quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 104 - Por Luiz Domingues

Wilton Rentero, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues) na sala técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. 13 de junho de 2023. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

Ainda a falar sobre a construção do release, eu citei anteriormente que o texto base haveria de ser extraído da longa explanação que eu havia feito para explicar o propósito da canção ao Lincoln Baraccat. Portanto, deixo abaixo o texto base para o leitor ter acesso a essa construção da história e assim ter em mente a contextualização toda do conceito:

Projeto de audiovisual para Lincoln Baraccat
Artista: Boca do Céu
Música: "1969"

Contexto da música: trata-se de uma balada Blues com certo tempero Soul, com bastante influência sessentista na sua formulação. Na letra, o autor fala a respeito de alguns ícones da contracultura sessentista que o impactaram em 1969, quando ele entrou na adolescência. Dessa forma, arrolam-se bandas de Rock do espectro de Woodstock, é claro, e muita ênfase nos Comics produzidos por Robert Crumb e Gilbert Shelton, com destaque nos personagens contidos na revista "Freak Brothers". 

Contexto do autor ao pensar nisso: tais citações que ele faz na letra, repercutiram na sua vida a posteriori, não apenas na música, como também na sua atuação com a arte da ilustração, haja vista que ele produziu uma revista de humor bem inspirada no estilo do Robert Crumb e Gilbert Shelton, que lançou de forma precária, na  base do mimeógrafo e/ou xerox, denominada: "Sarrumorjovem", mediante a criação de uma turma de freaks por ele inventados como personagens, mas adaptados à realidade brasileira e de São Paulo em específico, porém nos moldes dos "Freak Brothers" do Robert Crumb e Gilbert Shelton, com vários personagens doidos mergulhados na contracultura, em contraste com a realidade brasileira dos anos setenta, e mediante o Rock como combustível implícito.

Contexto da nossa banda em sua fase nos anos setenta: essa foi a minha (e de todos esses componentes) primeira banda de carreira. Éramos garotos sonhadores, enlouquecidos pelo panorama do Rock sessenta-setentista e movimento hippie que chegou atrasado no Brasil. Estivemos mergulhados em sonhos lisérgicos contraculturais, aspirávamos um lugar no panteão do Rock dos anos setenta, mas a nossa insipidez na ocasião não nos permitiu chegar nem perto disso, ou seja, ficamos mesmo alojados na plateia dos shows de bandas como Mutantes, O Terço, Made in Brazil, Som Nosso de Cada Dia, Joelho de Porco, Tutti-Frutti e outras tantas que nos faziam suspirar. 

Portanto, entre 1976 e 1979, enquanto a banda existiu e lutou para alçar voos maiores, não passamos de shows bem amadorísticos realizados em festas particulares, apresentações nas escolas nas quais estudávamos e o nosso maior feito foi participar da edição do festival "Fico", do colégio Objetivo em 1977, com um equipamento do qual não sabíamos lidar adequadamente e perante um assustador público formado por cerca de cinco mil estudantes presentes no salão de festas do Palmeiras, completamente ensandecidos e que estavam ali apenas com o objetivo de hostilizar qualquer um que subisse ao palco.

Contexto do Boca do Céu pós-2020 - A banda se reuniu em fevereiro de 2020, para um encontro de celebração de velhos amigos e desse encontro, surgiu a ideia de resgatar o máximo de músicas da nossa criação de 1976-1979. A pandemia atrapalhou bastante esse plano, ao postergar os ensaios. E assim, somente em meados de 2021 conseguimos dar início a esse trabalho arqueológico de memória remota. De forma surpreendente, nos lembramos de 14 músicas compostas por nós nos anos setenta e no início de 2023, resolvemos entrar em estúdio para gravar uma dessas canções para fazer a banda ter ao menos uma música resgatada e lançada oficialmente na sua história, mas o plano mais ambicioso é gravar um disco completo com as demais inclusas, desde que consigamos levantar recursos para tal, logicamente.

E assim chegamos na canção, "1969", que é um tema a falar sobre os anos sessenta, e como tal perspectiva nos impactava fortemente nos anos setenta, quando a banda foi formada e lutou para chegar a um patamar mais alto. Esse é o contexto geral, portanto: uma canção a falar sobre o sonho sessentista, na visão de garotos dos anos setenta que vibravam nessa aura hippie que recebemos de forma defasada em relação aos Estados Unidos e Europa e que já estava em fase de diluição até aqui no Brasil, mas que não percebemos na ocasião.

E a última perspectiva é a de 2023, com quatro desses garotos de 1976, hoje envelhecidos, mas com condições de fazer o que não alcançamos em 1977, quando a música foi composta, ou seja, gravá-la e com aquela sonoridade que amávamos, bem na "onda" da Janis Joplin, Joe Cocker e afins.

Estamos gravando no estúdio Prismathias, do bom amigo e competente técnico, Danilo Gomes Santos, com o qual Os Kurandeiros lançaram um single em 2018 ("Andando na Praia") e depois ali gravamos o CD "Cidade Fantasma" o nosso último álbum, em 2021*.

Do quinteto mais firme do Boca do Céu, apenas o baterista Fran Sérpico não está participando, mas estamos contando com músicos de apoio, queridos amigos nossos:

Carlinhos Machado - Bateria
Rodrigo Hid - Teclados (meu amigo de três bandas: Sidharta, Patrulha do Espaço e Pedra)
Renata "Tata" Martinelli: backing vocals
Caca Lima: Backing vocals (atual baixista, violonista e backing vocalista do Língua de Trapo) 

André Knobl - Sax
Paulo "Beto" Pizzulin - Trompete (ambos do grupo instrumental, "Neurozen")

E com tais providências paralelas a ter andamento, a próxima sessão de estúdio que tivemos foi em 3 de julho de 2023, quando o objetivo foi gravar a voz principal do Laert e os backing vocals feitos pelos amigos, Caca Lima e Renata "Tata" Martinelli.

*Neste caso a citar a minha (Luiz Domingues) banda, Os Kurandeiros.

Continua... 

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