Mostrando postagens com marcador Caio Durazzo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Caio Durazzo. Mostrar todas as postagens

domingo, 7 de maio de 2023

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Caio Durazzo Trio) - Capítulo 122 - "Uma tarde de 2023, com sensação de 1957" - Por Luiz Domingues

Foi em meados de fevereiro de 2023, que eu recebi um recado do excelente guitarrista, Caio Durazzo, a me formular um convite para que eu participasse de uma apresentação do seu ótimo grupo de Rock'n' Roll/Rockabilly, "Caio Durazzo Trio" em um evento a ser realizado em abril do mesmo ano. Na ocasião, ele me dissera que a sua banda estaria desfalcada de seus dois companheiros fixos da formação por algum problema de agenda conflitante dos rapazes e que convocara a "cozinha" d'Os Kurandeiros, ou seja, eu (Luiz Domingues) e Carlinhos Machado para suprir a ausência de seus colegas e assim cumprir o compromisso.

Na mesma ocasião desse recado que eu recebera, inclusive, encontrei-me por coincidência com o Carlinhos Machado nos bastidores de um show do Língua de Trapo no Sesc Belenzinho de São Paulo e comentei com ele que tocaríamos juntos com o Caio, brevemente. Um mês depois, durante a ocasião de um ensaio d'Os Kurandeiros, o Carlinhos avisou-me que o Caio sinalizara que o baterista titular da sua banda, Rick Vecchione, tocaria normalmente e assim, somente eu seria o convidado especial desse aventado compromisso.

Dada a constatação de que o repertório escolhido seria formado por uma série de Rocks, Country-Rocks e Rockabillys de origem cinquentista, mediante harmonia simples, a dita "quadrada" em torno dos três acordes no padrão do Rock primordial, o Caio resolveu cancelar o ensaio previamente marcado e assim, só me passou a lista e a respectiva seleção de canções anotadas em uma "playlist" por ele elaborada para que eu a ouvisse durante a semana que precedeu o show.

O meu set de baixo pronto para ser usado na Cervejaria Madalena de Santo André-SP, a favor do "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues

Muito bem, fui confiante para a casa de espetáculos, "Cervejaria Madalena" de Santo André-SP, baseado na certeza de que apesar da falta de ensaio, não teria problema de tocar o longo repertório, mesmo por que, teria total respaldo do Caio e do Rick para me guiar no palco em algum momento de dúvida sobre algum arranjo das canções escolhidas.

Fui o primeiro a chegar e fiquei impressionado positivamente com o fato de que a instalação da casa se mostrara muito grande. De fato, como sugerira o cartaz do evento, se tratou de uma ambientação em torno dos aficionados de motos, principalmente as antigas, com caráter "retrô" ou "vintage" como queira o leitor e além do mais, fora a grande quantidade de pessoas devidamente paramentadas a sinalizar o seu comprometimento com escuderias de moto-clubes & afins, impressionou-me também a quantidade grande de fãs da cultura cinquentista, homens e mulheres inclusive vestidos à moda dos anos cinquenta, a denotar ser um público cultuador de Rockabilly, sobretudo. Em suma, como diz uma letra de uma canção autoral do Caio Durazzo (e que inclusive nós tocamos nesse dia), "estou me sentindo em 1957".

Um casal com nítida predileção cinquentista acentuada, dança embalado pelos nossos Rocks clássicos direto dessa década primordial da história do estilo musical que defendemos. "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click, acervo e cortesia: Kadu Castro

E sob um forte calor, tocamos aquela seleção proposta pelo Caio Durazzo e de fato, devo confessar que me diverti muito ao interpretar um repertório tão raiz do Rock, algo inclusive inédito na minha carreira, pois eu já havia tocado clássicos cinquentistas muitas vezes em diversos momentos anteriores e com bandas e circunstâncias diferentes, mas jamais havia participado de uma apresentação temática desse porte a tocar exclusivamente um repertório tão centrado nessa década em específico.

A banda em ação. "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click, acervo e cortesia: Kadu Castro 

Outro ponto interessante dessa experiência, deu-se ao se constatar que nem só de clássicos genuinamente oriundos de astros cinquentistas nós tocamos, pois eu notei que algumas canções eram de artistas mais "modernos", dos anos oitenta em diante e que tinham ou tem essa característica como mote de suas respectivas obras, o que foi interessante.

A receptividade do bom público presente foi ótima, muito além do que eu esperava, aliás, no sentido de que eu dimensionei inicialmente que as pessoas ali presentes estariam mais interessadas em motos do que prestar atenção em uma banda e nesse sentido a se considerar o fato de que tenderiam a tratar a banda como uma atração de "lounge" e não como o centro das atenções da festa. Claro que muita gente agiu dessa forma e de fato, o ambiente era enorme e induzia as pessoas à dispersão. No entanto, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que se aglomerou para nos assistir a tocar de perto e que não se furtou de prestar atenção, se divertir, dançar e aplaudir a apresentação.

A banda em ação. "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click, acervo e cortesia: Kadu Castro

O calor se mostrou muito forte. Da primeira para a segunda entrada, eu me senti cansado e desidratado, apesar de ter bebido bastante água. Não que tal fato tenha me surpreendido, pois eu sei que a idade já estava a pesar nos meus ombros nessa altura da carreira e vida, e isso fora uma constatação paulatina e não súbita a grosso modo. 

Todavia, tirante o efeito do calor e o fato de estar com uma agenda mais fraca em relação aos anos anteriores e com isso sem o devido traquejo natural para suportar a regularidade de apresentações constantes, eu sabia que o efeito da idade a avançar chegara como uma nova realidade para a minha carreira e dessa forma, eu precisava aprender a dosar a energia do palco, para não ficar sem forças em cima de qualquer palco. 

Bem, sentei-me no intervalo em um local mais arejado, bebi mais água ainda e na segunda entrada, me movimentei com maior precaução, a driblar o instinto juvenil de vibrar naturalmente com o Rock, mas a preservar o sexagenário que eu já era nessa ocasião, a caminhar rápido para a idade septuagenária naquele instante.

Mais um flagrante do espetáculo. "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click, acervo e cortesia: Kadu Castro

Tudo foi perfeito nessa apresentação, inclusive no tocante ao equipamento que usamos, bastante comedido em termos de potência sonora na teoria, mas que na prática, supriu de uma forma muito surpreendente e agradável a demanda. Tocamos confortavelmente e sem forçar o equipamento, apesar do ambiente ser enorme e a dispersão do som, ter sido inevitável.     

Só houve uma ocorrência desastrosa e que se revelou como um acidente. Ainda na primeira entrada e empolgado com tantos Rocks vibrantes e com reposta ótima do público, eis que eu fiz um movimento de "mise-en-scène" cuja resolução foi com o braço do instrumento apontado para baixo e por azar, uma mulher que estava bem perto do palco foi atingida no seu rosto pelo "headstock" do meu baixo. Bem, não foi por minha culpa, claro que eu não a atingi de propósito, e nem dela em tese, embora neste momento ela tenha sido um pouco imprudente ao colocar o seu copo de cerveja sobre o palco e estar ali naquele momento a apanhá-lo para beber. 

Assim que o choque ocorreu, eu vi que ela sentiu o impacto e se contrariou bastante, logicamente. Ainda a tocar, fiz contato visual com ela para lhe pedir desculpas e perguntar se havia se machucado com maior seriedade, mas ele evitou fitar-me, talvez constrangida ou com raiva da situação em si, acredito. Ninguém mais percebeu o acidente e logo a avistei a se divertir novamente, inclusive a dançar na frente do palco, portanto, deduzi que não se ferira com gravidade e que já esquecera do ocorrido.

Da esquerda para a direita: Caio Durazzo, Rick Vecchione e eu (Luiz Domingues). "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click (selfie), acervo e cortesia: Caio Durazzo

Encerrada a apresentação, eu estava bem cansado, contudo, menos debilitado do que ao término da primeira parte da apresentação, ou seja, acho que entendi o recado da natureza e ao economizar o dispêndio da energia, me preservei melhor. Ficou o recado do meu próprio corpo para estabelecer a postura a ser usada doravante, certamente.

Sobre o convívio e atuação com Caio e Rick, foi algo magnífico. Além de me ajudarem o tempo todo com sinalizações sobre o arranjo das músicas, foi um prazer enorme tocar com ambos. Eu já havia tocado com o Caio por sete ou oito vezes a bordo do grupo "Uncle & Friends", a defender o trabalho do nosso amigo em comum, Lincoln Baraccat, e em uma dessas ocasiões inclusive, com o Rick Vecchione na bateria. Portanto não foi uma novidade atuar com ambos, mas desta feita foi uma apresentação bem mais longa e recheada por clássicos cinquentistas, inclusive com algumas peças autorais do "Caio Durazzo Trio" que são centradas tematicamente nessa cultura da década de cinquenta. 

Foto da banda antes do show. Na ordem, da esquerda para a direita: Caio Durazzo, Rick Vecchione e eu (Luiz Domingues). "Caio Durazzo Trio" durante o evento "Retro Wheel's/Carburator Day". 2 de abril de 2023. Click (selfie) e acervo: Luiz Domingues

E assim foi essa minha boa experiência de tocar por mais de duas horas um repertório mergulhado na produção cinquentista e como diz uma das letras das músicas do Caio Durazzo Trio, algo como: "estar vendo as meninas dançarem para fazer a suas saias rodadas levantarem, os rapazes a balançar os longos topetes no afã de se parecerem com o Elvis Presley e os Cadillacs imensos e reluzentes a passar pelas ruas, como se estivéssemos em uma noite de sábado de 1957"...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Uncle & Friends) - Sob o Calor Ignorante - Capítulo 121 - Por Luiz Domingues

A semana que antecedeu a nossa participação nesse dito festival gastronômico, foi extremamente chuvosa em São Paulo. Dessa forma, ficamos todos apreensivos em relação ao que aconteceria no dia da nossa apresentação. Todavia, o sábado (dia 10 de dezembro de 2022), nasceu com o tempo firme em São Paulo, mediante a presença do céu azulado e sobretudo, com sol forte. Então, se em tese teríamos um dia considerado como "bom" no jargão da meteorologia, isto é, com ausência de chuvas, por outro lado o sol se mostrou abrasador ao extremo.

Quando eu cheguei ao parque, notei que a estrutura da feira se mostrara bem grande, mediante uma infinidade de barracas e também de "food trucks" estacionados em seu interior, ao comprovar a vocação do empreendimento em torno da gastronomia que estava plenamente justificada, com muito boa organização. Já da rua localizada na lateral norte do parque, na qual eu estacionei o meu carro, eu ouvi o som produzido por um "DJ", certamente contratado para sonorizar a feira dentro de seus propósitos mais adequados, ou seja, pelo fato do som por ele proposto estar a envolver música eletrônica com aquele sentido mecânico na acepção do termo e sobretudo, pelo volume muito alto que mesmo à distância e no posicionamento contrário do PA por ele usado, já deu para notar com muita veemência e na minha opinião, já bem desagradável pelos dois aspectos citados (escolha de "repertório" e volume excessivo imposto por tal rapaz).

Bem, à medida em que eu caminhei pela face lateral do parque em direção ao portão principal localizado na rua Machado de Assis, me impressionei, como já citei, com a quantidade de opções gastronômicas ali oferecidas nas barracas, caminhões culinários e também negativamente pelo som ambiente proposto pelo DJ, que realmente se mostrara muito alto. Tudo bem, eu entendo a intenção do rapaz e com a qual certamente fora apoiada pela direção da Feira, no sentido de se manter o volume muito alto para que o som chegasse na feira como um todo e a se considerar a dificuldade para sonorizar um espaço ao vivo de forma mais equânime como devia promover em ambientes fechados. Todavia, ali perto do PA contratado pela organização, estava ensurdecedor e sim, houve a presença de muitas barracas também instaladas naquela cercania e as pessoas simplesmente evitavam ir conhecer as bebidas e comidas oferecidas por tais expositores, por simplesmente não aguentarem a trilha musical sob um volume inadequado, a se parecer como uma "boite" ou casa noturna similar. 

Uma pessoa ligada à Associação Cultural do Rock, no caso, Fátima Stoppelli, foi conversar com a organização da Feira e solicitou que o DJ atenuasse um pouco aquele volume acachapante e também reivindicou alguns minutos para que a nossa banda pudesse organizar o som minimamente antes de se apresentar e anote-se, não seria um soundcheck profissional de fato, mais minucioso e imprescindível para nós e igualmente para a técnica de som responsável pelo PA, porém, a se tratar de uma arrumação muito ligeira, inadequada certamente, mas melhor do que nada para que pudéssemos fazer o show com condições mínimas para tal. 

A resposta que ela obteve não foi malcriada da parte de um rapaz que se apresentara como um assessor da organizadora geral, mas o que ele proferiu, infelizmente se mostrou insensível e descabido no sentido de que o sujeito não fazia a menor ideia da nossa necessidade e dessa forma, tal pedido formulado pela Fátima, deve ter sido interpretado na sua avaliação incauta, como um arroubo inconveniente da nossa parte. Além, é claro, de que na ótica dele o DJ não poderia ser interrompido de forma alguma, a não ser enquanto tocávamos. Bem, isso denotou bem o tipo de mentalidade à qual eu aludi anteriormente, isto é, a Feira não tinha familiaridade com o Rock e vice-versa e neste caso, não caberia reclamação de ambas as partes, embora a disparidade causasse espécie para todos, eu acredito. 

Muito bem, já que os shows de Rock foram contratados, devo ressaltar mais uma vez a perspicácia da parte da Associação Cultural do Rock (ACR), que vendeu o pacote para a Feira e por outro lado, incômodo a parte, aguentar certos disparates teria que ser relevado da parte dos músicos envolvidos e assim, no cômputo geral, creio que suplantar certos aspectos inconvenientes de parte a parte se tornou prudente.

Também acho que faltou uma tenda a ser usada como camarim e algumas cadeiras de plástico para que os músicos tivessem um refúgio para aguardar a vez de tocar e se abrigar do forte calor, mas tudo bem, eu entendo que a Feira não estivesse preparada para tal tipo de abordagem e ao contar com um "PA" para que um DJ sonorizasse o evento, lhes bastara apenas isso para suprir o tipo de ambientação com a qual estavam acostumados a produzir os seus eventos com vocação gastronômica.

Cabe destacar também o estranho nome que a Feira utilizou: "Big Food Festival - Festival da Iguinorança", algo que realmente me despertou a atenção de uma forma negativa. Veja, não quero passar a imagem de um sujeito intransigente, mas na minha ótica, "Big Food Festival", apesar do anglicismo desnecessário, cumpriria a função, mas eu sinceramente não gostei do anexo proposto, ainda mais: "Festival da Iguinorança", no sentido de que além de achar o mote desnecessário pela sua intenção popularesca, pior ainda foi forçar uma grafia errônea, talvez para tornar ainda mais coloquial a comunicação, bem naquela predisposição equivocada de que ao se falar ou escrever de forma errada, criamos empatia com pessoas simples, dotadas de poucos recursos educacionais e culturais. E assim, para a minha percepção criou-se o inverso, ou seja, com a ortografia assassinada dessa forma, eu antipatizei com certeza.

Duas equipes de reportagem estavam no local a transmitir ao vivo através dos seus respectivos telejornais vespertinos, a representar as duas maiores emissoras de TV do país na ocasião e assim a denotar que a organização da Feira realmente trabalhava bem em diversos outros aspectos, além de deter prestígio e isso foi positivo, eu pensei.

Carlinhos Machado, meu amigo e colega d'Os "Kurandeiros atuou desta feita com a Uncle & Friends". Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

A formação da banda apresentou uma ligeira mudança em relação ao time que representou o trabalho do nosso Uncle-mor, Lincoln Baraccat, no show anterior (Casa de Cultura Chico Science e já relatado anteriormente), com a presença do meu amigo e companheiro n'Os "Kurandeiros", Carlinhos Machado, ao invés de Dmitri Medeiros que atuara na ocasião citada.  

Bem, o calor se mostrava abrasador e sem uma tenda, gazebo ou barraca com função de camarim, buscamos refúgio na sombra das árvores e nos poucos e disputados bancos de jardim disponíveis naquela circunstância, dada a demanda e sobretudo pela incidência de muitos idosos e crianças pequenas no ambiente. Dessa forma, sem muitas opções, ficamos relativamente perto do palco e consequentemente, expostos ao massacre sonoro proposto pelo "DJ" e sim, infelizmente além de irredutível, esse rapaz se mostrou bastante altivo ao responder que não abaixaria um "DB" sequer, quando foi interpelado pela produtora da ACR, ao argumentar sobre o disparate por ele perpetrado em termos de volume. Paciência, ficamos ali a torrar sob o calor semelhante ao do deserto do Saara e a aguentar uma seleção abominável de música mecânica sem sensibilidade artística alguma e devo ser justo, talvez ele tenha tentado criar um ambiente mais "Rocker" antes de nos apresentarmos, ao propor uma seleção de Pop-Rock dos anos oitenta. Tudo bem, na comparação com o que colocara antes, ficou um pouco mais palatável, mas aquela pasmaceira Techno-Pop oitentista também me aborreceu sobremaneira e só reforçou a minha impressão pessoal negativa sobre tal produção dentro das história do Rock, desde a sua época em voga, devo salientar. 

Bem, finalmente o "DJ" desligou o seu laptop e sob o delicioso som do silêncio, eu pude ver no seu semblante que ele estava incomodado com a "interrupção" da sua atuação em detrimento de uma banda de Rock a ocupar o palco e a fazer uso do PA. Ora, ora, ao que tudo indica, a determinação de haver a realização do nosso show, o incomodou e se me permite o leitor, a recíproca foi verdadeira de minha parte a configurar um empate técnico, digamos assim.

Bem, a contrariar a orientação amadora da parte do rapaz que se apresentara como assessor da Feira e que nos "proibira" terminantemente de preparar o som e que ao contrário, na determinação de sua parte, nós deveríamos subir ao palco e tocar imediatamente, eis que o afrontamos ao gastarmos reles cinco minutos para prover uma arrumação muito básica, algo inconveniente para o nosso padrão de profissionalismo, mas certamente também na inadequada ótica dele, que devia achar que uma banda formada por músicos de carne & osso funcionavam exatamente como o seu DJ que mudava de uma música para outra mediante um click no seu laptop. Em suma, a caracterizar dois padrões de percepção de mundo bem diferentes entre si.

Da esquerda para a direita: Roy Carlini, Caio Durazzo, Carlinhos Machado (atrás, na bateria), Lincoln Baraccat e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro   

Ufa, finalmente o Rock and Roll visceral tomou conta do ambiente e devo ressaltar que a técnica de som responsável pelo PA se mostrou muito hábil ao prover uma equalização bastante agradável. Esqueci de perguntar o seu nome para poder nominá-la com louvor neste relato, mas gostei da atuação dela ao se mostrar discreta na sua maneira de agir, competente na sua atribuição como técnica e além do mais, ela não nos falou nada, mas ficou implícito que também estava cansada do massacre proposto pelo DJ que nos antecedera e sim, sob um padrão de volume muito mais ameno que ela imprimiu na equalização do PA sob a sua responsabilidade, o nosso som se mostrou muito agradável para todos ali presentes. 

Da esquerda para a direita: Roy Carlini, Caio Durazzo e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Há de se ressaltar também que a banda, mesmo sem ensaios prévios, e nem ao menos uma combinação de última hora estabelecida entre os músicos, empreendeu de uma forma muito natural um padrão de dinâmica admirável. Lembro-me de haver comentado com o Caio Durazzo sobre esse aspecto, após essa apresentação e ele também havia ficado com tal impressão, o que foi muito agradável para todos nós. Com dinâmica tudo fica mais agradável para todos, é um pressuposto básico para a boa música exercida de uma maneira profissional.

Da esquerda para a direita, vemos Roy Carlini a conversar com Lincoln Barracat. que sentado ao fundo, estava em momento de repouso estratégico, pois o calor esteve abrasador naquele instante. Também no fundo, mas centralizado, Carlinhos Machado. Na frente, Caio Durazzo e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Tocamos praticamente o mesmo conteúdo do set list usado na apresentação anterior que cumpríramos na Casa de Cultura Chico Science, dias antes, com os Rocks, baladas e blues do repertório clássico de Lincoln Baraccat e houve um acréscimo de última hora, quando o Lincoln se afastou brevemente do palco para ganhar hidratação, devido ao forte calor ali presente e assim, o ótimo, Caio Durazzo, tomou a iniciativa ao propor Rocks cinquentistas internacionais e também um tema com teor Country-Rock, no caso uma canção do saudoso, Johnny Cash, e de imediato a banda respondeu de improviso com grande desenvoltura para que pudéssemos tocar além do previsto e assim cumprir uma carga maior, solicitada de última hora pela produção.

Muitas pessoas filmaram e publicaram tais materiais colhidos em redes sociais, mas eu só consegui preservar uma filmagem para poder alojar no YouTube, ou seja, talvez no futuro as demais filmagens também saiam do espectro mais restrito de redes como o Instagram e Facebook e atinjam um portal mais aberto nesse sentido. Por enquanto, fique com a filmagem da nossa performance a defender a música, "Comprimido":

"Comprimido" - Uncle & Friends ao vivo no Festival Big Food de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Filmagem cortesia de Vanderlei Bavaro

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=VoVYnGMTWUo 

Naturalmente que ao surgir material adicional, será devidamente alojado em meu Blog 3, que é o meu museu virtual de carreira. 

