segunda-feira, 22 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 358 - Por Luiz Domingues


Nesse novo panorama, onde as bravatas não soavam mais pelos corredores do escritório, começamos a substituir a nossa euforia pelas apreensões. Sonia e Toninho só pensavam no comediante famoso. Miguel nos evitava e somente Arnaldo Trindade, nos dava ouvidos e conselhos. Arnaldo era um sujeito bem intencionado, não nego, mas naquela hierarquia, não tinha o poder de comando, e na real, agia mais como um psicólogo, quiçá padre, a ouvir as nossas queixas e tratar por jogar toalhas quentes sobre elas, mais preocupado em coibir tumultos eventuais que poderíamos causar ali dentro. Contra o comediante, não tínhamos absolutamente nada contra. Particularmente, eu era seu fã pelos seus personagens engraçados encenados em programas humorísticos da TV. E quanto ao português afetado, nessa altura, esta figura estrambótica mal frequentava as dependências do casarão mais. 

Lembro-me que chegaram a vender um show dele, o lusitano afetado, em Curitiba, ocasião em que a Eliane Daic chegou a viajar na comitiva, por ter trabalhado como produtora nessa aventura e claro, fora uma apresentação pífia, sob a vergonhosa ação do play back, em uma casa noturna. Enfim, que ele tivesse boa sorte na sua carreira. 

Dessa forma, queríamos que mostrassem mais serviço, visto que estávamos cansados de ver a falta de resultados significativos, a não ser pequenas entrevistas agendadas em órgãos pequenos de imprensa, ou do mundo popularesco, e tais pequenas ações já não poderiam nos contentar.

Dessa forma, enfim sinalizaram com algo concreto, que pareceu ser uma boa oportunidade para testar a sua capacidade de produzir algo, e assim não ficarem sentados a esperar os nossos contatos próprios captarem oportunidades, e sobretudo a formação de uma agenda.

A sinalização veio da Sonia, que disse-nos que o lendário, TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), estaria disposto a ceder uma de suas cinco salas de espetáculos, para nós produzirmos um show.
Histórico templo do teatro paulista/paulistano e do Brasil, tinha/ tem uma história espetacular nesse campo, porém, pouca tradição em shows musicais, a não ser, eventualmente peças de teatro com teor musical.  Mas show musical propriamente dito, não.

Muito bem, nos animamos, pois seria muito elegante tocarmos em um palco histórico da cultura nacional, onde uma série incrível de peças e atores famosos atuaram com grande brilho, por décadas.

Foi finalmente uma ação concreta do Studio V, em termos de show, e da Sonia, que tanto alardeava ter muita experiência no meio teatral, mas que na prática, só havia nos arrumado pequenas entrevistas e notas na mídia impressa, e uma entrevista de rádio, até então.

Hora boa também para testar o poder de fogo do Studio V, no que eles supostamente teriam de mais forte: a influência de Miguel como grande radialista que foi, portanto a usar de seu prestígio para alavancar uma divulgação exemplar, na base da amizade & conhecimento, com custo praticamente zero.

E hora também da Sonia poder somar, com os seus conhecimentos de outro tipo de mídia, baseada em sua experiência no meio teatral, mundo da TV etc. 

Dessa forma, nos reanimamos, a apaziguar um pouco a queda de euforia que sofrêramos por conta da rejeição não digerida por parte da Warner, rejeição de Rita Lee & Erasmo Carlos, desconfianças sobre o desempenho do Studio V etc.

Nesse ínterim, fomos conhecer finalmente o Agildo Ribeiro, no seu camarim, logo após o encerramento de um monólogo seu (hoje em dia gostam mais de se referir a esse tipo de espetáculo de humor, em sua alcunha americana, "Stand up Comedy").


Estava em cartaz numa das salas do próprio TBC, e claro, isso explicara o por que da Sonia aventar uma data para nós nesse histórico teatro. Agildo foi extremamente simpático para conosco. Claro, foi um momento breve, pois tínhamos o "semancol" de artista também, de saber que no momento pós- espetáculo é de bom tom não abusar de uma visita ao camarim, quando o artista está esgotado após a performance e precisa descansar. Fato, seja lá qual for a área, o palco esgota, mesmo que a performance seja comedida, caso de músicos eruditos que tocam sentados a ler partituras. O simples fato de haver público, é capaz de gerar uma energia de expectativa, que repercute e muito no emocional e no físico de qualquer artista.

Quando não há sinergia, então, essa energia é ainda mais desgastante, a sugar, literalmente a vitalidade de quem se apresenta.


Não vimos o espetáculo, mas em janeiro de 1987, convidados por ele mesmo, o assistimos, desta feita em um teatro de menor porte, mas conto sobre isso depois.

Neste poonto o empenho final de 1986, seria esse teste múltiplo que teríamos, pois alguns fatores seria analisados:
1) A capacidade do Studio V em produzir o espetáculo;
2) A viabilidade do TBC vir a se transformar em um novo ponto de shows de Rock, na cidade:
3) Se conseguiríamos demonstrar reação ao baque sofrido pela rejeição em relação a uma gravadora major.

Foi um alento, para continuarmos a confiar no Studio V, e isso amenizou a sombria desconfiança de que eles também haviam desanimado com o resultado da Warner e não tentariam outras companhias.
Continua...

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