segunda-feira, 21 de março de 2016

Claro & Escuro - Por Luiz Domingues

Para um bebê  com poucos meses de vida, a enigmática incidência da luz, que não só iluminava, mas cegava, ao se olhar para o seu corpo emissor, só não foi mais incompreensível do que a absoluta ausência dela.
 
A escuridão, assustadora sob uma primeira análise, trouxera uma série de outros sentimentos análogos. Não foi apenas o breu, anulado pelas pequenas luzes que inexplicavelmente se acendiam, mas  sobretudo foi nítido o comportamento diferente das pessoas ao redor.
Todos pareciam procurar o aconchego, a evitar a parte externa da casa. Sim, ficara óbvio que o ambiente se tornara mais frio e todos pareciam propensos a fazer poucas atividades ou mesmo nada, nesse estranho período dominado pelas trevas.
 
Tudo fora nebuloso nesse suceder de claro e escuro, a estabelecer uma alternância incompreensível, sem uma lógica plausível para quem tinha pouco mais de um ano de idade, certamente. E também se configurou como uma das minhas primeiras indagações semiconscientes da minha parte, eu diria.
Qual a razão de haver a luz do Sol e também sua ausência? Por que os adultos pareciam não se importar com algo tão contundente em minha confusa percepção de então?
Por que os adultos mudavam os seus afazeres e a repercutir o seu comportamento, conforme cada uma dessas duas fases tão díspares entre si? 
 
Não demorou muito para eu me acostumar com tal dinâmica e passar a absorver com normalidade esse fato da natureza.
Mais que isso, me enquadrar como os demais em comportamentos análogos e repetitivos, a adequar-me. 
 
Biologia, cultura e educação? Sim, tudo isso e muitos outros elementos nessa receita social acachapante.
Em 1961, as noites de outono foram frias na cidade de São Paulo. Havia a famosa garoa que caia fina, e gelada, toda noite.

Meu pai usava chapéu por conta disso e também pela moda que se perpetuava há décadas, como todos os homens seguiam.

Claridade e escuridão se mostravam indecifráveis e perturbadoras, mas não por muito tempo... 

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