segunda-feira, 7 de março de 2016

Autobiografia na Música - Magnólia Blues Band - Capítulo 26 - Por Luiz Domingues

Eu quase fui para uma outra dimensão, mas após doze dias de internação no Hospital São Paulo e duas cirurgias delicadas, eu tive alta parcial no dia 18 de abril de 2015. Por quase quarenta dias, fiquei muito debilitado, a demorar até para andar dentro de casa, quiçá pensar em voltar a atuar com as bandas em que tocava.

Uma oportunidade no final de maio, impulsionou a minha volta, mas para uma apresentação d'Os Kurandeiros (já comentada no seu devido capítulo), Foi um show de choque, bem curto, para os estudantes da Faculdade ESPM. Eu estava ainda muito fraco e mesmo tendo sido curto, foi difícil realizá-lo nesse estado precário em que me encontrava.
Mas com a Magnólia Blues Band, a minha volta só ocorreu no início de junho. No período em que estive ausente, os colegas mantiveram o projeto de pé, a não ser nas duas primeiras semanas, onde houve um cancelamento puro e simples. Mas com as notícias sobre a gravidade do meu caso que chegaram para eles, eis que resolveram convocar músicos substitutos para estabelecer um revezamento, casos de Sérgio Luongo, Rey Bass e Alê Bass e alguns convidados regulares se apresentaram, caso do excelente guitarrista, Claudio "Moco", por exemplo.

Pensei em consultar os amigos e lhes pedir dados concretos sobre datas e nomes dos convidados para anotar aqui, mas ao pensar bem, creio que pelo fato de ser a minha autobiografia, e assim o meu ponto de vista na história toda, isso não faria muito sentido. Creio ser suficiente o que já disse sobre os amigos que gentilmente me substituíram nesses dias difíceis, e a determinação dos colegas: Kim, Carlinhos e Alexandre para manter o projeto em plena atividade, apesar da minha ausência por motivo de saúde.

Mas nesse ínterim, apesar da boa medida de prosseguirem, o projeto sofreu um duro golpe. Denunciado por um vizinho encrenqueiro a casa sofreu uma sanção e a reclamação veio da parte do mesmo indivíduo que reclamava acintosamente do "barulho" que as "Quartas Blues" produziam e que deviam atrapalhar sua atenção às novelas e partidas de futebol na TV. Curiosamente, esse senhor não se queixava das noites de samba e gafieira que varavam as madrugadas do mesmo estabelecimento às quintas, sextas e sábados, com orquestras a tocar ao vivo, com muita percussão e instrumentos de sopro bastante estridentes.

Não gostava de Blues e Rock'n' Roll? O problema seria a guitarra? Ou foi o fato de que nas quartas ele desejava assistir o seu futebol sem solos de guitarra a lhe atrapalhar para torcer e ouvir os locutores e comentaristas esportivos da TV? Talvez um misto das três hipóteses.
Lamentavelmente, desta vez o vizinho incomodado pegou pesado e fiscais do "Psiu", o órgão da Prefeitura de São Paulo que fiscaliza o nível de ruído nos estabelecimentos noturnos da cidade, apareceu e lavrou uma multa pesada, ao lacrar a casa por tempo indeterminado.
Fui informado dessa situação ainda no hospital, enquanto me recuperava e lastimei, é claro. Quando voltei para a casa, a situação foi de cancelamento ainda, mas logo surgiu uma ideia no horizonte.
A casa voltou a funcionar, mas sob um severo controle de emissão de decibéis e o Alexandre Rioli lançou a ideia do projeto voltar sob forma acústica, a minimizar o incômodo com o vizinho, mas a resistir e não permitir que o que fora construído ali, fosse destruído pura e simplesmente.

