segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 415 - Por Luiz Domingues

Montagem de fotos do Rubens Gióia feita pelo fã, Alejandro Daniel Marin, assim que ele soube da perda do Rubens em 15 de janeiro de 2021 e postado no seu perfil da Rede Social Facebook

O choque pela notícia bombástica, triste, chocante, foi duplicado, na verdade, pois a informação sobre o seu estado de saúde pregresso, com direito a uma longa internação, não fora divulgado, portanto, quando vazou a notícia do seu falecimento, foi um choque generalizado e com o poder da surpresa absoluta, evidentemente.

Bem, com aquela sensação muito ruim de aperto no coração e enjoo estomacal típico de quem acabou de receber uma notícia ruim sobre a perda de um ente querido, lá fui eu pesquisar na internet e logo pude comprovar a informação, com diversas pessoas a publicarem e repostarem reportagens a dar conta do falecimento do Rubens, sob uma velocidade bem grande, para que não pairasse nenhuma dúvida sobre a veracidade do ocorrido, infelizmente.

Revista Roadie Crew – Ricardo Batalha

https://roadiecrew.com/morre-o-guitarrista-rubens-gioia-a-chave-do-sol/

Rádio Kiss FM Informativo on line

https://www.kissfm.com.br/morre-rubens-gioia-guitarrista-do-banda-a-chave-do-sol/

Site WikiMetal – Nando Machado

https://www.wikimetal.com.br/morre-rubens-gioia-a-chave-do-sol-patrulha-do-espaco-santa-gang/

Site RoadieMetal – Gustavo Troiano

https://roadie-metal.com/a-chave-do-sol-morre-o-guitarrista-rubens-gioia/

Site Ligado à Música – Marcos Chapeleta

http://ligadoamusica.com.br/rubens-gioia-guitarrista-de-a-chave-do-sol-morre-aos-67-anos/

Site Wiplash – Bruce William

https://whiplash.net/materias/news_735/327852-chavedosol.html

Revista Rock Brigade on line

http://rockbrigade.com.br/xxx/morre-rubens-gioia-exa-chave-do-sol-e-patrulha-do-espaco/

Revista Dynamite on line

http://dynamite.com.br/morre-rubens-gioia-guitarrista-da-chave-do-sol/

Em questão de minutos, o blogueiro Carlos Retamero já soltou essa imagem acima em seu Blog 2112, em sinal de condolência pelo Rubens.

Bem, além da avalanche de notícias vindas da mídia especializada, a quantidade de manifestações oriundas da parte de pessoas físicas pelas redes sociais, foi enorme. Nesse ínterim, a informação mais reservada que eu havia recebido, houvera vindo da parte da companheira dele, Valéria Namur, que fora a sua acompanhante em seus últimos dias na longa internação que ele teve no hospital São Camilo, no bairro da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo. 

Segundo o emocionado áudio que ele enviou para o whtasApp d'Os Kurandeiros, através do contrato prévio que fizera com a nossa produtora, Lara Pap, o Rubens fora internado com um grave problema de ordem gastrointestinal e tal mal se agravara após duas cirurgias, uma delas feita naquela semana e que não conteve o avanço da doença sobre o seu intestino e que lhe gerou uma infecção generalizada.  

Fora uma opção familiar não repassar a informação sobre a doença e agravamento do estado de saúde dele e mesmo por que, com a situação da pandemia mundial ainda em grave curso, certamente que o hospital não toleraria a presença de visitas, portanto, de nada adiantaria alertar os amigos em geral, certamente com a boa intenção de que ele superaria a crise e ao ter alta, pudesse então receber visitas em sua residência, se bem que com a ressalva óbvia de que a pandemia ainda estava a nos atacar com um alto grau de periculosidade.

Por último, o áudio enviado pela Valéria também serviu para que ela nos passasse as coordenadas sobre o velório e cerimônia de sepultamento. Ele seria velado por um espaço mínimo de horas em uma Igreja de orientação protestante, a denominação Batista, no caso e templo esse que era frequentado por sua família há décadas e cujo patrono in memoriam era (é) o próprio tio dele, irmão do seu pai e pastor fundador ali. Pelo que entendi, a cerimônia seria fechada para a família, sem a presença de amigos e tampouco admiradores dele como artista, fãs d'A Chave do Sol, de outros trabalhos que ele fez em sua carreira ou pessoas ligadas ao meio artístico de uma forma geral.

