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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Autobiografia na música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 43 - Por Luiz Domingues

Kim Kehl e Ciro Pessoa em ação no Teatro Parlapatões de São Paulo em junho de 2014. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap

A situação que gerou tais áudios foi a seguinte: o Ciro marcou a noite de autógrafos do seu livro ("Relatos da Existência Caótica") para o dia 23 de outubro de 2015 nas dependências do "Café Delirium" no bairro de Pinheiros em São Paulo, e já a partir de agosto, enviara por e-mail para o Kim e para eu mesmo, Luiz, alguns poemas que fariam parte do livro, com intuito de que nós os musicássemos. Ele queria muito contar com músicas novas na apresentação que faríamos na mesmo noite e principalmente por serem estas criações de sua parte, vinculadas ao livro que apresentaria aos seus leitores e fãs da sua carreira musical. 

Nesses termos, eu e Kim trabalhamos separadamente e compusemos músicas nesse esforço de usarmos seus poemas com forte dose surrealista na essência, uma marca registrada do trabalho do Ciro.

Foi marcado um ensaio de reconhecimento dessas ideias brutas a visar ajustes na métrica, bem básicos, a fim de preparar minimamente o corpo dessas novas canções, para que pudessem ser ensaiadas de forma elétrica em dois apontamentos marcados próximos da data do show e noite de autógrafos. 

Em algum dia de setembro de 2015, nos reunimos então na residência do Ciro Pessoa, que ficava localizada no bairro do Jardim Bonfiglioli, zona sudoeste de São Paulo e lhe mostramos as ideias brutas. Participamos então com a minha (Luiz) presença, além dos demais companheiros, Kim Kehl e Carlinhos Machado. Isabela Johansen não participou do ensaio, apesar de ser componente da banda e esposa do Ciro na ocasião, pois ela estava fortemente gripada e naturalmente indisposta.

Nesses três áudios que eu encontrei em 2023, o que se ouve é o resultado bruto da apresentação de ideias para duas músicas que eu havia proposto mostrar aos companheiros, ao ter musicado os poemas que o Ciro havia me enviado previamente.

As gravações desse esforço de apresentação acústica, foram feitas através do telefone celular do Carlinhos Machado. E ali na hora, eu e Kim usamos violões e o próprio Carlinhos tocou percussão de forma bem simples, apenas para nos guiar ritmicamente.  

"Planície dos Sonhos" (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) - Ensaio acústico - parte 1 - Em algum dia de setembro de 2015. Captura de áudio: Carlinhos Machado. Promo para a internet em 2023: Luiz Domingues

Eis o link para assistir no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=ylQBzarCRwE 

Em suma, se trata de uma captura bem modesta de um ensaio improvisado. Portanto, o áudio é muito precário, deixo essa ressalva bem assinalada para quem se interessar em ouvir o material. E mais um dado, a se tratar de uma preliminar apresentação de ideia, super crua, mediante violões & percussão e além do mais, com a melodia a carecer de muitos ajustes para alcançar a métrica necessária para ser bem moldada ao poema. Em suma, este material tem maior valor pelo seu aspecto de raridade em si do que pela excelência musical exposta.  

"Planície dos Sonhos" (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) - Ensaio acústico - parte 2 - Em algum dia de setembro de 2015. Captura de áudio: Carlinhos Machado. Promo para a internet em 2023: Luiz Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=yhymGHmLrak

No caso da canção: "Planície dos Sonhos", eu apresentei uma ideia minha que eu havia apresentado para ser usada no meu tempo como componente do "Pedra", mas como é sabido pelo leitor que acompanha a minha autobiografia com atenção, naquela banda eu tinha muita dificuldade para propor ideias e não apenas as musicais e assim, quando o Ciro me pediu a colaboração para musicar um dos seus poemas, eu tentei resgatar essa concepção.

