sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 13 - Por Luiz Domingues

Não sei exatamente de quem foi a ideia sobre a coletânea da gravadora Eldorado. Mas certamente houve várias pessoas envolvidas. Por parte do selo Eldorado, o produtor executivo, Vagner Garcia, com certeza.



 

 
Na ordem das fotos acima : Vagner Garcia; Tatola; Fábio Massari e Carlos Eduardo Miranda, os artífices da coletânea em que o Pitbulls on Crack debutaria no mundo fonográfico, no ano posterior, 1993
 
Mas como seria uma parceria com a emissora da rádio 89 FM, claro que o locutor, Tatola, tinha um peso nessa decisão, mais Fábio Massari, que ajudou a escolher as bandas e talvez o produtor de estúdio, Carlos Eduardo Miranda. Mas pode ter havido outras pessoas que influenciaram, e eu desconheça-as dentro desse processo. O que deveria ter sido mezzo punk / mezzo indie, foi a colocar-se cada vez mais setentista, glitter-Rock, sobretudo.

Nessa altura, as músicas : "Under the Light of the Moon" e "Answer Machine", despontavam como as nossas favoritas, internamente a discutir-se, para representar-nos na coletânea. E essas músicas, como ficou público e notório, posteriormente, são super setentistas; com riffs; boas melodias, e linhas de baixo e solos de guitarra, bem tocados. Foram, ambas, direcionadas pelo Glitter-Rock setentista, puro. Caberiam portanto, em qualquer disco do David Bowie ou T.Rex...
Essa foto é de um ensaio do Pitbulls on Crack, aproximadamente de março de 1992. Autor do Click : Deca

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Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 12 - Por Luiz Domingues




Fotos do show realizado na casa de espetáculos, Aeroanta, de São Paulo / SP, no dia 27 de outubro de 1992, a comemorar o aniversário do programa : "Rock Report", da Rádio 89 FM, apresentado pelo jornalista, Fábio Massari.
Nessa noite, tocamos junto com as seguintes bandas : "Não Religião"; "3 Hombres"; "Rip Monsters"; "Inocentes", e "Devotos de Nossa Senhora de Aparecida".

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Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 11 - Por Luiz Domingues

Após esses shows realizados na casa de shows, Woodstock, fatos bons aconteceram em profusão. Por exemplo, concedemos uma entrevista para uma revista chamada : "Tribo da Skate". O que tinha a ver com o Pitbulls on Crack ? 

Nada... mas a conexão do "pauteiro" da revista, certamente foi o passado do Chris com o Cock Sparrer, na Inglaterra.

Tocamos a seguir no Aeroanta, uma casa de shows sob médio porte com boa estrutura, na festa do programa, "Rock Report", do jornalista e locutor, Fábio Massari, que atuava pela 89 FM e MTV, simultaneamente. Concorrida, apesar de ser em uma terça-feira, com cerca de quinhentas pessoas presentes, no dia 27 de outubro de 1992. E nos bastidores, Tatola dera como certa a produção de uma coletânea com cinco bandas emergentes, pelo Selo Eldorado.

Os rumores davam conta de vários nomes, e o nosso era citado entre os favoritos. Muitas pessoas falavam-nos desses boatos : Fábio Massari; Tatola; Gastão Moreira...

E sabíamos que o produtor de estúdio seria um sujeito chamado : Carlos Eduardo Miranda, um gaúcho que tocara em uma banda punk e obscura do Rio Grande do Sul, chamada : "Atahualpa y os Punks".

Eu lembrava dessa banda e sabia de sua fragilidade musical. Mas o fato é que esse tal Miranda, estava a morar em São Paulo e mantinha-se muito bem enturmado no meio fonográfico e mídia, pois assinava uma coluna na Revista Bizz.