Bem, para anotar mais um aspecto positivo do festival, acredito que uma escalação com poucas bandas e a se observar bem espaçadas as suas respectivas apresentações, a garantir assim, tranquilidade na transição entre uma e outra, foi algo positivo no sentido de que é muito raro em festivais ao ar livre que haja tal predisposição. Claro, que com a presença de mais bandas, o espaço fica mais generoso para abranger tantos artistas que pleiteiam espaço, mas fica a ressalva de que a "ACR" trabalhava firme para garantir mais bandas em outras edições dessa mesma feira e que inclusive, já estavam sob planejamento adiantado nessa ocasião.

Caio Durazzo, com Carlinhos Machado, atrás na bateria e eu (Luiz Domingues). Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Muito bem, encerramos em alto astral a nossa apresentação e ao caminhar na companhia do meu amigo, Carlinhos Machado (e da sua namorada, a simpática, Alice), em direção ao seu carro, que estava estacionado na rua lateral (rua José do Patrocínio), lhe contei sobre a minha lembrança pessoal sobre o bairro, o novo parque em si e também sobre o estúdio que ali existia e no qual a Patrulha do Espaço sob a minha formação deu os seus primeiros passos em 1999.

Na primeira foto ainda no palco, a banda agradece os aplausos e abaixo, já de saída do ambiente do festival, posamos novamente. Uncle & Friends no Big Food Festival de São Paulo. 10 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro 

Ficou implícito nessa ocasião que o grupo Uncle & Friends teria uma data a mais para o início de 2023, e a ser cumprido no palco de um novo e sensacional Centro Cultural então recém inaugurado na cidade de São Paulo, portanto, essa minha participação com o agradável grupo liderado pelo artista multi-mídia, Lincoln Baraccat, o grande "Uncle" e nós os músicos convidados como os seus "friends", teria mais uma página a ser acrescentada.

Portanto, possivelmente continua no futuro...

domingo, 25 de dezembro de 2022

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Uncle & Friends) - As Lembranças de uma Garagem de Bairro - Capítulo 120 - Por Luiz Domingues

Foi então que o segundo compromisso da "Uncle & Friends" surgiu poucos dias depois da apresentação ocorrida na Casa de Cultura Chico Science (e devidamente relatado em capítulo anterior), a se tratar de uma participação dentro de uma festival gastronômico ao ar livre.

Tal empreendimento foi organizado por uma empresa especializada na realização de festas dessa característica, e geralmente produzidas em ambientes fechados tais como pavilhões de exposições e salões de uma maneira geral, mas desta feita, foi mobilizada no ambiente de uma enorme praça pública, com ares de parque, na verdade, localizada teoricamente no bairro da Vila Mariana, e neste caso cabe uma pequena reflexão da minha parte antes de avançar sobre a nossa participação musical em si.

O primeiro ponto é justamente essa percepção do local, pois se de fato, pela demarcação da prefeitura de São Paulo, ali naquele local é território pertencente ao bairro da Vila Mariana, na prática, essa referida praça se encontra mesmo é no bairro vizinho, Aclimação. 

Ainda sobre tal local em específico, há de se ressaltar que tal espaço havia se transformado em uma enorme praça pública há cerca de vinte e poucos anos antes (escrevi este trecho em 2022 e a aludir então ao final dos anos noventa), depois que deixou de ser uma garagem da antiga "CMTC", a companhia municipal de transporte coletivo, ou seja, se tratava de uma garagem gigante, encravada em uma parte do bairro extremamente residencial e aliás, com residências de alto padrão em sua maioria, portanto, por décadas, foi considerada como um estorvo pelos moradores do entorno desse quadrante do bairro. Em suma, a tal "Praça Rosa Alves da Silva", na verdade se tornara um parque bem grande e nos dias de 2022, já com arborização avantajada, brinquedos para a criançada, quadras esportivas, equipamento de ginástica e até com um campo de futebol americano/rugbi, ou seja, se mostrou completamente sedimentado como um espaço de lazer e esportes para atender os moradores do bairro.

E finalmente, eu devo acrescentar a minha experiência pessoal ao relatar que na condição de ex-morador desse bairro, me lembro sim da garagem da "CMTC" ainda em funcionamento regular, do ponto inicial do famoso trólebus da linha "Machado de Assis" (a se tratar da rua onde fica a entrada principal do parque e no caso da antiga garagem) até o ponto final: "Cardoso de Almeida", isto é, a ligação bem longa entre os bairros da Aclimação na zona sul e Perdizes na zona oeste e no caso, a ser considerado histórico por ser a linha de ônibus elétrico mais velha da cidade, a remontar a sua inauguração para o longínquo ano de 1949. 

E também me recordei que na face lateral do parque, onde se encontra a rua José do Patrocínio, ficava localizado o estúdio "Alquimia", pertencente ao popular guitarrista conhecido como "Formiga" no bairro, local no qual os primeiros ensaios da nossa formação da Patrulha do Espaço foram ocorridos em março de 1999, portanto, a se tratar de uma outra lembrança importante de minha parte com aquele ambiente.