Musicalmente, o som que eu propus, se mostrava todo registrado em frases semi cortadas a conter o efeito da síncope e também sob o efeito anacruse, ou seja, mais a lembrar R'n'B com certo charme de Jazz'n' Blues do que algo verdadeiramente psicodélico como o Ciro desejaria que eu compusesse, mas isso em sua parte 1, pois eu acrescentei duas outras partes ao mapa primordial da canção e estes a remeter a uma espécie de "Space Rock" bem dos primórdios daquela transição da psicodelia britânica para o Rock progressivo, algo muito difundido principalmente entre 1968 e 1970. E claro que o Ciro adorou a ideia, assim que ouviu a proposta, "floydiano" contumaz que o era, no entanto, e é bem nítido nesses áudios que eu resgatei, a melodia carecia de ajustes para se encaixar na métrica mais complexa registrada entre a proposta de divisão rítmica e a poesia.

Sobre o poema escrito pelo Ciro Pessoa e que faz parte do seu livro, "Relatos da existência caótica", eis o seu teor:

PLANÍCIE DOS SONHOS (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) 

"Bem que eles me avisaram: cuidado, cuidado!

Mas uma vez acionado o botão nada mais poderia ser feito em termos de saída a entrada era quem dava o destino. 

Fios de arame cintilantes estendidos em sequência horizontal que conduziam a uma tarde de chuva na silenciosa cidade de vidro onde duas senhoras inglesas tomavam chá.

E mais além uma noite violeta debruçada sobre o livro encantado de uma menina de longos cabelos ruivos. 

Dezenas de quadros fixados simetricamente um ao lado do outro. 

Sequência de luzes coloridas e explosivas. 

Na usina dos desejos paredes de vidro e a extensão infinita da planície dos sonhos".

"Xadrez Cósmico" (Ciro Pessoa-Luiz Domingues) - Ensaio acústico - Em algum dia de setembro de 2015. Captura de áudio: Carlinhos Machado. Promo para a internet em 2023: Luiz Domingues

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=AoYQ4681DtU

Sobre " Xadrez Cósmico", a ideia foi em torno de um Rock'n'Roll bem mais básico, com intenção "Rollingstoniana" explícita. A posteriori, o Kim Kehl acrescentou ideias para a composição e se tornou coautor da canção, mas até esse ensaio, a criação esteve restrita ao Ciro e eu (Luiz).

Sobre a letra, apesar da roupagem musical ter ficado mais em torno do Rock visceral, a estrutura poética permaneceu surreal por excelência, o que talvez não fosse o mais adequado em termos de combinação, no entanto, nos soou bem interessante a conjunção proposta e assim, essa música foi bem mais facilmente preparada em seu arranjo e tocada ao vivo, embora a outra, "Planície dos Sonhos" também teve a execução no show que lançou o livro e da minha parte, uma outra canção que já havíamos preparado desde 2014, e igualmente de um poema que faz parte do livro ("ecos da tagarelice mental"), também foi executada. nesse citado espetáculo. Esta canção, por sinal, a conter além de Ciro e eu (Luiz), a coautoria do Carlinhos Machado.

Eis a letra de "Xadrez Cósmico":

XADREZ CÓSMICO (Ciro Pessoa-Luiz Domingues-Kim Kehl) 

"Agora que a ciência é a rainha da Magia-Turbulência e que os contatos de todos os graus são regidos por uma lei inevitável, o homem passa a ser um ser estritamente cósmico! 

Agora que o espaço ocupado pelas certezas ameaça o ciclo das luminosas revelações o vulcão sonâmbulo dá sinais de insanidade e vomita flores quentes sobre o vale azul!

Agora que hostes de extraterrestres e astronautas levitam em acrobático séquito através do espaço tem início o espiral jogo do xadrez cósmico!"

Para colocar esse material no YouTube, eu usei o recurso de um painel de fotos estático para ilustrar, a conter fotos do show que a nossa formação havia feito no Teatro Parlapatões de São Paulo, em junho de 2014, mediante fotos clicadas por Lara Pap e Birão Ramin

E assim foi a história desse resgate de um material bem improvável, mas que no entanto, reforçou o acervo que eu tenho sobre a minha passagem pela banda de apoio a Ciro Pessoa, "Nu Descendo a Escada", trabalho que efetuei de agosto de 2011 a fevereiro de 2016. 

Mas não parou por aí. Pois ao revistar o fundo do baú, eis que eu achei uma gravação a conter uma apresentação ao vivo de Ciro & Nudes e daí fui investigar a viabilidade de colocar esse material no YouTube e quiçá, lançar um CD pirata, o que seria sensacional para agregar mais substância à história desse trabalho.

