Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
Foi no final de julho que o lote a conter a versão "Digipack" do álbum "Cidade Fantasma" chegou da fábrica. Sobre a capa e as suas sutis modificações em relação ao formato original, eu já comentei em capítulo anterior. Cabe acrescentar que na capa frontal foi anexado o detalhe de um balão de cor lilás predominante no canto direito da ilustração e que a matiz amarelada de certas edificações ao fundo da imagem do castelo, ganhou um destaque um pouco maior.
Sobre o áudio desse álbum, as faixas bônus anexadas, "Faz Frio", "O Filho do Vodu" e "A Noite Inteira" as três provenientes do álbum "Seja Feliz" e "Último Blues" do CD "Sonhos & Rosquinhas Suíte", além do single "Andando na Praia", receberam uma nova equalização necessária para adequarem-se ao padrão das canções gravadas no CD Cidade Fantasma. Tal trabalho, a culminar na remasterização do disco, foi obra do nosso próprio guitarrista, Phill Rendeiro. E a produção geral coube a Kim Kehl.
Detalhes do encarte da versão "Digipack" do CD Cidade Fantasma. Criação e arte-final de José Eduardo Rendeiro.
Bem, com bônus dessa categoria, e uma embalagem bem mais robusta, é claro que houve uma movimentação muito boa em torno dessa novidade e a procura da parte dos colecionadores se tornou proeminente nesses dias de agosto e setembro de 2022.
Já no avançar do mês de agosto, um programa diferente da Webradio Crazy Rock, denominado: "Momento Só Brasuca", a se mostrar como um derivado de uma velha atração dessa emissora, o programa, "Só Brasuca", nos escalou através da música, "A Galera Quer Rock" para participar da sua edição de número 99, mediante a execução entre os dias 20 a 26 de agosto de 2022.
E por falar no tradicional programa, "Só Brasuca", através da edição 297, para a semana de 24 a 20 de setembro de 2022, nós fomos novamente indicados a participar, desta feita representados pela canção: "Gasolina", curiosamente uma faixa do CD Cidade Fantasma, o então mais recente e a calhar com o advento do relançamento do álbum, desta vez com uma embalagem "digipack" e munido de várias faixas bônus.
Não tivemos apresentações nesse ínterim, mas a banda indiretamente esteve em ação mediante dois espetáculos protagonizados pelo cantor, Edy Star, no qual atuamos como a sua banda de apoio, em agosto e outubro, respectivamente, mas ao final de outubro, voltamos aos palcos enfim para seguir a nossa trajetória, mediante uma apresentação marcada por se cumprir ao ar livre em um belo parque público em um bairro da zona leste de São Paulo, este aliás com forte respaldo para a arte e cultura e do qual já o havíamos visitado anteriormente nos idos de 2018.
Mas antes disso, ainda em outubro de 2022, nós tivemos a boa nova de que a nossa música, "Gasolina" havia sido escolhida para integrar a programação da rádio Kiss Fm, de São Paulo, ou seja, fazia tempo que uma rádio tradicional do "dial" não nos dava uma abertura assim tão boa e certamente que a notícia nos alegrou.
Conforme eu já mencionei e analisei com detalhes, durante o evento "Dellaz Fest" no qual participamos em outubro de 2021, tal participação de nossa parte foi gravada com qualidade, com o áudio capturado diretamente da mesa de mixagem do PA que alimentou o som ao vivo e devidamente separado em canais, ou seja, pronto para ser mixado em qualquer estúdio a posteriori e fornecer a forte possibilidade de se preparar um disco ao vivo com bastante qualidade.
Nesses termos, logo que recebemos o áudio completo do show, o guitarrista Phill Rendeiro, que estava a se qualificar como técnico de áudio, inclusive sob um processo que já remontava há anos mediante estudos, cursos e tudo mais, encampou a missão de trabalhar na mixagem desse material.
Ficou claro desde as primeiras provas que recebemos, que a nossa performance nesse show fora muito boa, a confirmar a impressão que tivemos ali mesmo no palco, durante o calor da apresentação e também quando vimos a filmagem logo a seguir, no mesmo dia.
