terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Crônicas da Autobiografia - A Pernoitar entre os Cartuns de Caruso - Por Luiz Domingues

Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em setembro de 1984. Foto promocional da banda, feita na mesma época, de autoria de Carlos Muniz Ventura

No segundo semestre de 1984, a nossa banda vivia um momento muito bom, sob o impacto de uma forte expansão gerencial e midiática. A crescer no imaginário popular e despertar por conseguinte a possibilidade de abraçar as muitas oportunidades que surgiam, eis que por volta de setembro de 1984, a banda abriu duas frentes importantes para fomentar ainda mais a divulgação do trabalho e também para fechar shows. 

Nesses termos, os companheiros, Rubens Gióia e o então novo vocalista, Chico Dias (este rapaz na verdade, permaneceu muito pouco na formação da banda), foram à Porto Alegre, onde alguns contatos dentro da mídia gaúcha, foram movimentados e em paralelo, eu mesmo, Luiz Domingues, fui ao Rio de Janeiro, por conta de alguns contatos que eu mantinha na capital fluminense e assim tratei por incrementar o mesmo esforço. 

A grande produtora musical, Cida Ayres, em foto mais atual, dos anos 2000. Foto: divulgação na Internet

É bem verdade que além dos contatos que eu já possuía, houve a providencial ajuda que eu (nós), recebi (emos) da produtora do Língua de Trapo, chamada: Cida Ayres, que afeiçoara-se também ao trabalho da nossa banda, "A Chave do Sol" e assim, de uma forma muito generosa, ela movimentou os seus contatos pessoais e posso dizer, foi um esforço decisivo para que em uma das abordagens que eu fui fazer no Rio, para vender um show da nossa banda no badalado espaço do "Circo Voador", viesse a lograr êxito, logo a seguir, graças a esse esforço despendido em setembro de 1984 e com o apoio dela, Cida Ayres.

Bem, ainda a falar sobre a minha ida ao Rio para estabelecer os contatos devidos, houve um fato a mais e que fora também uma intervenção direta da minha amiga, Cida Ayres. Eis que assim que eu elaborei a minha agenda para cumprir na cidade, percebi que seria difícil cumprir todos os compromissos em um dia apenas, mesmo se eu viajasse pela madrugada e chegasse bem cedo ao solo carioca. 

Por conta dessa logística apertada, a Cida interveio e sugeriu uma solução gratuita para que eu pudesse pernoitar na cidade e assim contar com mais um dia para trabalhar no Rio. Ela conversara com o grande cartunista, Chico Caruso, muito famoso já naquela época, por ser o chargista oficial do jornal, "O Globo" e naturalmente a colaborar com os outros veículos da mesma empresa, incluso a Rede Globo de Televisão.

O grande cartunista, Chico Caruso, muito amigo dos membros do Língua de Trapo e que ajudou a minha outra banda, A Chave do Sol, em 1984. Foto: divulgação na Internet

Ocorre que ele, Chico Caruso, assim como o seu irmão gêmeo e a se tratar igualmente de um cartunista genial, Paulo Caruso, eram entusiastas do trabalho do Língua de Trapo e em minha recente segunda passagem por tal banda, entre 1983 e 1984, eu pude conviver com ambos. 

Aliás, bem recentemente naquela ocasião, ainda mais com o Chico, por conta de duas temporadas que essa banda cumprira pelos palcos cariocas. Portanto, ele conhecia-me por conta de minha atuação com esse grupo e quando a Cida Ayres o procurou para que ele abrisse-nos algum contato midiático, a proposta de ajuda foi providencial e inesperada ao mesmo tempo, pois ele ofereceu-me o seu atelier para que eu lá pernoitasse. 

Ora, que honra, eu aceitei de pronto e mais que a gentileza por si só, a mostrar-se muito grande, eu animei-me com a ideia de que ficaria algumas horas em seu gabinete de trabalho, solitariamente a verificar in loco, o seu material de criação. 

         Chico Caruso em foto montagem extraída da Internet

E foi assim, Chico recebeu-me com muita galhardia, além de disponibilizar a sua biblioteca para que eu pudesse examinar o que eu desejasse durante as horas em que ali permaneceria e sobretudo, com a liberdade para eu ver os seus novos trabalhos em construção sobre a prancheta, a vontade. 

Privilegiado, eu pude ver diversos cartuns em que ele estava a trabalhar, inclusive alguns já em fase de acabamento final em seu lay-out, para serem encaminhados à redação do jornal, "O Globo". 

Sensacional, eu fiquei muito feliz por ter tido a liberdade para examinar o trabalho de um artista consagrado, em fase de elaboração, dentro do seu atelier de trabalho, localizado em uma travessa da Avenida Ataulfo de Paiva, no elegante bairro do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro.

A Chave do Sol ao vivo no Circo Voador do Rio de Janeiro, em outubro de 1984. Foto: Claudio T. de Carvalho

E sim, os esforços lograram êxito, e entre outras conquistas, a nossa banda participou de um festival muito concorrido, entre as grandes bandas midiáticas do dito movimento "BR Rock 80's", no Circo Voador, logo a seguir, com um show completo que ali cumprimos ao final de outubro do mesmo ano. Portanto, A Chave do Sol agradece mais uma vez o apoio da solícita produtora, Cida Ayres e do grande cartunista, Chico Caruso.

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