Portanto, continua...   

domingo, 1 de outubro de 2023

Autobiografia na música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 42 - Por Luiz Domingues

Bem na mesma predisposição de que nos dias então mais atuais de 2022 e 2023, eu tive a felicidade de resgatar materiais raros de diversas bandas das quais eu fui componente, tais oportunidades haveriam de surgir também para outros trabalhos que teoricamente não haveria mais nada para ser resgatado, dada a escassez de material possível ainda a ser encontrado.

Esse é o caso do meu trabalho com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, cujo legado com álbum oficial não existe, tampouco uma demo-tape que seja, mas ao menos essa fase da minha carreira a defender a criação de Ciro Pessoa deixou vídeos ao vivo, fotos e portfólio que consegui reunir, a abranger os anos nos quais eu fui componente desse grupo.

E com felicidade, eis que consegui resgatar um material raro, que carece de qualidade de áudio, sim, no entanto, dada a constatação do seu caráter raro, se tornou um pequeno tesouro para eu anexar ao meu museu virtual de carreira e certamente veio a reforçar também o legado de Ciro Pessoa.

Ciro Pessoa nos bastidores do show que fizemos no Sesc Piracicaba em abril de 2014. Click, acervo e cortesia: Kim Kehl

E se falo em legado da parte do Ciro, é com pesar que atualizo para a minha autobiografia o fato que quando eu encerrei o meu relato sobre esse trabalho, apenas elaborei o texto final a agradecer aos companheiros e colaboradores, no entanto, algum tempo depois, o pior aconteceu, quando em 5 de maio de 2020, fragilizado por estar a lutar conta o câncer e consequentemente a contar com baixa imunidade nessa fase, tal quadro clínico o tornou um alvo fácil para a agressiva ação da Covid-19, bem no início da onda de contaminação assustadora.

Em meio ao confinamento, foi com estupefação que eu tomei conhecimento da partida de Ciro, através do jornalismo televisivo. No mesmo instante eu mandei recado aos companheiros que estiveram comigo nesse trabalho e todos estavam muito chocados, naturalmente. 

Por causa das restrições extremas da pandemia, as cerimônias de velório, sepultamento ou cremação estavam restritas a poucos familiares mais próximos e cerimônias essas organizadas mediante um tempo mínimo de duração e mesmo assim, com distanciamento em relação ao ente querido alojado no caixão. Portanto, eu gostaria de ter prestigiado o amigo que partiu em seu último momento físico entre nós, mas isso não foi possível.

Eu (Luiz Domingues) a atuar com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Teatro Parlapatões de São Paulo em junho de 2014. Click, acervo e cortesia: Birão Ramim

Emiti um recado de condolência para a Isabela Johansen, que apesar de ter se divorciado do Ciro antes mesmo da nossa formação ser extinta e ela houvera sido vocalista da banda, igualmente, certamente que mantinha e manterá um elo eterno com o Ciro através de Antonia Pessoa, a filha que tiveram.

Enfim, mesmo que eu não tivesse tido mais convivência com o Ciro desde 2016, é claro que senti bastante a notícia do seu passamento, e ainda mais da maneira que foi, ceifado pela grande pandemia mundial. 

Por volta de maio de 2023, eu achei um e-mail do Kim Kehl direcionado para todos do grupo, com três arquivos de áudios a conter trechos de um ensaio acústico que havíamos realizado por volta de setembro de 2015, a compor músicas novas e daí, resolvi de imediato utilizar tais áudios para compor três promos e imediatamente os postei em meu canal número três do YouTube.

Faço a seguir uma explanação sobre o material em si.

Continua...

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 38 - Por Luiz Domingues

 
A casa noturna onde o evento transcorreria, chamava-se: "Delirium Café". Bem montado e bem localizado, parecia atender a um tipo de público classe média alta em essência, pela ambientação, mas sobretudo por ser uma casa especializada em bebidas alcoólicas estrangeiras e caras oferecidas em sua carta habitual.
O palco era de um porte até razoável ao se considerar que a casa não tinha o costume de promover shows musicais regularmente, mas apenas de forma sazonal. Porém, havia um problema grande ali: não havia equipamento de PA, iluminação e a estrutura de suporte para a prover a energia era pífia, portanto foi muito preocupante para nós.