No entanto, tal impressão se reforçou ao constatarmos que mediante o áudio com o qual o Phill estava a trabalhar, que não ocorrerem grandes falhas, a não ser pequenos esquecimentos pontuais de um ou outro instrumentista individualmente e algum desequilíbrio na mixagem estabelecida ao vivo pelo técnico que operou o PA no dia do espetáculo e neste caso, eu o isento de culpa, pois sei que é difícil ao extremo operar um show ao vivo sem haver um soundcheck bem feito e no ambiente de um festival com sete ou oito bandas a tocar, uma atrás da outra e sem soundcheck, a missão foi impossível.
Portanto, a qualidade se mostrou muito boa, muito acima da média para facilitar o trabalho do Phill, nesse sentido. Não obstante a qualidade observada, abriu-se a possibilidade de promovermos "overdubbings" para sanarmos as poucas falhas que tivemos e eventualmente acrescentarmos alguns detalhes para melhorar o áudio.
E assim, em 16 de abril de 2022, uma sessão de teclados foi marcada no "Mandioka's Studio", o famoso QG do Kim Kehl, para que o companheiro, Nelson Ferraresso, pudesse gravar alguns detalhes de teclados, bem poucos na verdade,
Nelson Ferraresso a gravar teclados em 16 de abril de 2022. Click, acervo e cortesia: Kim Kehl
Ficou em aberto uma segunda sessão para a gravação de alguns backing vocals que ficaram realmente muito baixos no áudio original e nesse caso, sem possibilidade de operação para aumentar o som e talvez, uma frase de baixo que eu deixei de fazer no dia, por distração.
Phill Rendeiro atento ao seu laptop a observar a gravação de "overdubbing" de teclados. 16 de abril de 2022. Click, acervo e cortesia: Kim Kehl
Infelizmente, nesse mesmo dia 16, Os Kurandeiros tiveram uma triste notícia para contrastar com o bom astral com o qual a sessão de overdubbing de teclados transcorrera. Ocorreu que soubemos do falecimento nesse dia do baterista, Fábio Scattone, que foi membro da banda entre 2006 e 2011 e gravou o álbum "Mambo Jambo", em 2008. Segundo fomos informados, ele lutou contra um câncer por dois anos, mas não conseguiu superá-lo, lamentavelmente, e assim nos deixou.
Fábio Scattone, isolado no enquadramento e em ação com Os Kurandeiros ao vivo, em foto de Juja Kehl. Na segunda foto, a dublar com a banda a canção, "Deixe Tudo" no programa: "Todo Seu" do Ronnie Von, na TV Gazeta de São Paulo, em agosto de 2008. (foto: autor desconhecido)
Eu me tornei componente da banda em agosto de 2011, e o primeiro baterista, Carlinhos Machado, já havia voltado para a formação alguns meses antes da minha estreia, portanto, eu nunca toquei com Fábio Scattone, nem mesmo sob outras circunstâncias em eventuais jam-sessions e/ou gravações e aliás, nem o conheci pessoalmente, mas sabia da sua passagem longa pela banda e da importância que teve na construção da história d'Os Kurandeiros, e assim, claro que fiquei triste com a notícia. O seu legado ficou para sempre, certamente, através do álbum que gravou e que faz parte da nossa discografia, com orgulho.
E para fechar o mês de abril, além da marcação de uma outra sessão de "overdubbings", tivemos enfim uma boa surpresa, ao termos a música: "A Galera Quer Rock", inclusa no playlist do programa "Só Brasuca" da Webradio Crazy Rock, por escolha do radialista, Julio Cesar Souza. Ficamos contentes com essa oportunidade, naturalmente. Aconteceu entre 23 e 29 desse mês citado.
Rapidamente nos acertamos no palco com o apoio dos roadies terceirizados do evento e entre eles a figura do Ricardo Lima, um profissional muito competente e também por Samuel Wagner, meu velho amigo, roadie atuante no meu tempo com a Patrulha do Espaço e também com o Pedra.
Renata "Tata" Martinelli a brilhar intensamente no comando da voz d'Os Kurandeiros, durante o Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil em 23 de outubro de 2021. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin
Sem impedimentos, logo veio a autorização da produção para a filmagem ser iniciada e assim, o grande radialista e nosso amigo, Rogério Utrila fez a apresentação oficial para a TV de YouTube da Webradio Stay Rock Brazil e nós iniciamos a performance com a entrada ao estilo "Overture" que vínhamos a usar desde o lançamento do CD "Sonhos & Rosquinhas Suíte" e a seguir, executamos "A Noite Inteira", já a contar com a voz espetacular de Renata "Tata" Martinelli, e além do mais a contar com a sua presença de palco e beleza feminina para tornar tudo mais empolgante e belo para nós.
