segunda-feira, 25 de março de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Jungô) - Capítulo 29 - Por Luiz Domingues

Assim, o rapaz piorou seu estado de saúde, pois estava nessa vida desde 1974 ou 1975, não sei ao certo, e em 1979, estava por tornar-se catatônico, com o sistema nervoso entorpecido e encharcado com xarope. Quando iniciou-se a segunda metade de 1980, ele ficou realmente mal e foi internado. Foi então que o Cido Trindade  convidou-me a entrar na banda, que nesse instante não acompanharia mais a cantora, Eliete Negreiros, e tinha outros planos traçados, a seguir em frente para realizar um trabalho próprio, e totalmente instrumental. Foi o meu primeiro contato com músicos não orientados pelo Rock, como base de influência (além dos primórdios do Língua de Trapo, onde enfrentei situação semelhante), e foi difícil lidar com seus preconceitos tolos.
Eram ótimos músicos, sem dúvida alguma, e apresentavam um nível musical muito maior que o meu nessa ocasião, evidentemente. Além disso, sua orientação e formação mostrava-se muito diferente da minha, embora eu apreciasse muitas tendências das quais eles gostavam também. A mentalidade dos seus componentes era bem orientada pelo Jazz em diversas vertentes, sobretudo o Fusion, e música brasileira instrumental, com raiz na Bossa Nova, ou em folclore nordestino, sobretudo.

Tratou-se de temas intrincados; cheios de convenções; pontes; mudanças de ritmo e fórmulas de compasso; polimelodias; contraponto, e divisões rítmicas muito variadas. Creio que foi, a grosso modo, o período em que mais toquei músicas em fórmulas de compasso, alternativas, quase ao não usar o clássico 4/4.

Os rapazes gostavam de 5/4, 6/8, 7/4 e havia até música dividida em 11/8, que dava um certo "nó na cabeça", para não errar. Mas, maravilha ! Eu estava a apreciar tocar naquela sofisticação harmônica e rítmica, pois cresci demais como músico, ao tocar sob um nível mais alto do que estava acostumado naquela época. O pessoal era gentil, a grosso modo, mas havia um pouco de altivez, coisa típica de quem embrenha-se nesse campo de música mais sofisticada, e passa a sentir-se "superior" em relação a outros músicos que trabalham com formas mais simples de estrutura musical. E se existe uma coisa que não suporto, é arrogância... está certo que nunca desrespeitaram-me frontalmente, mas percebia nas entrelinhas que estavam comigo por falta de uma opção melhor, pois eu era "rockeiro" demais na sua concepção...

Continua...

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