Bem, sobrou para o Kim que teve mais uma vez que pensar em levar seu PA particular, o que lhe dava uma tremenda dor de cabeça extra.

De minha parte, como eu já estava a tocar com Os Kurandeiros e a Magnólia Blues Band regularmente, estava ainda em uma fase de convalescença a incomodar os amigos em ter que carregar o meu backline, portanto, mais uma vez eu tive que contar com a boa vontade deles.  

Cheguei ao estabelecimento antes de todos. Fui bem recebido pela hostess da casa, mas notei o despreparo da moça em questão, para lidar com espetáculos musicais, assim que eu cheguei ao palco, pois haviam sofás colocados ali e a moça mostrou-se surpresa quando eu lhe pedi que eles fossem retirados, pois ficara óbvio que não caberia o nosso equipamento e nem nós mesmos ali, com tais móveis ali alojados.  

Os companheiros chegaram e com os sofás já retirados a desobstruir o palco, montamos tudo e fizemos o chamado: "autosoundcheck", para comprovar que conseguimos imprimir uma qualidade sonora mínima, e assim ficamos mais seguros de que o show teria um áudio de razoável qualidade. 

A casa se pôs a foi receber o seu público, e muita gente interessada no show ou no livro do Ciro, também aproximou-se, paulatinamente.

Em um dado instante, o Ciro foi para a mesa de autógrafos e foi bastante procurado por seus fãs, que compraram o seu livro e aproveitaram o ensejo para garantirem os seus autógrafos.  

                    Ciro e a sua bela assistente, Antonia Pessoa

Vi ali no ambiente, muitos jornalistas presentes e Claudio Willer esteve presente, sim, a se revelar uma grande honra para todos nós.  
Encontro de poetas surrealistas: Ciro Pessoa e Claudio Willer

O lado mau disso tudo, foi que a casa aspirava que o show começasse bem tarde, o que tornou a espera cansativa, e na ausência de um camarim que nos garantisse o sossego, ficar ali na multidão com o som mecânico relativamente alto, gerou um certo cansaço mental para todos.
Dois psicodélicos inveterados: Ciro Pessoa & Luiz Domingues

Eu particularmente, detesto ambientes barulhentos, por natureza. Sei que as pessoas acham isso engraçado e de certa forma paradoxal por eu ser Rocker, e estar acostumado a fazer shows de Rock. No entanto, eu na verdade detesto barulho e jamais frequento casas noturnas por esse motivo, e também por ser abstêmio, portanto, tendo a cansar rapidamente em permanecer por alguns minutos em lugares assim. Mas enfim chegou a hora e lá fomos nós...
A sonoridade e a energia do show foram muitos boas, embora tenhamos todos cometidos erros tolos, cada um individualmente, mas que foram facilmente contornáveis.

O fato de que eu, Luiz, Kim e Carlinhos tocávamos em outras duas bandas que mantinham o Blues e o Rock como pilares, e o improviso total como modus operandi, fez com que nosso entrosamento natural ficasse a favor dos Nudes, também.
Muitos fãs dos trabalhos do Ciro com Os Titãs e o Cabine C, e também de seus discos solo, estiveram ali presentes, mas haviam também fãs que admiravam-nos por nossos trabalhos em outras bandas. Um rapaz em específico, chamado: Raphael Rodrigues, que costumava aparecer em shows d'Os Kurandeiros e eu já o havia visto em shows do Pedra, esteve ali bem na primeira mesa. Nesse dia, ele levou consigo muitos discos para eu autografar de trabalhos que eu fizera com outras bandas. Havia na mesa em que ele sentou-se, discos da Patrulha do Espaço, A Chave do Sol, Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros, e até do Pitbulls on Crack...

Mais que isso, esse rapaz mostrava-se fã dos trabalhos do Ciro também, e pediu várias músicas para tocarmos de seus discos solo, além dos trabalhos dele com Os Titãs e o Cabine C.
A lembrar a foto da contracapa do LP do Festival de Woodstock, a pequena, Antonia Pessoa passeia pelo palco, antes do show

Apesar da psicodelia e das letras surreais, o público apreciou e não houve nenhum sinal de rejeição da parte dos habitues que estavam ali alheios ao lançamento do livro: "Relatos da Existência Caótica" ou do show de Ciro & Nudes.
Pelo contrário, se não houve uma ovação, eu diria que da parte de quem esteve ali alheio à proposta dupla desse espetáculo, até mesmo a não entender quem seria o Ciro, e muito menos nós, a reação foi bastante respeitosa, com aplausos.  

