terça-feira, 30 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 2 - Por Luiz Domingues

Lembro-me que havia menos de uma semana para ensaiarmos, visto que da reunião inicial à marcação do primeiro ensaio, decorreu alguns poucos dias. Os contratantes da tal festa, queriam que tocássemos três entradas somente com músicas dos Beatles. Tiramos a toque de caixa, trinta músicas, aproximadamente, do repertório do Fab Four. A nossa sorte, foi que o repertório dos Beatles, todos tinham na memória afetiva, ao menos. Mesmo ao não sabermos algumas harmonias e convenções, ao menos eram músicas conhecidas de todos. Paulo Eugênio e Wilson, eram fanáticos Beatlemaníacos, e sabiam de cor as letras, praticamente. Apenas o Gereba não sabia direito, embora conhecesse as músicas por audição. Eu e Cido Trindade também conhecíamos todas as músicas, claro, e Sérgio Henriques, idem.
Portanto foi uma semana dura, mas conseguimos tirar as trinta músicas escolhidas. E o Edmundo, que cedeu-nos sua residência, gentilmente, seria aquele mesmo que eu convidaria, quase três anos depois, para ser o primeiro baterista da Chave do Sol, e não deu certo. Ficamos amigos, pois ele era Rocker e conhecia muito do Rock 1960 / 1970.
Lembro-me que nos intervalos dos ensaios realizados em sua casa, ouvimos discos do Greenslade, banda Prog-Rock setentista que apreciávamos, por exemplo. Aliás, ao longo da narrativa, vou contar muitas histórias sobre uma série de pessoas que orbitou em torno da banda. Amigos "freaks" desse período da minha vida, onde frequentei muito o bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, por conta das atividades desse grupo. Realmente fomos para essa apresentação, um tanto quanto despreparados. Não soaria perfeito, como essas bandas cover ou bandas tributo que existem por aí, e que esmeram-se em executar, mas cumpriria a função.
E afinal de contas, não era um show, mas uma festa de final de ano em uma empresa de engenharia, descompromissada e informal.
Chegada a véspera, fomos autorizados a montar o equipamento no período noturno, após o expediente do escritório. A empresa chamava-se, "Diâmetro Engenharia", e sua sede, ficava localizada na Av. Faria Lima, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Lembro-me em montar o equipamento a assistir a final do Campeonato Brasileiro de 1979, pela TV (Internacional x Vasco da Gama), enquanto comíamos pizza, e confraternizávamo-nos com os funcionários da faxina e seguranças. No dia seguinte, começamos a tocar por volta do meio-dia. Os engenheiros e suas esposas, namoradas e filhos aproveitavam a festa, discretamente. À medida que o tempo avançava e eles embebedavam-se, descontraíram-se a dançar, e depois, quando mostravam-se muito bêbados, cantavam, urravam...  ao final, dançavam em cima das mesas, com muitos a fazer uso de suas gravatas, como bandanas hippies amarradas na testa. Foi hilário.

Portanto, pouco importou-nos as pequenas falhas musicais que cometemos, no cômputo geral. Encerradas as trinta canções que tínhamos ensaiadas, os senhores, bêbados, queriam mais. Sem repertório, começamos a improvisar e aí, passamos a tocar material sob improviso, sem ensaio, mas que todos sabiam, ao menos razoavelmente. Foi uma farra na empresa, com os engenheiros embriagados, e nós a tocar Led Zeppelin; Ten Years After; Novos Baianos; Creedence C. Revival; The Doobie Brothers etc. Não lembro-me a cifra certa, mas recebemos um cachet muito acima do que eu jamais ganhara antes, portanto, valeu a brincadeira. Essa apresentação ocorreu no dia 21 de dezembro de 1979.
E ao verificar que a banda mostrou química, o Paulo Eugênio convocou uma reunião, onde por aclamação, ficou acertado que tornar-se-ia uma banda fixa, doravante. Começaríamos a aumentar e diversificar o repertório, e ele, Paulo Eugênio, a reativar seus contatos com casas noturnas.

