sábado, 20 de junho de 2015

Autobiografia na música - A Chave do Sol - Capítulo 343 - Por Luiz Domingues

Subimos ao palco e ele estava decorado de forma a enaltecer o fato de ser uma edição especial do programa em questão. Havia pequenos praticáveis espalhados pelo palco, e nós fomos instruídos a ocupá-los de forma individual e eu até apreciei essa disposição, pois remetera aos anos sessenta, e basta dar uma busca no YouTube para ver dúzias de programas de TV dos anos 1960, com bandas a se apresentar dessa forma.
Mas houve, é claro, uma diferença básica em relação aos anos 1960... não continha nenhum equipamento, pois ninguém tocaria ao vivo ali, e só aconteceriam as malfadadas dublagens.

Surpreendeu-me no entanto, a recepção das enlouquecidas fãs do Menudo, pois ao contrário do que eu imaginara, não fomos hostilizados assim que entramos no palco, tampouco enquanto o apresentador leu a ficha a narrar sobre quem éramos, o nome da nossa música etc.

 
Por uma razão de lógica, optamos por apresentar a música "Saudade", que foi a nossa aposta mais Pop naquele momento, e a despeito de termos só uma gravação de demo-tape disponível para usarmos, foi a medida certa a ser observada, pelos motivos todos que eu já coloquei nos últimos capítulos, e acho desnecessário repeti-los aqui.

Quando as atenções ficaram entre nós, e o sonoplasta deu o play na máquina, não vou mentir a afirmar que tivemos uma ovação, mas muito ao contrário do que eu imaginei, muitas meninas acompanharam a nossa "performance" a bater palmas no ritmo da música, sem deboche, e assim a demonstrar estarem a se divertir.

Dentro do constrangimento que caracterizava uma dublagem, ainda mais com a audiência de três mil garotas ensandecidas, até que nos soltamos na performances. O Beto caminhou pelo palco, como se fosse para valer, dentro do possível.


Quando acabou a música, fomos aplaudidos. Não com uma ovação, mas bem além das palmas educadas, com certeza.

Missão cumprida, estivemos felizes por que a despeito de tudo, enfrentamos um público supostamente hostil e o domamos; não nos inibimos diante da incômoda tarefa de dublar, o que é um pesadelo para quem sabe tocar de verdade, e tivemos a certeza de que a audiência do programa na TV seria massiva, graças ao apelo dos artistas popularescos, porto-riquenhos. 


Voltamos ao camarim, nos despedimos da produção e partimos, a observar toda a euforia que estava a ocorrer no camarim dos rapazes hispânicos, com a farra estabelecida, a julgar pelos berros que ouvimos, com sotaque castellaño. Claro que partimos, sem nenhuma intenção de assistir a apresentação dos grandes astros do momento.

Gravamos a nossa aparição através de uma fita VHS, no dia de sua veiculação, no sábado posterior, mas essa fita desapareceu, lamentavelmente, para entrar para a contabilidade triste que aponta termos perdido mais da metade do material de TV que fizemos, nos anos todos de existência da banda. Tal filmagem aconteceu no dia 11 de outubro de 1986, e foi ao ar, uma semana depois, em 18 de outubro. Não contabilizei como show ao vivo, é lógico, pelo caráter da dublagem inglória, mas três mil garotas histéricas estiveram ali a nos ver, no Palácio das Convenções do Anhembi. 


Hoje em dia, ao escrever este relato, é indescritível a minha desilusão quanto à essa perda, pois esse material deveria constar da minha autobiografia, sem dúvida, a enriquecê-la. Paciência...


Continua...

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