Toda a cena paulistana efervescente no início dos anos 1990, seguia em princípio, ou os ventos do grunge de Seattle, ou o indie britânico, ainda com forte inspiração oitentista ditado pelo Pós-Punk. O Brit-Pop noventista (com ares sessentistas), ainda não estava em voga, infelizmente. Houve o lobby em cima do Pitbulls on Crack, graças aos contatos do baterista, Juan Pastor, é claro, mas surgiu outros trunfos, e entre os quais, a atração pessoal que o Chris Skepis exercia em certas pessoas (Miranda, incluso), por conta de ter tocado por anos a fio, no Cock Sparrer. Para os fãs do Punk-Rock' 1977, o Cock Sparrer tem grande relevância, por ser contemporâneo dos Sex Pistols, e outros expoentes dessa cena. E convenhamos, falo sempre desses fatores, mas as músicas eram boas. O Chris compunha bem, e comigo e Deca na banda, o som do Pitbulls on Crack mais parecia-se com o Glitter Rock setentista, que qualquer outra coisa.
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 81 - Por Luiz Domingues


E assim, fomos para o palco novamente, junto com a banda : "Arara de Neon". Os rapazes haviam apresentado o seu som anteriormente e no que eu que pude observar, eram bons músicos. A orientação primordial deles era o Reggae, com intenção Pop. Tinha característica moderna (oitentista), mas não eram fechados ideologicamente com aquela estética, aparentemente, pois seu visual e postura era bem despojado, ao não adotar nada que os caracterizasse fortemente ao Pós-Punk e suas ramificações ou quaisquer outras escolas oitentistas. Pareciam "desencanados", para usar uma gíria da época.
Ali em cima do palco, combinamos tocar o tema : "Johnny B. Good", do Chuck Berry. Tratava-se de um clássico; em torno de uma harmonia quadrada com três acordes, e pouca possibilidade de alguém cometer erros. Então, lembro-me do baterista deles sugerir ao Zé Luiz, que tocasse bateria enquanto ele mesmo ficaria na percussão. Ele era o único músico que eu conhecia daquela banda ao menos de vista, e chamava-se, Alaor (não recordo-me de seu sobrenome, mas antes que especulem, não é o Alaor Neves, que é meu amigo e este eu conheço bem, evidentemente). Eu combinei com o baixista, para que eu tocasses nas partes mais graves, e ele ficaria na região aguda. Eu disse-lhe que faria escalas de Rock, para manter a linha básica de baixo, e ele poderia ficar livre para fazer frases soltas. E o guitarrista deles, combinou rodízio de solos com o Rubens.

E assim tocamos... não foi um desastre, mas revelou-se nítido o desconforto, pois os rapazes deviam ter outra escola de música, e o Rock não era exatamente a sua praia. Essa jam improvisada foi ao ar. Ninguém ainda postou no You Tube, que eu saiba, mas oportunamente eu poderei fazê-lo. Só não o fiz ainda, porque a qualidade da imagem VHSda minha cópia, não está muito boa, e essa performance é certamente algo que não acrescenta nada à memória d'A Chave do Sol, só a justificar-se mesmo por tratar-se de um material raro e certamente curioso. O lado bom em ter participado disso, foi que ganhamos mais alguns pontos no conceito do pessoal da produção, e aliado ao sucesso evidente que fizéramos perante o público, tanto ao vivo, quanto telespectadores (muito mais cartas chegaram à TV Cultura, ficamos a saber), selamos dessa forma, a nossa participação no programa especial de um ano de existência d'A Fábrica do Som, que seria gravado no mês posterior, novembro de 1983. Para encerrar, acrescento que novamente concedemos entrevista à Rádio Cultura AM, que cobria o programa e transmitia um compacto dos melhores momentos, aos sábados, antes da transmissão da TV. Mais uma vez o repórter perguntou-nos sobre um eventual disco a ser lançado, e desta vez nós estávamos com uma perspectiva em vista. Uma ideia que estava por amadurecer rapidamente, culminaria em concretizar-se no final de 1983, mas falarei sobre isso, posteriormente.

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 80 - Por Luiz Domingues


Após a execução da música "Átila", a adrenalina estava a mil por hora. Passado o intervalo pedido pelos técnicos, iniciamos a execução da segunda música da noite : "A Dança das Sombras". Tratou-se de um tema instrumental com duas partes distintas. Na primeira parte, com um ritmo "swingado", inspirado pelo Jazz-Rock sob acento funk, típico da metade dos anos setenta. 

