segunda-feira, 22 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 351 - Por Luiz Domingues


A viagem ocorreu logo após o feriado de finados e nessa comitiva, além dos componentes da banda seguiram junto conosco, Sonia e Toninho. O fato de nós irmos juntos de nossos representantes, decorreu da possibilidade da primeira abordagem gerar uma espécie de queima de etapas, dada a amizade entre Miguel e André, portanto, seria muito possível que nos convocassem para uma abordagem direta com Midani, e nós estaríamos a postos, in loco, no Rio de Janeiro.

Seguimos pois em dois carros (pertencentes ao Rubens, e Beto, respectivamente), divididos em dois trios. O casal de produtores seguiu com o Rubens, e no carro do Beto, seguimos juntos, eu e Zé Luiz.

O nosso primeiro erro na organização dessa comitiva, foi em termos de imprudência. De forma infantil, não consideramos a possibilidade que poderíamos nos perder um do outro carro. Um reles pedaço de papel teria evitado um imbróglio, mas ninguém pensou nessa medida de segurança, e o pior aconteceu, de fato.

Bem, quando saímos em comboio do escritório do Studio V, somente a Sonia possuía o endereço e telefone do apart-hotel onde nos hospedaríamos. Na ingênua ilusão de que um carro não perderia o outro de vista, durante o percurso entre São Paulo e Rio, ninguém teve a ideia prudente de copiar em um papel de rascunho, tais dados, ou seja, a estabelecer uma medida básica de segurança, que qualquer criança que participa de uma excursão escolar, adota.


Em 1986, claro que ninguém sonhava com telefones celulares, portanto, eis que o desastre ocorreu. Em algum ponto da estrada, o Gol GT de Rubens, sumiu de nossas vistas, que estávamos a bordo do Opala azul do Beto. Parar em algum posto de gasolina e ligar para o escritório em São Paulo, pareceu ser a única providência cabível naquele momento. A esperança seria que alguém do escritório nos informasse o endereço da nossa hospedagem, ou mesmo que a Sonia houvesse ligado para lhes fornecer tal informação, ao perceber que nos perdera de vista.

Ocorreu que de fato tentamos tal medida óbvia, mas o horário avançado, não nos deu esperanças, pois já se aproximava a madrugada e obviamente não havia ninguém para atender-nos no Studio V. Isso por que nós saíramos após o horário do rush, e quando perdemos o carro do Rubens de vista, já se tratava de um horário bem avançado.

A nossa última esperança seria a de que Rubens e o casal de produtores talvez estivessem parados em um posto rodoviário, por motivo de segurança, e ali aguardassem pela nossa passagem.

Enfim, continuamos a rodar em direção ao Rio de Janeiro, com essa esperança ínfima, e o nosso único apoio concreto, foi uma pálida lembrança de que Sonia nos dissera que ficaríamos hospedados em num "apart-hotel localizado na avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca".
Vista da Avenida Sernambetiba, na Barra da Tijuca, zona sul do Rio de Janeiro. Seria procurar uma agulha no palheiro, sem o número correto em mãos... 

Com essa pálida pista, seguimos para o Rio. Claro, mesmo naquela época, já existiam muitos estabelecimentos dessa ordem em tal avenida beira-mar daquele bairro carioca da zona sul. Seria uma loucura procurar um por um, na alta madrugada, e diante desse cansaço iminente, nos rendemos às evidências e resolvemos dormir no carro, com a determinação de que na manhã seguinte, teríamos a informação do paradeiro dos demais membros de nossa comitiva.
Sabíamos de antemão que a reunião com Midani, na sede da Warner, estava marcada para o período da tarde, às 14:00 horas.
Portanto, certamente que nos encontraríamos com eles, muito antes.

E assim foi, quando finalmente ao ligarmos para São Paulo, soubemos que a Sonia ligara e a demonstrar grande preocupação, deixara a incumbência para Maria Amélia, a secretária do Studio V, nos passar coordenadas, e que deveria ser avisada imediatamente sobre o nosso paradeiro. 

Susto dizimado da parte de todos, por que é claro que também cogitamos a possibilidade de acidentes, violência urbana, ou problemas mecânicos com o automóvel, para eles também, finalmente soubemos que os três nos esperavam em um restaurante localizado no bairro do Leblon, o La Mole. Fácil de se achar, fomos para lá e finalmente todos os temores e aborrecimentos dessa confusão encerraram-se, com direito a muitas piadas sobre o ocorrido, além de acusações contra o Rubens, que gostava mesmo de pressionar o seu pé contra o acelerador, e daí ter causado o imbróglio todo.

Todavia, não fora uma verdade totalmente, pois a falta de um mísero papel de anotação com o endereço do apart-hotel, teria nos poupado disso. Fora o fato de que ficamos sem dormir decentemente e tomarmos banho, a cuidar do básico. Em suma, se nos chamassem para uma reunião de súbito, somente o Rubens, entre os componentes da banda, esteve apresentável, portanto.

Angústia e brincadeiras a parte, estávamos muito contentes com a perspectiva da reunião marcada para as 14:00 horas e quando nos reunimos com o Rubens, e os nossos representantes a responder pelo Studio V, essa foi a tônica entre todos, durante o almoço. Dali seguimos para a sede da Warner, no Jardim Botânico, bairro próximo.
Continua...

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