Um resumo do show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Delirium Café, em 23 de outubro de 2015. Filmagem de Jani Santana Morales

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cBvVCf5wF6A

Missão cumprida, doravante nos restara aguardar por novas oportunidades e logo teríamos a novidade de se começar a cogitar a gravação de um álbum. Mas na prática, novidades só viriam mesmo no início de 2016, e foi uma oportunidade de se usar o clichê: temos duas notícias, uma boa e outra ruim... qual você quer ouvir primeiro?

Continua...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 37 - Por Luiz Domingues

Comunicados pelo Ciro que o seu livro estava a chegar da gráfica e que uma noite de autógrafos estava marcada para ser realizada em outubro, em uma casa noturna no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, nós voltamos a conversar com bastante frequência por e-mail e inbox de Facebook, entre setembro e outubro de 2015.

Discutido um repertório básico de show, houve uma proposta do Ciro para intensificar o esforço de que novas músicas surgissem e com letras baseadas em poemas que faziam parte do livro que seria lançado em breve. Dessa forma, ele mandou duas letras para o Kim e duas para que eu o fizesse também.

No meu caso, recebi dois poemas, denominados: "Planície dos Sonhos" e "Xadrez Cósmico". Eu trabalhei primeiro com um riff que já tinha em mente há muitos anos, e que reiteradas vezes tentei colocar à disposição do "Pedra", mas ali nunca foi aproveitado, e de fato, colocar ideias para o Pedra sempre foi uma questão muito difícil pela maneira pela qual aquela banda se portou ao longo de sua história e não cabe aqui tecer nenhum comentário a mais. Se o leitor pulou o capítulo do Pedra, convido-o a lê-lo ou relê-lo para entender o que aqui coloco. Agora, livre de crivos alheios e intimidadores, o riff poderia ser aproveitado sem problemas e foi o que fiz para musicar o poema: "Planície dos Sonhos". 

Não foi fácil, no entanto, encaixar a métrica da melodia cantada ao poema, pois é notório que é muito mais difícil para qualquer compositor, criar a música para uma letra pronta, sendo o processo inverso, pensar na letra com a harmonia, ritmo e melodia definidos, muito mais fácil.

Mesmo ao ter que fazer algumas modificações a posteriori e com apoio do próprio, Ciro, que também estabeleceu algumas mudanças nos versos do poema, o resultado ficou ótimo. Fiquei bastante contente em ver a ideia prosperar e se tornar uma canção com forte apelo psicodélico sessentista, uma das minhas paixões em termos de vertentes dentro do Rock. 

Já a outra canção, foi fruto de uma melodia que por incrível que pareça veio à minha mente no período em que eu ficara internado no hospital. A se tratar de um Rock'n' Roll bem ao sabor glitter setentista, ganhou co-parceria com o Kim, que criou um riff de introdução e outro de intermezzo, bem interessantes, a enriquecer a composição.

Um ensaio acústico foi marcado na residência dos Pessoa, e onde foi possível mostrar as músicas compostas e se estabelecer os seus arranjos.

Da parte do Kim, a sua contribuição com novas músicas se deu com "Mariposas" e "La la la". Sobre "Mariposas", o Kim nos trouxe também um Rock básico, mas com uma melodia absolutamente inusitada. 

A se tratar de algo inspirado no canto lírico e ao se considerar que o Kim adora música erudita e tem amplo conhecimento na área, tal ideia que nos trouxe foi uma sacada genial e que casou-se de uma forma louquíssima com a letra surreal escrita pelo Ciro...

                     "Self" do ensaio, em 6 de outubro de 2015

A outra canção que criou, "La la la", fora um "bubblegum" sessentista sensacional e com um potencial Pop extraordinário. Mas no frigir dos ovos, acabou por ficar de fora do set list do show.  

Mais um ensaio acústico foi marcado e a seguir, dois ensaios elétricos para firmar o show.

