sábado, 20 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 336 - Por Luiz Domingues


A viagem de ida foi bastante tranquila. Ao viajarmos com duas companhias áreas que eram bem populares ainda nos anos oitenta, mas que simplesmente não existem mais nos dias atuais, fomos na primeira fase da viagem, de São Paulo até Brasília, via VASP, onde fomos bem tratados, apesar da típica estranheza gerada pelo nosso visual que chamava a atenção em meio a um ambiente social avesso ao mundo do Rock, naturalmente.

Em Brasília, trocamos de aeronave, após uma longa espera, a embarcarmos através de um bólido da companhia Cruzeiro do Sul, uma espécie de linha B da Varig, e o reflexo disso se revelou assim que entramos na dita aeronave. Mesmo sendo treinadas para serem extremamente gentis, as aeromoças que nos recepcionaram falaram alto entre si, mais ou menos a dar conta de que "provavelmente nós espalharíamos piolhos aos passageiros". 

Foi uma descortesia inadmissível, que suplantou e muito, qualquer tipo de preconceito pessoal que tais moças tivessem contra Rockers, Hippies,cabeludos (ou para sermos "modernos" no conceito da época: "metaleiros"), e mereceria ter sido objeto de uma reclamação formal de nossa parte para com a direção da companhia. No entanto, nós relevamos, pois eis que causaria uma celeuma desagradável, e estragaria o astral da nossa viagem, e convenhamos... estávamos animados por irmos fazer um show em outra região do país, longe do circuito Rio-SP, que habitávamos normalmente.

Claro, Beto e Rubens, com gênios mais arredios, não engoliram a grosseria como eu, mais monástico que sou, e
passaram a viagem toda a fazer pedidos para as aeromoças, ao deixar clara a intenção de se referir à elas como: "garçonetes", em voz alta, a estabelecer uma forma pejorativa de lhes aborrecer. Nada contra a profissão de comissária de bordo, tampouco as garçonetes, propriamente ditas, mas um pouco da dignidade daquelas moças mal educadas ficou abalada naquela viagem, e convenhamos, elas mereceram o castigo por sua insubordinação inadmissível pelo caráter gratuito, para com clientes.

Uma artista famosa da MPB embarcara em nossa aeronave, em Brasília, rumo à Fortaleza, onde faríamos uma escala. Tratou-se de Fafá de Belém, então a viver um grande momento na carreira, principalmente após os acontecimentos por conta da campanha "Diretas Já", além do hino nacional "a capella" que embalou a comoção pela morte de Tancredo Neves, um ano antes etc. 

Curiosamente, ela estaria conosco na viagem de volta, no dia seguinte, além de outro artista popular da MPB de então.

Quando o avião finalmente aterrissou em Teresina, e a porta da aeronave abriu-se, tivemos um choque térmico impressionante. Ao sairmos do ar condicionado do bólido e a enfrentar a temperatura ambiente daquela capital nordestina, tivemos a real noção do que seria o calor nordestino acachapante. Tive a impressão de estar a entrar em uma sauna de banho turco, literalmente...

Rapidamente, uma produtora do festival nos recebeu e mediante ajudantes, auxiliou-nos a transportar a nossa bagagem para a velha perua Kombi, a van mais usada no Brasil até então, e de lá, com muita simpatia, nos conduziu ao hotel onde hospedar-nos-íamos.

Após um banho refrescante e um rápido repouso, nos levaram para um almoço excelente, com direito a guia turístico para nos mostrar os pontos importantes da cidade, e em seguida, tivemos dois compromissos de imprensa: uma entrevista em uma rádio FM (Poty FM), e outra na TV, através de uma afiliada da Rede Bandeirantes, com direito a micro-entrevista para o noticiário local, chamado: "Jornal do Piauí", na TV Pioneira.

Nessa altura, já tínhamos em mãos matérias de jornais locais com
direito a fotos nossas, referentes à nossa participação no festival, fora o fato de termos visto muitos cartazes, outdoors, e faixas publicitárias a anunciar o evento em vários pontos da capital piauiense. A produção esmerava-se para fazer o melhor que podia, e de fato, o fez mesmo. Esta estava a ser uma das melhores produções onde "A Chave do Sol" esteve presente. Tudo corria às mil maravilhas no que se tangeu à organização, isso sem contar o tratamento "VIP" com o qual estávamos a ser tratados pelos produtores. 

O hotel em que nos hospedamos, demarcava-se com 4 estrelas, os restaurantes onde nos levaram, foram de primeira qualidade, e ao notar que não estávamos acostumados com a alta temperatura local, fizeram várias paradas estratégicas em casas de sucos e sorveterias, onde garantiram que nos hidratássemos adequadamente. Estávamos encantados com a hospitalidade e queríamos muito lhes retribuir no palco, ao cumprir um grande show para o público e para o pessoal da produção, que fora extremamente gentil e hospitaleiro para conosco.

Finalmente fomos conduzidos ao local do evento, o ginásio de esportes conhecido como: "Verdão", a fim de participar do trabalho de soundcheck...

Continua...

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