Bem, para encerrar esse longo prólogo, eu preciso observar que se por um lado a organização de tal feira gastronômica se mostrava experiente em seu nicho, a inclusão de bandas de Rock como atração musical, destoou certamente da ambientação regular com a qual esse tipo de produção estava habituada, pois ficou nítido na minha avaliação de que tudo ali remetera a um tipo de orientação burguesa em sua essência e que nesses moldes, o Rock ali se mostrara como um elemento estranho para o tipo de público que a feira buscava atender. Portanto, eu preciso realçar a boa manobra pela qual a Associação Cultural do Rock, a valorosa "ACR", empreendeu para vender um pacote composto por várias bandas de Rock em um ambiente que não era exatamente adequado para tal. Eu que sempre fui crítico de "associações", "cooperativas" e similares dessa monta, dada a frustração com tais tipos de estruturas com as quais lidei décadas atrás, devo salientar que neste caso em específico, estava bastante feliz com as ações que a "ACR" estava a implementar nessa época de 2022, com êxito inquestionável.

Continua...

sábado, 24 de dezembro de 2022

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Uncle & Friends) - Ao Vivo com Chuva, Copa do Mundo e Tudo Mais... - Capítulo 119 - Por Luiz Domingues

Bem, nesta altura dos acontecimentos, a minha participação com o grupo, "Uncle & Friends", do simpático Lincoln Baraccat, se tornara tão recorrente (desde 2018), que eu já ficara em dúvida se precisaria mudar a tipificação da categoria na qual eu deveria inserir tais passagens da minha autobiografia, ao sair do campo dos trabalhos avulsos e encaixar tais relatos em um capítulo específico a considerar esse trabalho como o de uma banda fixa na minha carreira, dada a história já com porte bem considerável arrolada em muitos capítulos anteriores. 

No entanto, a ponderar com maior atenção, o fato da banda ter sim o seu material autoral, mas não fechar com uma formação para criar coletivamente e a se tratar de um trabalho em termos de criação como da parte apenas do Lincoln, em tese, e também por não ensaiar e somente se agrupar para tocar ao vivo, sazonalmente, pareceu não caracterizar mesmo um trabalho fixo.

Todavia, mesmo sendo um trabalho avulso, creio que na prática se tornou um grupamento contínuo, a se destacar muito de qualquer outro trabalho avulso que cumpri na carreira e além do mais, o aspecto lúdico e por conseguinte muito prazeroso de estar a conviver com tais amigos, tornou tal participação muito querida de minha parte.

Neste caso, o chamado do amigo, Lincoln Baraccat, sinalizou com a participação do seu combo, "Uncle & Friends" em meio ao projeto: "Rock no Rolê", do qual eu já havia participado ao final de outubro desse mesmo ano com a minha banda, Os Kurandeiros. Uma produção da Associação Cultural do Rock (ACR) em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, só pelo fato de conter tal chancela, já foi mais um sinal animador para tal evento.

O projeto estava mesmo a rodar pelo circuito de Casas de Cultura da cidade e isso me deu muita esperança de que tal empreendimento já se mostrava exitoso e haveria de se expandir. 

Bem, o local designado foi a Casa de Cultura Chico Science, outrora denominada "Casa de Cultura do Ipiranga" e na qual eu me apresentara em 1996 com o Pitbulls on Crack e já com o novo nome, em 2018, a defender uma etapa da turnê que Os Kurandeiros fizeram com Edy Star e devidamente relatada nos dois capítulos a ver com tais bandas.

No caso do show do "Uncle & Friends", nós dividimos o palco com a cantora, Heloísa Lucas e sua banda, que eu não conhecia, mas ao pesquisar na internet, gostei muito do teor do trabalho dela ao verificar que ela professava a Black Music com alto teor jazzístico, além de conter brasilidades inclusas no seu trabalho.

No dia do show, um domingo (dia 4 de dezembro de 2022), o céu se mostrou nublado desde que o dia amanheceu e sim, as previsões dos institutos de meteorologia cravaram chuvas intensas no período da tarde. De fato, assim que eu cheguei ao local e fui o primeiro componente da banda a adentrá-lo (a produtora, Gigi Jardim, já se encontrava no local), a anunciada chuva se iniciou e se intensificou a seguir.

Bem, o inevitável ocorreu com a incidência de uma chuva muito forte e particularmente eu fiquei um pouco apreensivo em relação a presença do público e para agravar ainda mais o meu receio, estava em pleno curso a transmissão dos jogos referentes à Copa do Mundo de 2022 e de fato, assim que passara pela entrada do ambiente, os seguranças da Casa estavam absortos em frente a uma tela de TV, a acompanhar um dos jogos em questão.

A chuva diminuiu o seu ímpeto e mesmo com a certeza de que um outro jogo também seria transmitido bem na hora do início do espetáculo, eu fiquei mais animado ao ver a chegada de pessoas, aos poucos, para acompanhar as apresentações.

Bem, eis que me posicionei no auditório e assisti o espetáculo de Heloísa Lucas. Cantora de voz forte e límpida, com uma presença de palco e contundência na interpretação, além da ótima comunicação com o público, me impressionou muito positivamente a sua performance. E sobre a sua banda, igualmente, eu gostei muito, com uma atuação excelente a demonstrar técnica, muito conhecimento teórico e alto poder de improvisação, a se tratar de um quarteto formado por instrumentistas muito talentosos, naturalmente preparados para acompanhar uma artista do calibre de Heloísa Lucas e brilhar como banda ao mesmo tempo, ao interpretar temas com intenção dentro do espectro da Black Music em geral e com acentuado sabor "jazzy".