Carlinhos Machado em ação! Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil em 23 de outubro de 2021. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin
Depois, Kim Kehl interpretou a nossa versão para "Mickey Mouse, a Gata e Eu", a homenagearmos o Made in Brazil e veio muito a calhar, pois um dos motes desse festival foi celebrar os cinquenta e quatro anos de existência dessa histórica banda. E "Pro Raul" tratou por estender o bloco de homenagens certamente, ao prestar o devido tributo ao Raul Seixas.
Na primeira foto, Phill Rendeiro, com a minha presença (Luiz Domingues) ao seu lado, por detalhes. Na segunda, Kim Kehl e Nelson Ferraresso em ação. Na terceira, eu (Luiz Domingues), em destaque. Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil. 23 de outubro de 2021. Clicks, acervo e cortesia: Cesar Gavin
Eis que chegou a hora de tocarmos uma canção do então novo CD lançado, a homônima ao título do disco, "Cidade Fantasma" e na interpretação da Tata, eu posso afirmar que ficou um primor.
"Viagem Muito Louca" com Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil em 23 de outubro de 2021.
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=20b7O92mMfo
Chegou o momento de tocarmos mais uma canção do novo disco, quando homenageamos o saudoso Ciro Pessoa. Foi um momento psicodélico, certamente, pelo teor da letra a evocar a memória do Ciro que tanto amou a psicodelia sessentista e o surrealismo em doses maciças, enquanto esteve entre nós.
"Noite de Sábado" com Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil em 23 de outro de 2021.
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=tMMp1ea_so4
"Noite de Sábado", com a sua proposta clara em torno do Blues-Rock com muito embalo ao melhor sabor do Texas Blues, abriu caminho para mais uma canção do novo álbum e deu brecha para um clássico da banda, em torno de "Cocada Preta", que teve uma das versões balançadas da nossa formação, eu posso assegurar.
Uma panorâmica da banda no palco do pocket Teatro do estúdio Espaço Som de São Paulo, durante a realização do Dellaz Fest da Webradio Orra Meu. 23 de outubro de 2021. Click, acervo e cortesia: Juliana Rendeiro
Outro clássico do repertório da banda sobreveio, com "A Galera quer Rock" e o embalo que produzimos foi fidedigno a uma afirmação oriunda de um verso cantado na música, no qual se diz que de Nova York ao bairro paulistano da Barra Funda, a galera quer mesmo é o Rock.
"São Paulo" (Vai Sobreviver) com Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil em 23 de outubro de 2021.
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zpCZEbDldXM
A seguir, tocamos: "São Paulo" (Vai Sobreviver), também oriunda do CD Cidade Fantasma e que faz alusão metafórica ao "lockdown" que vivemos por conta da pandemia mundial de 2020/2021 e a demarcar a mensagem otimista de que apesar de tudo, a cidade de São Paulo, o berço da nossa banda, haveria de sobreviver.
E para encerrar a nossa apresentação, executamos o trecho final da canção: "Sonhos & Rosquinhas Suíte" com a emenda natural a apresentar o tema de encerramento do show, que também faz parte da sequência no mesmo disco.
A banda perfilada no corredor de acesso ao palco, minutos antes da apresentação se iniciar. Da esquerda para a direita: Phill Rendeiro, Renata "Tata" Martinelli, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl, Carlinhos Machado e Nelson Ferraresso. Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Orra Meu em 23 de outubro de 2021. Click, acervo e cortesia: Juliana Rendeiro
Saímos de cena muito felizes pela boa performance cumprida, certamente e também pela oportunidade de termos participado de um festival tão bem produzido e sobretudo, com nobres intenções e recheado de artistas do mais fino trato.
Acima, assista um vídeo com a apresentação completa d'Os Kurandeiros no Dellaz Fest da Webradio Stay Rock Brazil em 23 de outubro de 2021.