Continua...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues

De fato, quem conhece-me bem, sabe que tocar cover é algo que sempre evitei. Definitivamente, prefiro tocar algo que eu criei, por pior que seja, a perder tempo em reproduzir a criação alheia. Mas eu chegara a um ponto da vida, onde estava defrontei-me com uma encruzilhada. Estava a brigar com meu pai, que queria fazer o meu sonho Hippie diluir-se sob um terno & gravata; cabelo curto; faculdade de direito, e concurso público, isso sem contar militância em partido político, e quem sabe (?) , candidatura ao parlamento no futuro...


De todos esses sonhos do meu pai, eu só tinha simpatia pela política, aliás até hoje, mas jamais com pretensões a fazer parte da política partidária. Mas apenas como um interesse na ciência social.

Enfim, minha banda, "Boca do Céu", havia encerrado suas atividades e o embrião do Língua de Trapo era muito incipiente ainda para verter em remuneração nessa época (final de 1979), e dessa forma, por precisar ganhar dinheiro, comecei a fazer trabalhos paralelos na música.
Meu primeiro trabalho avulso, foi no show: "Começando Tudo Outra vez", do cantor / pianista / ator e diretor de teatro, Tato Fischer. Já contei essa história nos primeiros capítulos dos "Trabalhos Avulsos", portanto, vou avançar aqui. Na reunião final com o Tato, onde eu e os demais músicos da sua banda de apoio decidimos deixar o trabalho, após uma série de problemas, o tecladista, Sérgio Henriques, comunicou-nos que havia aparecido um trabalho extra para nós três (eu e Cido Trindade estávamos nessa banda também).
E de fato, em um bar próximo à residência de Tato Fischer, na Rua Maria Antonia, no bairro Vila Buarque, centro de São Paulo, estava a esperar-nos o vocalista Paulo Eugênio, que Sérgio conhecera anos antes, e com quem já tinha montado bandas covers para tocar em festas, casas noturnas & afins. A proposta seria a de unirmo-nos a ele, e dois guitarristas (Wilson Canalonga Junior e Geraldo "Gereba"), para tocarmos em uma festa de confraternização para uma empresa de engenharia, a comemorar-se o Natal / Reveillon de seus dirigentes e funcionários. O repertório seria formado por canções dos Beatles, exclusivamente.
Aceitamos, é claro. E essa foi a semente primordial do "Terra no Asfalto". Assim, mesmo ao aceitar o convite, o tempo mostrava-se absurdamente curto para tirarmos as músicas, ensaiarmos e ficarmos prontos para essa apresentação. O Paulo Eugênio disse-nos que um amigo dele, de longa data, cederia sua casa para ensaiarmos, o que seria providencial, pois não tínhamos onde ensaiar e tirar as músicas. E dessa forma, marcamos logo o primeiro encontro. Esse amigo chamava-se, Edmundo, e morava em um belo imóvel de alto padrão no bairro das Perdizes, zona oeste de São Paulo.
 Residência do Edmundo, na Rua Turiaçu, em Perdizes, zona Oeste de São Paulo, onde o Terra no Asfalto realizou seus primeiros ensaios, em 1979.

E além do espaço generoso, ele foi um amigo extremamente bondoso e era um Rocker, inveterado. Era baterista também, e dono de uma incrível coleção de discos. Portanto, sua habitação serviu-nos como QG inicial da banda, com suporte total para tocar e ouvir os discos, tirar as músicas etc . Fora a mordomia dos lanches...

O time formado mostrou-se excelente. Eu já conhecia Cido Trindade e Sérgio Henriques. O Cido já tocava bem em 1977, quando o conheci, mas estudioso, e com pretensões a tornar-se um virtuose do Jazz-Fusion, não parava de evoluir. Estava agora obcecado por ter técnica ao nível dos bateristas de Free-Jazz.
Admirava o Zé Nazário, do Grupo Um; o baterista do Hermeto Paschoal, Nenê, e as feras do Jazz-Rock internacional. O Sérgio Henriques tinha sólida formação ao piano erudito, e estava no terceiro período do curso de composição e regência da USP. Sua formação, além da música erudita, incluía o Jazz, Rock Progressivo e a boa MPB sessenta / setentista. E os novos componentes que o vocalista Paulo Eugênio trouxe consigo, foram : Wilson Canalonga Junior e Geraldo "Gereba". Wilson era Rocker por formação cultural, mas fazia bases simples, não tinha muita desenvoltura nos solos, entretanto, compensava com backing vocals, bem afinados.
E o "Gereba", era um demônio. Sem nenhuma noção de teoria musical, tocava sob forma instintiva, e com uma técnica incrível. 

