sexta-feira, 26 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 366 - Por Luiz Domingues


Em janeiro de 1987, mais uma edição do nosso fanzine, foi lançada. Apesar das dificuldades, e agora sem a ilusão de que o Studio V, fornecer-nos-ia recursos para fazê-lo crescer, nós conseguimos colocá-lo à disposição dos sócios do fã-clube, com os nossos parcos recursos habituais. Por ser trimestral, é claro que ficava defasado sempre, e refletia na verdade um outro momento da banda, em suas novidades relatadas. Essa dicotomia em relação ao que anunciávamos e o que vivíamos, é hoje ao meu ver, até uma experiência rica para servir de análise sobre os nossos passos.

E ver por um lado prático, a crise que sentíamos em relação à frustração gerada pela inoperância do Studio V, não poderia transparecer aos fãs, de forma alguma. Nesse sentido, a nossa missão foi deixar o astral bem alto, para não contaminar os fãs com preocupações que não lhes concerniam e acima de tudo, independente de qualquer outro fator, ainda acreditávamos muito no nosso potencial e com ou sem Studio V, prosseguiríamos empenhados em nossa escalada, é lógico.  Sobre o fanzine em si, eis os seus itens:

1) Rádio - Mais uma safra de programas que houveram executado alguma música nossa, e de fato, fora a ação de rádios como a Fluminense FM do Rio, que nos executava constantemente na programação, muitos programas sinalizavam com execuções sazonais, em diversas emissoras espalhadas por todo Brasil. Desta feita, programas como Rock Festival, da Rádio Globo de São Paulo, e Rádio Corsário, da Imprensa FM, onde fizemos uma entrevista recente, foram destacadas, além de citação da Fluminense FM, que tínhamos o prazer de exaltar, sempre e nesse caso, eu tenho gratidão eterna com essa emissora e o seu mentor, Luiz Antonio Mello.

2) Um box a exaltar a assinatura de nosso contrato com o Studio V, esteve na capa, é claro. Com foto de Maurício Abões, um rapaz que estava a nos fotografar com regularidade desde o show realizado no Palmeiras, em maio de 1986, tal ato foi registrado. E no texto, há uma apresentação rápida do Studio V, a sua equipe e nas entrelinhas, está claro que se fosse publicado três meses antes, eu teria escrito outras palavras, inebriado pelas bravatas deles. O texto curto, e de certa forma seco, foi uma implícita forma de dizer que já não acreditávamos mais, e ao mesmo tempo, não deixar transparecer tal sinalização aos nossos fãs...

3) Revista - Mais uma geral sobre as muitas publicações em que saíramos, e não posso deixar de destacar um fator horrível que escrevi e, só passível de ser desculpado, ao se considerar o fato de que tecnicamente, não fui eu que escrevi, amparado pelo uso do nome de Eliane Daic, a deixar-me oculto como um "Ghost Writer".

Bem, ao pensar no marketing e não na ética, tive que citar o fato de que na entrevista que eu concedera à revista MIX, nº 5, o jornalista Tony Monteiro havia declarado que eu seria o melhor baixista do Rock Brasileiro na ocasião. Tal afirmação, com esse peso, precisava ser capitalizada ao nosso favor, certamente. Portanto, fica essa ressalva, para o leitor desta autobio não me interpretar mal.

4) TV - Repercussão sobre a nossa aventura de ter aberto o indefectível "Menudo", na TV Record, com direito à considerações atribuídas à minha pessoa, mesmo, e citação dos programas jornalísticos que cobriram o nosso show realizado no TBC.

5) Repertório - Falamos de mais músicas novas que não paravam de surgir no repertório da banda. Algumas, curiosamente, pouco ou mesmo nada figuraram no set list de shows e jamais entraram na lista de cogitáveis para serem gravadas oficialmente. Casos de: "Cigano", "Flores Pessoas", "Ninho do Amor"; Perfume de Almíscar" (essa era bem Hard-Rock ao sabor dos anos 1970, estilo Deep Purple). Citamos também duas músicas que estavam presentes na demo-tape gravada em outubro último : "Trago você em meu Coração", e "Desilusões".

E a primeira citação de uma música que faria sucesso nos shows, e entraria no LP The Key, que gravaríamos no final daquele ano : "A Chave é o Show".

Não posso deixar de comentar que os comentários engraçados que teci sobre o teor das letras, são hilários, mas um aspecto foi verdade: o Beto estava a exagerar na criação de letras com teor de amor, relação homem-mulher etc. Até em Hard-Rock sem chance de sugerir um tipo de letra mais Pop, ele estava a inserir o seu romantismo.
6) Chave Equipe - Anunciamos que estávamos com um novo roadie nos shows, chamado: Marquinhos, mas que na verdade, esse rapaz não durou muito na equipe.

7) Shows que rolaram - Os shows no Teatro Mambembe em setembro e o do Festival Setembro Rock de Teresina-PI, foram destacados. Na foto ilustrativa, o histórico momento no camarim do Teatro Mambembe, quando o produtor, Antonio Celso Barbieri nos mostrou um saco de batatas cheio de notas, a representar uma féria da bilheteria muito robusta que tivemos naquela determinada noite.