Eis o Link para assistir no You Tube :

http://www.youtube.com/watch?v=kgAM_PHm7V8

O Zé Luiz iniciava a propor esse ritmo, e logo no começo, o público embarcou, com muitas pessoas a acompanhar com batida de palmas, e outras a dançar pelos corredores. Em um determinado ponto, fazíamos uma convenção preparatória e mudávamos radicalmente de ritmo e andamento, a acelerar para um Jazz, mais tradicional, com bastante liberdade de improviso, mas com convenções estratégicas ao longo do tema, o tempo todo. Dessa forma, evoluímos bem, pois estávamos absolutamente seguros, com muito ensaio, e a única preocupação foi estabelecer uma mise-en-scenè muito marcante, para realçar a banda. Claro, dentro de nossas características, pois o Zé  Luiz tinha uma presença espetacular, mesmo por ser baterista; eu esforçava -me para tocar freneticamente, mas o Rubens tinha aquela postura dele, estática. Ele só foi começar a soltar-se, de 1984 para frente, mas naquele instante, ele tocava circunspecto, como o John Entwistle costumava atuar com o The Who. Todavia, para compensar a sua postura imóvel, ele tinha como truque secreto, seus malabarismos "Hendrixeanos". E nesse momento, chamava tanto a atenção que invariavelmente provocava picos de euforia na plateia. Foi uma arma nossa a mais, sem dúvida.

O final da música foi triunfal, com o público a reagir da mesma maneira que na primeira exibição nossa, três meses antes, ou seja : público a ovacionar-nos, pedir bis, e muita gente a aplaudir de pé. O efeito cascata que essa segunda apresentação causaria, foi incalculável. Dali em diante, a nossa popularidade aumentou muito, e mais para frente, relatarei sobre notícias vindas de outras cidades e estados, pois a TV estava a levar-nos para muito longe. Mas ainda preciso falar sobre essa noite da gravação. Quando chegamos ao camarim, um misto de euforia e preocupação estava nos rostos das pessoas da produção do programa, alheios ao nosso sucesso no palco. Um artista havia faltado, e isso geraria um buraco no cronograma deles. Dessa forma, fomos quase intimados a fazer uma jam-session com outra banda no palco. Se a outra banda fosse tocar mais uma música deles, não teríamos ficado chateados. E se  deixassem-nos tocar mais uma, tínhamos várias músicas como opção, e teria sido um prazer, além de ter sido mais uma oportunidade para divulgarmos o nosso trabalho. Mas o pessoal da produção insistiu nessa ideia de nós tocarmos juntos com uma outra banda, o que foi uma grande bobagem, para ambas, e certamente para o programa, também.

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 79 - Por Luiz Domingues


Claro que quando contei sobre essa proposta, ao Rubens e ao Zé Luiz, os colegas ficaram chocados, e bem chateados. Seria óbvio que a nossa rotina de ensaios e a agenda, seria prejudicada, pois o Língua de Trapo vivia uma situação profissional muito melhor do que a nossa. E naquele choque inicial, ninguém poderia apostar que eu não fosse seduzido por essa situação, e A Chave do Sol, seria prejudicada, pura e simplesmente. Não que eu fosse insubstituível, longe disso, mas uma eventual saída minha, provocaria um atraso aos planos da banda, que vivia tempo sob expansão franca, após a primeira exibição na TV.

Mas enquanto eu apenas começava a ensaiar com o Língua de Trapo, ainda esforcei-me ao máximo para não prejudicar, A Chave do Sol. Foi uma fase cansativa demais, pois eu saía do ensaio do Língua de Trapo, por volta das 18:00 hs, e dirigia-me ao ensaio d'A Chave do Sol, a começar às 19:00 hs. e assim prolongar-me até às 22:00 hs., todos os dias. Claro, contava com o apoio do Zé Luiz, que cedia-me carona, visto que ele morava em Pinheiros, e por ter sido assim, foi no mesmo bairro onde o Língua de Trapo ensaiava. E além do mais, eu tinha vinte e três anos de idade, e com essa idade, nenhum desconforto derruba um homem jovem, com vontade de trabalhar. Alguns dias depois de fazermos esse show no bar "Espaço Aberto", recebemos um telefonema da direção do programa, "A Fábrica do Som" : seus produtores queriam que voltássemos ao programa para mais uma apresentação, a ser gravada ao final de setembro.

