sexta-feira, 19 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 324 - Por Luiz Domingues

A nossa querida sala de ensaios, na residência da família Gióia, em foto de 1983, com José Luiz Dinola à bateria e Rubens Gióia, de costas, por detalhe. Click de Seizi Ogawa

Diante dessa perspectiva, ficamos muito seduzidos pelo uso do estúdio, embora tivéssemos assegurada a nossa histórica sala de ensaios na residência da família Gióia. Não foi nem pela questão do espaço em si, mas pelo salto de qualidade técnica que tivemos, por que apesar de ser o nosso QG, e um verdadeiro lar (e que nos abrigou, a gerar inúmeras histórias e lembranças maravilhosas, devo acrescentar), desde os primeiros dias da banda, no já longínquo 1982, foi óbvio que através de um estúdio novo em folha, com equipamentos de primeira linha e possibilidade de gravação sem preocupação com o relógio, nós teríamos tal acréscimo na melhora do nosso áudio.
Também fomos seduzidos pela possibilidade de concedermos entrevistas em uma sala muito confortável e específica para tal função, ao dar-nos a impressão que estávamos a dar um salto vertiginoso em nossa carreira. Diante desses fatos, tivemos a impressão que o nosso grande "momentum" chegara, afinal. 

Estar a usufruir de uma estrutura dessas, mesmo sem ainda termos assinado com uma gravadora major, denotou que tal negociação haveria de ser por uma mera questão de tempo, não só pelo status adquirido, mas pelos contatos que eles diziam ter, e no caso do Miguel, seria mais do que certeza de que realmente os detinha.

Outro fator que amplificou tal sensação, foi o próprio volume de oportunidades geradas pela banda, de forma espontânea. Se o telefone estava a tocar espontaneamente em grande profusão, ao nos ofertar oportunidades, como não poderíamos acreditar que com o trabalho de um triunvirato de empresários com tal infraestrutura, isso não amplificar-se-ia de uma forma absurda, ao nos levar ao mainstream, como um rojão?

Nesses termos, avisamos à Sonia, que duas revistas musicais de grande porte, com circulação nacional, solicitaram entrevistas exclusivas.  Claro que ela adorou, e prontamente nos autorizou a marcar as entrevistas naquela sala ampla. Apesar da pompa e circunstância, iríamos lidar na verdade, com dois jornalistas que eram amigos pessoais nossos, portanto, mesmo a representar as duas maiores revistas de música do Brasil à época, todo o procedimento seria informal ao extremo.

Mesmo assim, recebê-los dessa forma, mostraria à ambos que estávamos a dar um salto e certamente que eles gostariam da nova, reservadamente, como amigos e formalmente, nas respectivas entrevistas, isso ficaria expresso nas entrelinhas. Pois então, as entrevistas foram marcadas. 

Uma seria com o jornalista Antonio Carlos Monteiro, para a revista Roll, e a outra para Leopoldo Rey, que representaria a Bizz, entretanto, em sua edição alternativa, "Bizz Heavy", recentemente lançada nas bancas. Recebemos ambos em dias diferentes, na propagada estrutura do casarão do Studio V.

Primeiro foi o Tony. Super amigo da banda desde 1984, o Tony era um admirador confesso da nossa banda, e sempre que podia, além de nos enaltecer em resenhas de shows e discos, alfinetava as gravadoras, a quem acusava de serem: "cegas; surdas, e mudas" ("Tommy, can you hear me"?), por nos ignorarem retumbantemente.  Para ele, apesar da tendência da indústria fonográfica ser a da monolítica aposta na estética do Pós-Punk, A Chave do Sol teria qualidade e potencial Pop para se impor no mainstream, claro, ao empreender algumas concessões inevitáveis.

Quando ele adentrou o casarão e viu a estrutura, principalmente o estúdio novinho em folha, ficou muito contente com a novidade, como um amigo da banda que sempre foi para nós. 

Reservadamente, ele nos cumprimentou com entusiasmo, pois também vislumbrou que seria o impulso que nos faltava, e acrescentou, que tinha a lembrança da atuação do Miguel como radialista, homem de TV, produtor de gravadora e empreendedor, ao criar o "Clube do Disco", uma empresa que teve uma relativa magnitude no mercado fonográfico, certamente. Com tais elementos, teve tudo para dar certo, e na visão dele, foi realmente o que nos faltava para enfim, chegarmos a uma condição superior no mundo da música. 

E ainda houve o casal: Sonia e Toninho, que ele não conhecia, mas nós lhe adiantamos que seriam experientes no meio teatral (bem entendido, baseados no que eles mesmos nos diziam), e que por conta disso, detinham muitos contatos na mídia. Enfim, tratava-se aparentemente de um reforço considerável.

A entrevista foi ótima, como seria de se esperar, vinda de um jornalista do calibre do Tony Monteiro. Ela teria sido ótima, mesmo se tivesse sido realizada em uma mesa de uma lanchonete, ou no velho quartinho que usávamos na residência Gióia, como a nossa sala de ensaios. Porém, revestida dessas circunstâncias novas para a banda, teve outro sabor para nós, e para o próprio, Tony Monteiro, sem dúvida.

Toda essa movimentação deixara a empresária, Sonia, ainda mais eufórica, pois estávamos a explodir, e em conversas reservadas, o próprio, Miguel havia afirmado para Sonia e Toninho, que o escritório havia achado uma "joia já lapidada e sem dono", e que dessa forma, precisariam fazer alguns poucos movimentos pontuais apenas, visto que já estávamos prestes a "acontecer"...

Como não poderíamos embarcar na euforia, entre nós quatro, membros da banda, nesses dias, mediante tais perspectivas? Sobre a outra entrevista falo a seguir, e cabe uma boa história...

Continua...

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