terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 413 - Por Luiz Domingues

Eis que ao final de dezembro de 2020, eu fui avisado que o último lançamento do projeto dos Bootlegs d'A Chave do Sol, estava finalmente pronto, a se constituir do CD "Dose Dupla/1986". Que bom, o sexteto de bootlegs anunciados se tornara disponível e pronto para chegar às mãos dos fãs do nosso trabalho.

Neste caso, esse disco trouxe a junção pura e simples das duas demo-tapes que nós gravamos no decorrer de 1986. Uma em abril e a outra, em outubro. No bojo do repertório, há a presença de quatro canções que foram gravadas para as duas versões e claro que observam-se sutis diferenças na concepção dos arranjos e interpretação entre as duas versões. Em alguns casos, inclusive, as diferenças vão além das sutilezas, visto que ao analisarmos a demo produzida em abril, nós promovemos mudanças significativas para as respectivas versões gravadas para a demo de outubro, no sentido de apararmos arestas na ocasião.

E sim, há também a diferença de padrão de áudio entre uma demo e outra, e por incrível que pareça, a segunda, que foi feita em um estúdio muito superior, com um técnico solícito e com tempo a vontade para trabalharmos, ficou aquém da primeira, concebida em um estúdio bem mais simples e com a extrema parcimônia financeira a se refletir em pouquíssimas horas para se trabalhar.

Como eu já concebi uma detalhada análise técnica e estética sobre as canções contidas nas duas demo-tapes ao longo do texto autobiográfico, a ser lido ou relido pelo leitor em capítulos anteriores sobre a minha história com A Chave do Sol, eu não repetirei aqui tais considerações. Vou acrescentar apenas alguns comentários pontuais, e claro, com o viés deste disco bootleg, sob os parâmetros de seu lançamento em 2020.  

Bem, cabe antes disso, comentar sobre a capa. Tal trabalho, seguiu o padrão criado pelo meu amigo, Kim Kehl, que foi o responsável pela concepção artística e lay-out da arte de capa, contracapa e label do disco. 

A foto usada para ilustrar a capa, foi fruto da primeira sessão de fotos que realizamos, assim que o vocalista, Beto Cruz, ingressou em nossa banda, em outubro de 1985. O padrão de título e logotipos, seguiu o dos álbuns bootlegs anteriormente lançados em 2020, incluso com a chamativa tarja a deixar claro se tratar de um "bootleg", substituída pela palavra: "pirata" como é mais popularmente conhecido um disco dessas características no imaginário do colecionador brasileiro.

Já na contracapa, há uma outra foto da mesma sessão que foi utilizada, para seguir o mesmo conceito. O título do álbum faz referência ao fato dele conter duas demo-tapes, no caso, as de 1986, que gravamos.

Como variante em relação aos discos anteriores, o Kim utilizou como cores básicas de fundo, matizes de verde e cinza escuro (grafite) e no texto, apresenta uma ficha técnica super sucinta, dada a falta de espaço mais significativo para se contar com um texto mais robusto, como eu gostaria, mas claro que eu aceitei o fato da limitação com resignação.

Sobre o label, trata-se do mesmo padrão, com a cor verde predominante, logotipos da banda, título e o logotipo da Crossover Records que deu o apoio artesanal à produção.

Sobre as canções, eis os meus comentários pontuais, a seguir.

1) Saudade - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Esta versão não contém o rico desenho construído através de um duo de guitarras, arranjo criado para segunda versão, mas em compensação, tem muito mais ganho de áudio e brilho. O som do baixo impressiona pelo timbre.

2) Sun City - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Nesta versão há um excesso de repetições do refrão, fator contraproducente que corrigimos para a versão da segunda demo e que prevaleceu para a gravação do disco oficial, "The Key", a posteriori, em 1987.

3) O Cometa

Gosto muito dessa canção e lastimo que não a tenhamos gravado oficialmente no álbum, "The Key". Há uma sutil diferenciação de andamento entre as partes, o que prejudicou um pouco o balanço do refrão. Do jeito que ficou, mais rápido indevidamente, deixou o refrão duro, sem atrativo.

4) Solange - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Muito boa versão, inclusive a se ressaltar o solo bem melódico feito pelo Beto Cruz, bem desenhado e obviamente todo planejado, previamente.

5) O Que Será de Todas as Crianças? - Versão Demo-Tape de abril de 1986

Versão boa, embora o andamento acelerado em demasia tenha sido uma má escolha de nossa parte, sem dúvida.

6) Forças do Bem

Bem, essa música não deveria ter sido gravada, já falei sobre isso anteriormente, pela obviedade de ser uma peça anti-comercial ao extremo. Mas ela tem alguns atrativos, principalmente em algumas resoluções do seu riff secundário e na concepção do arranjo do solo e a sua inerente base.

7) Saudade - Versão Demo-Tape de outubro de 1986

Aqui, o brilhantismo do arranjo em torno do duo de guitarras logo na introdução da canção (e que se repete ao seu término), foi um nítido sinal de enriquecimento que acrescentamos. Lastimo, no entanto, que o áudio-master dessa gravação esteja inferior ao da demo-tape anterior e mesmo que curiosamente tenha sido gravado em um estúdio melhor e com tempo a vontade para tal efetuarmos a sua produção.

8) Sun City - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Bem, esta versão eliminou o excesso de repetições do refrão, observado na versão anterior e demarcou como a gravaríamos oficialmente no LP The Key, em 1987.

9) Trago Você em Meu Coração - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Boa canção Hard-Rock, com alto teor Pop. Talvez a sua melodia pudesse ter sido melhor burilada para se evitar certos excessos e dessa forma ficasse mais coadunada com a sua intenção radiofônica.

10) O Que Será de Todas as Crianças? - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Esta versão é praticamente igual à da demo-tape anterior. Por que não gravamos oficialmente em um disco essa canção que causava tanta comoção em nossos shows, no período, 1986/1987? Boa pergunta que eu não sei mesmo justificar à luz do tempo passado.  

11) Desilusões - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Trata-se de uma balada Hard-Rock, com ótimo potencial Pop. Ficou fora do disco The Key, mas esta versão da demo-tape chegou a ser executada em emissoras de rádio em 1987.

12) Solange - Versão da Demo-Tape de outubro de 1986

Praticamente igual à versão ouvida na demo-tape anterior, de abril.

CD Bootleg Dose Dupla/1986 d'A Chave do Sol. Faixas 1 a 6 gravadas no Nosso Estúdio em abril de 1986. Faixas 7 a 12 gravadas no Estúdio V em outubro de 1986 com operação de áudio de Clóvis Roberto da Silva. Preparação de áudio, mixagem, capa e lay-out em 2020: Kim Kehl. Apoio fonográfico: Crossover Records. Supervisão geral: Luiz Domingues.

Muito bem, ao final de 2020, a pandemia mundial intensificou-se com a crueldade de uma dita "segunda onda" em muitos países e no Brasil, creio que a primeira jamais foi controlada, portanto, a perspectiva para a concretização daquele show-reunião poder ocorrer logo no início de 2021, para compensar a postergação do que deveria ter ocorrido em julho de 2020, tornou-se bastante improvável.

No entanto, o gradual lançamento dos bootlegs, já a partir de outubro de 2020, suscitou uma série de manifestações da parte de antigos fãs da nossa banda, além de jornalistas e dessa forma, independente desse show realmente se concretizar, abriu caminho para a construção de mais acontecimentos e assim, eu já tenho mais histórias para narrar, certamente.

Continua...

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