quinta-feira, 18 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 314 - Por Luiz Domingues


A segunda ocorrência paralela, também veio de um telefonema espontâneo. Foi da produção de um programa de TV, da Rede Record, chamado: "Frente Jovem". Tratou-se de um programa que tentava despertar a atenção de um nicho jovem de telespectadores que apreciavam o Rock oitentista e a música Pop, em geral, mas era híbrido, não preocupado em ser seletivo, e daí, manter um ranço popularesco muito forte, ao apelar para o mau gosto. Independente disso, é claro que recebemos o telefonema com alegria, pois o programa apresentava uma audiência significativa, e se não fora o "Mixto Quente" da Rede Globo, aí sim uma atração televisiva que almejávamos, e que valeria a pena participar. 

Cabe explicar que o "Mixto Quente" era uma atração da Rede Globo de televisão, e sonho de consumo para aspirantes ao mainstream como nós, por que de tinha uma estrutura de show ao vivo. Filmado em um palco montado em determinada praia do Rio de Janeiro, que proporcionava ao artista vir a se apresentar da melhor maneira possível, ou seja, a tocar ao vivo, com estrutura de áudio muito digna. Lógico, a mixagem para a TV, sempre deixava a desejar, mas pelo menos a performance verdadeira da banda estaria garantida. 

Porém, claro, o Mixto Quente foi uma carta marcada das gravadoras em conluio com empresários do show business e a TV Globo, portanto, se mostrava praticamente inatingível para nós, apesar da fase de ascensão em que nos encontrávamos naquele instante de 1986.

Entretanto, ao falar diretamente do "Frente Jovem", precisamos considerar que a Rede Record ainda pertencia à família Machado de Carvalho, e apesar de estar decadente há anos, mantinha de certa forma um charme recôndito, talvez pouco perceptível a olho nu, devido aos seus escombros decadentes, mas estava lá...


O tal "Frente Jovem" foi na sua base, um típico programa de vídeo-clips, como muitos que existiam na mesma época, espalhados pelas emissoras abertas. Não havia ainda o serviço de TV a cabo no Brasil naquela época, e a internet era restrita às corporações, praticamente, com pouquíssimos usuários comuns, além de não existir Redes Sociais, portanto (e nessa época, ninguém nem sonhava com isso). 

Nesse cenário, tais programas de clips cumpriam a sua função como difusores de música, artistas etc. O convite formulado, foi para participarmos de uma edição especial do programa, que teria uma atração principal internacional, que se tratava na prática de uma bomba de ruindade musical, mas inacreditavelmente havia alcançado uma fama no Brasil, deveras retumbante, praticamente com expansão viral. 

A produção desse programa, queria contar com algumas bandas nacionais emergentes para fazer parte do programa, como "abertura", e os astros internacionais, seriam a grande atração, como o nome da noite, naturalmente. Claro que aceitamos, pois em nossa percepção, foi mais uma prova cabal de que estávamos a despertar a atenção do mundo midiático mainstream. 

O convite surgira de uma forma absolutamente espontânea (o tal telefone que tocava!), e esse foi um ponto significativo a ser considerado. Uma outra constatação foi de que poderiam, e deveriam, na verdade, ter chamado uma série de bandas que já habitavam o mainstream, e que portanto, estavam coadunadas com a estética em voga. Ao falar objetivamente, não teria sido mais óbvio convidarem grupos tais como: Metrô; Rádio Táxi, Capital Inicial, e outras tantas bandas dessa estética e status?

Portanto, ao nos convidar, ficara explícita a certeza de que "A Chave do Sol" estava a ser enxergada pela mídia mainstream como uma banda emergente, apesar de estar a flutuar sob um barco bem humilde, em meio ao mar revolto dominado pelo Pós-Punk, e os seus tentáculos. 


Aliás, tal percepção era martelada sistematicamente pelo jornalista, Antonio Carlos Monteiro, que sempre que resenhava um show ou um disco que lançávamos, deixava explicitamente anotado que não se conformava com o fato de que a nossa banda ainda não houvera assinado com uma gravadora major. 

Bem, feitas essas considerações, resta-me revelar o nome da banda mega-popularesca, mas na crista da onda no Brasil nesse instante, mesmo que viesse de um mundo completamente alheio à guerra de estéticas no Rock. Se tratava de uma banda do mundo mais popularesco possível, nada a ver com o Rock, mas invariavelmente confundida como uma banda de Rock por parte dos incautos de plantão: Menudo! 

Sim, apresentar-nos-íamos em um programa de TV gravado ao vivo no Palácio das Convenções do Anhembi, e a ter o indefectível Menudo como atração principal, perante um público esperado de três mil garotas ensandecidas para ver os seus ídolos hispânicos. Aperte os cintos na sua poltrona, leitor, que daqui a alguns capítulos, vem aí, histórias curiosas sobre isso...

Continua... 

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