E lá fomos nós então, participar do Festival "Dellaz Fest", a homenagear grandes cantoras da cena brasileira da então atualidade de 2021, também para comemorar os treze anos de existência e com bons serviços prestados pela Webradio Stay e além do mais, a prestar o nosso reconhecimento e respeito pelos cinquenta e quatro anos de carreira do Made in Brazil, uma banda mais que longeva, mas icônica na história do Rock brasileiro.
Eu fui o primeiro componente da nossa banda a chegar no pequeno, mas bem aconchegante teatro pertencente ao estúdio "Espaço Som", localizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. A nossa banda já havia participado de uma transmissão "live" feita ali nesse mesmo espaço, em janeiro do mesmo ano, desta feita a atuarmos como um Power-Trio, o chamado núcleo duro d'Os Kurandeiros.
Mas desta feita, estaríamos com a versão do sexteto, com a presença de Phill Rendeiro e Nelson Ferraresso a reforçar e abrilhantar muito o som, ou seja, a encorpar e trazer muitas nuances sonoras ricas e para melhorar ainda mais a nossa performance, a contarmos com a maravilhosa, Renata "Tata" Martinelli, uma cantora sensacional em essência.
Nos bastidores do pocket teatro de estúdio Espaço Som de São Paulo. Da esquerda para a direita: o ativista cultural e amigo da banda, Cesar Gavin, Carlinhos Machado e Nelson Ferraresso. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival Dellaz Fest de São Paulo. 23 de outubro de 2021. Click (selfie), acervo e cortesia: Cesar Gavin
O ambiente estava o melhor possível nos bastidores, todos os participantes e respectivas cantoras em destaque eram nossos amigos, portanto, foi festivo, alegre e prazeroso rever tantos amigos ali.
A banda "Valvulados" com a ótima Taty Pacheco a comandar o microfone, encerrou a sua apresentação e logo entrou o combo, "Mesa do Rock" em cena, com a não menos brilhante cantora, Amanda Semerjion. Logo a seguir, chegou a nossa vez, então.
E agora chegara a hora para que apresentássemos um show da nossa turnê, "Toca Raul", em um palco nobre da área central da capital paulista. Não fora a minha primeira vez, pessoalmente a observar, que eu apresentara-me no teatro da Sala Olido, pois eu havia tocado com o "Pedra", ali, em duas oportunidades passadas (2009 e 2013).
E no espaço em anexo, a dita sala de vidro, mais modesta, eu também já havia feito uma apresentação com Kim Kehl & Os Kurandeiros, em 2013. Agora seria mais uma oportunidade com Os Kurandeiros e desta feita a acompanhar, Edy Star e reforçados pelo ótimo percussionista, Michel Machado.
Além disso tudo, em mais um adendo sensacional, teríamos a presença da extraordinária cantora, Renata "Tata" Martinelli, desta feita como convidada, mas em seu caso, com larga participação em eventos anteriores do Edy Star e igualmente como componente honorária d'Os Kurandeiros. Em suma, um prazer enorme pela amizade e brilhantismo em torno da sua enorme categoria como cantora.
Espetáculo marcado para o dia 9 de dezembro, um domingo, sem outros atrativos para tirar a atenção do público e em meio a um local agradável, sob forte acessibilidade, apesar de estarmos experientes em relação aos tempos sombrios onde teatros não lotavam mais e eu particularmente já houvera passado por tal fator desabonador ali mesmo, com o Pedra, como já citei, no entanto, achei que haveria um quórum ao menos razoável e mesmo sem nutrir grandes ilusões, fui confiante em torno dessa expectativa.
Soundcheck na Sala Olido! Foto 1: Michel Machado. Foto 2: Kim Kehl. Foto 3: Luiz Domingues a observar a preparação do som do percussionista, Michel Machado. Foto 4: Edy Star. Kim
Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Sala Olido
de São Paulo, em 9 de dezembro de 2018. Clicks de Carlinhos Machado
E por ter tido experiências semelhantes nas três vezes anteriores em que ali apresentei-me, eu já sabia de antemão que o estacionamento ali do complexo, não obstante ser gigantesco e ficar a maior parte do tempo, praticamente vazio, era muito complicado para ser usado pelos artistas, devido à burocracia dominante que dificultava ou no mínimo, mostrava-se confusa a gerar aborrecimentos no dia do espetáculo.
