terça-feira, 30 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 375 - Por Luiz Domingues


De  volta à São Paulo, após os shows em Caraguatatuba-SP, nos próximos dias, não tivemos compromissos oficiais. Só nos restara então, centrarmos a nossa atenção para a reunião que possivelmente seria agendada com o executivo da BMG-Ariola, e também houve uma remota esperança de que a irmã do Zé Luiz conseguisse uma audiência com Liminha, na Warner, em mais uma tentativa nossa empreendida com tal gravadora.

De nossa parte, além dessa atenção, o que fizemos de prático foi lançar mais uma edição do fanzine. Independente de estarmos com um nível de tolerância bem mais baixo em termos de animação, o ato de lançar o fanzine trimestralmente foi uma obrigação adquirida, pois os fãs que o recebiam, eram assinantes.
Fachada do Edifício Dinola, localizada na Rua dos Pinheiros, localizada no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Na parte da frente, hoje em dia funciona a loja de artigos de cerâmica e porcelana dos irmãos Bete e Zé Luiz Dinola. Na porta ao lado, no andar térreo, funcionava o consultório odontológico do Dr. Dinola, pai de ambos, e o escritório anexo, onde tanto trabalhamos em prol d'A Chave do Sol.

Então, eu e Zé Luiz voltamos ao velho escritório anexo ao consultório odontológico de seu pai, o grande doutor João Batista Dinola, outra figura sensacional que muito nos ajudou, assim como o Dr Rafael Gióia Junior, pai do Rubens. A residência da família Gióia foi o nosso QG e estúdio de ensaios por anos, e o mesmo devíamos em agradecimento ao pai do Dinola, que nos cedera o seu escritório, desde 1983, mais ou menos, para ações de produção do fã clube, Núcleo ZT, e demais ações de divulgação que fazíamos.

Eduardo Russomano, depois que rompemos com o núcleo ZT, continuou como funcionário contratado da banda para serviços gerais na produção e no fã-clube, mas nesta altura, com os shows a escassear, não tínhamos mais como mantê-lo como funcionário remunerado, infelizmente. Ele ainda nos ajudou a preparar essa edição do fanzine em seu número oito e continuaria a nos auxiliar como amigo, doravante, mas sem vínculo obrigatório, a cumprir expediente diário. Bem, perder Russomano representou um retrocesso certamente para nós.

Outro aspecto a ser mencionado, o Zé Luiz esteve mais calado, taciturno mesmo nesses dias e logo descobriríamos a razão de ser de seu mau humor. Ele havia sentido muito o impacto da frustração por nós termos nos iludido em demasia com o Studio V, e a promessa alardeada de que entraríamos no elenco de uma gravadora major. Todos nós sentimos, mas para ele, houve elementos particulares muito angustiantes que o atormentaram nessa questão, e que só a partir dessa fase, começamos a entender, verdadeiramente.

Já sabíamos que ele estava a ministrar aulas particulares como forma de ganhar dinheiro extra, sem esperar nada da banda. Mas o que não sabíamos, foi que estava a sofrer pressões familiares já há algum tempo para buscar uma maior solidez financeira na sua vida.

Dessa forma, o seu comportamento em relação aos assuntos da banda doravante, só foi piorando e o pior estava por acontecer em relação à esse sentimento que estava nutrindo.

Sobre a edição do fanzine lançado em abril de 1987, esta seguiu o mesmo padrão editorial e no tocante ao lay-out dos demais, anteriores e nada poderíamos fazer para melhorá-lo naquele momento de escassez financeira e tensão crescente no interno da banda, pelos acontecimentos arrolados nos últimos capítulos.

Eis uma descrição de seus tópicos:
 1) Shows que rolaram - Uma descrição dos shows que realizamos do início do ano nas cidades paulistas de Itanhaém e Águas de São Pedro. Mas a ênfase foi mesmo dada aos cinco shows que compuseram a mini temporada no Centro Cultural São Paulo, em fevereiro e o do Teatro Mambembe em março.

