quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Mãe é Mãe - Por Luiz Domingues


Desde pequenos, os irmãos, Elliot & Ted Buscarff, demonstravam terem nascido com talento para as artes. Costumavam entreter os pais, avós e demais parentes em animados saraus, quando ainda mal sabiam pronunciar as palavras corretamente, através de declamações de poemas criados através da sua livre criação, pequenas atuações em sketches teatrais por eles mesmo inventadas e a cantarolar canções folclóricas de sua terra, ouvidas e absorvidas desde o berço. 
 
Dessa forma, o que se desenhou como uma tendência, confirmou-se assim que entraram em idade escolar e ali no ambiente estudantil, os irmãos tornaram-se o centro das atenções, ao angariar a simpatia do quadro de professores, da maioria dos colegas e também a inveja de uns poucos, que assim, tornaram-se os seus desafetos declarados.
 
Um pouco mais de tempo passou e no calor dos hormônios efervescentes da adolescência, eis que a animosidade de seus desafetos cresceu ainda mais, na medida em que além do talento, os irmãos mostravam-se bem apessoados e assim, a atenção das meninas, em demasia, tratou por acirrar ainda mais os ânimos para aqueles poucos que não sentiam-se tão talentosos e atraentes e assim nutriam inveja em relação aos irmãos.
Os rapazes, apesar de estarem acostumados com os elogios por conta de seus talentos artísticos e agora também pela beleza física que causava frisson entre as meninas, não eram convencidos, ainda bem. Eram garotos não exatamente humildes, pois sabiam do seu valor e cultivavam um sentimento de autoestima bem elevado, mas longe dessa postura caracterizar algum tipo de altivez e soberba, isso nem pensar. 
 
Dessa forma, ambos andavam com a cabeça sempre erguida, mas nunca menosprezaram nenhum colega e isso só fazia aumentar o seu prestígio, principalmente entre os professores da escola onde estudavam. 
Todavia, curiosamente, um membro da sua família cultivara um sentimento mais exacerbado sobre os meninos e nem pode-se condenar exatamente essa pessoa pelos seus arroubos extravagantes em torno do enaltecimento de Elliot e Ted, visto tratar-se de sua progenitora. 
 
Miss Esther Buscarff, tornara-se famosa no meio social em que convivia, pelos excessos que cometia em prol do enaltecimento de seus filhos. Em princípio, as pessoas achavam normal que ela mantivesse muito orgulho de seus meninos, pois eles eram realmente talentosos. 
 
Passou um tempo e ao verificar que ela intensificara as suas manifestações, as pessoas comentavam que talento comprovado a parte, os excessos por ela cometidos, ficavam por conta do fato dela ser mãe e que nesse caso, o exagero justificara-se. 
 
No entanto, a reação de Miss Esther intensificava-se progressivamente, à medida que os garotos cresciam e assim, quando eles passaram a serem assediados pelo contingente feminino, com outras conotações e/ou intenções, as pessoas passaram a considerar folclóricas as reações dela, ao notar o histrionismo em suas declarações.
Pois o auge dessa situação, deu-se quando um colega dos irmãos Buscarff, fez uma visita à residência da família, sob convite de Elliot & Ted. No entanto, ao chegar um pouco mais cedo do que o combinado, os irmãos não estavam presentes e assim, Miss Esther o recebeu e fez-lhe companhia enquanto os seus filhos não chegavam. 
 
Nessa conversa informal que travou-se no ambiente da sala de estar da residência Buscarff, Miss Esther passou a falar a respeito de seu assunto predileto: sobre os seus filhos. 
 
Até aí tudo bem, o jovem, Dean era amigo de fato dos irmãos Buscarff, também admirava o talento de ambos e conhecia bem a fama da mãe deles, ao exagerar nos elogios que costumava fazer aos seus filhos. Todavia, em dado instante da conversa, Miss Esther empolgou-se e narrou a seguinte situação:
-“Sabe, Dean ? Eu não sei mais o que fazer. Os meus filhos são talentosos e muito lindos. As meninas aparecem na porta da nossa casa, todos os dias. Chega-se ao ponto de formar uma fila, com tumulto. Elas choram, descabelam-se... eu fico com muita dó de ver o desespero delas, apaixonadas pelos meus meninos... mas o que eu posso fazer, se tenho apenas dois? Eu queria ter tido mais galãs para dar conta, mas só tenho os dois”...

Dean ouviu o relato com muito respeito e de forma alguma debochou de Miss Esther pelas suas costas, ao narrar o ocorrido em tom de escárnio (como muitos o fariam, no pátio da escola, no dia seguinte). 
 
E apesar de também ser ainda um adolescente imaturo, ele já mantinha um grau de discernimento quase ao nível de um adulto, o suficiente para deduzir que todo o exagero perpetrado por Miss Esther, fora uma típica reação maternal. 
 
“Mãe é mãe”, pensou Dean. No caso de Miss Esther Buscarff, no entanto, isso podia ser calculado ao quadrado, certamente.

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