 

                                  Fotos do ensaio de 15 de outubro de 2015

Por outro lado, ao se considerar que o show não era o foco em si, mas um reforço ao lançamento do livro e noite de autógrafos, a divulgação estava a atingir frentes diferentes, do mundo literário, inclusive. 

O poeta, Claudio Willer, havia confirmado a sua presença, e ele havia assinado o prefácio do livro, portanto, seria uma super honra para o Ciro e para todos nós, ter a presença de um grande artista e pensador a prestigiar o evento.

E assim chegou o dia da noite de autógrafos-show...

Continua...  

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 36 - Por Luiz Domingues

Tivemos uma animação muito grande após o show no Teatro Parlapatões, esperando dias ótimos para os "Nudes".

Com músicas novas a surgirem em parceria direta conosco, a entrada do Carlinhos Machado na formação oficial da banda, a boa participação da Isabela Johansen na banda, com boa voz, ideias, composições e ótima presença de palco, foram enfim, bons indícios que nos credenciar a pensar que boas novas chegariam. 

No entanto, houveram fatores alheios à nossa vontade para minar tais boas perspectivas que foram enxergadas somente pelo prisma artístico.

Uma questão e não pode ser computada como um problema propriamente dito, mas foi uma realidade, deu-se no sentido de que o casal Ciro & Isa estava com a responsabilidade de cuidar de uma filha recém-nascida e claro, apesar de contarem com apoio de vovós e outros familiares, demandava cuidados básicos e limitação para assumir compromissos, cumprir horários etc. 

O outro ponto foi que o Ciro houvera se engajado de corpo e alma em manifestações públicas de repúdio ao governo federal de então.

Ao ir além e por usar de seu prestígio artístico, ele realizou diversos "hangouts" a debater com o Lobão, um outro artista que engajara-se na mesma causa e com outros pensadores, a angariar simpatia e antipatia, conforme o sabor de cada torcida uniformizada nessa discussão. Não entrarei no mérito de explicitar isso em questão, no entanto, o que cabe dizer aqui é que o foco dele foi desviado bastante e aquele "momentum" bom que se desenhara à nossa frente, foi a diluir-se por conta dessa militância (e não falo isso em tom de crítica pessoal, mas apenas a relatar como fato histórico no que nos concernia). Nesses termos, ao perder terreno, não tivemos mais atividades oficiais em 2014, ao nos limitar a conversas internas por e-mails nesse período.

Em 2015, eu passei por um problema sério de saúde que consumiu-me um tempo longo de internação, duas cirurgias e uma lenta recuperação, que se estende aos dias atuais, 2016, quando escrevo este trecho. Já comentei mais detalhadamente sobre o que me ocorreu pessoalmente, no capítulo sobre minha trajetória com Kim Kehl & Os Kurandeiros, a cobrir o mesmo período do tempo, não vou repetir aqui, portanto. 

Deixo no entanto, novamente o link de uma matéria que escrevi, como forma de agradecimentos aos profissionais do Hospital São Paulo, onde a minha vida foi salva. Nessa matéria publicada no meu Blog 1, mas não anunciada como outras matérias em redes sociais, há uma explicação detalhada sobre a minha doença e o período hospitalar pelo qual passei:

Blog Luiz Domingues 1 :
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2015/10/nao-e-por-ma-vontade-dos-profissionais.html

A partir do final de maio, voltei a apresentar-me com Os Kurandeiros, e também com a Magnólia Blues Band, mas com bastante cuidado e limitações físicas visíveis.  Como as atividades com o "Nude"s estavam paralisadas naquele instante, a minha doença e convalescença não prejudicou o andamento dos trabalhos, diretamente.

Nessa época em que estava a voltar a normalizar a minha vida, o Ciro nos comunicou que estava a articular um evento em uma casa noturna onde curiosamente Os Kurandeiros já haviam se apresentado várias vezes, chamada: Bierboxx, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.  
Ciro Pessoa & Nudes no Bierboxx em 28 de junho de 2015. Foto do acervo dos Blues Riders
 
Tal evento teve cunho político, como um ato contra o governo federal de então e nasceu graças aos esforços em que o Ciro estava engajado para repercutir, conforme os ditames conservadores dos quais ele havia se encantado na ocasião. Chamado como: "artivismo", tal evento teve a participação de alguns artistas que se engajaram na causa, entre poetas e músicos.

