimo bem aos impulsos de nossas músicas, como se as conhecessem, o que foi até engraçado pela simples constatação de que não éramos artistas populares do mundo mainstream. Ora, como explicar isso? Pois é... passaram-se vinte e nove anos (a escrever e publicar em 2015), e até hoje eu não tenho uma explicação plausível sobre tal fenômeno estranho.

O técnico do P.A. era um rapaz que já havia operado o nosso som e também com um equipamento de P.A. com forte pressão sonora, anteriormente. Apelidado como: "Castor", havia operado o som da nossa banda em um show realizado na Danceteria Radar Tantã de São Paulo, em 1984, fato contado com detalhes em capítulo bem anterior.  ele não poderia fazer nenhum milagre sonoro, pela ausência do processo do soundcheck e pelo simples fato de não conhecer a banda (quando lhe falamos sobre o show do Radar Tantã, ele só se lembrou que havia trabalhado lá...).
Mas a julgar pela reação do público, a mixagem que imprimiu, devia estar excelente, pois realmente estava sendo muito surpreendente para nós, a observação de tantos gritos e aplausos, mãos levantadas em nossa direção e tudo mais, como se fôssemos o grupo de Rock norte-americano, Aerosmith a tocar em um estádio de beisebol, nos Estados Unidos e diante de seus fãs mais fanáticos.

No palco, a mixagem da monitoração estava razoável. Houve pressão, mas os timbres deixaram a desejar. Mas foi o tal negócio: Rockers outsiders e fora do mainstream que éramos, estávamos muito acostumados a tocar nas piores condições possíveis, portanto, uma monitoração mediana como aquela, foi um primor para os nossos padrões usuais...

Enfim, eis aí uma compensação em ser "Pobre Star"... quando raramente tínhamos estrutura de gente grande para trabalhar, até estranhávamos... e por outro lado, dificilmente equipamentos péssimos nos derrubavam, um elemento que artistas internacionais tarimbados não estavam acostumados (caso do Uriah Heep no Via Funchal em 2006, que eu assisti da coxia, e vi como estavam irritados com a péssima monitoração que o técnico brasileiro de monitor lhes forneceu. Isso está contado com detalhes no capítulo do Pedra).

Fizemos o nosso set list base da época, tocamos dois números em ritmo de bis, ou seja, a pedido do público e a sensação de termos feito o show foi muito acima das nossas expectativas, tão ressabiados que estávamos com a incógnita que aquilo tudo sinalizara para nós.

Quando deixamos o palco, vimos que o pessoal do Golpe de Estado ainda estava tenso. Catalau não dera sinal de vida e estavam resolvidos a tocar em formação como trio, com Hélcio e Nelson a improvisar para cantar as canções. Eis então que apareceu a figura do Catalau, a usar roupas de couro e pesadas correntes cravadas por tachinhas, mais a se parecer um vocalista de banda de Heavy-Metal. Para intensificar a sua chegada triunfal ao camarim, estava a segurar dois cães da raça, doberman, por coleiras igualmente ornadas com tachinhas, que sabe-se lá de onde vieram...

Bem, a partir do Golpe de Estado, eu já não prestei mais atenção diretamente nos shows, pois concedi entrevistas para emissoras de rádio e o jornal local, fora vários fanzineiros que apareceram, também a nos abordar.

Uma dessas entrevistas eu consegui providenciar para compor o portfólio e que foi publicada posteriormente.

Foi uma noite intensa, com um sabor de dever cumprido e mais que isso, sucesso. O divulgador, Bip Bip estava presente e ele apreciou muito o nosso show e estava entusiasmado em nos apresentar ao diretor de repertório da gravadora. Foi muito positivo ter essa força a mais, mas depois da frustração com a Warner, ficamos bem mais reticentes e os acontecimentos que se seguiram, culminaram com o rompimento com a produtora Studio V, o que nos tornou muito mais cautelosos.

Cabe registrar que a propagada transmissão ao vivo da TV Bandeirantes não aconteceu. Uma explicação simplória sobre algum empecilho técnico de ultima hora nos foi informada, mas na prática, não termos tido essa exibição televisiva jogara por terra abaixo o esforço em ficarmos quatro dias à disposição dessa produção, e principalmente sem cachê. Muito bem, o show foi bem divulgado e as condições técnicas de alto padrão, mas o tal "investimento de carreira", não se justificava sem a presença da TV, portanto, apesar do público caloroso, ficar sem cachê foi doloroso.