Seria um programa especial, para homenagear o saudoso, Jimi Hendrix, por ocasião de seu aniversário. Ficamos eufóricos e claro que aceitamos o convite imediatamente. Foi uma prova cabal de que estávamos a galgar degraus muito rapidamente, e que não podíamos desperdiçar mais uma chance de divulgação maciça como a TV.  proporcionava. Nessa mesma época, saiu uma reportagem enorme na extinta revista, "Manchete", a repercutir sobre o "Boom" do BR-Rock 80's, em 1983. Várias bandas foram fotografadas juntas, a posar em frente ao Monumento das Bandeiras, próximo ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Lembro-me bem da presença dos Paralamas do Sucesso; Kid Abelha & As Abóboras Selvagens; Barão Vermelho, e Lobão & Os Ronaldos, nessa foto. Havia outros, mas lembro-me melhor desses.

Com essa revista em mãos, recordo-me bem que disse aos colegas, Rubens e Zé Luiz, que precisávamos recuperar o tempo perdido e não deixar essa turma distanciar-se de nós. Ao ensaiarmos o melhor que podíamos, devido ao fato de eu ficar dividido com o Língua de Trapo a comprometer o meu tempo e dedicação, preparamo-nos bem, antes as adversidades citadas. E assim, no dia 27 de setembro de 1983, subimos mais uma vez ao palco do teatro do Sesc Pompeia, para atuar em mais uma gravação do programa : "A Fábrica do Som".

O teatro estava absurdamente cheio, e houve tumulto na porta, com mais pessoas a querer entrar. Foi uma adrenalina absurda, mas desta vez estávamos ainda mais confiantes. A experiência adquirida na primeira exibição, deixou-nos muito mais seguros, principalmente pela reação esfuziante dessa ocasião, mas também pelo fato da cúpula do programa ter afeiçoado-se à nossa banda. A primeira música que tocamos foi "Átila". 



Eis abaixo, o Link para assistir no You Tube :
 
http://www.youtube.com/watch?v=mXUqywOna-U

Tratou-se de um tema instrumental e pesado, quase um Hard-Rock, mas com diversas convenções de baixo e bateria, bastante ousadas, no estilo do Jazz-Rock setentista. Tocamos com muita garra, o som e enquanto eu tocava e esforçava-me para ter uma mise-en-scenè a mais frenética que podia, olhei fixamente para toda a plateia, e sob um dado momento de minha panorâmica, encontrei o rosto de uma pessoa amiga, o João Dinola, irmão do Zé Luiz.

Eu conhecia o João muito bem, e sabia que ele era um rapaz tranquilo, mas quando o vi, estava com uma expressão facial a denotar espanto, que muito impressionou-me. Isso porque eu sabia que o João já tinha assistido-nos a tocar várias vezes, e que ele tinha plena consciência do nosso potencial, mas dessa vez, ele surpreendeu-se com a nossa performance, por notar-nos a tocar com a pressão de um P.A. com grande porte; além do teatro estar com lotação abarrotada; equipe de TV a filmar, e uma adrenalina absurda no ar. Horas depois, ele mesmo disse-me que estava boquiaberto com a nossa performance e que teve a impressão que nós iríamos explodir em grande escala, dali em diante. Daqui há pouco, prossigo nesse relato da segunda aparição na Fábrica do Som, que fizemos.

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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 78 - Por Luiz Domingues


Finalmente conseguimos marcar um show, a tentar capitalizar a enorme repercussão que a recente aparição na TV, havia proporcionado-nos. Não foi em um lugar glamoroso, mas foi o melhor que pudemos fazer naquele momento. Tratava-se de um bar, localizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, chamado : "Espaço Aberto". Era bem montado e bem localizado, embora naquela época, o bairro de Pinheiros apresentasse pouca movimentação de casas noturnas, nada comparado a hoje em dia, quando são centenas de casas, muitas com música ao vivo.