Como era fã de Alvin Lee e Pepeu Gomes, sabia vários solos de cor desses guitarristas, e reproduzia-os com perfeição.  Paulo Eugênio cantava bem, embora não conhecesse teoria também. E já tinha experiência por ter cantado na noite, com bandas, anteriores.
Continua...

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 7 - Por Luiz Domingues


Volto a falar sobre a escolha do nome nova da banda, Língua de Trapo, e cabe aqui uma explicação : realmente, esse nome foi escolhido por simbolizar a língua afiada, cheia de corrosão ácida para criticar através do humor, a política, sobretudo. E a ideia foi tirada de um verso da música, "Dá Nela", de Ary Barroso e Francisco Alves. 
              O grande Ary Barroso, em foto extraída da internet
 
Nessa música (interpretada pelo cantor, Francisco Alves), na verdade, uma marchinha de carnaval de 1930, conta-se a história de uma pessoa que tem o mau hábito de falar mal da vida alheia. E ela foi usada como vinheta na turnê do primeiro disco entre 1982 / 1983. A antecipar um pouco a cronologia, quando eu voltei ao Língua de Trapo, em outubro de 1983, ainda peguei o finalzinho dessa turnê ("Obscenas Brasileiras"), e cheguei a estar em cena com ela, pois era a hora da apresentação da banda, onde a música servia de “background” para um texto satírico, onde cada componente era apresentado, todos perfilados em fila indiana.
E ainda a falar da marcha carnavalesca, "Dá Nela" cujo verso a citar "Língua de Trapo", inspirou o nome da banda, devo alertar a quem for ouvi-la, que a parte cantada só começa lá pelo segundo minuto, apesar de ser uma marchinha bem curta.
Inacreditável tal conceito em 1930, onde o maestro arranjador tenha feito uma introdução instrumental tão longa. Certamente antecipou, visionariamente, eu diria,  o conceito "progressivo" em quase quarenta anos...

Continua...

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos - Capítulo 11 (Tato Fischer) - Por Luiz Domingues

Não era a minha banda, não era o nosso equipamento... mas a sensação em viajar para tocar, foi indescritível. Não fora a primeira viagem. Eu já tinha ido com a banda para a cidade de Cubatão / SP, mas foi uma viagem curta, sem equipamento na bagagem, e só para tocar um pouco. Mas claro que foi muito boa essa sensação em viajar para Araçatuba com essa estrutura, visto que para Penápolis, fomos através de ônibus comercial, e só com nossos instrumentos pessoais (na verdade, só o meu baixo, e as peças de praxe da bateria do Cido Trindade, visto que o Sérgio não tinha como levar seu piano elétrico, nem o órgão). Como o Tato resolveu passar uns dias com sua família na cidade de Penápolis, a banda retornou para São Paulo na segunda-feira, posterior ao show de Araçatuba.
A perspectiva após esse show, seria a de um hiato de shows bem grande. O Tato só possuía alguma esperança para depois de março, e a levar-se em conta que o bom cachet recebido no interior foi uma exceção, e não a regra, ficou inviável prosseguirmos. O Tato sabia de nossa insatisfação, com a nossa vontade para deixar de acompanhá-lo, e não tinha contra-argumentos, infelizmente para todos. Dessa forma, marcamos uma reunião para o dia 10 de dezembro de 1979, uma segunda-feira. Por volta das 19:00 horas fomos à casa dele, e só formalizamos a nossa saída. Ele ficou um pouco tenso, mas não havia como segurar-nos mais, sem perspectivas para cachets, pois se os shows do interior renderam, os dos teatros, na capital, haviam sido deficitários.
Saímos da residência do Tato, e Sérgio Henriques conduziu-nos a um bar na mesma rua, onde estava a aguardar-nos, o Paulo Eugênio Lima, vocalista de bandas cover com as quais já haviam trabalhado juntos, e este fez-nos a proposta para unirmo-nos a ele e dois guitarristas amigos seus, para tocarmos em uma festa de final de ano produzida por uma empresa de engenharia. O cachet oferecido seria bom, e o repertório que os engenheiros queriam, fora formulado somente por músicas dos Beatles. Daqui em diante, caro leitor, esteja convidado a ler desde o início os capítulos sobre a banda, "Terra no Asfalto", onde a narrativa prossegue, deste ponto.
Ainda a falar sobre o Tato, como não era o nosso trabalho, não houve um apego tão grande na hora da ruptura. Ele ficou inviável financeiramente, e não tivemos como continuar a apoiá-lo.

