domingo, 29 de outubro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 62 - Por Luiz Domingues

Embalados pelos bons ventos proporcionados através do advento do novo EP em que estávamos a trabalharmos, a agenda mostrava-se bastante movimentada nesse começo do ano de 2017, que bom!

Um exemplo disso ocorrera nos meses de março e abril, quando tocamos bastante ao vivo, inclusive em casas onde nunca havíamos visitado anteriormente e sempre era estimulante para a nossa banda apresentar-se em novos espaços, em que o fator surpresa era sempre grande, inclusive se pensarmos em aspectos negativos, mas mesmo assim, a novidade abriu o caminho para experiências inéditas e isso era sempre bom para a banda e até para o meu relato autobiográfico, que beneficiara-se através desses adendos interessantes que inspiram boas crônicas.

Os Kurandeiros no Fofinho Rock Bar de São Paulo, em 26 de março de 2017. Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Carlinhos Machado e Luiz Domingues. Foto: Lara Pap 

O penúltimo show do mês de março ocorreu no entanto em um lugar em que estávamos a lutarmos bravamente para manter em pé mediante um projeto que no papel, teoricamente a se falar, parecia bem interessante, mas na prática, nós enfrentávamos problemas técnicos, que a bem da verdade eram insolúveis ali naquela casa, e apesar da camaradagem e bons tratos com os quais os mandatários do estabelecimento recebiam-nos, a política da casa em termos de seus usos & costumes mostrava-se imutável e sendo assim, apesar de ser interessante tentar manter o projeto em atividade, ficava a cada edição muito difícil acreditar ser isso possível. No entanto, Os Kurandeiros eram/são resilientes por natureza e dessa forma, nós insistimos. 

Nessa edição de 26 de março de 2017, convidamos um outro artista para fazer show o compartilhado conosco e tratou-se de Duck Strada, um artista multi-talentoso, por natureza. Baterista de bandas de Rock, há anos, mantinha (mantém) também uma carreira paralela autoral e solo, ao apresentar-se como um "Folk-Singer", na base do violão & voz, e mais do que isso, ele demonstrava um talento grande como compositor e letrista, ao seguir uma linha nobre da MPB com raízes contraculturais, naquela vertente com um pé no Rock, psicodelia, experimentalismo e baseada nos ecos distantes do movimento Hippie. 

Ao fazer-me lembrar artistas como Zé Geraldo, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Lula Cortes, Sá & Guarabyra, Alceu Valença, Jards Macalé e tantos outros bacanas dessa vertente, Duck Strada deu o seu recado ao mesclar as suas ótimas composições com clássicos desses artistas que eu citei e de outros, com bastante maestria. 

Gostei muito de sua performance e das suas composições, uma inclusive que se fixou na minha memória, chamada: "Via Leste", uma bela crônica urbana que compôs, a falar das pessoas que vão e vem da zona leste de São Paulo a usar a metáfora dos trens de subúrbio e do metrô para falar desses trilhos que levam as pessoas para essa trilha na vida. Muito inspirado e bonito, certamente.

Os Kurandeiros no Fofinho Rock Bar de São Paulo, em 26 de março de 2017. Foto: Regina de Fátima Galassi

Depois fizemos o nosso show, igualmente a enfrentarmos a velha questão da guerra de PA's interna da casa, a atrapalhar a nossa sonoridade, e no caso do Duck Strada, com a sua apresentação baseada na voz & violão, creio que ele foi ainda mais prejudicado por tal situação alheia à nossa vontade. Paciência.

"Baby I'm a Want You" (David Gates / Bread) - 26 de março de 2017 no Fofinho Rock Bar de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Bky-YOOvJ7c

Por meio de uma sinalização tímida, mas animadora, a casa providenciou para que o PA da parte da frente (que alimentava o botequim em anexo do estabelecimento, virado para a Avenida Celso Garcia), abaixasse bastante o seu volume. Isso amenizou o nosso drama ali no salão inferior, mas o PA do andar superior prosseguiu a atazanar-nos com o Heavy Metal ensurdecedor, não teve jeito...

O próximo show foi exótico pela maneira em que transcorreu. Primeiro que o convite surgiu em cima da hora, ao nos surpreender ao ponto de não termos tido tempo hábil para empreender uma divulgação prévia mínima. 

Aceitamos fazer o show, assim mesmo e sob um poder de improviso bem grande da parte do Kim, ele fez ações on line com a banda no palco de tal estabelecimento, a tratar o evento como um "show secreto" e isso acabou por despertar a curiosidade de muita gente nas redes sociais e por vias tortas, culminou em ter sido uma ação de marketing interessante.

Os Kurandeiros no Tchê Café de São Paulo, em 30 de março de 2017. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, com o Tajima Jazz Bass cedido pela casa, Carlinhos Machado e Kim Kehl. Foto: Lara Pap

O espaço era chamado como: "Tchê Café", localizado bem próximo do Aeroporto de Congonhas, e como sugeria o seu título, a se mostrar como um estabelecimento dirigido por gaúchos radicados em São Paulo. Mas apesar disso e do seu logotipo a ostentar um clássico "chimarrão", nada mais gaúcho, a casa não era 100% fechada em tradições gaúchas etc. e tal. 

Decorada como um bar estiloso, baseado no espírito dos Pubs ingleses e a ter como carro chefe uma vasta carta de cervejas artesanais a oferecer aos seus clientes, ficamos com uma boa impressão inicial assim que ali adentramos. 

E mais do que isso, foi bom verificar que era bem musical por sua decoração. Com um palco bem razoável para as bandas apresentarem-se, achamos inusitado que além do PA disponibilizado, uma praxe que raramente não é observada por outras casas, todo o backline e até instrumentos estavam ali para usarmos. Havia bateria, baixos e guitarras se quiséssemos usar e apesar do Kim não ter interessado-se na guitarras ali oferecidas e preferir tocar na segurança de suas próprias guitarras, eu aceitei usar um dos baixos ali disponíveis, um "Tajima", modelo Jazz Bass, e tal fator ocorreu por que o testei e verifiquei que continha um braço macio, muito bem feito, bastante semelhante ao seu modelo inspirador, o clássico Fender Jazz Bass. 

Gostei de seu timbre e de fato, foi prazeroso fazer o show com tal instrumento gentilmente cedido pela casa, uma prática incomum, diga-se de passagem, pois o normal para as casas noturnas é não haver nem PA, mas essa em questão, surpreendeu-nos positivamente nesse aspecto. 

Bem, simpatia e empatia estabelecidas, esse show súbito e em caráter "secreto" abriu-nos as portas para novas apresentações nessa casa. Bom, gostamos de ter ido lá e certamente gostaríamos de voltar em ocasiões futuras. Ocorreu em 30 de março de 2017, uma noite quente, embora o outono já estivesse a prevalecer no calendário.

"Reflexions on My Mind" (The Marmalade) - 30 de março de 2017, no Tchê Café de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=NBBb_CfGNXo
"Without You" (Pete Ham / Don Evans / Badfinger) - 30 de março de 2017 no Tchê Café de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=tnCyn3mCPWE 
"Sleepwalk" (Santo & Johnny Farina) - 30 de março de 2017 no Tchê Café de São Paulo

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4pF9ckUpVIo  

Em abril, teríamos mais apresentações pelo circuito da noite paulistana, e com direito a casas diferentes, onde jamais havíamos passado anteriormente, a se gerar mais histórias pitorescas.

Continua...  

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