E foi em meio a tal circunstância que encerramos o ano de 1995. Estava
insuportável conviver com aquele estúdio, e a despeito do Geraldo ser
super interessado e competente como técnico; e estar 100 % motivado pelo trabalho, tornou-se impossível
gravar uma nota sequer, pois nem para levantar a equalização da bateria,
conseguimos empreender.
Dessa
forma, tivemos uma conversa com ele, Geraldo, e deixamos
claro que não foi nada pessoal. Pelo contrário, ficamos chateados por
ele também, que sofreu um forte stress naqueles dias, ao tentar administrar as adversidades e sobretudo por sentir-se frustrado em não
concretizar essa produção. O Geraldo é um grande artista, e não merecia ter
passado por isso, certamente.
Por outro lado, o dono do estúdio ficou contrariado, mas
diante daquela situação insustentável, liberou as fitas, e o próximo
passo seria a gravadora entender, e apoiar-nos em nossa decisão.
Tecnicamente,
teríamos a compreensão do Sérgio Hinds, certamente, por ele ser músico, e
ter a noção de que era impossível ficar a persistir naquele estúdio,
com sérios
problemas de manutenção.
O grande, Sérgio Hinds, em foto do encarte do LP "Criaturas da Noite", d'O Terço, lançado em 1975
E foi o que aconteceu em relação à sua pessoa, mas a
cúpula da gravadora não gostou muito que nós tivéssemos tomado essa atitude.
Dessa
forma, cobraram-nos uma solução, ao invés deles aparecer com
uma, já que haviam colocado-nos naquele imbróglio. Claro que isso não
foi o adequado, mas também não foi hora para cobrarmos posturas, portanto... então, pensamos em uma outra solução, aliás muito alternativa.
A ideia seria convencer o estúdio onde
ensaiávamos regularmente, a gravar-nos, sob forma de patrocínio,
alinhavado com a gravadora.
Nós já éramos patrocinados para ensaios,
desde 1994, mas daí a gravar, seria uma outra história, e com a agravante em ter
que estabelecer forçosamente, uma tríplice aliança com a gravadora.
Fechou-se o
ano de 1995, e o ano
novo começaria com essa missão : a procura de um estúdio, e a conter essa
vaga esperança de que o Estúdio "Spectrum" pudesse aceitar tal proposta
de nossa parte.
Como
balanço final, digo que 1995 foi um ano difícil, com poucos shows;
e consequentemente com poucas oportunidades para uma melhor exposição na mídia. Nesse aspecto, certamente que o
bom embalo que havíamos angariado em 1992; 1993 & 1994, havia arrefecido-se.
Com o distanciamento histórico, hoje fica muito fácil alinhavar motivos para tal, em forma de uma análise :
1) O baque
estético por cantarmos em inglês, e consequentemente a perder o bonde da história, visto que
se isso fora aceitável na cena do início da década de noventa, a partir
de 1994, tal tendência foi duramente cerceada por uma safra de bandas que entraram no
mercado de uma forma avassaladora, a trabalhar com letras em português, porém extremamente
apelativas, através do uso de conteúdo chulo, e até a conter a abordagem de insinuações sob cunho de sexo
explicito e / ou escatologia, e isso caiu no gosto popular (praticado por bandas tais como : "Os Raimundos",
"Mamonas Assassinas" e outras).
Com o
advento da extrema massificação de artistas popularescos do mundo do Samba,
também a enveredar pelo caminho da abordagem chula em suas letras, e
a utilizar dançarinas sensuais como chamariz apelativo em suas
formações, o Rock proposto pelas gravadoras majors nessa época, também
seguiu tal tendência, e bandas como o Pitbulls on Crack ficaram
relegadas ao limbo da cena underground e indie;
2) O
grande embalo que tivéramos em 1994, com exposição midiática de nível
mainstream, não foi devidamente aproveitado. Se tivéssemos tido um
empresário astuto o suficiente para capitalizar tal "momentum", talvez a
vida tivesse tomado outro rumo, mas o melhor que conseguimos foi o
Jefferson, que teve boa vontade, mas os seus contatos eram por demais
centrados no patamar underground da música profissional;
3) Outro
fato, reputo ter sido por azar. Se no momento em que a gravadora
Roadrunner abordou-nos, nós tivéssemos agilizado a gravação do álbum,
ainda poderíamos aproveitar a onda que ainda estava em seu cume, no entanto a demonstrar-se descendente. Mas com o
imbróglio gerado por eles mesmos, em termos de postergação para assinar,
concomitantemente, a onda quebrou-se na areia da praia, sem que
pudéssemos evitar que isso acontecesse;
4) Já em
1995, mesmo sob uma situação de inferioridade gerencial, se tivéssemos
arrumado meios para viajarmos à Nova York, para gravar no estúdio do produtor norteamericano, Roy
Cicala, talvez pudéssemos ter tido a chance de uma reação, até que
rápida. Mas com a não concretização dessa oportunidade, perdemos de vez o
embalo;
5) Muito provavelmente, a grande realização de 1995, foi ter fechado com a gravadora Velas / Primal.
Ao considerar-se tudo o que eu disse no primeiro item dessa análise, foi até
surpreendente que uma gravadora sob médio porte, houvesse aparecido em
nossa vida, de uma forma espontânea, pois a "onda" no panorama mainstream de
meio de década de noventa, era totalmente desfavorável para um banda
com as nossas características;
6) Contudo, a corroborar a ideia de que 1995 foi um ano desfavorável para
nós, a aventura gerada em torno de um estúdio totalmente inadequado
para uma gravação profissional, mostrou-nos que uma nova oportunidade
para retomar uma onda ascendente, somente poderia ocorrer em 1996,
mesmo...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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quinta-feira, 5 de março de 2015
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