Como compensação, ao menos houve a cobertura ao vivo de uma emissora de rádio local, com repórter no camarim o tempo todo a entrevistar artistas ali presentes e a repercutir o andamento do espetáculo. Tratou-se da presença da Rádio Oceânica de Caraguatatuba-SP, que repetiu a dose no dia seguinte.

No dia seguinte, teríamos uma repetição dos shows, portanto. Foi o mesmo equipamento, a mesma estrutura, mas o público mostrou-se diminuto. Das mais de trinta mil pessoas presentes no primeiro dia, agora, cerca de cinco mil compareceram ao segundo dia de apresentações. Tocamos com a mesma vontade, mas a vibração da plateia estava muito abaixo, com um tipo de público apático, que mal bateu palmas educadas.

Voltamos para São Paulo satisfeitos com o resultado do primeiro show muito quente, e resignados com a apatia do segundo. Chateados com a ausência da TV nesse esforço que fizemos, mas animados com a perspectiva do Bip Bip nos agendar entrevista com o executivo da BMG-Ariola.

E assim foi... no dia 19 de abril de 1987, tocamos para trinta mil pessoas (estimativa da Polícia Militar, mas eu acho que havia mais gente, por que a contagem da PM sempre subestima a realidade nas suas avaliações de multidão), e no dia seguinte, 20 de abril de 1987, foram cerca de cinco mil (mas desta vez, não deve ter ultrapassado mesmo a avaliação da PM).

Continua... 

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 373 - Por Luiz Domingues


Estreitamos portanto o contato com o popular, "Bip Bip", que tornou-se um amigo, ao afeiçoar-se à nossa banda. Tivemos várias reuniões e lembro-me dele nos presentear muitas vezes com LP's de divulgação do estoque excedente da empresa. Geralmente eram pastiches Pop oitentistas, a mas garimpar, ele achava algo mais palatável aos nossos ouvidos Rockers...

Por exemplo, tenho um disco solo do cantor, Bryan Ferry (LP Bête Noire), até hoje na minha estante de velhos vinis (e digo com pesar de que apesar de adorar a sua ex-banda, O Roxy Music, este trabalho solo dele é um Pop oitentista bem insosso).

Bem, "Bip Bip" ouviu a nossa demo-tape e apreciou o material. Achava que tinha potencial Pop, sim, mas não dependia dele a aceitação dentro do elenco da companhia. Após o show de Caraguatatuba-SP, Bip Bip honrou a sua palavra e agendou uma entrevista direta com o diretor de repertório, portanto o homem que daria o aval para contratações de novos artistas. Mas antes de chegar nesse ponto, eu preciso falar sobre os shows de Caraguatatuba, logicamente e que acrescentaram diversas histórias paralelas ao anedotário da banda...


Os shows estavam marcados para os dias 19 e 20 de abril de 1987, mas a viagem foi marcada para o dia 17, dois dias antes. A produção sugeriu que estivéssemos lá com tal antecedência, a alegar que a logística da TV previa ajustes, com soundcheck antecipado etc. e tal.

Viajamos juntos, todas as bandas e suas respectivas comitivas, em um ônibus da prefeitura de Caraguatatuba, em clima de muita descontração, a lembrar a euforia de uma excursão escolar. Fomos direto ao hotel que hospedar-nos-ia e constatamos não ser nenhum hotel de luxo, na verdade, tal estabelecimento se mostrou bem simples, sem qualificação de estrelas da Embratur. Tudo bem, estávamos ali a trabalho e não arrancar-nos-ia pedaços ficarmos quatro dias hospedados sem as mordomias inerentes de um hotel mais categorizado.

Fomos instruídos pela produção a descansarmos e aproveitarmos o tempo livre da maneira que quiséssemos e claro que a maioria foi para a praia, distante cerca de quatro quarteirões dali do hotel, e eu fui um dos únicos que preferi colocar a minha leitura em dia, a aproveitar para ler um livro que levara na bagagem. Nunca gostei de praia, portanto, não apeteceu-me tal perspectiva.