Na linha de frente, da esquerda para a direita: Lincoln Baraccat e Caio Durazzo. Na linha de trás: Roy Carlini, eu (Luiz Domingues) e Dmitri Medeiros. Uncle & Friends na Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 4 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Chegou a nossa vez para atuar e desta feita, o time montado pelo "uncle", além dele mesmo no comando da voz e da guitarra base, teve mais uma vez as esfuziantes presenças de Roy Carlini e Caio Durazzo na pilotagem de guitarras solo, Dmitri Medeiros na bateria e eu, Luiz, no baixo.

Com uma leveza muito grande pelo alto astral ali observado, tocamos os Rocks, baladas e Blues do Lincoln, mediante boa receptividade da plateia ali presente e sim, sem chuva e mesmo com Copa do Mundo na TV, um bom contingente apareceu para nos prestigiar.

Na primeira foto, Roy Carlini e eu (Luiz Domingues) em ação. Na segunda foto, a banda inteira bem agrupada no palco. Uncle & Friends na Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 4 de dezembro de 2022. Clicks, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Apesar da chuva intensa que havia caído, o calor não arrefeceu e ainda mais com a energia Rocker ali gerada, foi o momento no qual realmente a ebulição se mostrou total.

"Muito Estranho" (Dalto)  - Uncle & Friends na Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 4 de dezembro de 2022. Filmagem: Vanderlei Bavaro - Acervo e cortesia: Lincoln Baraccat

Eis o link para assistir no Youtube:

https://youtu.be/Omdt-7m0QaM

Encerramos com um pico de euforia generalizada e felizes, agradecemos não apenas ao público que nos prestigiou, mas ao universo, por mais uma oportunidade que tivemos para exercermos o Rock' n' Roll na sua atribuição mais antiga, ou seja, ao ativar o poder mágico de promover a intuição para que as pessoas colocassem os seus "ya-yas" para fora, como diria Mick Jagger.

A banda em ação por outro ângulo do palco. Uncle & Friends na  Casa de Cultura Chico Science de São Paulo. 4 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Uma ótima perspectiva se anunciou para esse trabalho, quando fomos todos convidados pelo Lincoln, pois além dessa data a ser cumprida na Casa de Cultura Chico Science, na verdade foi anunciada uma outra apresentação para o dia 10 do mesmo mês em um festival de rua a ser realizado no bairro da Vila Mariana, portanto ficamos animados com mais uma oportunidade e desta feita sem grande lacuna temporal, ou seja, a conferir uma boa proximidade entre uma data e outra e assim assegurar a sensação de continuidade.

Os membros da banda perfilados da esquerda para a direita na concha acústica externa da Casa de Cultura Chico Science de São Paulo: Roy Carlini, Caio Durazzo, eu (Luiz Domingues), Lincoln Baraccat e Dmitri Medeiros.4 de dezembro de 2022. Click, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Continua...

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Uncle & Friends) - Capítulo 113 - Por Luiz Domingues

Domingo com sol e muito vento, embora sem com que isso fizesse a temperatura abaixar dramaticamente, foi em meio a uma tarde de outono amena, portanto, que eu fui me encontrar com os amigos da "Uncle & Friends" e me concentrar com eles nos bastidores a fim de aguardar a nossa vez de adentrarmos o palco. 

O nosso show estava marcado para se iniciar às 17 horas e logo a seguir, o evento encerrar-se-ia com a minha própria banda, Os Kurandeiros, portanto, a perspectiva de que eu e o baterista, Carlinhos Machado nos mantivéssemos prontos para atuar com a nossa banda a posteriori, foi maravilhosa, com as duas bandas pelas quais atuaríamos, a se apresentarem uma seguida a outra.

Pelas ruas da Vila Pompeia, eu pude notar que a Feira estava bem cheia, com as pessoas felizes pela volta das atividades culturais ao ar livre e facilmente foi possível notar tal alegria no semblante de todos, haja vista que a ausência quase que completa de pessoas a usarem máscaras sanitárias em decorrência da pandemia, denunciou um fato ligado ao outro, por conseguinte.

Logo avistei as personas de Lincoln Baraccat e do amigo em comum, o fotógrafo, Vanderlei Bavaro, e a seguir, Caio Durazzo, Roy Carlini e de suas respectivas esposas, além do próprio, Carlinhos Machado e uma incontável presença de amigos, ligados direta ou indiretamente ao mundo da música ou do Rock em específico.

https://www.facebook.com/ronaldo.domingues.7/videos/1079122375975437

"O Sol e Você" - ao vivo com Uncle & Friends na 34ª Feira de Artes das Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Ronaldo Domingues

O mesmo vídeo de "O Sol e Você" proporcionado por Ronaldo Rodrigues, em versão para o YouTube. 

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=hsRtG0Gduew

E assim que recebemos a sinalização, preparamos o nosso "setup" e rapidamente entramos em cena. O palco estava montado quase na esquina da Rua Caraíbas com a sua transversal, Rua Padre Chico, portanto, quase na linha da padaria que ali fica estabelecida no lado direito e do outro lado da calçada, a conter o muro lateral da tradicional escola estadual, "Miss Browne", que aliás, está ali instalada desde 1932, ou seja, faz parte da memória afetiva do bairro e para quem se interessa pela história do Rock brasileiro e a se considerar a importância desse bairro de São Paulo nesse contexto, digo sem esmiuçar muito que ali naquela escola, artistas importantes que foram e ainda eram nessa altura de 2022, componentes de bandas seminais, como Mutantes, Made in Brazil e Tutti-Frutti, entre inúmeros outros grupos importantes, ali estudaram na tenra infância, principalmente no decorrer da década de cinquenta do século XX.

