sexta-feira, 26 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 365 - Por Luiz Domingues


De volta a São Paulo, soubemos que o Miguel não se encontrava no escritório e que demoraria a voltar, por estar a viajar naquele momento.

Tal ausência dele nos aborreceu, pois a estranha situação de silêncio como postura oficial do escritório após a recusa oficial da Warner em nos contratar, ficara incompreensível ao nosso entendimento. O discurso dele, em particular, até abordarmos tal companhia multinacional, fora pautado pelo extremo otimismo e mais do que isso, a demarcar a certeza absoluta de que entraríamos sem pestanejar no elenco da referida gravadora, mas ao ir além, outras companhias do mesmo porte também seriam portas que estariam abertas, e totalmente disponíveis para nós.

Portanto, a postergação de uma conversa franca, onde uma nova meta, um "plano B" nos fosse aventado, causara-nos estranheza absoluta, e além do mais, o discurso sobre ser fácil entrar em uma gravadora, e assim nos proporcionar o luxo de escolher, revelara-se uma falácia. 


Concomitantemente, a atuação dos produtores, Sonia & Toninho deixara muito a desejar e pequenas demonstrações de progresso, mediante alguma pequena conquista de espaço midiático, não nos seduzira, na medida em que, através de nossas próprias forças, já havíamos conquistado vitórias muito maiores.

Nesse imbróglio, pequenos sinais captados sinalizaram que o casal já não mantinha um relacionamento muito bom com Miguel, e isso explicou de certa forma, ainda que não claramente, a ausência dele, nas últimas semanas.

O cantor português que contrataram em 1986, houvera se revelado exatamente o que suspeitávamos que ele seria: um embuste. Só meses depois, eu vislumbrei um indício do que realmente aconteceu nos bastidores secretos do Studio V, quando li a esmo uma nota publicada em um jornal de São Paulo, a dar conta de que Sonia estava a ser processada, por conta de uma confusão gerada pelo cocktail produzido para promover o cantor português, e evento sobre o qual, eu já relatei anteriormente.

Para resumir: a total falta de visão ao contratar um obscuríssimo cantor, sem eira, nem beira, estourara o orçamento do escritório e isso explicou por vias tortas, a estranha forma como na inversa proporção de suas promessas faraônicas, eles estavam a nos enrolar.

Se a nossa insatisfação já era grande no mês de dezembro do ano anterior, imagine agora, quando o baluarte maior do Studio V, parecia estar a evadir-se e convenhamos, era o homem que detinha toda a estrutura física do empreendimento, e o único realmente confiável em termos de possuir entrada no mundo do Show Business.

Perdíamos tempo precioso ao ficarmos atrelados a esse confuso escritório, que além de não estar a nos impulsionar em quase nada, vivia uma crise interna e a perspectiva de uma reversão no quadro, se mostrara inexistente, eu diria.

Nesse instante, Sonia só cuidava acintosamente da carreira do comediante contratado, e estava fortemente empenhada em lhe garantir um contrato em uma nova rede de TV, e de fato, isso acabou por acontecer logo a seguir, com ele sendo convidado a conduzir um programa de humor, próprio, na TV Bandeirantes, que decidira nessa ocasião, lançar uma grade baseada no humor popular, ao contratar veteranos, verdadeiros  "dinossauros" do humor, como: Ronald Golias, o próprio, Agildo Ribeiro, já citado, e Carlos Alberto de Nóbrega entre outros.

Alheio ao baixo astral interno em que vivíamos com tal grupo empresarial inoperante, o nosso público não sabia de nada disso. A mídia especializada que nos dera muita abertura, e nos tratava com enorme respeito e admiração, também não suspeitava dessa situação, e pelo contrário, muitas notas ainda davam a notícia de que assináramos com um grupo forte de empresários, e que a perspectiva seria muito alvissareira para nós.

As oportunidades espontâneas ainda aconteciam e se por um lado ficávamos animados com isso, por outro, só lamentávamos que teríamos que abrir mão de 40% da nossa renda para essas pessoas, a troco de nada, praticamente...

Antes de avançar a falar sobre os shows que faríamos no Centro Cultural São Paulo, em fevereiro de 1987, abro parêntese para falar de mais uma edição do nosso fanzine, lançado em janeiro do mesmo ano. 
Continua...   

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