Não anotei o nome dos artistas que se apresentaram de forma intimista, na base da voz & violão, mas foram alguns, além de poetas e alguns que discursaram em tom de desabafo político.

De bandas, além dos Nudes, houve também um show de choque dos Blues Riders, uma ótima banda formada por ótimas pessoas como costumo sempre dizer. Admiro muito a batalha deles, que tem como marca registrada a persistência impressionante, a lutar por anos a fio em meio a uma cena sempre hostil para bandas desse tipo de sonoridade. O show dos Blues Riders foi ótimo, com aquela energia habitual, ao desfilar os seus Blues-Rock que esbarram no Hard-Rock, muitas vezes.

Gentis como sempre, nos emprestaram o seu backline e de fato, se o show dos Blues Riders fora de choque, o nosso foi ainda mais curto, uma mera aparição fortuita, pois a intenção do Ciro foi mais produzir o evento e discursar politicamente do que inserir a nossa apresentação formal.
Ciro & Nudes + Blues Riders na confraternização final! Acervo dos Blues Riders
 
Por ser curto, eu não senti em demasiado, mas o fato foi que eu estava ainda bastante debilitado, infelizmente. Aconteceu em 28 de junho de 2015, um domingo ao final da tarde, com cerca de cinquenta pessoas.

Algum tempo depois, eu recebi o convite para comparecer ao aniversário da pequena, Antonia Pessoa, filha de Ciro & Isabela.
Fui com muito prazer prestigiar a festa de natalício da pequena Antonia Pessoa, e só não fiquei muito tempo, pois ainda não me sentia 100% bem.
Com Ciro Pessoa, na festa de aniversário de dois anos de sua linda filha, Antonia, em 2015

Mas eu já sabia nesse dia da festa infantil (na verdade, desde antes), que o livro do Ciro, estava na gráfica, a esperar apenas o processo industrial, portanto, havia a intenção de se fazer uma noite de autógrafos, e acoplada a um show, para reforçar tal lançamento.
Mais que isso, algumas músicas novas tinham as suas respectivas letras baseadas em poemas desse livro, portanto, seria mais do que necessário haver uma apresentação musical nesse lançamento do livro. Portanto, em breve começaríamos a ensaiar a visar esse compromisso para 2015.
Continua...

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 35 - Por Luiz Domingues

Com o som acertado e por incrível que pareça em meio a uma situação bizarra de não haver nada além das vozes acoplado ao PA do teatro, agora seria apenas aguardar os três sinais do teatro e começar o espetáculo. 

No camarim, o clima de confraternização entre os Nudes esteve ótimo, a nos dar a confiança de que faríamos um bom show, apesar da condição técnica estranhíssima, já descrita.

Camarim descontraído, só a aguardar o momento para exercer a psicodelia

Quando recebemos o sinal de que as portas se abririam para o público, já estávamos prontos e só restava esperar pelos sinais tradicionais.
          Vista do camarim para o palco do Teatro Parlapatões

Ali, no improviso total, o Ciro teve uma ideia inusitada e que no âmago do trabalho todo amalgamado pela loucura que o permeava naturalmente, seria plausível e impactante. Como o camarim ficava alojado em um patamar acima do palco, bem alto por sinal, o acesso para o palco se fazia por uma escada íngreme e com uma certa periculosidade inclusive, ao fundo, a quebrar um pouco a ideia de um palco italiano tradicional, com saídas laterais de coxias etc.

Na verdade, a coxia ali era bem pequena, a se mostrar praticamente como um pequeno biombo onde os atores podiam aguardar deixa de entrada em cena, mas sem muita margem de invisibilidade. Em suma, um palco para apresentações teatrais cruas, sem muita possibilidade cenotécnica e mais baseada em texto, e na expressividade dos atores. 

Em nosso caso, como o show tinha bastante presença de texto, logicamente que as coxias poderiam auxiliar na ação de entrada e saída de cena, principalmente do Ciro e da Isabela, mas ao mesmo tempo que o espetáculo mantinha essa carga surreal & psicodélica, detinha também o elemento Rock, forte, e nesse caso, nada poderia nos deter, e nem mesmo a ausência de um PA adequado.