Para a nossa sorte, uma produtora da TV Cultura que havia afeiçoado-se à nossa banda, inseriu um testemunhal a falar desse show, em uma edição d'A Fábrica do Som, às vésperas da data marcada, mesmo que nós não estivemos nessa edição do programa, em si. Essa micro propaganda foi vital, pois quando chegamos à casa para tocar, havia muitos Rockers na porta. Confesso que senti um frio no estômago, pois mesmo com o aviso rápido na TV, eu considerei que não motivaria muita gente, pois em um dia útil, a noite, e na porta de um bar sem tradição alguma com o Rock, aquele contingente formado por cabeludos na calçada, só podia ser público interessado em assistir-nos. E de fato, foi mesmo !

No borderô oficial, foi computado o número de sessenta pagantes naquela noite, mas seguramente havia mais de cem pessoas na porta. No entanto, muitas pessoas foram embora, porque o couvert cobrado pela casa estava taxado sob um valor muito alto, e nós não podíamos evitar essa antipática atitude da casa, que ficou irredutível diante nessa postura em cobrar caro. Muita gente foi embora frustrada, mas não pudemos fazer nada para impedir isso, infelizmente. Fizemos um show bom, mas eu particularmente sofri um abalo pessoal naquela noite. Esse fato já está contado com detalhes no capítulo do Língua de Trapo.

        Pituco Freitas & Laert Sarrumor, em foto bem mais atual  

Aqui, resumidamente, menciono que em meio a multidão de cabeludos que estavam na porta, avistei dois velhos conhecidos : Laert Sarrumor e Pituco Freitas, membros do Língua de Trapo. Nessa noite, eles compareceram nesse bar, deliberadamente para formalizar -me um convite : queriam que eu voltasse a ser integrante do Língua de Trapo, pois haviam brigado e rompido com o baixista, Luiz Lucas.
 Eu, Luiz Domingues, em um show dos primórdios do Língua de Trapo, em 1979


Foi curioso, pois eu deixara a banda em 1981, e o Luis Lucas fora o baixista que substituíra-me. Agora, trocaríamos novamente. Começaria aqui um período difícil para A Chave do Sol, pois eu não tive outra alternativa a não ser aceitar fazer parte das duas bandas, simultaneamente, pois o Língua de Trapo havia crescido muito e naquele momento, mantinha agenda semelhante à de duplas sertanejas, com muitos shows e exposição na mídia, e portanto, tratou-se de um convite irrecusável. A Chave do Sol estava a ascender, mas ainda não permitia-me uma segurança financeira satisfatória. Sob o ponto de vista do Língua de Trapo, já comentei tais fatos no capítulo específico dessa banda, ao esmiuçar a minha volta à banda. Farei o mesmo aqui, naturalmente pela lado d'A Chave do Sol. Fora isso, foi um bom show esse do "Espaço Aberto", em 6 de setembro de 1983, com aqueles sessenta Rockers presentes, para sair de lá sem lamentar o exorbitante desfalque que a casa deu-lhes no bolso...

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 77 - Por Luiz Domingues



Ainda a falar sobre a gravadora Copacabana, estávamos bem ressabiados, pois além de denotar ser um demérito para nós, ainda vivia-se um tempo onde gravadoras eram corporações que manipulavam o artista em 100%, ao interferir predatoriamente em todo o conteúdo artístico; visual do artista; padrão do áudio; estratégia de divulgação etc. Seria vender a alma ao demônio, sem garantias de êxito assegurado e ainda pior, com a perspectiva de entrarmos em um mundo brega, sem possibilidade de volta, pelo estigma criado. Portanto, a negativa dos executivos de tal corporação foi até um alívio estratégico, mesmo ao levar em conta toda a boa vontade do pai do Rubens em ajudar-nos naquele momento. E de fato, o Dr. Rafael, fora uma pessoa sensacional, e sempre disposto a auxiliar-nos. Contudo, logo a seguir, surgiu uma nova oportunidade.

O Rolando Castello Júnior, baterista da Patrulha do Espaço, deu-nos a informação sobre o dono de uma loja de discos, localizada  no centro de São Paulo, que estava com um pequeno selo independente, a lançar muitos artistas novos, e outros não tão novos assim. Esse rapaz chamava-se, Luiz Carlos Calanca, e a sua loja, estabelecida em uma Galeria da Av. São João, chamava-se : "Baratos Afins".