Aliás, um dado interessante que esqueci de mencionar no capítulo correspondente, mas o fanzine tratou de refrescar a minha memória: de fato, ao tocarmos, "18 Horas", durante o show do Teatro Mambembe, música clássica do repertório da nossa banda e que inclusive, nós não a executávamos há meses por conta da preferência em exibir o novo material, com teor Hard-Rock. Bem, assim, causou comoção aos fãs, e o Beto também a tocou, a estabelecer um duelo de solos com o Rubens ao seu final, para estendê-la muito, aliás, uma prática ultra setentista ao se alongar canções muito além de sua metragem tradicional de estúdio, para valorizar a introdução de longos improvisos, com solos.

2) Uma brincadeira, como sempre eu gostava de fazer, disse que os óculos "iluminados" com leds verdes que o Zé Luiz usara no Centro Cultural São Paulo, vieram do planeta "Glapaux", trazidos como um presente pela persona de Edgard, o "ET", que seria, conforme se forjou a brincadeira entre nós, um Ser oriundo desse distante mundo...

3) Revista - Mais descrições de publicações onde havíamos sido retratados recentemente e uma nota sobre uma edição da revista Som Três, quando pela primeira vez, foi citada a criação de uma fã-clube independente d'A Chave do Sol, com sede no Rio de Janeiro. Foi verdade, tal ação veio da parte de um rapaz muito jovem, que nos admirava e por conta disso, entrou em contato para pedir autorização para tal empreendimento.

O seu nome era: Ricardo Aszmann, um adolescente morador do bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro. Logo o conheci pessoalmente e nos tornamos amigos. Rick Aszmann não apenas administrou esse fã-clube com grande entusiasmo, como muito ajudaria a banda em ações de divulgação no Rio, sempre a projetar oportunidades boas para nós.

Somos amigos até os dias atuais e certamente para sempre, pois nos falamos constantemente pelas Redes Sociais da Internet. Rick estudou guitarra e violão, fez faculdade de música, foi side-man de artistas, formou bandas e é um professor muito requisitado no Rio.

Já gravou discos solo, e atualmente (2015) articula uma banda eclética, com forte influência de Jazz e Black Music, para atuar pela noite carioca.

Rick apoiou-me desde quando eu tive a ideia de começar a escrever minha autobiografia em 2011, na plataforma da comunidade "Luiz Domingues", da saudosa e insuperável Rede Social Orkut, e vem a acompanhar o texto que caminha para a finalização aqui no meu Blog 2 e também no Blog 3, neste momento de 2015 (com formatação de capítulos diferente, como livro impresso).

4) Tornou-se muito constrangedor ao ler hoje em dia, mas ao mesmo tempo engraçado, uma nota ridícula que deu conta de que durante os shows do Centro Cultural, o Beto Cruz quando cantava a música: "Ninho do Amor", se aproximava de minha pessoa e apontava-me quando cantava trechos em que a letra narra a história de um sujeito sobre a preferência por ninfetas... na realidade, se tratava de uma brincadeira para mexer com o público nos shows e eu quis explorar isso como algo engraçado para o fanzine.

5) TV - Além dos programas de TV que fizéramos de janeiro de 1987 até aquele ponto de abril, eu citei o programa: "Super Special" da TV Bandeirantes, que realmente deu apoio testemunhal para promover a nossa temporada no Centro Cultural São Paulo.

6) Rádio - Destaque para mais uma entrevista no histórico programa: "Balancê", da rádio Globo/Excelsior. Falei também sobre programas da emissora 97 FM que estavam a nos auxiliar com execuções de músicas, casos de: "Reinação" (comandado por Leopoldo Rey), e Riff Raff, do Richard Nacif. A música "Desilusões" realmente estava para entrar na programação da emissora, e de fato, isso veio a ocorrer.

Houve também a notícia de que o programa: "Sinergia" de Valdir Montanari, anteriormente transmitido pela USP FM, estaria de mudança para a Alpha FM e assim, tivemos a certeza de que teríamos mais um espaço, certamente.

