quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 78 - Por Luiz Domingues


Finalmente conseguimos marcar um show, a tentar capitalizar a enorme repercussão que a recente aparição na TV, havia proporcionado-nos. Não foi em um lugar glamoroso, mas foi o melhor que pudemos fazer naquele momento. Tratava-se de um bar, localizado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, chamado : "Espaço Aberto". Era bem montado e bem localizado, embora naquela época, o bairro de Pinheiros apresentasse pouca movimentação de casas noturnas, nada comparado a hoje em dia, quando são centenas de casas, muitas com música ao vivo.

Para a nossa sorte, uma produtora da TV Cultura que havia afeiçoado-se à nossa banda, inseriu um testemunhal a falar desse show, em uma edição d'A Fábrica do Som, às vésperas da data marcada, mesmo que nós não estivemos nessa edição do programa, em si. Essa micro propaganda foi vital, pois quando chegamos à casa para tocar, havia muitos Rockers na porta. Confesso que senti um frio no estômago, pois mesmo com o aviso rápido na TV, eu considerei que não motivaria muita gente, pois em um dia útil, a noite, e na porta de um bar sem tradição alguma com o Rock, aquele contingente formado por cabeludos na calçada, só podia ser público interessado em assistir-nos. E de fato, foi mesmo !

No borderô oficial, foi computado o número de sessenta pagantes naquela noite, mas seguramente havia mais de cem pessoas na porta. No entanto, muitas pessoas foram embora, porque o couvert cobrado pela casa estava taxado sob um valor muito alto, e nós não podíamos evitar essa antipática atitude da casa, que ficou irredutível diante nessa postura em cobrar caro. Muita gente foi embora frustrada, mas não pudemos fazer nada para impedir isso, infelizmente. Fizemos um show bom, mas eu particularmente sofri um abalo pessoal naquela noite. Esse fato já está contado com detalhes no capítulo do Língua de Trapo.

        Pituco Freitas & Laert Sarrumor, em foto bem mais atual  

Aqui, resumidamente, menciono que em meio a multidão de cabeludos que estavam na porta, avistei dois velhos conhecidos : Laert Sarrumor e Pituco Freitas, membros do Língua de Trapo. Nessa noite, eles compareceram nesse bar, deliberadamente para formalizar -me um convite : queriam que eu voltasse a ser integrante do Língua de Trapo, pois haviam brigado e rompido com o baixista, Luiz Lucas.
 Eu, Luiz Domingues, em um show dos primórdios do Língua de Trapo, em 1979


Foi curioso, pois eu deixara a banda em 1981, e o Luis Lucas fora o baixista que substituíra-me. Agora, trocaríamos novamente. Começaria aqui um período difícil para A Chave do Sol, pois eu não tive outra alternativa a não ser aceitar fazer parte das duas bandas, simultaneamente, pois o Língua de Trapo havia crescido muito e naquele momento, mantinha agenda semelhante à de duplas sertanejas, com muitos shows e exposição na mídia, e portanto, tratou-se de um convite irrecusável. A Chave do Sol estava a ascender, mas ainda não permitia-me uma segurança financeira satisfatória. Sob o ponto de vista do Língua de Trapo, já comentei tais fatos no capítulo específico dessa banda, ao esmiuçar a minha volta à banda. Farei o mesmo aqui, naturalmente pela lado d'A Chave do Sol. Fora isso, foi um bom show esse do "Espaço Aberto", em 6 de setembro de 1983, com aqueles sessenta Rockers presentes, para sair de lá sem lamentar o exorbitante desfalque que a casa deu-lhes no bolso...

Continua...
  

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