sábado, 6 de agosto de 2016

Por Que Nem Tudo é Brinquedo? - Por Luiz Domingues

Nesses meses iniciais de existência, tudo é absolutamente fascinante, e também confuso. Formas, cores, luzes, pessoas...
Não demora a se chegar em um estágio onde os adultos penduram artefatos coloridos no seu berço e propositalmente, colocam objetos ao seu alcance. O momento de experimentar a sensação tátil de segurar tais peças chegou e agora não apenas você é livre para manuseá-los a vontade, como também torna-se questão de tempo e força, para descobrir o prazer do livre arremesso.

Se somos acrobatas pela habilidade de colocarmos o pé na cabeça, ao estabelecermos uma autêntica performance circense, também somos bons na prova do arremesso de disco ou dardos...
Instigantes são os formatos desses objetos. Vai demorar para identificarmos e decorarmos os nomes e os seus correspondentes na vida real. Sim, porque a ideia em via de regra, é a de que tais pequenos volumes simulem seres vivos e/ou objetos que existam na vida real, ou que no mínimo façam uma caricatura da realidade.

Bem, pouco importa nessa fase da vida saber com exatidão o que é um carro, caminhão ou uma espécime do Reino animal.

Aliás, o que é um bicho? O que significa um Ser Humano? 
Muitos anos depois e poderemos chegar a questionar a falta de humanidade e o caráter animalesco de certos humanos, mas isso é preocupação bem para o futuro.
 
O importante nessa etapa da vida é explorar os aspectos táteis desses objetos que os adultos nos fornecem. Alguns são bem coloridos, portanto chamativos. Outros produzem ruídos engraçados conforme os tocamos e essa é mesmo uma fase de experimentações a esmo, desprovidos de qualquer senso lógico, nenhuma conjectura racional a nos basear. Apenas apertamos os objetos e gostamos da sensação de tal manipulação, pelo contato com a borracha, o material plástico ou seja lá de que forem feitos.
 
Gostamos das suas cores e formas e também dos ruídos que emitem. Ou não, às vezes. Há os que antipatizamos e não há explicação alguma para tal. Não nessa época. Simplesmente não simpatizamos com a fachada de um ou outro, simples assim.
A falta de qualquer vínculo com normas é extraordinária nessa fase da vida. Se não gostamos, simplesmente o arremessamos para longe. Se o adulto insiste em querer que gostemos de algo que não nos agrada, basta chorar para mostrar o desagrado.

Passa mais um tempo, não muito por sinal e já estamos a engatinhar e assim esboçarmos os primeiros passinhos. Diante dessa possibilidade de locomoção, um novo leque de oportunidades se abre. Aí começa um conflito e tanto.
Os adultos passam a nos repreender, ao alegarem que alguns objetos são liberados para nós manipularmos, mas a maioria dos artefatos que contém formatos interessantes e cores chamativas, não o são.

Que confusão isso cria para o nosso entendimento...

Por que não se pode mexer a vontade no que quisermos? Não foi assim a predisposição até bem pouco tempo atrás? 
Pois agora há sempre um adulto por perto a nos dizer que não devemos pegar a maioria dos objetos interessantes do Lar.

Não demora, e o conceito que cerca a palavra “brinquedo”, nos é falado à exaustão. Alguns objetos são brinquedos, mas a maioria não, e os que não o são, em hipótese alguma podem ser tocados.

No entanto, qual a diferença entre um brinquedo e o que não um é brinquedo? Essa é a primeira pergunta que nos ocorre e segundo ponto: se já conhecemos os ditos “brinquedos”, por que nos impedem de explorar outras possibilidades?

Agora eu sou adulto e claro que entendo o posicionamento, mas com poucos meses de vida, é difícil ao extremo entender porque somos estimulados a tocar em certos objetos e duramente repreendidos se tocamos em outros, considerados inadequados.

Visto pelo ponto de vista de adulto, isso é inquestionável, claro. 
Mas ao pensando na experimentação livre de quando somos bebês, onde tudo é absolutamente novo e interessante a nos chamar a atenção, a incompreensível distinção entre o que se pode pegar e o que não pode, é uma das primeiras angústias da vida.

2 comentários:

  1. exatamente isso, meu querido Luiz! Trabalho com os pequenos e sei bem... por isso deixo que eles mexam no meu violão, a vontade! rs...

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    1. Como mencionei na crônica, uma das primeiras angústias da vida...faz bem, portanto em deixar os pequenos mexerem no violão, explorando a sonoridade e despertando-lhes a curiosidade.

      Super feliz com sua atenção e comentário !

      Abraço, Tata !!

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