Note o leitor, que o conceito de "Galeria do Rock" ainda não existia em 1983, embora o Luiz não estivesse sozinho naquela época, pois já existia outras lojas de discos a estabelecer-se no local. E quando fomos conversar com ele, além do Júnior da Patrulha do Espaço ter feito a nossa propaganda, estávamos a colher os primeiros frutos da repercussão de nossa primeira aparição no programa, "A Fábrica do Som", portanto, ele já sabia quem éramos, pois uma coisa o Calanca sempre foi : antenado. A primeira conversa foi excelente, mas não definiu nada. Ele estava envolvido com recentes lançamentos e afirmou não ter como colocar-nos em estúdio imediatamente, exatamente por estar a gravar outros artistas, e portanto descapitalizado. Mas sob um curto espaço de tempo, uma solução conciliadora surgiu, e viabilizou, portanto, a nossa parceria com a Baratos Afins, fato que relatarei em breve.

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 76 - Por Luiz Domingues


Bem, como já havia dito anteriormente, após essa aparição na TV, tudo mudou. Saímos de uma condição de anonimato total para um começo de notoriedade em maior escala. Um dos primeiros reflexos de que as coisas começaram a mudar, foi que pessoas ligadas à produção da Fábrica do Som, comunicou-nos alguns dias depois, que estavam a chegar muitas cartas endereçadas à sede da TV Cultura, a elogiar-nos; pedir informações ou simplesmente a solicitar que A Chave do Sol aparecesse mais no programa.

Isso animou-nos muito, evidentemente. Mas estávamos desestruturados para capitalizar essa oportunidade com as duas mãos, naquele instante. Por exemplo, sob uma Era pré-Internet, popular como é hoje em dia, nem tínhamos uma caixa postal nossa, e exclusiva para começar a centralizar essa popularidade crescente. A nossa percepção só aguçou-se, quando recebemos essa informação sobre cartas a ser endereçadas à TV Cultura, e não diretamente para nós.

Outro fator crucial e óbvio, foi o de não termos um empresário. Se tivéssemos alguém minimamente estruturado a representar os nossos interesses, teríamos vendido muitos shows, a aproveitar esse embalo inicial. Mas como não tínhamos nada disso, essa primeira aparição na "Fábrica do Som", foi fantástica, mas mudanças visivelmente significativas, só começariam a ocorrer algum tempo depois. Paralelamente, houve uma esperança de contato fonográfico a vista. 

Tratara-se de um contato travado pelo pai do Rubens, que conhecia executivos de uma gravadora popular, chamada : "Copacabana". Era uma gravadora situada muito longe do nosso espectro artístico, e que praticamente só lançava artistas brega, mas não podíamos desprezar a boa vontade do pai do Rubens, e naquela época, foi importante lançar um disco rápido, exatamente para capturar essas oportunidades que estavam a aparecer. Uma reunião foi realizada entre o pai do Rubens, alguns executivos da gravadora, e o próprio Rubens, que levou o nosso material. Claro, nessa época, o material era fraco em termos de portfólio, por não ir além de algumas poucas fotos; poucos recortes oriundos de jornais; algumas filipetas mal produzidas, e gravações caseiras de nossas músicas, sem nenhum apuro técnico. O nosso maior trunfo era evidentemente a cópia de nossa aparição triunfal n'A Fábrica do Som.

Todavia... era uma gravadora brega. Cantores brega; boleros; Pop vagabundo; discos infantis... esse era o mundo da "Copacabana", e mesmo ao ter seus executivos como amigos do pai do Rubens, recusaram-nos.

Entretanto, sou sincero, aqui. Apesar de estarmos a precisar de um disco lançado, com urgência, para impulsionar a carreira e aproveitar a maré pós "A Fábrica do Som", na realidade nenhum de nós três, realmente queria ter um disco lançado por uma gravadora daquele espectro artístico, exatamente sob a pena de ficarmos estigmatizados. Outra solução fonográfica surgiria logo a seguir, nesse embalo d'A Fábrica do Som, conforme relatarei logo mais.


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