Claro, pela pessoa que o Tato era, e também pelo trabalho artístico dele que era muito bom, ficamos chateados, pois ele fora muito bom conosco, e deu-nos força, mas não tínhamos o que fazer, mesmo. Eu ainda tocaria com ele em 1980, mas sob circunstâncias diferentes, pois ele cruzaria o caminho do Terra no Asfalto (e até do Língua de Trapo), como músico convidado, a tocar piano e cantar.

Nos capítulos sobre essa banda, contarei tudo.

Aqui, está encerrado o capítulo sobre meu trabalho na banda de apoio ao Tato Fischer. Deixo aqui, o link do site do Tato Fischer, para quem quiser conhecer seu trabalho como cantor; compositor; pianista; ator; diretor de teatro; professor de canto e ilusionista :

www.tatofischer.com.br/
E continuo também com as histórias de meus outros trabalhos avulsos, a seguir...

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 24 - Por Luiz Domingues


Eis abaixo as capas da Revista, "Sarrumorjovem", que eram produzidas pelo Laert e cujo título inspirou seu nome artístico, adotado doravante : Laert "Sarrumor"

Capa da Revista Sarrumorjovem, número 1. Escrita; desenhada; diagramada; produzida e vendida pelo Laert Sarrumor. Este primeiro exemplar é de 1976. Tal revista de Humor, no formato "Comix", motivou o Laert a usar doravante a palavra "Sarrumor" como seu sobrenome artístico.

Segundo número da revista Sarrumorjovem, de autoria do Laert Sarrumor, e lançada em 1977.

Número três da Revista Sarrumor, aqui já extraindo a palavra "Jovem", da junção original e de autoria do Laert Sarrumor.
Número quatro da Revista Sarrumor, de autoria do Laert Sarrumor.


Número 5 da Revista Sarrumor, de autoria do Laert Sarrumor.


Número seis da Revista Sarrumor, de autoria do Laert Sarrumor.


Número sete da Revista Sarrumor, de autoria do Laert Sarrumor.


Continua...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Carta a Deus - Por Marcelino Rodriguez

Querido Deus, estou aqui na espera de resolver meus tramites burocráticos pra poder ficar nas montanhas, perto dos arco-iris e das tempestades, estudando as diferentes qualidades de anjos.

A cidade dos homens, com sua fumaça e ferocidade, atrapalha minhas observações e atrapalha o crescimento normal das minhas asas. O Senhor sabe que meu sonho sempre foi voar como Peter Pan ou os Jetsons. A terra anda pesada e as pessoas caminham sem perceber, pisando em diamantes.

Será que se jogarmos a primeira Edição de Camões pelo chão, irão perceber ?
Nada. Nem sequer reparam nos anjos incrustados nas paredes das Igrejas ou na pomba observadora. Quero ficar rico, senhor, o bastante pra ficar semanas vendo filmes de vampiros no telão do meu notebook.

Hoje vim pelo ônibus lembrando quando eu acreditava no amor das mulheres e minha alma tentava achar a porta dos universos paralelos. Claro que agora sou quase um sábio, depois de quebrado escudo e espada.
Aprendi lutar de mãos vazias.

Jogaste duro comigo me deixando vulnerável; porém hoje vejo melhor que poucos espíritos estão acesos na escuridão. Poucos aprenderam dizer sim.

Quase ninguém a amar.
E como mente essa gente. Deveriam ler Garcia Marques. Sei, Senhor, que como poeta a extinção me ameaça. Daqui a pouco vão querer-me em museus.

