sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Drama Deles - Por Marcelino Rodriguez

— Amor, adivinha o que o Flavio nos deu de presente de casamento?
— Não tenho a mínima ideia — responde ele.
— Não quer arriscar?
— Sei lá, um som?
— Não.
— Então, o que?
— Chuta ai? O que Você pediu?
— Nada. Qualquer coisa.
— Bem, ele deu um dvd. E como nos já temos um, vamos vendê-lo e comprar um som.
— Ei, peraí, meu bem, as coisas não são assim; ele foi meu padrinho,
quem decide sou eu.
— Não. Nos estamos precisando de dinheiro.
— Pra que?
— Ora, todo mundo precisa de dinheiro.
— Querida, as contas estão pagas, um som é barato.
— Então manda trocar.
— Jamais. Não vou incomodar o sujeito de maneira nenhuma. Ele já fez muito.
— Ah, se eu encontrar eu vou falar, não tenha nem dúvida, quero nem saber..
— Meu bem, assim não dá, não estou te reconhecendo.
— Você pensa o que, gastei dinheiro nesse negócio.
— Eu, não, por acaso?
— Você quer botar no papel?
— Quero, vamos lá.
— Os móveis?
— A cômoda foi eu, meu bem. A estante também.
— Tá, e fogão, geladeira, sofá?
— Esqueceu a cama de casal, querida?
— Vamos contar então?
— Sacrifício por sacrifício?
— Quem trocou o conforto por essa espelunca?
— Espelunca? Isso aqui é espelunca? Vá casar com o Onassis, minha filha?
— Deixei meus padres, fui meter-me com um artistazinho sonhador,
agora estou nessa atoleira.
— Meu bem, casamento não é negócio.
— Eu não vou ficar com dois dvs, tá ouvindo?

Bem, o fato é que duas horas depois o casal estava em prantos,
sentindo-se miseráveis, ambos irreconhecíveis em lágrimas, pois o
inesperado e valioso presente despertara ambições e sombras em ambos.

Sentiam desejos suicidas, homicidas e fratricidas. Quase sangraram de sofrer...
A noite, a angústia de morte espoucou nele num sonho libertador.

Sonhou que amarrara o dvd ao estômago, como se fosse um terrorista e atirou-se da janela.

Lá embaixo encontrara entre fragmentos do presente, seu
corpo inerte e sorridente, finalmente em paz e no nada que sempre
pedira aos céus.



Marcelino Rodriguez é colunista esporádico do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de vasta e consagrada obra literária, nos brinda mais uma vez com uma de suas crônicas, onde o diálogo dos personagens evoca o vazio das relações banais da sociedade.

3 comentários:

  1. Através do convite de Luiz Domingues, cheguei em seu Blog com curiosidade de ver o desfecho desta historia. É lamentável, a maneira de como as pessoas se comportam na vida a dois, nos relacionamentos estabilizados, porém tão precários no que se diz respeito do respeito ao próximo. Independentemente do fator sexual, a ambição afeta ambos dos quais não possuem a mente preparada e trabalhada para suportar certas situações peculiares e inerentes do ser humano. A paz que é um direito fundamental da pessoa digna, se transforma num elemento bizarro, tanto os homens, quanto as mulheres indignos da paz, são os amantes do dinheiro. São causadores de situações desastrosas no relacionamento. A mulher rixosa, pouco se importa com a necessidade do companheiro, desde que para ela, nada lhes falte. É angustioso saber que um casamento se desfaz por motivos torpes, sendo que a união de duas pessoas é na verdade o complemento de suas personalidades, onde um satisfaz-se com as decisões do outro. Este caráter não é adquirido por fatores familiares, nem sociais, é simplesmente proveniente dela mesma e é transformado posteriormente numa arma imbatível contra o outro, como sinal de esgotamento e sufocamento supostamente causado por aquele. A mulher rixosa e ambiciosa gera desgosto e não passa de um mero objeto para homicídio, seja físico ou psicológico.

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  2. Oi, Aninha !

    Estou muito contente por você ter lido a coluna do escritor Marcelino Rodriguez em meu Blog 2. Antes de prosseguir, já lhe convido para que você também visite o Blog particular dele, onde certamente vai gostar das postagens :

    http://marcelinorodriguez.blogspot.com.br/

    Posto isso, gostei muito do seu comentário. Concordo contigo : De fato, o egoismo motivado pelo materialismo exarcebado, acaba com as relações em todos os âmbitos e não seria diferente na relação Homem-Mulher.

    Uma pena que estejamos todos sujeitos à essa pressão exercida pelo fator financeiro, e suas decorrências nefastas.

    E por fim, estou feliz por ver que além de postar comentário, tornou-se seguidora de meu Blog. Seja bem vinda e fique à vontade para postar seus comentários ricos, sempre.

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  3. Obrigado, Aninha, por seu comentário. Perfeita sua análise.

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