quinta-feira, 18 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 313 - Por Luiz Domingues

Ao falar sobre o primeiro item que citei no capítulo anterior, tratou-se de uma sondagem que recebemos de um escritório, a desejar saber se nós tínhamos empresário; manager, agente, ou alguém que cuidasse de nossa vida empresarial de uma maneira simples que fosse. Ora, desde 1982 que perseguíamos uma oportunidade desse porte, com diversas tentativas que tivéramos com empresários de vários tipos. 

Nesses termos, havíamos colecionado uma gama de acontecimentos nesse sentido: de empresários de baixo nível a escritório de médio porte; também a passar por pilantras explícitos, aspirantes a empresários, pessoa inocente, mas bem intencionada, incautos sem noção, e profissionais bons, que queríamos, porém a recíproca não foi verdadeira (por exemplo cito as personas de Jerome Vonk, que nunca interessou-se por nós e Antonio Celso Barbieri, que não desejava trabalhar com exclusividade com nenhum artista), enfim, a lista de tentativas que tivemos em achar alguém que pudesse impulsionar a nossa carreira, foi grande nessa metade de 1986, e tudo devidamente anexado à esta narrativa, ao longo dos capítulos anteriores.

Desta vez, porém, esse telefonema pareceu ser um alento, pois a primeira impressão que tivemos, foi de que esses interessados ostentavam um determinado porte, pois diziam possuir uma estrutura, ao arrolar um estúdio de gravação próprio, assessoria de imprensa, e contatos na indústria fonográfica. 


Claro, tirante ser uma possível bravata, no afã de exercer a mera autovalorização típica para uma primeira abordagem em tom de auto-enaltecimento, só o fato de alegarem ter um estúdio próprio de gravação, já nos chamou a atenção, pois nos anos 1980, a regra do mercado foi a dos estúdios serem extremamente caros. 

Em uma época muito diferente da atual (2014, quando escrevi este trecho e 2015, quando o publico), onde artistas gravam discos em quartos de apartamento, a usar softwares, naquela época, para se gravar, só mesmo se entrasse em estúdio profissional e os preços cobrados para efetuar-se tal atividade, eram salgados.

Portanto, a simples menção de que tinham esse recurso, soou extraordinária para nós, pois ser proprietário de um estúdio particular representara um luxo para a época, e claro que consideramos sim, a hipótese de ouvir a proposta de tal escritório, pessoalmente. 


A alegação deles para nos abordar, foi de que tinham sob contrato um elenco de artistas oriundos de gêneros e nichos de mercado distintos para trabalhar, e que agora haviam decidido adentrar ao mundo do Rock, também, e para tanto, procuravam por uma banda de Rock emergente, onde explorariam os seus contatos para possivelmente catapultá-la ao sucesso mainstream. Dessa maneira disseram ter realizado "uma ampla pesquisa de mercado", e que haviam chegado à conclusão de que "A Chave do Sol" seria a banda emergente com o melhor potencial para ser contratada por eles.

Não obstante o fato de ser algo falado à esmo, e sem explicar que tipo de pesquisa foi essa, o fato foi que a nossa percepção pessoal nesta época, era de que estávamos de fato a nos popularizar, mediante a constatação de que estávamos presentes nos jornais, revistas, a aparecer em programas de TV, rádio e muitos shows, conforme já narrei nos capítulos imediatamente anteriores, portanto, por que não, acreditar que alguém houvera efetivamente enxergado tal potencial de nossa parte?  


Por outro lado, todo esse discurso fora fascinante, mas apesar de sermos jovens, não éramos mais adolescentes, e a própria banda detinha uma kilometragem suficiente para não engolir uma argumentação tão adocicada assim. Por que não foram atrás de alguma banda alojada em um patamar mediano do mercado, acima de nós? Estariam as melhores opções perdidas para outros empresários? Possivelmente sim, é claro, mas neste caso, em ao considerar-se que procuravam emergentes no estilo "caçador de talentos", não seria muito mais objetivo caçar tais talentos em casas noturnas como o "Madame Satã", por exemplo, onde bandas com tais características mais próximas ao Pós-Punk se apresentavam todos os dias? 

Por tratar-se do mundo empresarial, que investidor procuraria oportunidades na segunda ou terceira divisão do negócio? Se desejavam ganhar dinheiro de verdade, a opção mais confiável seria buscar artistas que rezassem a cartilha da estética Pós-Punk, e jamais cabeludos anacrônicos, a produzir Hard-Rock, ainda que a roupagem fosse oitentista para nós, naquele momento.

Isso já sinalizara uma grande dúvida que tínhamos, mas realmente não custava ouvir a proposta, e na base da velha máxima de que não tínhamos nada a perder, ao realizar uma reunião de abordagem inicial, nos colocamos à disposição para uma reunião preliminar. 


Aliás, só essa primeira reunião já geraria uma história e tanto, e ao antecipar-me, digo que esse tal escritório gerou um turbilhão de outras histórias, posteriormente e que eu vou narrar no momento oportuno, é óbvio...
Todas as fotos deste capítulo, são do show do Teatro Mambembe - 28 de julho de 1986 - Clicks de Maurício Abões

Continua...

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