De volta a falar da minha banda, infelizmente,
nos últimos meses de 1978, as faltas do Osvaldo chegaram em um patamar insuportável,
e na iminência do prazo limite para enviar nosso material ao festival do Teatro
Paulo Eiró, resolvemos desistir de enviá-lo. Ficamos chateados mais uma vez,
pois caracterizou mais uma derrota. Ao mesmo tempo em que eu e Laert melhorávamos, a
banda andava para trás, com a desanimação do Osvaldo, e a falta de
comprometimento mais incisivo do Zé Claudio. Este último, não faltava nos
ensaios, mas era nítida a percepção que tínhamos, eu e Laert, que ele não
vestia a camisa da banda, e estava ali só a observar o que poderia ocorrer. Tudo bem, era
um direito dele pensar e agir assim, mas não era o que desejávamos, ainda mais
com o Osvaldo a entrar em uma fase de distanciamento de nossos ideais. Dessa forma, resolvemos
adotar o mesmo procedimento que havíamos tido em relação ao baterista, Fran
Sérpico, no início do ano, e marcamos um encontro com o Osvaldo, para que ele
esclarecesse o motivo de suas faltas constantes. E tudo revelou-se da pior
maneira para a nossa banda... ele foi honesto, e disse que não estava mais com
vontade de tocar, pois estava a namorar, e assim, por focar em outras motivações na
sua vida, naquele momento. Portanto, foi mais que um distanciamento da banda,
ele estava a distanciar-se do próprio Rock, como instituição, ideal e modo de
vida. Nesses termos, impossível contra-argumentar, e foi assim, que o membro
fundador, e iniciador da primeira fagulha, partiu. Fiquei chateado, claro. Na
prática, o Osvaldo foi o amigo que abriu-me a primeira porta na música. Se isso borbulhava loucamente na minha
cabeça há anos, concretamente a descrever, só fui engajar-me mesmo a partir do
convite dele, em um dia qualquer de abril de 1976. Antes, apenas tinha o sonho na
cabeça, e formulações fictícias a partir de 1975, quando formei duas bandas que
nunca chegaram nem perto de um instrumento musical (Satanaz e Medusa). Aquilo
fora apenas uma ideia na cabeça, e embora chegássemos a compor horríveis
músicas, só na base de melodias e letras bisonhas, sem a intervenção de
instrumentos, foi só a partir daí, que fui engajar-me com a música (Boca do
Céu), pois o Osvaldo tocava e tinha uma guitarra "de verdade"... mas,
fazer o quê ? O amigo entrou em outra expectativa, cortou o cabelo,
passou a andar vestido como o John Travolta, e a frequentar Discothéques. Se perdera
o vínculo primordial de 1976 (na verdade não perdeu, muitos anos depois eu tive
o prazer de saber disso), nada poderíamos fazer, a não ser acatar sua decisão,
e tocar a vida para a frente. O Zé Claudio, por incrível que pareça,
surpreendeu-nos, pois aceitou prosseguir, mesmo com a saída do Osvaldo. Dele
que tínhamos a impressão de ser um rapaz alheio, ficou essa surpresa positiva.
As
garotas também ficaram divididas com a saída do Osvaldo. Se com ele, as coisas
estavam devagar, com a desclassificação prévia do FICO, e a nossa própria
desistência em relação ao festival do Teatro Paulo Eiró, agora abatera-se um
desânimo, também sobre elas. Dessa forma, nem Eva, nem Pollyana Alves ficou... perdemos
Janis Joplin e Karen Carpenter, de uma só vez...
Ao final do ano de 1978, o Laert estava também
preocupado com o vestibular, e assim, a precisar estudar, e eu às voltas com o
alistamento militar. Estava na quarta chamada, e já havia até tirado medidas de
farda; capacete e coturno. Uma quinta e decisiva chamada estava
marcada para janeiro de 1979, e mostrava-se como uma perspectiva sombria que poderia
atrapalhar-me, e muito, nos meus planos para seguir na banda.
E assim encerrou-se 1978, um ano muito
difícil para o Boca do Céu / Bourréebach, onde só tivemos revés; adversidades;
perdas, e regredimos em muitos aspectos, praticamente a perder a evolução que tivéramos em
1977.
Continua...
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