quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 80 - Por Luiz Domingues


Após a execução da música "Átila", a adrenalina estava a mil por hora. Passado o intervalo pedido pelos técnicos, iniciamos a execução da segunda música da noite : "A Dança das Sombras". Tratou-se de um tema instrumental com duas partes distintas. Na primeira parte, com um ritmo "swingado", inspirado pelo Jazz-Rock sob acento funk, típico da metade dos anos setenta. 

Eis o Link para assistir no You Tube :

http://www.youtube.com/watch?v=kgAM_PHm7V8

O Zé Luiz iniciava a propor esse ritmo, e logo no começo, o público embarcou, com muitas pessoas a acompanhar com batida de palmas, e outras a dançar pelos corredores. Em um determinado ponto, fazíamos uma convenção preparatória e mudávamos radicalmente de ritmo e andamento, a acelerar para um Jazz, mais tradicional, com bastante liberdade de improviso, mas com convenções estratégicas ao longo do tema, o tempo todo. Dessa forma, evoluímos bem, pois estávamos absolutamente seguros, com muito ensaio, e a única preocupação foi estabelecer uma mise-en-scenè muito marcante, para realçar a banda. Claro, dentro de nossas características, pois o Zé  Luiz tinha uma presença espetacular, mesmo por ser baterista; eu esforçava -me para tocar freneticamente, mas o Rubens tinha aquela postura dele, estática. Ele só foi começar a soltar-se, de 1984 para frente, mas naquele instante, ele tocava circunspecto, como o John Entwistle costumava atuar com o The Who. Todavia, para compensar a sua postura imóvel, ele tinha como truque secreto, seus malabarismos "Hendrixeanos". E nesse momento, chamava tanto a atenção que invariavelmente provocava picos de euforia na plateia. Foi uma arma nossa a mais, sem dúvida.

O final da música foi triunfal, com o público a reagir da mesma maneira que na primeira exibição nossa, três meses antes, ou seja : público a ovacionar-nos, pedir bis, e muita gente a aplaudir de pé. O efeito cascata que essa segunda apresentação causaria, foi incalculável. Dali em diante, a nossa popularidade aumentou muito, e mais para frente, relatarei sobre notícias vindas de outras cidades e estados, pois a TV estava a levar-nos para muito longe. Mas ainda preciso falar sobre essa noite da gravação. Quando chegamos ao camarim, um misto de euforia e preocupação estava nos rostos das pessoas da produção do programa, alheios ao nosso sucesso no palco. Um artista havia faltado, e isso geraria um buraco no cronograma deles. Dessa forma, fomos quase intimados a fazer uma jam-session com outra banda no palco. Se a outra banda fosse tocar mais uma música deles, não teríamos ficado chateados. E se  deixassem-nos tocar mais uma, tínhamos várias músicas como opção, e teria sido um prazer, além de ter sido mais uma oportunidade para divulgarmos o nosso trabalho. Mas o pessoal da produção insistiu nessa ideia de nós tocarmos juntos com uma outra banda, o que foi uma grande bobagem, para ambas, e certamente para o programa, também.

Continua...
  

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