Os meus sócios d'A Chave do Sol e diversos colegas de outras bandas me falaram que foram ver o palco, naturalmente. Na quinta-feira, este já estava inteiramente pronto, e a equipe do equipamento de som e iluminação, montava o enorme P.A., a todo vapor. Estavam animados, portanto, a contar-me que os shows deveriam ser produzidos com uma grande estrutura.

Que proveitoso, o sacrifício de se fazer dois shows sem cachê, para alimentar a tal ideia de um "investimento de carreira", pareceu estar justificar-se, enfim.

Naquela noite, aconteceu algo engraçado naquele hotel e portanto, é fato digno de ser mencionado.

O Proteus havia contratado um rapaz chamado: Calil, que era conhecido no meio Rocker de São Paulo por ser um especialista em efeitos pirotécnicos usados em shows. Era contratado por muitas bandas que eu conhecia, mas o Proteus o tinha como quase um funcionário fixo, pois fora uma estratégia da banda, contar com efeitos visuais, sempre em suas apresentações. Tal banda era muito influenciada por grupos internacionais que usavam e abusavam de tais expedientes cênicos, notadamente o Kiss. Para muita gente, inclusive, o Proteus era apelidado informalmente como: "Kiss brasileiro", por conta de seus shows cheios de pirotecnia.

Muito bem, feita essa explicação, digo que o Calil estava ali com um container repleto de materiais, para trabalhar nos efeitos e então ele resolveu fazer testes de suas criações para os shows do Proteus. 

Só que não dimensionou o óbvio, ou seja, o local e o horário, sobretudo, que escolheu para tais experimentos, foram absolutamente inadequados!

Por volta de meia noite e meia, ouvimos uma sequência de explosões que pareceram que o prédio estava a ruir. Funcionários do hotel rapidamente se mobilizaram e descobriram que tais explosões ocorreram na laje superior do edifício, e ao chegar lá, flagraram Calil com o seu material a fazer experimentos...

E por falar em material, ao olhar de perto, dava medo e faria um oficial do Corpo de Bombeiros se desesperar, obviamente. Tudo parecia precário, feito com latas de tinta, pequenas latas de achocolatados matinais, tábuas de madeira como base para um tipo de fiação suspeita, botijões de gás de cozinha etc.

Apesar disso, atesto que nos shows, os efeitos eram incríveis e visualmente a falar, em nada ficavam a dever para bandas internacionais que usavam tal expediente cênico. Lembro-me de ter visto um show do Proteus no Teatro Mambembe, com o expediente de muitos efeitos, tais como a chuva de prata, chamas altas, cascatas de fogo etc...

Bem, apaziguado o ânimo no hotel, fomos descansar enfim. No almoço do dia seguinte, os organizadores do show, funcionários da prefeitura de Caraguatatuba, fizeram questão de que todas as bandas estivessem juntas, a promover uma confraternização.

Não foi um evento fechado no entanto, e assim, o restaurante estava lotado com clientes alheios a esse acontecimento, muitas famílias, com crianças e idosos sentados pelas mesas, naturalmente.

Quando chegamos, naturalmente que um bando de cabeludos chamou a atenção inteiramente no salão. Normal, todos estávamos acostumados com esse choque social ainda existente na sociedade brasileira, apesar de anos e anos com o costume Rocker de homens a usar cabelos longos a ser absorvidos pelos meios de comunicação Pós-Movimento Hippie, bandas de Rock etc.

E assim, foram membros de bandas como o Inox, Golpe de Estado, Proteus, e nós d'A Chave do Sol, ali presentes. Não havia nenhuma banda de outra estética, o que aliás, foi engraçado, pois teoricamente seria um festival popular, e a escalação de bandas da cena pesada e todas fora do panorama mainstream, incluso o Inox, que teoricamente era do elenco de uma gravadora major, mas na prática habitava o patamar underground como todas as demais, e assim, causou estranheza, portanto.

