quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 67 - Por Luiz Domingues

Após alguns meses em compasso de espera por conta de um possível apaziguamento da pandemia de 2020, que enfim nos desse trégua para que pudéssemos promover um ensaio presencial, eis que decidimos marcar de fato um apontamento para o dia 23 de dezembro, a antevéspera do natal de 2020.

Nesse ínterim, a pandemia voltou a ficar forte, em sua segunda onda de contágio, portanto ainda mais assustadora. Entretanto, nós mantivemos o compromisso firmado para avançarmos enfim com os ensaios a visar resgatar as nossas músicas do período 1976/1977, a primeira parte da nossa missão.

Após tantos adiamentos por conta dos impedimentos de um ou outro membro e curiosamente em uma fase em que a pandemia houvera recrudescido, eis que nós insistimos para realizar justamente esse ensaio, para que simbolicamente houvesse a demarcação do avanço ainda em 2020 e assim nos garantisse o impulso para continuarmos motivados em 2021, mesmo que a situação social e sanitária do país (e do mundo), permanecesse caótica. 

O guitarrista Wilton Rentero a nos mostrar o seu infortúnio por estar internado para tratar de cálculos renais, dois dias antes do ensaio marcado para dezembro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

E então, o imponderável ocorreu, pois um de nossos guitarristas, Wilton Rentero, revelou-nos que não poderia participar, pois estava internado em um hospital na cidade de Guarulhos-SP (Hospital Carlos Chagas), diagnosticado com cálculos renais, sob fortes dores e que justamente no dia marcado para o ensaio, estaria a submeter-se a uma intervenção cirúrgica. Poxa, que azar, depois de tantas postergações para se marcar esse ensaio presencial, esse infortúnio surgiu para atrapalhar os nossos planos. 

Mesmo assim, resolvemos, eu e Osvaldo Vicino, mantermos o ensaio marcado, pois mesmo desfalcados do Wil, nós haveríamos de evoluir em nossos trabalhos e além do mais, como eu já expus anteriormente, esse ensaio teria a simbologia da resistência da nossa banda. Se a pandemia mundial de 2020 não houvesse ocorrido, nesta altura dos acontecimentos, talvez até estivéssemos a gravar a nossa demo ou disco, quem sabe, e assim, a avançarmos, ainda que de uma forma cautelosa ante o perigo do contágio, eis que a insistência para se manter o ensaio, conteve tal simbologia.

O guitarrista, Osvaldo Vicino e eu, Luiz Domingues, na sala de ensaio, em que trabalhamos em dupla, em prol do Boca do Céu, no dia 23 de dezembro de 2020. Click (selfie), acerco e cortesia: Osvaldo Vicino

Dessa maneira, em 23 de dezembro de 2020, eu (Luiz Domingues) e Osvaldo Vicino, nos encontramos em uma sala de ensaio localizada no bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo e trabalhamos juntos em três temas do nosso velho repertório setentista: "O Mundo de Hoje", "Serena" e "Mina de Escola". Com alguns avanços na parte estrutural das três canções, nós ficamos contentes com o resultado e o esforço empreendido. Filmamos versões das três canções e assim, combinamos de prosseguir no trabalho, assim que o Wil sinalizasse estar em condições de participar e também a coincidir com o fechamento das festas de final de ano e a se observar a situação da pandemia, logicamente.

Wilton Rentero no momento pós-operatório, a nos sinalizar estar bem e ao mesmo tempo, preocupado em colher informações sobre como ocorrera o ensaio da nossa banda sem a sua presença. 23 de dezembro de 2020. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero

Wil Rentero repercutiu conosco o resultado do ensaio, algumas horas depois, já com a boa novidade da sua cirurgia ter sido concluída com sucesso e mesmo em momento pós-operatório, ele mostrou vitalidade na conversação pelo "whatasapp" do nosso grupo e assim, nós também ficamos contentes por saber que ele estava muito bem.

Ainda a falar sobre o ensaio, Osvaldo entregou-me a minha camiseta do Boca do Céu, que ele mesmo preparara meses antes e eu fiquei muito feliz por recebê-la. Que incrível, uma ação de merchandising que a nossa banda nunca teve oportunidade de possuir nos anos setenta e eis que no limiar de 2020, tal esforço se concretizara.

Em tom de brincadeira, mas a repercutir uma verdade, Osvaldo lembrou-me que esse ensaio realizado em dupla o fizera se lembrar dos nossos mais remotos esforços em prol da banda, com ensaios preliminares feitos somente por nós dois em seu apartamento da Rua Inhambú, no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo, no longínquo mês de abril de 1976. 

Ora, foi a mais pura verdade, que volta incrível demos em torno de quarenta e quatro anos decorridos, para voltarmos a trabalhar pelo Boca do Céu, novamente e no mesmo formato, ainda que desta vez tenha sido por uma contingência meramente ocasional, dada a situação de saúde do nosso companheiro, Wilton, e pelo fato do Laert sabidamente não participar dessa fase de ensaios preliminares, de forma proposital por morar em outra cidade (São Vicente-SP, no litoral) e no caso, ele só viria a participar de ensaios futuros. 

Esperançosos de que a pandemia mundial do Covid-19 se arrefecesse em 2021, e sobretudo que o nosso legado pudesse enfim ser construído a resgatar o nosso material e eternizá-lo, nós fechamos o ano com tais expectativas em alta voga. Que 2021 fosse o ano da "Revirada" do nosso heroico, Boca do Céu...

História em franca (re)construção, portanto...

Eu, Luiz Domingues, a ostentar orgulhosamente a bela camiseta da minha primeira banda na carreira, o glorioso: Boca do Céu, grupo de Rock, desde 1976, em pleno avançar do século XXI! 23 de dezembro de 2020. Click (selfie) e acervo de Luiz Domingues

Continua...

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