sábado, 19 de janeiro de 2019

Crônicas da Autobiografia - Flatus no Estúdio - Por Luiz Domingues

        Aconteceu no tempo da Patrulha do Espaço, em 2002

Fomos convidados a participar de um programa de TV, que não seria em uma emissora aberta sob imensa audiência, mas em um modesto canal comunitário, mediante parcos recursos técnicos e infelizmente, a arregimentar uma audiência desprezível. 

E lastimamos tal fator, não apenas por haver uma baixa possibilidade de capitalizarmos uma melhor exposição para a nossa banda, mas sobretudo por tratar-se de um ótimo programa, a revelar-se uma espetacular revista cultural televisiva, conduzida por dois apresentadores bem preparados, cultos e com ligação direta com o mundo das artes & espetáculos (o rapaz era um ator com trabalhos significativos no meio teatral e a moça, uma estudante de cinema). 

Em suma, foi uma pena que tal atração não estivesse alojada na grade de uma emissora aberta, com massacrante apelo popular, dado o seu caráter cultural nobre. 

Bem, apresentamo-nos ao vivo sob uma adaptação semi acústica para adequarmo-nos às condições modestas do pequeno estúdio ali montado e realizamos uma entrevista em tom de conversa descontraída com o casal de apresentadores e foi tudo muito agradável, mesmo com o pesar de sabermos que na prática, a capitalização de resultado de divulgação para o nosso trabalho, fosse nulo. 

Todavia, um fato bizarro ocorreu nos bastidores e ainda que não houvesse acarretado nenhum prejuízo direto à nossa banda, certamente que gerou um constrangimento. 

Foi o seguinte: assim que chegamos ao estúdio dessa pequena emissora, a nossa comitiva procurou pela produção para saber do cronograma a ser cumprido, visto que seria uma apresentação ao vivo. Então, rapidamente os nossos roadies descarregaram o equipamento e o montaram. 

Foi pouca coisa, é bem verdade, visto que faríamos uma apresentação semi-acústica, com simplicidade. Rapidamente, os apresentadores vieram cumprimentar-nos e a simpatia total de ambos, cativou-nos antes mesmo do programa começar. 

Após tudo estar preparado, restaram alguns minutos para o programa entrar no ar e então, a nossa comitiva dispersou momentaneamente, com alguns a visitarem a copa & cozinha do estabelecimento para tomar um café pontual e outros a manterem-se perto do estúdio, a conversar com membros da produção e técnicos da emissora. 

Eu estava dentro do estúdio com mais dois membros da nossa comitiva, quando em tom de pilhéria, um dos membros da comitiva (e não fui eu, asseguro ao leitor), cometeu um deliberado ato de flatulência, ao melhor estilo: "molecagem da quinta série". 

Pois eis que concomitantemente ao ocorrido, a nossa reação imediata foi a de uma explosão de riso pela abominação (pois é engraçado em via de regra, tanto que os romanos costumavam afirmar que: "a flatulência é a prova cabal de que os Deuses tem bom humor"), mas simultaneamente, tivemos uma reação sob profundo desagravo, pelo fétido material gasoso ali expelido, a contaminar completamente o ambiente e deixar-nos em dúvida se aquilo teria sido o resultado de um desajuste intestinal da parte de um Ser Humano, ou simplesmente um pouco da bruma advinda do enxofre concentrado, que viera diretamente dos portais do inferno?  

Mas o pior ocorreu, quando nessa fração de segundos em que tal situação consolidara-se, eis que a simpática apresentadora do programa, adentrou o estúdio e veio sorridentemente em nossa direção, a fim de conversar conosco. 

Pois diante dessa constrangedora perspectiva, de uma forma sorrateira, nós saímos rapidamente do ambiente a fingir uma súbita necessidade de resolver algum assunto pendente, reação coletiva e instintiva, inclusive com a participação do autor da proeza, mas um dos nossos colegas vacilou nessa retirada estratégica e ficou para conversar com a amável mocinha. 

Na rua, a explosão de gargalhadas demorou para cessar, intensificada pela bizarra lembrança de que um colega ficara no ambiente a carregar o ônus gerado pelo ânus alheio (com o perdão pelo trocadilho infame). 

O que teria pensado aquela meiga nissei? E como teria sido o constrangimento do colega que ficara no ambiente infestado e sem poder rir, evadir-se e nem mesmo justificar que aquela contaminação sofrível do ar, não fora por sua culpa? 

E mais uma pergunta: pela rapidez entre o ocorrido e a chegada da moça ao estúdio, teria sido impossível que ela não tivesse escutado o estrondo causado pela ventania fecal, portanto, como essa moça disfarçou tão bem ao chegar sorridente e a aparentar não ter percebido nada? 

Enfim, quanto mais perguntas pertinentes ao episódio fizemos na calçada, em frente ao estúdio, mais provocamos risadas. 

E no fim, foi uma apresentação ótima, com o casal a tratar-nos com imensa camaradagem e ao que tudo indicou, ou a moça foi muito discreta ou esteve com algum problema de ordem otorrinolaringológico, pois não ouviu nenhum estrondo, tampouco sentiu nenhum aroma desagradável.  

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