Nesses termos, sabedores de que nós três, os membros d'Os Kurandeiros e da Magnólia Blues Band, que já havíamos feito apresentações "acústicas" antes em outras circunstâncias, ninguém surpreendeu-se ou receou pelo resultado sonoro que obteríamos em meio a uma ação dessas.
Na primeira experiência que tivemos nesse sentido, em 3 de junho de 2015, fizemos uma apresentação tranquila e até exagerada, pois o Carlinhos não levou a bateria e apresentou-se a tocar um "cajon". 
Instrumento bastante limitado de percussão, faz uma simulação de bateria rudimentar a manter um ritmo, mas quase nenhum baterista gosta de tocá-lo, pela óbvia limitação que ele tem.
Por outro lado, eu estava ainda muito debilitado, mas feliz por estar ali a voltar a fazer parte da "Quarta Blues" e feliz pela recepção calorosa dos amigos e funcionários da casa que certamente souberam do meu problema de saúde. Feliz também por que sobrevivi, estava de volta a tocar e a colocar a minha vida virtual em dia, também, incluso por avançar com a finalização desta autobiobiografia e acredite, amigo leitor, temi pela sua não conclusão e isso me aborreceu bastante no período em que fiquei em suspensão pessoal pela doença e pelo seu desfecho com as possibilidades concretas de um colapso final ou reabilitação muito lenta.  

Portanto, mesmo sendo uma versão bem diferente das mais de sessenta noitadas que havíamos feito anteriormente ali naquele palco, eu estive feliz. E de fato, alheio ao meu problema pessoal, o projeto inaugurava também uma nova fase de sua história.  
O formato "acústico", para adequar-se às necessidades sonoras da casa, tornar-se-ia a nova rotina e a dinâmica de um convidado por semana não existiria mais, formalmente, mas muita gente boa participaria, certamente, no futuro próximo.  E de minha parte, a longa convalescença que passou a determinar que eu tocasse sentado doravante, para me desgastar menos.

Então foi assim a minha retomada para atuar com a Magnólia Blues Band, mediante a presença de um bom público presente e o formato "acústico" a significar na prática: um violão, cajon e o meu baixo plugado direto na mesa do PA, a se evitar o uso do amplificador. No meu caso foi horroroso tocar na linha, porém melhor assim que não tocar, não é mesmo?

Voltamos à rotina, portanto, da tradicional Quarta Blues, e a boa nova, além da minha participação, foi que os fiscais do "Psiu" não apareceram mais e o formato acústico assegurara um nível de decibéis que não havia como incomodar a vizinhança.
 
 
Em 10 de junho de 2015, tocamos novamente nas mesmas condições e chegamos à conclusão de que o cajon limitava demais a sonoridade e que não haveria problema se o Carlinhos usasse uma bateria normal, desde que reduzida, com poucas peças e a usar vassourinhas e não baquetas tradicionais.

Já no dia 17 de junho de 2015, tivemos as primeiras visitas, ainda que não como convidados oficiais como antigamente. Um deles foi o amigo, Fulvio Siciliano que nem precisava de convite, naturalmente. O outro foi surpreendente sob uma primeira instância, mas logo descobrimos a sua razão de ser.  

Um rapaz apareceu com uma guitarra na mão e ninguém o conhecia. Ele ficou ali sentado a assistir e parecia esperar para ser chamado para atuar conosco. O seu nome era: Guilherme Ramazotti.

Só tempos depois soubemos pelo Alexandre, que uma promoção houvera sido feita pelo site da casa, e o tal garoto fora o contemplado a assistir e participar da jam-session, mas tal informação chegou confusa para nós e daí a nossa surpresa e também para ele, pelo visto, já que estávamos nessa fase acústica, e ele ali com uma guitarra elétrica em mãos, de fato, não haveria como participar. Mesmo assim, Fulvio Siciliano foi gentil e emprestou sua guitarra semi-acústica e o rapaz tocou.
Da esquerda para a direita: Kim Kehl, Guilherme Ramazotti, Alexandre Rioli, Fulvio Siciliano, Luiz Domingues e Carlinhos Machado

Na semana seguinte, uma nova fase do projeto começaria, mas desta vez, por um fato espontâneo e que marcaria uma fase bastante prazerosa para todos. 
Continua...

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