quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 76 - Por Luiz Domingues


Bem, como já havia dito anteriormente, após essa aparição na TV, tudo mudou. Saímos de uma condição de anonimato total para um começo de notoriedade em maior escala. Um dos primeiros reflexos de que as coisas começaram a mudar, foi que pessoas ligadas à produção da Fábrica do Som, comunicou-nos alguns dias depois, que estavam a chegar muitas cartas endereçadas à sede da TV Cultura, a elogiar-nos; pedir informações ou simplesmente a solicitar que A Chave do Sol aparecesse mais no programa.

Isso animou-nos muito, evidentemente. Mas estávamos desestruturados para capitalizar essa oportunidade com as duas mãos, naquele instante. Por exemplo, sob uma Era pré-Internet, popular como é hoje em dia, nem tínhamos uma caixa postal nossa, e exclusiva para começar a centralizar essa popularidade crescente. A nossa percepção só aguçou-se, quando recebemos essa informação sobre cartas a ser endereçadas à TV Cultura, e não diretamente para nós.

Outro fator crucial e óbvio, foi o de não termos um empresário. Se tivéssemos alguém minimamente estruturado a representar os nossos interesses, teríamos vendido muitos shows, a aproveitar esse embalo inicial. Mas como não tínhamos nada disso, essa primeira aparição na "Fábrica do Som", foi fantástica, mas mudanças visivelmente significativas, só começariam a ocorrer algum tempo depois. Paralelamente, houve uma esperança de contato fonográfico a vista. 

Tratara-se de um contato travado pelo pai do Rubens, que conhecia executivos de uma gravadora popular, chamada : "Copacabana". Era uma gravadora situada muito longe do nosso espectro artístico, e que praticamente só lançava artistas brega, mas não podíamos desprezar a boa vontade do pai do Rubens, e naquela época, foi importante lançar um disco rápido, exatamente para capturar essas oportunidades que estavam a aparecer. Uma reunião foi realizada entre o pai do Rubens, alguns executivos da gravadora, e o próprio Rubens, que levou o nosso material. Claro, nessa época, o material era fraco em termos de portfólio, por não ir além de algumas poucas fotos; poucos recortes oriundos de jornais; algumas filipetas mal produzidas, e gravações caseiras de nossas músicas, sem nenhum apuro técnico. O nosso maior trunfo era evidentemente a cópia de nossa aparição triunfal n'A Fábrica do Som.

Todavia... era uma gravadora brega. Cantores brega; boleros; Pop vagabundo; discos infantis... esse era o mundo da "Copacabana", e mesmo ao ter seus executivos como amigos do pai do Rubens, recusaram-nos.

Entretanto, sou sincero, aqui. Apesar de estarmos a precisar de um disco lançado, com urgência, para impulsionar a carreira e aproveitar a maré pós "A Fábrica do Som", na realidade nenhum de nós três, realmente queria ter um disco lançado por uma gravadora daquele espectro artístico, exatamente sob a pena de ficarmos estigmatizados. Outra solução fonográfica surgiria logo a seguir, nesse embalo d'A Fábrica do Som, conforme relatarei logo mais.


Continua... 

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