8) Fofoca - Aqui eu me divertia em escrever como o Zeca Jagger (Ezequiel Neves), o faria...

E assim, registrei que o Rubens havia enfrentado um jogador de bilhar profissional em numa noitada dessas a jogar. Foi um tal de Roberto Carlos, que supostamente era respeitado nesse mundo, e no caso submundo pois a partida fora disputada em um boteco daqueles...

Uma visita rápida do Agildo Ribeiro em nosso ensaio foi registrada, também.

Outro fato verdadeiro, mas que eu coloquei um veneno extra para valorizar deu-se quando eu falei que o Edgard, nosso roadie/vendedor de merchandising, encontrou-se com Roberta Close, a transformista mais famosa do Brasil naqueles anos de metade/fim de anos oitenta, em uma rua de Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo. De fato foi verdade, e eles conversaram, mas eu dei a entender que se conheciam, quando na realidade foi um encontro totalmente fortuito, com o Edgard a forçar a abordagem e ela respondeu a brincar, mas sem dar muita abertura. Pior mesmo, foi o comentário malicioso que deixei de propósito para brincar: "Te cuida, Edgard, você está dando bandeira, Santa"...

Claro que me arrependi, mas ele, ao ler, levou na brincadeira e não se ofendeu com a insinuação de homossexualidade a si atribuída. Portanto, deixamos assim, quando o fanzine rodou na máquina de xerox.

Uma Jam entre muitos amigos de bandas, com o Beto, no Black Jack Bar, ficou registrada. Curioso e lamentável que o nome do Paulo Zinner, baterista do Golpe de Estado, tenha saído grafado completamente errado e nós não percebemos isso!  Neste caso, quem era Paulo Sisino?

A presença de Charles Gavin, baterista dos Titãs em nosso ensaio novamente, também ficou registrada.

E para finalizar, foi verdade, camelôs na Avenida Atlântica, no Rio, nos confundiram com rockeiros internacionais. Cabeludos, com pele branca sem bronzeamento algum, e inteiramente vestidos, ali na orla da avenida beira-mar de Copacabana, só poderiam ser gringos doidões...

9) Equipamento - Algumas considerações sobre instrumentos & equipamentos, e de concreto, o fato do Zé Luiz ter trocado o seu Kit básico de pratos, e nesse instante a usar a marca "Paiste" em lugar dos velhos, Zildjian, que usava anteriormente.

10) Um fato real, mas que eu aumentei bastante para capitalizar o fato em nosso favor: alguns fãs apareceram na porta do TBC, alguns dias depois de ocorrido o nosso show, exatamente por confundir a data do show. Nessa nota, eu disse que mais de cem fãs, mas é claro que não deve ter passado de dez, e na parte real, a Sonia nos disse que isso reforçou o sentimento dos dirigentes do TBC, de que houveram considerado ter valido a pena a experiência de um show de Rock nas suas dependências e que mediante tal constatação, estariam dispostos a tornar tal predisposição como  uma constante em sua programação. Não sei se a Sonia mentiu para nós, apenas para nos animar, mas provavelmente, sim, pois que eu saiba, o TBC nunca mais promoveu shows de Rock em suas salas.

11) Fã Clubes - Uma nota interessante, foi quando eu enalteci o trabalho de um fanzine que lembrava muito o tipo de escrita da imprensa alternativa setentista, e este chamado: "Contracorrente", produzido diretamente de Brusque-SC.

Tony Monteiro era colaborador desse fanzine, que detinha uma impressão boa como jornal tradicional feito em gráfica e de fato, ao comentar com o Tony que eu admirei tal publicação por ser uma gota de revival sessenta-setentista em meio ao lodo oitentista, ele confirmou o que eu havia deduzido. Tratava-se de um jornal conduzido por um casal de hippies que haviam buscado uma vida alternativa a viver em uma pequena cidade de Santa Catarina, e ainda vibravam nesse astral, incólumes ao baixo astral oitentista generalizado. Que legal!

12) Fãs - Mais um fã que desejou conhecer outros fãs e que fundara um fã-clube da banda "Performance's", de Santo André-SP, e que nós conhecíamos. Os seus membros eram boas pessoas e o seu vocalista, Robson Goulart, era nosso amigo, com a banda tendo dividido palcos conosco em algumas ocasiões, nos anos anteriores.

Para encerrar, uma frase lapidar: "A Chave do Sol é a Chave da Vida!"

Bem, tentávamos manter o astral em cima, apesar de nossas apreensões internas naquele instante, final de janeiro de 1987.

Mas um alento surgira no horizonte: o telefone ainda tocava... e assim, eis que um produtor ligou para a residência do Rubens e nos ofereceu cinco dias como a configurar uma mini temporada a ser cumprida no Centro Cultural São Paulo. Estava em cima da hora, pois fora um encaixe para cobrir a lacuna de um artista desistente (não me recordo inteiramente, mas acho que foi Sá & Guarabyra), e seria um "pegar ou largar, responda já"... e claro que aceitamos...
Continua...

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