Pois veja o drama do artista, amigo leitor, que chega ao complexo, com o seu automóvel repleto de instrumentos e quando não com equipamentos de backline, igualmente a bordo e depara-se ou com a ausência de um porteiro ou com o funcionário ali a postos, entretanto, completamente mal informado ao ponto de negar veementemente a sua entrada, por alegar que não sabe nada sobre a autorização prévia, mesmo que haja em sua cabine, uma lista a conter a marca, modelo e placa de cada carro, devidamente repassada aos responsáveis pela logística, muitos dias antes, em documentos oficiais.
Passei por esse tipo de situação nas ocasiões anteriores em que ali apresentei-me e por conta desse trauma adquirido, salientei aos companheiros que não bastava passar uma lista com esses dados, mas que seria imprescindível haver uma confirmação oficial e bem documentada da parte dos responsáveis pela garagem e/ou produção geral, nesse sentido.
Os colegas tranquilizaram-me a relevar a minha preocupação, mas ressabiado, mesmo ao ter passado os dados do meu automóvel como os demais, resolvi de última hora ir a pé e pelo seguinte motivo adicional: como haveria um amplificador do teatro, em ordem para eu usar (ainda que fosse o indefectível, "Hartke", uma marca abominável), eu só teria que levar um baixo.
Pensei em levar dois instrumentos, dada a pompa e circunstância da ocasião, no entanto, quando projetei-me a ficar em cima de uma calçada, ao ser ameaçado de multa e guincho por autoridades policiais e/ou cercado por pessoas de má reputação (pois a realidade é que aquele trecho do centro velho da cidade é uma extensão da dita "cracolândia"), a esperar surgir ou convencer um porteiro renitente que eu teria autorização para entrar e ele possivelmente negar tal fato, resolvi ir a pé.
De casa, até a estação do metrô mais próxima de minha residência, seria um trajeto rápido e seguro, naquele horário vespertino e na saída da estação República, até a Sala Olido, se a caminhar em linha reta pela Avenida Ipiranga e dobrar a direita na Avenida São João, mesmo com bastante incidência de malandragem urbana, pelo horário e presença policial mais ostensiva, não haveria de ser tão temerário assim.
Foi o que eu fiz, ao abrir mão de levar dois baixos. Deu tudo certo, cheguei sem nenhum sobressalto ao local e fui o primeiro a dar entrada no local. Rapidamente fui autorizado a adentrar o acesso ao andar privativo dos camarins, mas o teatro ainda estava fechado.
Contudo, não demorou muito e um funcionário muito educado e solícito, veio abri-lo e eu instalei-me em um dos camarins. Além da constatação de que fora bem recebido por esse gentil funcionário da produção e mesmo antes pelas recepcionistas do complexo e o segurança do andar, verifiquei que os camarins estavam limpos e arrumados, ou seja, fatores que em ocasiões anteriores em que ali estive, nada disso houvera ocorrido. Portanto, notei que houve uma evolução nítida na organização do teatro, isto é, um ponto positivo.
Eis que a seguir, logo chegou, Carlinhos Machado e o percussionista, Michel Machado. Edy Star a seguir e Kim Kehl e Lara Pap, por último.
Soundcheck. Foto 1: Luiz Domingues. Foto 2: Kim Kehl. Kim
Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Sala Olido
de São Paulo, em 9 de dezembro de 2018. Clicks de
Carlinhos Machado
O técnico de iluminação fazia a afinação dos spots, mediante o apoio de seu assistente e o técnico de som, já passava o som do monitor, com o apoio de um tablet. Tudo já estava arrumado assim que cheguei, graças à rigorosa observação do mapa de palco que ele recebera previamente. Rapaz educado, foi solícito e atencioso durante a nossa conversação e posterior soundcheck. Mais um ponto positivo.
Eis que Renata "Tata "Martinelli chega ao teatro e juntos, passamos a única música que ela cantaria naquela noite: "A Maçã", uma balada linda do Raul Seixas e que em sua voz privilegiada, haveria por encantar a plateia.
Tudo ajustado, a pressão sonora estava excelente, monitor com brilho e precisão, tivemos alguns minutos para a preparação pessoal nos camarins, antes do público adentrar o recinto. Fomos informados que havia uma boa fila na bilheteria e pelo murmurinho gerado pela entrada liberada, ficamos felizes por termos a confirmação de que haveria um bom contingente presente.
