domingo, 27 de agosto de 2023

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 103 - Por Luiz Domingues

Osvaldo Vicino e Wilton Rentero na sala da técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. Gravação do single "1969". 13 de junho de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues

Para compor o aparato de lançamento, a minha primeira ideia foi abordar o Diogo Oliveira, um artista genial com o qual eu havia me acostumado a lidar nos tempos em que fui componente do "Pedra" e basta ver os capítulos sobre a minha história com tal banda para verificar o quanto ele contribuiu conosco com a sua arte genial.

Além de ser um tremendo artista plástico, é também ilustrador de "Comics" e fã do Robert Crumb, portanto, além de músico com forte identificação contracultural sessentista, assim como eu, foi óbvio que eu pensasse nele como o nome ideal para possivelmente compor um promo ou clipe, como queiram, pela sua identidade muito coadunada com todos esses ícones, porém, haviam outros nomes tão bons quanto para abordarmos a fim de buscarmos tal serviço e sobre esse aspecto eu tinha ciência.

Então eu o procurei no Facebook e não achei o seu perfil pessoal, tampouco página de "artista" e/ou figura pública. Ele, assim como muitas pessoas que eu conhecia, tinha aquela característica de abrir e fechar contas em redes sociais com constância e eu dei azar de o procurar em um momento no qual se evadira daquele ambiente virtual. Tudo bem, procurei no Instagram, Twitter e outras redes menos famosas e não o encontrei igualmente.

A capa em forma de "gibi" do CD Pedra II, de autoria do Diogo Oliveira, álbum do "Pedra" lançado em 2008.

Fiz contato com amigos em comum e soube que no Instagram ele tinha uma conta com um nome fantasia e sem a sua foto no "avatar" para ser identificado com facilidade e ali deixei um recado na sua parte privada. Mas ele demorou bastante para visualizar e responder, portanto, preocupado em contar com alguém preparado para fazer esse trabalho e com rapidez, eu acionei outro amigo, igualmente talentosíssimo.

Foi quando não tive dúvida e assim convidei o amigo, Lincoln Baraccat, um fotógrafo, ilustrador e webdesigner de alto quilate e com um currículo absurdo, a contabilizar muitas criações de capas de livros e discos, além de ser músico e aliás, eu já havia tocado com a banda dele, "Uncle & Friends", por diversas vezes, desde 2018. E mais um dado, as minhas fotos de autor nas "orelhas" dos quatro livros que eu havia lançado até esse ponto, foram feitas por ele, portanto, eu tinha plena confiança no seu talento multifacetado.

Foto extraída da sessão de fotos feitas comigo, Luiz Domingues, a visar escolher a foto de autor para o meu livro "Humanos Pitorescos". Sob a lente de Lincoln Baraccat em algum momento de fevereiro de 2023

Uma outra opção de ótimo profissional que estava bem próximo de nós, seria o Moacir Barbosa de Lima, popular, "Moah", que era amigo de longa data de Wilton Rentero e que gentilmente nos fotografa e filmara durante o ensaio geral que havíamos promovido em 7 de maio de 2023. 

Sob a lente "olho de peixe", eis uma das fotos que o Moah clicou no ensaio de 7 de maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima (Moah)

No caso do Lincoln, ele aceitou de pronto nos auxiliar, embora tenha me advertido que não estava acostumado com animação. Todavia, não seria o caso exatamente, pois a minha intenção inicial foi lhe solicitar que estabelecesse uma colagem de fotos e talvez a aproveitar trechos do nosso histórico vídeo de junho de 1977, como inserção estratégica para provocar o contraste histórico entre esses dois momentos, além de fotos da banda na atualidade e inserções das poucas fotos antigas que tínhamos, as capas da revista Sarrumorjovem editadas pelo Laert naquela época. Em princípio seria essa a orientação.

Eis alguns ícones que haveriam de compor imagens para esse promo de apoio que necessitávamos para lançar a música: "1969". Pela ordem: o exemplar número 1 da revista Sarrumorjovem criada pelo Laert em 1976 e que ele manteve em paralelo aos seus esforços em prol da nossa banda; a capa de um exemplar da revista Freak Brothers, uma imagem institucional do festival de Woodstock, a imagem do personagem "Mr. Natural", Robert Crumb, Gilbert Shelton, Joe Cocker, Janis Joplin  e a icônica (e rara) foto da nossa banda em 1977. 

E na base do "brain storm" logo surgiu a ideia de inserir fotos dos personagens dos Freak Brothers citados na letra e claro, imagens de Robert Crumb e Gilbert Shelton, capas desse Comics e com destaque especial ao personagem, "Mr. Natural" que também é citado na letra da canção. Passou um pouco e surgiu a ideia de também acrescentar fotos de Janis Joplin, Joe Cocker e do festival de Woodstock, ou seja, as ideias frutificaram.

Em uma outra frente na qual eu também me preocupei em fomentar em paralelo, um release para o lançamento precisava ser criado e neste caso, haveria de ser com teor sucinto como é a praxe desse formato de documento usado no meio artístico, no entanto, em nosso caso, não poderia deixar de citar três aspectos que envolviam o lançamento da música "1969". Neste aspecto, eu havia preparado um texto padrão para entregar ao Lincoln Baraccat, para lhe apresentar o projeto e as ideias e desse texto longo, haveria de ser composto uma nova versão condensada para se tornar o release oficial da banda.  

Laert Sarrumor durante o ensaio do Boca do Céu no estúdio Red Star de São Paulo em 7 de maio de 2023. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima (Moah)

Ou seja, em primeiro lugar, a se destacar o contexto da canção a citar os ícones contraculturais sessentistas que impactaram o autor da canção, nosso companheiro, Laert Sarrumor, e dos quais eu particularmente também admiro muito. O segundo aspecto a contextualizar o momento no qual a música foi composta e como o Laert, e nós em específico, interpretávamos a movimentação contracultural sessentista com uma defasagem de dez anos, ao final dos anos setenta. E o terceiro aspecto, como a banda havia se agrupado para resgatar esse material e gravá-lo a partir de 2020, ou seja, com quatro décadas de defasagem. Em suma, essa música representava três tempos diferentes pelas circunstância toda que a cercou. 

      "Still" do vídeo de 1977 a mostrar a nossa banda na ocasião

E daí em diante, só ficaria a faltar uma sessão de fotos para se compor as fotos promocionais de praxe, para que tivéssemos o material básico para o lançamento.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário