quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 224 - Por Luiz Domingues


A terceira ocorrência foi a seguinte : Ao seguir a orientação do apresentador, Fausto Silva, fomos preparar o material e eu, pessoalmente, fui levá-lo à produção do programa, "Perdidos na Noite", nas dependências da TV Record de São Paulo.

Nessa época, a TV Record ainda pertencia à família Machado de Carvalho, e apesar de estar decadente, ainda notava-se nos velhos estúdios localizados na Avenida Miruna, no bairro de Moema, lembranças dos tempos gloriosos de outrora, através de fotos espalhadas pelos murais etc. Bem, reminiscências a parte, lá fui eu com disco; release e portfólio debaixo do braço. Fui recebido por uma produtora, cujo nome não recordo-me, mas que era certamente uma estagiária, subordinada da produtora chefe, Lucimara Parisi. 

Ela recolheu o nosso material, e não demonstrou muito entusiasmo quando eu disse-lhe que a banda havia participado de muitas edições do programa, "Balancê, da Rádio Excelsior / Globo, tampouco impressionou-se quando eu disse-lhe que o Fausto Silva em pessoa, havia orientado-me a procurar a Lucimara etc. A sua resposta, apesar de simpática, pareceu-me mecânica, com a afirmação de que "analisariam" o material, e dar-nos-iam uma resposta em alguns dias, a fornecer então um número de telefone para fornecer-nos o seu veredicto definitivo. Passado alguns dias, ligamos para a produção, e um processo marcado pela postergação cansativa em ofertar-nos uma resposta concreta. Um dia, enfim, uma produtora emitiu uma resposta. Disse-nos então que sentia muito, mas nós não seríamos convidados a apresentarmo-nos no programa.

A resposta lacônica irritou-me, pois na minha concepção, a banda reunia totais condições para apresentar-se. Quantos programas de TV nós já havíamos realizado até aquele ponto ? Inclusive a tocar ao vivo, foram muitos, ora bolas...

Bem, claro que foi um direito deles em recusar-nos, mas eu achava incompreensível o caráter lacônico com o qual a mocinha explicava a decisão de sua cúpula, e insisti para que ela desse-me uma explicação decente e plausível. 

Então, eu tive o impulso em pedir a devolução de material, em caráter de cobrança de uma satisfação, pois um disco, e a cópia da papelada de portfólio, não haveria por faltar-nos, em realidade. Eu fui portanto, à TV Record novamente, e ao apresentar-me na porta da sala onde várias pessoas trabalhavam, uma moça veio atender-me. Cobrei uma explicação melhor, e aí, eu tive que aturar a franqueza desconcertante e desagradável que tanto evitaram falar-me ao telefone, com ela a dizer-me : 

-"Sinto muito, mas o som da sua banda é uma BOSTA"...
É claro que cada um pensa o que deseja, e artista é vitrine sujeito à pedradas, mas tal afirmativa chocou-me, evidentemente. Então, pedi-lhe o material, e ela entregou-me, mas faltava o disco dentro da capa vazia que entregara-me. Ela foi buscar o disco, e quando a vi a retirá-lo de uma vitrola portátil, eu notei que a rotação estava em 33 &1/3 ! Claro que essas pessoas consideraram uma "bosta", o som da banda, a ouvi-lo na rotação errada... 

Argumentei essa observação de pronto com ela, mas mesmo assim, a decisão de veto para o programa manteve-se irredutível. Uma pena, pois teria sido muito divertido participar, e de fato, estávamos acostumados a interagir com o Fausto Silva, por conta de nossas participações no programa, Balancê, da rádio. E quanto ao desaforo proferido de maneira injusta, só posso lamentar o fato de que na capa, não houvesse uma tarja chamativa para alertar as pessoas sobre o fato do disco não rodar adequadamente na rotação usual em 33 & 1/3...

-"A sua banda é uma BOSTA"..., pois bem, eis que eu dormi com a orelha quente depois dessa...



Continua... 

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