Foto 1: Edy Star, com Carlinhos Machado e Michel Machado, na retaguarda. Foto 2: da esquerda para a direita, Kim Kehl, Carlinhos Machado, Michel Machado e Luiz Domingues. Foto 3: Renata Tata" Martinelli, com Kim Kehl, atrás e encoberto. Kim
Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Tirnê "Toca Raul". Sala Olido
de São Paulo, em 9 de dezembro de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Messias da Silva
Bem, quando iniciamos o espetáculo, ficamos felizes pelas boas condições do som e iluminação com as quais estávamos a lidar e sobretudo pelo ótimo quórum ali presente, certamente acima das nossas expectativas e melhor ainda, bastante interativo ao show e a incentivar e agraciar Edy e nós, como banda. E com tal sinergia estabelecida, certamente que tudo melhora e assim, foi um show bastante animado.
Foto 1: Edy Star. Foto 2: Luiz Domingues. Foto 3: Carlinhos Machado. Foto 4: Michel Machado. Foto 5: Renata "Tata" Martinelli. Foto 6: Kim Kehl. Kim
Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Sala Olido
de São Paulo, em 9 de dezembro de 2018. Clicks, acervo e cortesia de
Weber Japoneis
Além da canção, "A Maçã", que a Tata Martinelli interpretou tão bem (ao ser muito aplaudida pela plateia), acrescentamos mais um número: "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás", outro clássico do Raul Seixas.
Encerramos o show com uma apoteótica interpretação do tema: "Sociedade Alternativa", que levantou o público, literalmente, ao gerar uma euforia acima da nossa expectativa. Sob aplausos efusivos e um pedido sincero por um bis, que não pudemos retribuir, pois o horário ali do teatro mostrara-se rígido, saímos felizes do palco.
Foto 1: Michel Machado. Foto 2: Kim Kehl. Foto 3: Carlinhos Machado. Foto 4: Renata "Tata" Martinelli, com Michel Machado, ao fundo. Foto 5: Luiz Domingues. Foto 6: Edy Star. Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edy Star na Turnê "Toca Raul". Sala Olido de São Paulo, em 9 de dezembro de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Weber Japoneis
No camarim o assédio foi forte e entre tantos conhecidos, recebi a visita de Samuel Wagner, roadie que trabalhara anos comigo ao ter feito parte da equipe de produção da Patrulha do Espaço e também do Pedra, duas bandas pelas quais atuei.
Grande conhecedor da carreira de Edy e fã de seu trabalho com os Kavernistas, estava eufórico, ao dizer-me que esperava por um bom show, mas fora surpreendido por uma atuação ainda melhor que a sua mais otimista expectativa.
Que bom, se a média ali presente foi formada por fãs de Raul Seixas, Edy Star e dos Kavernistas, certamente que a opinião do Samuel refletira o consenso geral e isso explicara a demonstração de euforia que sentíramos do público, a reverberar no palco. Foi o melhor show da turnê, até então, e sem demérito algum às edições anteriores, isso foi esperado, na medida em que ali seria certamente o espetáculo a ser encenado sob as melhores condições técnicas, portanto, com produção à altura, claro que o espetáculo cresceria.
Na primeira foto, uma panorâmica do palco. Na foto 2, Renata "Tata" Martinelli em destaque, com Luiz Domingues, ao fundo. Na foto 3, Kim Kehl em ação. Kim Kehl & Os Kurandeiros na Turnê "Toca Raul". Sala Olido em São Paulo, em 9 de dezembro de 2018. Foto 1: Click, acervo e cortesia de Pamela Assis. Fotos 2 e 3: Clicks; acervo e cortesia de Paulo Girão
Na mesma noite e pelos dias depois, foram muitas as manifestações de agrado da parte das pessoas que assistiram, mediante comentários muito alvissareiros expressos pelas redes sociais da Internet e assim, ficamos muito gratificados e com uma boa perspectiva para o encerramento oficial da temporada, a ser cumprido na semana subsequente, em mais uma Casa de Cultura localizada em um bairro da capital paulistana.
E como nas duas últimas edições, em um bairro não periférico e sob fácil localização. Eis que visitaríamos a Casa de Cultura do Ipiranga. Missão cumprida no teatro da Sala Olido, no dia 9 de dezembro de 2018, perante cerca de duzentas pessoas.
