quinta-feira, 28 de julho de 2022

Um Mundo Têxtil - Por Luiz Domingues

É algo tão óbvio quando tomamos consciência de como funcionam os costumes mais elementares, no entanto, nessa fase de torpor, a necessidade de se usar o tecido como apoio ao corpo humano, é um costume importante.

A questão da manutenção de temperatura é um fator que intuitivamente o bebê vai notar de imediato, mas vem a reboque a boa sensação de bem-estar motivado pela resolução perfumada no momento do pós-troca de fraldas a interligar a questão da secura e consequente eliminação de odores fétidos.

E além disso tudo, a sensação tátil também vem à tona, com os aspectos da maciez dos tecidos felpudos ou acetinados, ou seja, o prazer de tocar em tais superfícies e a revelar um aprendizado interessante sobre o contato com a matéria.

Mais um fator a ser envolvido é o visual, quando a questão das diferentes cores para cada peça utilizada, certamente nos estimula a começar a entender o processo da vida material.

Mais para a frente, no adentrar da infância, os valores morais e sociais são entendidos certamente, com a questão do pudor a preservar a integridade e também a se acrescentar questão da moda e a reboque o lado ruim dessa perspectiva, a se destacar a discriminação social de quem não pode comprar peças mais requintadas e é maltratado por vestir peças consideradas inferiores. No entanto, esse não é ponto desta crônica e merece reflexão em outro fórum, é claro.

Ainda nessa fase inicial da vida, somos introduzidos à ideia de que o tecido não é apenas um invólucro para o corpo, mas nos cerca por todos os lados. A chamada roupa de cama, mesa & banho, como se costuma dizer e os comerciantes desse ramo de atividade tanto gostam de enfatizar nas suas ações de propaganda.

Entretanto, nessa fase da vida, o contato com os tecidos de uma maneira geral, também causam os seus transtornos. O calor, quando o tecido aquece em demasia, a se mostrar inadequado, é mais do que um incômodo passageiro para quem não tem a mínima noção de como funciona a vida.

Para o bebê, quando esquenta o ambiente, o incômodo é insuportável e mesmo que o adulto perceba rapidamente a inadequação da vestimenta em contraste com a temperatura local e tome a providência para refrescar o seu corpinho, o transtorno é enorme e potencializado pela completa falta de noção do aspecto do tempo, ou seja, pouco importa que a sensação tenha sido observada por poucos minutos ou até segundos, até que o adulto aparecesse para mudar o quadro, pois o que prevalece é a sensação ruim do desconforto.

Sobre os odores fétidos que se impregnam nos tecidos, creio que quando mencionei o perfume que advém das trocas de fraldas, já deixei implícita a ideia desse contraponto. Neste caso em específico, creio que o incômodo por tal tipo de contato extrapola a própria obviedade dessa constatação, ao sugerir o aspecto da potencialização dos odores. A contraposição se dá com a associação do pós-banho com a roupa seca, limpa e cheirosa.

Qualquer manifestação escatológica ao tomar contato com os tecidos em geral, trata por aumentar a graduação dos odores desagradáveis e na percepção do bebê, uma primeira associação, ainda que confusa, é a de atribuir o incômodo ao tecido em si e não à própria natureza humana que produziu aquele estrago, várias vezes ao dia, inclusive.

Neste caso, será que a intuição chega a formatar a associação de que um tipo de tecido é benéfico ou maléfico, ou simplesmente não há tempo hábil para tal impressão tão primitiva influir na percepção do bebê?

Em suma, ao menos na minha experiência pessoal formatada por lembranças difusas dessa fase da vida, o contato com os tecidos de uma maneira geral, representaram um dos mais fortes aprendizados iniciais sobre a minha estada na vida material, ao dar início a uma percepção concreta de que aquela sensação mental tão difusa foi algo mais do que um sonho confuso.

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