quinta-feira, 18 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 85 - Por Luiz Domingues


Fomos à gravação do Musikaos, com esperança de que seria mesmo uma boa oportunidade de nos dar visibilidade em rede nacional, um fator raro para uma época já completamente dominada pela máfia do jabá nos meios de comunicação de massa.

Fora o velho teatro do Sesc Pompeia; a equipe da TV Cultura com a sua unidade móvel estacionada no mesmo canto da rua Barão do Bananal, quase esquina com a rua Venâncio Aires, foi em uma terça-feira e algumas pessoas da produção do Musikaos, eram remanescentes da época da velha, "A Fábrica do Som", porém, não havia nem de longe o mesmo clima da euforia de outrora, infelizmente. 


E foi uma pena realmente que não houvesse, pois o empenho das pessoas centrara-se para que fosse resgatado tal clima, principalmente da parte do Gastão Moreira, imbuído de ideais nobres nesse sentido. 

A passagem de som foi tranquila e bem objetiva. O som contratado para suprir o P.A. do teatro, era de uma empresa famosa de locação de equipamentos no mercado do Show Business, e a iluminação do teatro, era de qualidade, obviamente no mesmo padrão. Dividiríamos a noite com amigos: Baranga e Made in Brazil seriam as outras bandas da noite. 

Um sinal de que os tempos eram outros, se deu logo que chegamos e vimos que metade do auditório estava interditado. Segundo  contaram-nos, foi para evitar a dispersão das pessoas, e assim causar constrangimento aos cinegrafistas da TV Cultura, ao ter que estabelecer enquadramentos com grandes espaços vazios, e isso a causar dificuldades na ilha de edição, e por consequência depreciar o programa.

O fato é que já estavam habituados a contar com pouca presença do público, muito diferente do tempo da "Fábrica do Som", onde filas kilométricas dobravam o quarteirão no cruzamento das ruas Clélia e Barão do Bananal, até a rua Venâncio Aires, nos dias de gravação. 


Fora o fato de que nos anos oitenta, passaram a cobrar para diminuir a procura, e nem assim espantou-se o enorme fluxo de gente interessada e muitas vezes a polícia foi chamada para coibir climas oriundos de pessoas inconformadas com a lotação esgotada e frustradas, forçarem a entrada. Agora, sinal de outros tempos, a produção desse outro programa temia pelo constrangimento da pouca presença de pessoas, apesar do ingresso gratuito e tudo mais.

Bem, foi desagradável, mas foi o que tivemos em mãos, e portanto, seguimos em nossa determinação de fazer o melhor possível. Ficou estabelecido que o Baranga tocaria primeiro, nós em segundo, e o Made in Brazil fecharia a noitada de Rock, no Sesc Pompeia. Se por um lado tínhamos essa má notícia de tocarmos para meio teatro apenas, por outro, tivemos duas boas novas, sendo que uma não fora exatamente uma novidade. 


O fato de que um artista consagrado como Jorge Mautner, era um membro honorário do programa e em tal programa perpetrar as suas intervenções intelectualizadas, foi um verniz que particularmente eu apreciei muito. Fá dele desde os anos setenta, vi-o muitas vezes ao vivo naquela década, e o admirava pela postura como artista da música e da literatura/filosofia. E mais um outro fator muito positivo e este sim, descobrimos no dia, haveria a presença de um artista plástico de renome, a pintar enquanto tocaríamos. Se tratou de André Peticov, irmão do também artista plástico, Antonio Peticov, e ambos, ícones da contracultura sessentista em São Paulo e no Brasil. 

Para quem não sabe, os irmãos Peticov ostentam um histórico de muita proximidade com o movimento hippie no Brasil, e também diversas histórias de envolvimento com os tropicalistas, principalmente com os Mutantes. De André Peticov, por exemplo, corria a lenda dele ter sido um dos primeiros, senão o primeiro, a fazer projeções com bolhas psicodélicas em shows de Rock, em São Paulo.

Essa versão, inclusive, era sempre contada pelo próprio, Rolando Castello Junior. Portanto, seria um tremendo prazer contar com André Peticov a pintar uma tela ao vivo, enquanto tocaríamos, não apenas pelo artista plástico criativo e renomado que o era, mas pelo seu comprometimento com o Rock; contracultura, e vibrações sessenta-setentistas, ou seja, tudo a ver com a ideologia pela qual a Patrulha do Espaço estava comprometida nessa sua nova fase, iniciada em 1999.

Continua... 

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