                  Nu Descendo a Escada, de Marcel Duchamp

Sobre a ideia extravagante que o Ciro propôs, como é sabido, o nome da banda era: "Nu Descendo a Escada" (tal nome, aliás, era baseado numa pintura assinada por Marcel Duchamp, no ano de 1912), portanto, ao ver a escada íngreme e com a projeção que havíamos programado para passar na hora do show, na própria parede e portanto, com a escada a fazer parte involuntária de tal parede, Ciro de pronto sugeriu que nos despíssemos e entrássemos em cena inteiramente nus para impactar e fazer jus à loucura que permeava o trabalho.
Bem, ninguém ficou chocado ou ultrajado em princípio, mas ali, no calor da iminência de se entrar em cena, ponderamos que seria uma loucura salutar, mas posteriormente seria ridículo fazermos o show inteiro despidos ou igualmente, se nos vestissemos em cena para dar tal prosseguimento.
                                Momentos do soundcheck       

Rimos muito, mas seria exagerado e embaraçoso em um segundo instante, além do que, apesar do teatro ser bastante acostumado a lidar com encenações bem alternativas, com grupos teatrais experimentais etc. e tal, talvez gerasse um problema ali, de ordem extra-teatral.
Bem, descartada a ideia, isso não impediu que a entrada em cena fosse performática, com o Ciro à nossa frente, a descer a escada e a portar um guarda-chuva enorme, que o caracterizara como René Magritte, seguido da banda, também a descermos lentamente, a seguir o padrão e sob as imagens de nuvens a nos transpassar e o áudio de uma chuva com trovões. Tocamos basicamente o set list que havíamos apresentado em abril último, no Sesc de Piracicaba.
Foi um misto dos dois discos solos do Ciro, mais algumas músicas novas, que já foram concebidas como fruto da nova fase da banda e em parceria com Isabela, eu (Luiz), Kim e Carlinhos.

"Evacuando Ideias na Selva do Improvável" + "Praia de Marfim", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Teatro Parlapatões em 5 de junho de 2014

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=G3jPO8c76Js  

Logo na primeira música, um sujeito entrou no teatro, e ele veio da rua para invadir o palco, quase a tocar no Ciro, mas os seguranças do teatro estavam no seu encalço e o detiveram rapidamente, para levá-lo para fora. 

Aquilo foi tão rápido que não chegou a nos tirar a concentração, e nem mesmo nos assustou, visto que ele foi rapidamente retirado do palco, mas o público ficou sem entender nada e talvez tenham pensado se tratar de alguma intervenção cênica com atores, para causar impacto, proposital, portanto.

Após o show, comemoramos isso, pois essa intervenção inusitada pode ter reforçado todo o conceito de loucura que caracterizava o show.
Um rápido "teaser" com um trecho da música "Ecos da Tagarelice Mental"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=H0cuk3OmGJ4 

O show foi filmado pelo irmão de Isabela, Gustavo Johansen e com apoio de Carlos Augusto Nascimento, mas não disponibilizado em versão integral, ao menos por enquanto, ao escrever este trecho em fevereiro de 2016.
Outro breve "teaser", com um trecho da música "Planos" 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BAtwD4ZnKcI

Apenas alguns trechos estão disponíveis no YouTube, mas espero que um dia tal material seja postado na íntegra. O pós-show foi bastante festivo. Não houve um grande público presente, mas quem ali compareceu foi bastante carinhoso para conosco.
                   Grace Gianoukas & Kim Kehl no pós show

A atriz, Grace Gianoukas, famosa criadora do "Terça Insana", um dos mais famosos espetáculos de Stand Up Comedy do Brasil, compareceu. Ela era amiga de longa data do Kim, pelo fato de ter sido casada com o Abrão, um cantor com o qual o Kim teve uma banda no final dos anos oitenta: Abrão & Os Lincolns.
Foi um ótimo show, pois além da performance ter sido muito boa, ficamos muito surpreendidos sobre como conseguimos fazer um show com um PA tão inadequado e só a suprir as vozes. Claro que tivemos dificuldades inevitáveis nessas condições, principalmente o Carlinhos que guiou-se o show inteiro apenas pelo som dos amplificadores de baixo e guitarra. Mas no cômputo geral, foi bem estimulante a apresentação e agora queríamos uma boa sequência, para firmar bem essa formação da banda.
Continua...