7) Mais um aspecto técnico, dei a entender que o Rubens tencionava adquirir um novo equipamento ou quiçá uma nova guitarra para breve. Houve a intenção, sim, de comprar um novo amplificador, mas infelizmente isso não se concretizou.

8) Promoção - Resolvemos criar uma promoção diferente para movimentar o fã-clube. Ganharia uma foto autografada da banda, quem enviasse a melhor redação com o tema: "por que eu gosto d'A Chave do Sol"

9) Fã-Clube - E a fase foi tão boa nesse campo, pelo menos, que além do Rick Aszmann no Rio, outro fã clube foi fundado no interior de São Paulo. Vinha de Oswaldo Cruz-SP, a iniciativa de um garoto que já mantinha um fã-clube chamado: "Defensores do Heavy-Metal". Claro que aceitamos e lhe outorgamos o nosso aval para ele iniciar as suas atividades. Infelizmente, ao contrário do Rick Aszmann no Rio, que realmente se esforçou e ajudou demais a banda, até a acompanhar a sua dissidência no momento de pós- rompimento ao final de 1987.

10) Fofoca - Uma brincadeira com a minha própria pessoa, a nota afirmou que estava a chegar cartas de fãs a afirmar que eu me parecia com alguns astros do Rock internacional. Isso foi verdade e as citações de figuras como: Steve Harris, Steve Vai, Bruce Dickinson, e Ian Astbury, do The Cult. Na minha opinião, todos não tinham nada a ver comigo e o mais próximo pela fisionomia facial foi: Ian Astbury. Convenhamos, Steve Vai é sósia de Paulo Zinner, o baterista do Golpe de Estado...

Rubens ainda namorava a Gibson SG double neck que pertencia ao Marcos Cruz, irmão do Beto. Eu também namorava o Rickenbacker ano 1967 que ele estava a vender, também, mas ambos ficamos a ver navios, pois sem dinheiro para tal, os dois instrumentos foram arrematados pelo músico/colecionador, Marcus Rampazzo.

Outra história verdadeira e emocionante para nós: de fato de que o Zé Luiz circulava com bicicleta pelo bairro de Interlagos, portanto bem longe de sua casa, quando estourou o pneu e teve que pedir carona para voltar. O caminhoneiro que o auxiliou, foi mesmo um fã d'A Chave do Sol, ou seja, foi inacreditável como não tínhamos a real dimensão de nossa popularidade, ao acharmos que éramos só conhecidos no nicho do Rock underground. 

Como o Edgard houvera aprovado a brincadeira que eu havia feito na edição anterior do fanzine, ao insinuar que ele fosse gay. quando "soltara a franga" ao encontrar a travesti, Roberta Close pelas ruas de Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo, eu insisti na brincadeira e neste novo momento, inventei que ele ficara furioso com a insinuação. Para atiçar mais a brincadeira, escrevi ao final: "Não precisa ficar nervoso Edgard, não foi essa a nossa intenção, mas que você gostou do encontro, gostou, não negue sua louca"... 
Ele riu muito dessa continuação da piada e realmente não se ofendeu, ainda bem.

11) Fãs - Além da tradicional publicação de endereços de fãs interessados em conhecer outros fãs, eu também citei um concurso que acontecia na Revista Som Três, que criara uma enquete para saber que artistas seriam sugeridos para compor o elenco de atrações de um possível Festival Rock in Rio 2. Conclamamos os fãs a escrever e nos dar apoio.

Zé Luiz trabalhou nesse lay-out desta edição do fanzine, nitidamente para não me deixar sem apoio, pois sabia de minha inabilidade para trabalhos manuais. Eu escrevia todo o texto, mas sempre fui zero à esquerda para artes gráficas, desenho etc...
O clima já não estava bom e fatos que estavam para acontecer em breve, trataram de piorá-lo ainda mais.

Teríamos um show para fazer em maio, apenas, e as tais reuniões com novas tentativas de abordagem à gravadoras. O que eu não pude imaginar, foi que esse show de maio, estava fadado a ser o último d'A Chave do Sol com a sua formação clássica...
Continua...

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