Uma panorâmica da banda no palco, com perspectiva de público a frente. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

https://www.facebook.com/ricardoaomena/videos/574701690687315

"Hey You" - ao vivo com Uncle & Friends na 34ª Feira de Artes da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Ricardão "Omena Veia"

"Hey You" ao vivo com Uncle & Friends na 34ª Feira de Artes da Vila Pompeia de São Paulo em 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Hermann Molina

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=-f1JkurZvBY

Por conta da Rua Caraíbas ser uma ladeira, observamos que o palco, mesmo com o cuidado efetuado pelos seus empreendedores no sentido de se garantir uma condição de prumo adequado, na prática isso não foi possível e assim, tivemos esse incômodo extra ao tocarmos, pois foi inevitável não sentirmos o efeito pênsil a depor contra nós enquanto nos apresentamos.

Uma panorâmica da banda em ação no palco. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Amanda Semerjion

Mas apesar de não ter havido um soundcheck adequado e nem mesmo de uma forma mínima, a sonoridade dos monitores esteve bem razoável e pelo que eu vi em vídeos a posteriori e também pelo relato de muitas pessoas amigas que assistiram da plateia, a pressão sonora foi de show de Rock e a mixagem ao vivo, bem razoável.

Uma visão lateral da banda em ação no palco. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Hermann Molina
"Bolinha de Gude" (trecho) - Uncle & Friends na 34ª Fe ira de Artes da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Lara Pap

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=5f3KO-YLhSE

Sobre a banda, a alegria que tivemos no palco foi imensa por ter sido um reencontro muito feliz, mais de dois anos depois da última atividade, a ter em conta que por uma coincidência incrível, havíamos participado de uma apresentação/filmagem em um estúdio (o bom "V8", do bairro do Ipiranga, na zona sudeste de São Paulo), em 15 de março de 2020, ou seja, um dia antes do governo do estado decretar o "lockdown" sanitário decorrente da pandemia causada pelo alastramento da Covid-19. E mais coincidência ainda, foi o fato de que assim como em 2020, essa apresentação do "Uncle & Friends" se dera com  a participação da minha e de Carlinhos Machado, banda, "Os Kurandeiros" e essa mesma predisposição se repetiu também na Feira da Vila Pompeia, exatamente vinte e seis meses depois.

Caio Durazzo e Lincoln Baraccat com o público de frente ao palco a nos assistir. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Em suma, a alegria estava expressa no semblante de todos, pois a espera pelo reencontro fora longa e bastante assustadora, na medida em que nesse hiato forçado, a pandemia nos ameaçou violentamente e a despeito de todos terem perdido amigos, parentes e muitos conhecidos nessa tragédia de âmbito mundial, eu pude constatar que o simples fato de estarmos ali reunidos, vivos e a gozar de boa saúde, foi uma vitória de todos sob múltiplos sentidos.

Outro trecho (desta feita o final da canção), da música: "Bolinha de Gude". Uncle & Friends na 34ª Feira de Artes da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Lara Pap

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=NMjkX3PTVhY

Tocamos todas as músicas previstas pelo setlist proposto em ensaio prévio e o Luiz Carlini, que foi o diretor de palco, nos deu todo o respaldo para que tocássemos tranquilos, sem nenhum atropelo em termos de disposição de tempo. 

Todos os Rocks do repertório geraram euforia na plateia, o blues, "Se é Assim", foi recebido com bastante emoção e a balada, "A Estrada", soou com a sua delicada condução a prover um bom momento de percepção amena de todos.

Roy Carlini, eu (Luiz Domingues) e Lincoln Baraccat no enquadramento. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Vanderlei Bavaro

Banda feliz, público em estado de euforia e sem nenhuma pressão externa a nos aborrecer, eu diria que foi uma das melhores performances que eu tive com a simpática banda que acompanha Lincoln Baraccat e a justificar por conseguinte o seu nome a sugerir uma confraria e de fato, é assim que3 funciona sempre o "Uncle & Friends".

A banda em panorâmica no enquadramento. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Celso Bortolini

Em síntese, assim foi a ótima apresentação que tivemos em maio de 2022, e se a pandemia ainda não estava oficialmente erradicada, ao menos a imensa maioria das pessoas ali presente na Feira, estava devidamente imunizada com três a quatro doses das vacinas e assim, mesmo com uma certa imprudência generalizada no tocante ao não uso de máscaras e pela aglomeração no evento, que foi bem grande, o sentimento de alegria por viver a vida social e cultural em sua quase plenitude, norteou o sentimento de todos ali presentes, inclusive o meu, apesar das minhas ressalvas sobre os cuidados sanitários ainda necessários naquela fase dos acontecimentos.

Uma visão pela retaguarda do palco com a banda em ação. Uncle & Friends na 34ª Feira da Vila Pompeia em São Paulo. 15 de maio de 2022. Filmagem, acervo e cortesia: Hermann Molina

No entanto, ao enxergar pelo prisma da amizade, da arte, cultura e do espírito do Rock, claro que também me senti muito feliz pela oportunidade. 

E mesmo não sendo uma banda de carreira exatamente da minha parte, o "Uncle & Friends" se tornou ao longo do tempo, uma casa agradável para se habitar e da qual me afeiçoei. E certamente que não fecha a minha história com tal trabalho, aqui, mas pelo contrário, fica em aberta a possibilidade de que eu venha a escrever novos capítulos adiante.

Portanto, possivelmente continua...