quarta-feira, 6 de março de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 18 - Por Luiz Domingues

Mas o fato desalentador mesmo, foi que a banda estava a desmantelar-se. Contudo, fomos ainda tocar em uma micro apresentação em forma de teste, no Victoria Pub, apesar disso.
Mesmo por que, a intenção da banda foi em prosseguir, a providenciar-se um novo baterista, e com Wilson e Gereba a assumir as duas guitarras. A casa estava com um ótimo público. Havia pelo menos quatrocentas pessoas a circular em suas dependências.

O fabuloso vocalista, Próspero Albanese, em foto dos anos setenta, quando brilhou muito no histórico, "Joelho de Porco"

No palco principal (havia dois), tocava nesse instante, uma banda cover, fixa da casa. Não lembro-me o nome desse combro, mas recordo-me que o baixista em sua formação, era o celebrado, Celso Pixinga e o vocalista, Próspero Albanese, o famoso vocalista do Joelho de Porco, nos anos setenta, por ocasião da gravação de seu excelente álbum : "São Paulo, 1554-hoje" (de 1975). Os músicos estavam a executar uma seleção com músicas do "Deep Purple", e eu lembro-me em ter ficado boquiaberto a ouvir o vocal impressionante do Próspero. Cantava idêntico ao Ian Gillan, com um "punch", exuberante. Recordo-me da reação estapafúrdia da parte do Gereba, que não tinha nenhuma cultura Rocker, ao ficar embasbacado com o vocal incrível do Próspero, mas sem saber quem ele era, ou representava na história do Rock brasileiro, e assim afirmar, prosaicamente, algo do tipo : -"olha o gordão, canta p'ra caralh"... sim, nesse aspecto, Gereba tinha razão.
E havia um pianista, sensacional. Não faço a menor ideia quem era, mas lembro-me em de ver o rapaz tocar com um "swing" incrível, ao estilo de grandes pianistas versados pelo estilo do Blues de New Orleans, tais como : Dr. John, Leon Russell e outros dessa linhagem nobre da Louisiana. Era um autêntico freak, com um cabelo imenso, armado até a cintura, e bigode típico de "bandido mexicano"... e o sujeito tocava demais. Fizemos nossa apresentação durante o intervalo dessa banda, por uns vinte a trinta minutos, e apesar de não termos sido tão sensacionais como eles (com exceção do Fernando "Mu", é claro), foi ótimo, pois as pessoas dançaram, aplaudiram, e assim não deixamos a a euforia gerada pela banda fixa da casa, cair.

Esse teste aconteceu no dia 29 de fevereiro de1980, dia bissexto, e marcou-se como a última apresentação dessa formação. As portas do Victoria Pub ficaram abertas para nós, por conta da boa impressão que causamos, mas mediante desculpas, o Paulo Eugênio não teve como agendar-nos naquela circunstância, e aí, culminou no fato de que perdemos a nossa chance, naquela que foi uma das mais cobiçadas casas noturnas de São Paulo, nessa época. Com tal desfecho, o Terra no Asfalto passou por momentos difíceis, ao tentar reformular-se. Na prática, precisávamos de um baterista novo e aí surgiu a opção do Luis "Bola".
 

O Luis"Bola" (cujo apelido só podia ser alusivo ao seu porte físico, digamos, robusto), fora o baterista do projeto de música autoral que o Fernando "Mu" tentara desenvolver, desde 1978, mais ou menos, com a presença também do baixista, Roatã Duprat, filho do maestro, Rogério Duprat. O Luis Bola era tecnicamente bom, Rocker com sólida formação e um bom rapaz. Tinha uma coleção de vinis, incrível, e toda importada, pois seu pai era piloto da Vasp (a antiga Viação Aérea São Paulo, desativada nos anos noventa), e fazia a rota São Paulo / Milão, habitualmente. Dessa forma, o "Bola" elaborava a lista, e o seu pai vinha com a mala recheada com bolachas... ouvi muito o som genial do Frank Zappa em sua residência, nesses meses em que convivemos.
Mas mesmo ao encontrarmos um bom baterista para entrar em nossa banda, perdemos o embalo forte com o qual estávamos a obter, e dali em diante, só foi aparecer uma nova data, em abril de 1980.  E foi um show inusitado, cuja história eu narrarei no próximo capítulo.
Continua...

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