Apesar da fama de Rockers serem extravagantes, ali ninguém estava a se portar de forma a chamar a atenção por algum comportamento fora do padrão e portanto, o objetivo foi apenas almoçar, sem nenhum transtorno ao estabelecimento ou aos seus clientes, de forma alguma. Entretanto, nem todo mundo estava imbuído desse espírito zen e algo engraçado aconteceu.
Sentei-me na imensa mesa, entre Hélcio Aguirra e Rolando Castello Junior. Lembro-me do Hélcio a me dizer que o Junior estava "quieto demais", e a qualquer momento poderia "aprontar" alguma maluquice. Rolando era da velha escola Rock'n' Roll, pronto a cometer alguma extravagância, no melhor "estilo Keith Moon", com muitas lendas urbanas a contar história por ele protagonizadas nesse sentido. Então, não deu outra... poucos minutos depois, ele, Junior, olhou-me e disse: -"Ô, português... duvida que eu suba nessa mesa e dê uma volta nela? Lhe respondi de pronto: -"é claro que não duvido".

Pensei que com isso, que ele se sentisse desestimulado a fazê-lo, pois a sua pergunta capciosa denotara a intenção clara de jogar a isca para que eu lançasse um desafio para ele, mas eu não o fiz. 
Porém, não foi o bastante, e mesmo assim, ele levantou-se e subiu na mesa, e a soltar alguns palavrões em voz alta, foi de uma ponta até a outra, para chamar a atenção do restaurante todo.

Vários clientes se revoltaram e chamaram o gerente do restaurante para exigir uma advertência, quiçá a expulsão dos cabeludos indesejáveis. O gerente veio nos pedir mais moderação, mas logo foi convencido de que aquilo fora uma brincadeira isolada e que no cômputo geral, estávamos a nos portar de forma educada, portanto, seria melhor não tomar providências mais drásticas. 

A partir do terceiro dia de nossa estada na cidade, nos convidaram a não mais chegarmos em grupo, e não usarmos uma mesa apenas, como uma maneira de dispersar a possibilidade de promovermos novos tumultos. De certa forma, foi engraçado nos sentirmos como colegiais a ser monitorados no refeitório da escola. 

Não houve soundcheck. Ao alegar atrasos na montagem do equipamento, fomos informados que os shows seriam feitos sem nenhum preparo, e claro que em meio a um equipamento daquele tamanho e palco imenso, isso foi muito temerário. Sem deixar de mencionar que a nossa estada antecipada na cidade se provara inútil sem a possibilidade de um soundcheck. Além da estranheza de se realizar um show popular na praia, gratuitamente, é claro, a inexistência de artistas desse apelo, foi muito estranho a se comentar entre nós das bandas envolvidas. 

O Brasil não havia mudado da noite para o dia, para acreditarmos que um Festival de Rock ocorresse em uma praia com aquela estrutura toda e cobertura de TV, ainda por cima, com quatro bandas não representantes do patamar mainstream.

Então, ficamos a saber de última hora, que uma atração popular estaria presente enfim. Tratou-se de Donizete, um cantor sertanejo que detinha popularidade em programas de TV e rádios AM que atingiam tal público e mesmo ainda em uma época onde as tais duplas sertanejas não haviam dominado de forma predatória, o mercado e a mídia.

Bem, nesse caso, causou ainda mais estranheza que um artista popular estivessem em meio a quatro bandas de Rock pesado. Em suma, seria um festival muito bom por toda a estrutura técnica disponibilizada, mas não entendemos qual foi a real intenção de seus organizadores, mesmo por que, houve também a questão da transmissão na TV.

A analisar friamente, como se eu fosse um marqueteiro, não teria sido melhor escalar bandas que fossem mais palatáveis ao gosto popular? O "Rock" poderia ser de outra estirpe, praticado por bandas emergentes e independentes como nós, mas que não fossem contratadas de gravadoras majors, porém dentro da estética do BR Rock' 80, ou seja, aceitariam igualmente tocar de graça, em troca do tal "investimento de carreira".

Bandas como as nossas, em meio a um festival que não fora planejado para ser especificamente destinado ao nicho de público habitual que nos acompanhava e apreciava, pareceu-nos muito estranho, ou talvez, a pensar com otimismo, a caracterizar um sinal de que os boatos que ecoavam pelos cantos, desde 1984, estava para acontecer, com o Hard-Rock a ter a sua vez, enfim, no patamar de cima. Todavia, gatos escaldados que já éramos naquela altura do acontecimentos, foi difícil de acreditar nessa premissa...
Continua...