terça-feira, 9 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 99 - Por Luiz Domingues

Antes de prosseguir na cronologia dos fatos, abro um parêntese para falar sobre o encarte do CD, e do livro, "Pitzine", que foi incorporado à lata correspondente ao lançamento do disco. 

Sobre o encarte, as fotos correspondentes dos membros da banda, foram obtidas através de uma sessão realizada em um estúdio fotográfico localizado no bairro do Bexiga, zona centro-sul de São Paulo, chamado: "Pugliesi Privato Comunicações", em um domingo de outubro de 1996. 

O fotógrafo em questão, foi uma indicação minha, a tratar-se de um velho amigo dos anos oitenta, chamado: Carlos Muniz Ventura, que acompanhou de perto a carreira d'A Chave do Sol, e além da amizade conosco, fez muitas fotos promocionais dessa banda, desde 1984, além de fotos dos encartes do EP de 1985, e do LP The Key, em 1987.

Nessa sessão do Pitbulls on Crack, quase nenhuma foto foi aproveitada posteriormente, por que os companheiros vetaram a maioria dos clicks, ao alegar que havíamos ficado muito caricatos com o uso e abuso de uma suposta indumentária hippie sessentista. Bem, houve algumas que ficaram um pouco exageradas mesmo, e de fato, uma caracterização pesada assim requeriria uma produção extra. 

Não foi culpa nossa, e muito menos do Carlão, fotógrafo. Uma coisa, seria uma sessão de fotos de uma banda como o "Black Crowes", caracterizados como Rockers sessenta-setentistas, com uma naturalidade incrível, e bom gosto muito bem direcionado, mas outra, foi arrumarmos roupas supostamente coadunadas com essa estética e vibração, porém sem um olhar mais avalizado de uma pessoa entendida de moda (e sob rígida compreensão da época em questão), portanto, sem apoio profissional, fomos de peito aberto para uma sessão, e a correr o risco da caricatura, mau gosto kistch, exagero etc.

Lembro-me que a própria, Marina Yoshie, arrumou-nos o patrocínio de um brechó badalado da Vila Madalena, e lá, reforçamos o figurino ao apanharmos algumas peças. Entretanto, não havia nada "100% hippie sessentista" disponível, portanto, abastecemo-nos com peças que lembravam vagamente tal intenção. 

A única peça marcante que achamos, ficou com o Chris, e tratava-se de um colete de pele de carneiro, impossível de usar-se no calor tropical do Brasil, mas realmente chamativo. Quando o Chris vestia-o, lembrava muito a persona de Graham Nash, em seus mais gloriosos tempos como um autêntico freak das montanhas, digamos assim. 

Nesses termos, eu também concordei que cometemos erros nessa sessão fotográfica, por absoluta falta de noção estilística, sem portanto, capacidade de discernimento para distinguir o estilo "Hippie Chic" que ambicionávamos, em detrimento de uma caracterização infeliz que remeteu-nos ao uso de fantasias mal arrumadas para festas temáticas. Infelizmente, não tenho nenhuma cópia sequer dessas fotos promocionais, para publicar aqui. Os negativos ficaram com a gravadora. 

No caso do encarte, as fotos foram aproveitadas, justamente por que foram closes dos rostos, com alto contraste de luz e sombra, sob uma proposta do Carlão, a  visar buscar inspiração explícita no álbum: "With the Beatles", um clássico referencial do mundo fonográfico, para essa concepção de rostos obscurecidos por sombras. 


Sobre o cão pitbull que aparece na capa principal, vestido como astronauta, e no encarte interno, ao natural, na verdade tal animal era uma fêmea. Tratava-se de uma cadela, chamada: "Miss Bull Orioli". Não recordo-me ao certo, mas creio que a obtenção da sua foto, foi produção de campo da própria, Marina Yoshie, que conhecia o dono da cadela.


 
Todo o texto do encarte foi escrito por eu mesmo e traduzido para o inglês, pelo Deca. Também tive crédito por ser o responsável pela inspiração toda da atmosfera sessentista que norteou o lay-out, e por ter acompanhado a sessão de masterização. 

O meu exército Neo-Hippie também ganhou menção na lista de agradecimentos, creditados como "time de adolescentes do Luiz". Sobre a masterização, realmente fui o único representante da banda no estúdio do Egídio Conde, em uma manhã de outubro de 1996.

Mas na prática, eu nada contribuí para o processo, pois sendo um procedimento técnico, e cujo caráter digital era inteiramente novo para a minha compreensão na ocasião, a minha ajuda foi a de manter-me quieto o máximo que pude para não atrapalhá-lo. 

Nos poucos momentos em que conversamos, disse-lhe que acompanhara-o nos anos setenta, ao vê-lo a tocar em bandas como o Moto Perpétuo e Som Nosso de Cada Dia, e de fato, Egídio foi um ótimo guitarrista a atuar com essas duas bandas. Ele, por sua vez, ficou muito surpreendido por eu saber da sua trajetória musical e respeitá-lo por isso. Ora, certamente que ele não conhecia-me e não poderia supor essa minha vivência Rocker setentista, mas chega a ser irônico de certa forma, para quem está a ler a minha autobiografia, pela obviedade.

Outra ideia que eu tive e foi aprovada por todos, foi a da inclusão de uma citação a um "guru" indiano. A minha intenção não foi fazer pilhéria, mas sim homenagear as bandas sessenta-setentistas, das quais muitas, tinham um "guru" indiano que seguiam, admiravam e eu quis trazer essa sutil referência etc.

Mas claro, foi o Pitbulls on Crack em ação e o Chris sugeriu um nome indiano com duplo sentido, que foi aprovado pelos demais em aclamação... teve que vencer a opção pela galhofa, como marca registrada da verve humorística dos três, e assim, foi grafado (em inglês): "toda a glória para o nosso Guru Indiano, Batumahapa Grandhi"... acho que explicar o sentido malicioso desse nome fantasia, não é necessário. 

E também concordamos em dedicar o disco ao Arnaldo Baptista, e por sugestão do Chris, o designamos pela grafia brincalhona com a qual, ele mesmo, Arnaldo, costumava usar, para ser lida com fonética em inglês: "R Now Do".

Cabe acrescentar que o Arnaldo Baptista foi convidado para participar da festa de lançamento do CD, mas recusou o convite por motivos particulares. Mesmo assim, ele foi simpático ao receber um Kit da lata como presente, e retribuiu, ao dar-nos quatro camisetas com pinturas suas, feitas à mão. 

Usei a minha camiseta no show de lançamento, e em muitos outros shows de outras bandas por onde passei, doravante. 

Para finalizar, todo o lay-out seguiu o padrão do aparato de lançamento (na verdade, foi o contrário), com bastante motivação psicodélica; citações à Pop-Art, e foguetes espaciais ao estilo Apolo 11, além é claro, da presença da cadelinha Pitbull. Crédito total e mérito de Marina Yoshie na concepção gráfica de tudo isso.



Eu ainda usava aquele apelido que fazia menção à minha origem lusitana, portanto, nas fotos estou assim designado. Sobre o livro da lata, falo a respeito dele a seguir...

Continua...

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