Então, protejei-me Senhor e acalmai meu coração que não etende como em terra tão farta e tão bela a estupidez não consegue enxergar que a riqueza está apenas em sorrir, amar, agradecer e caminhar. E que nada é sólido, fora o amor.
Tá ruim de convencer essa gente, Senhor.
Portanto, vos peço que guardai na terra aquilo que me deste e dai-me logo a absolvição.

Gosto de ver a árvore do céu crescendo.

Entristece ver a multidão de olhos abertos sem enxergar.

Trecho do livro: "O Tigre de Deus em seu Jardim", lançado em 2011. Direitos Reservados.
Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. Escritor com vasta obra publicada, aqui nos apresenta um trecho de sua obra : "O Tigre de Deus em seu Jardim".

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Íncubo - Por Julio Revoredo

O Íncubo do escorpião - só

Se

Fo

Jo
In

De

Go

Te

Cir

Mor
Bra

Bro

Culo

Cubo

Pião

Escor

Assom


Julio Revoredo é colunista fixo do Blog Luiz Domingues 2. Poeta e letrista de diversas músicas que compusemos em parceria, em três bandas pelas quais eu atuei: A Chave do Sol,  Sidharta e Patrulha do Espaço. Neste poema, faz um jogo de palavras e sílabas, a evocar o desesperado escorpião enclausurado. 

domingo, 21 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos - Capítulo 10 (Tato Fischer) - Por Luiz Domingues

Conforme já disse no capítulo anterior, o show no CAP cobrira todas as despesas e rendeu-nos um cachet bom para todos da banda, garantido. E nesse show do CAP, havia cerca de seiscentas pessoas presentes. A maioria portou-se com atitude blasé em relação ao espetáculo, mas pelo menos no aspecto financeiro, fez com que a mini tour interiorana tenha valido a pena.
Ficamos hospedados na residência da família do Tato. Fomos muito bem recebidos, com a típica hospitalidade interiorana, com direito à fartura incrível na mesa. No dia seguinte, tínhamos que seguir para Araçatuba, mas o Tato não havia dormido na casa de sua família, por ter tido um conflito no camarim do CAP, na noite anterior.

Acordamos, almoçamos e aguardamos um pouco. O pai da Tato culminou em localizá-lo, e foi buscá-lo. Visivelmente tenso, entrou no carro do seu pai, e nós seguimos em outro. Um caminhão baú da banda de bailes, que deu-nos suporte com equipamento nas noites anteriores, também seguiu em comboio conosco. Foi efêmero esse momento, mas pela primeira vez na vida senti-me em turnê, ao viajar com uma estrutura fidedigna. Mas como já disse, nem deu para sonhar, pois fora fugaz naquele momento, e demoraria anos para eu ter uma estrutura assim na minha carreira, em alguma banda autoral.
Chegamos em Araçatuba e infelizmente, quando estacionamos na porta do teatro, vimos o Tato sair do carro da frente, abruptamente, e sair a caminhar depressa, dobrar a esquina e sumir de nossa vista.
Eu; Cido e Sérgio, além da Celina, esposa do Sérgio,  resignamo-nos, pois conhecíamos o temperamento dele, portanto não preocupamo-nos, pois sabíamos que ele cumpriria o compromisso.
Enquanto os roadies montavam o P.A. e o palco, no Tetaro Intec, eu aproveitei para visitar parentes que tenho naquela cidade. No horário combinado, saí da residência de meus tios, e pus-me a caminhar tranquilamente até o teatro, que era perto. O Tato apareceu em cima da hora e mostrou-se tenso. O show aconteceu, mas essa tensão, aliado ao som que não ficou bom naquela noite, fez com que o show fosse frio, mediante pouca interação com o público.
No dia 25 de novembro de 1979, compareceu ao Teatro Intec (acho que era uma sigla, a representar um sindicato de alguma categoria trabalhista), cerca de 200 pessoas. Havia cadeiras vazias, pois não lotou. Dali, voltamos à Penápolis, e pernoitamos na residência da família do Tato. Ele ficou para passar alguns dias em sua cidade natal, mas a banda e Celina, voltou para a capital, na segunda-feira, após o almoço.
Continua...