Eis um especial condensado sobre o show na Sala Olido, em São Paulo:
Eis o Link para assistir no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=MRZBTB0ysws
O período que se seguiu, foi de apreensão para os Kurandeiros. A
recuperação do Kim foi lenta, e exigia-lhe repouso absoluto, o que
definitivamente o impedia de agendar shows. Se dependesse dele,
certamente que desejava trabalhar, mas os médicos houveram sido incisivos
com ele, no sentido de que ele não poderia esforçar-se fisicamente, e assim,
tocar guitarra e cantar ao vivo, esteve fora de cogitação, naquele
instante. Dessa forma, ele foi a recuperar-se, até que mediante
novos exames, os médicos decidiram por mais uma cirurgia.
Confesso,
estou para ver uma pessoa com tanta resignação e força, pois qualquer
outra, incluso eu, mesmo, teria esmorecido com tal notícia, mas ele
enfrentou com uma tremenda determinação de submeter-se o quanto antes à prescrição médica, e
vencer a dificuldade, e assim foi em minha avaliação, um exemplo de coragem e amor à
vida. Enfim, uma nova intervenção nos mesmos moldes da anterior,
subentendera mais um longo período de recuperação a posteriori, certamente, a repetir-se o hiato para a banda, tudo de novo.
E
sendo assim, ele apressou-se em comunicar aos Kurandeiros, que contava
com nossa paciência nesse período, e pediu desculpas pela banda ser forçada a dar uma
parada, e assim comprometer o decorrente movimento de cachês para os
demais.
Ora, a nobreza de caráter da parte dele, foi notável em
ter esse tipo de preocupação, porém, a nossa preocupação não fora essa, mas
sim o restabelecimento do amigo, que precisava dar a volta por cima nessa questão
de saúde.No entanto, infelizmente, a situação de saúde dele ficara difícil e o tempo de
recuperação decorrente da segunda intervenção cirúrgica a que
submeteu-se, não trouxe perspectivas concretas de solução para o seu
problema de saúde e dessa forma, uma terceira intervenção foi sugerida
pelos médicos, com consequente novo período de repouso absoluto. E uma quarta intervenção foi prescrita, a gerar um novo período de convalescença. Desta
feita, apesar do sofrimento todo, foi a última intervenção, ao dar um
basta à essa situação e a conduzir o tratamento, doravante, à um patamar
mais ameno, com medicamentos e exames periódicos de acompanhamento ambulatorial.
Nesse ínterim,
surgiu uma data para o Ciro Pessoa, e como eu e Kim éramos de sua banda
de apoio, independente dos Kurandeiros voltarem à ação, foi a
perspectiva concreta dele retomar as suas atividades profissionais, ao
menos ao se considerar as apresentações ao vivo, pois mesmo sem forças,
ele nunca deixou de trabalhar em seu estúdio.
Sobre a apresentação que o Kim fez comigo, a acompanhar o Ciro Pessoa, narro no capítulo adequado, naturalmente. Com os Kurandeiros, a volta do Kim demorou mais dois meses, e veio a ocorrer no dia 17 de
outubro de 2012, no Magnólia Villa Bar.
Se em agosto, o Kim
tocara comigo e outros companheiros, ao acompanharmos o Ciro Pessoa em meio a um show
realizado em São Carlos, no interior de São Paulo, mas com ele ainda a inspirar cuidados na sua condição física pós-operatória, desta feita, ele
demonstrava estar muito melhor.
Assim, com as presenças de
Carlinhos Machado na bateria, Renata Martinelli aos vocais, Phil
Rendeiro na guitarra base, Alexandre Rioli aos teclados, e eu no baixo,
os Kurandeiros tocaram com bastante alegria naquela noite quente de
primavera, pois o Kurandeiro-mor estava de volta em grande estilo,
ao mostrar a sua superação.
Não tivemos um grande público, mas foi
muito gratificante tocar e ver o Kim a pilotar a sua guitarra, cantar e
fazer as suas costumeiras brincadeiras performáticas. Comeback, Kim Kehl!
"Cocada Preta", executada nesse show citado acima. Dia 17 de outubro de 2012 - Magnólia Villa Bar Eis o link para assistir no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=fQwZXSg72ds Aí sim, a próxima parada seria mesmo apenas para janeiro de 2013...