quarta-feira, 10 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Sidharta - Capítulo 37 - Por Luiz Domingues


Realmente, o trabalho não encerrou-se, mas ao fundir-se com a Patrulha do Espaço, mudou um pouco, em alguns aspectos, quando deixou de ter a sua pureza individualizada, digamos assim. Não que houvessem sido promovidas mudanças estruturais que descaracterizaram o âmago do projeto. Pelo contrário, o Rolando Castello Júnior comprou a ideia do resgate retrô que ambicionávamos, pois também acalentara o desejo de trazer à tona as suas raízes pessoais, e da própria Patrulha do Espaço, visto que há pelo menos quinze anos, a Patrulha do Espaço havia saído de seus trilhos naturais, a enveredar pelo som pesado, quase ao transformar-se em uma banda sedimentada na seara do Heavy-Metal. 

Mas a essência manteve as suas características próprias e nesse sentido, o Sidharta morreu para renascer como Patrulha do Espaço, e dessa forma, apenas vestiu algumas peças de roupas diferentes, pois assumiu um passado construído por outrem. Em suma, deixamos a pureza do trabalho original se mesclar com uma egrégora antiga de outro trabalho, a resgatar aspectos bons e ruins.

O "karma" da Patrulha do Espaço, acomodou-se sob os nossos ombros, meu, Luiz; do Rodrigo, e do Marcello, mas foi inevitável que isso acontecesse, como um ônus obrigatório, dentro da permuta ali selada. 

Tudo isso é uma análise feita friamente, agora, 2012 (e publicado em 2015), momento em que escrevo este trecho de minha narrativa, e sob a óbvia inerência do distanciamento histórico. Portanto, no calor dos acontecimentos, em 1999, não tivemos a dimensão das consequências, boas e más que essa fusão de trabalhos e egregóras,  acarretar-nos-ia. 

Para ser muito justo, creio que no cômputo final, não há motivos para aborrecimentos, pois mesmo a Patrulha do Espaço tendo enfrentado inúmeros percalços doravante no campo artístico, o Sidharta dificilmente teria uma repercussão com médio e grande porte, mesmo ao contar com dois veteranos razoavelmente conhecidos no meio musical/Rocker (ao referir-me ao Zé Luiz e à minha pessoa, mesma, Luiz), além do talento absurdo dos então muito jovens, Rodrigo e Marcello, esse panorama muito provavelmente não seria alterado. 

A encerrar, digo que tenho um orgulho imenso de ter criado esse trabalho como um elemento responsável pelo estopim inicial, em torno de meus sonhos mais primordiais.

O Sidharta, apesar de nunca haver consolidado-se como uma banda de fato, pois nunca gravou ou apresentou-se ao vivo, foi a banda em que mais perto estive de meu sonho (claro, considero a Patrulha do Espaço, extensão desse mesmo trabalho, graças à fusão das bandas). O que eu dimensionara na adolescência, lá atrás, nos anos setenta, foi ipsis litteris, o que o Sidharta deveria ter sido se tivesse consolidado-se como banda ativa.

Um verdadeiro manifesto de fé nos valores do Rock sessenta/setentista, a passear por diversas vertentes musicais dessas décadas, proposta coadunada nas letras das canções; no visual dos seus componentes, nas posturas, nos ícones, nas referências etc.
Acredito que 100% desse conceito foi levado e implementado na volta da Patrulha do Espaço, a partir daí, mas a pureza inicial do projeto, mudou por força dos acontecimentos, logicamente. 

Continua...

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