Naturalmente que mesmo atônito com a notícia, eu soube que precisava emitir uma nota pessoal minha e assim, parei, respirei e sob profunda comoção, escrevi um texto relativamente longo para o padrão das redes sociais, mas foi absolutamente necessário em minha avaliação. Tal postagem sensibilizou muito as pessoas, houveram mais de 870 participações com comentários estarrecidos da parte das pessoas que gostavam do Rubens e da sua obra artística. Eis abaixo, a íntegra desse texto:

Amigos: hoje, 15 de janeiro de 2021, eu tive a duríssima notícia do falecimento do meu amigo e companheiro de uma bela jornada na música, o guitarrista, Rubens Gióia. 
 
Nos conhecemos por volta de junho de 1982, e identificados por termos os mesmos ideais em torno do Rock, fundamos juntos com José Luiz Dinola, a nossa querida banda, A Chave do Sol, em julho. Em setembro de 1982, fizemos o show de estreia e dali em diante, construímos uma obra em conjunto. 
 
Tivemos ótimos momentos de alegrias compartilhadas, obras eternizadas para nos orgulharmos, rimos muito, choramos perdas, trabalhamos intensamente e sobretudo, sonhamos coletivamente em perfeita sintonia.
 
Como guitarrista, Rubens foi um talento nato, forjado pelas mais lindas tradições do Rock das décadas de cinquenta, sessenta e setenta. Entre tantas influências fortes que teve, cito músicos como: Jimi Hendrix, Johnny Winter, Carlos Santana e Alvin Lee, sobretudo, mas ele admirava outros, igualmente, Leslie West, por exemplo e que também nos deixou recentemente.
 
Ele também teve uma bela história com outras bandas. Foi tripulante da nobre nave da Patrulha do Espaço, esteve em uma formação da Santa Gang e participou do Yankee.
 
Ao final de 2019, nós articulamos juntos um show reunião d'A Chave do Sol e que teve como data acertada pelo produtor Geraldo Guimarães, nosso amigo em comum, "Gegê", o dia 15 de julho de 2020. Para tal, produzimos uma série de seis bootlegs da nossa banda a conter material raro e oriundo de gravações preservadas em fitas K7 e que seriam lançados no dia desse show, que aconteceria no Teatro Cacilda Becker do bairro da Lapa, em São Paulo. Ele estava feliz pela possibilidade do show e pelos discos bootlegs que resgatam muitas pérolas escondidas da nossa história, incluso material inédito, não gravado em discos oficiais.
 
Infelizmente, fomos surpreendidos pela pandemia mundial e a esperança foi que superássemos essa situação para remarcarmos o show para quando fosse seguro e possível para todos, em algum dia de 2021, mas hoje, 15 de janeiro de 2021, esta possibilidade foi ceifada. Uma grande pena para nós e todos os fãs do nosso trabalho.
Contudo, pior que isso é saber que o amigo não está mais entre nós, isso sim, nos dilacera.
 
Agradeço à todos os amigos e admiradores d'A Chave do Sol que enviaram-me votos de condolências, reservadamente pelo inbox do Facebook e por outras redes sociais. Acreditem, cada mensagem dessas é um alento para suportar a dor. 
 
A Chave do Sol foi um sonho que ele acalentou desde a sua tenra infância ao ouvir os discos de seu irmão mais velho, Rafael (e este que também não está mais entre nós) e certamente que ele concretizou tal aspiração, com todos os méritos.
 
Desejo força para a família dele: sua mãe, filho, companheira, irmãs, cunhados e sobrinhos. Aos amigos e colegas de jornadas na música e no radialismo, onde ele também escreveu uma história bonita através do seu programa transmitido pela Webradio MKK (Blog do Rubão) e no cerimonial do governo municipal onde ele prestou um serviço relevante à nossa cidade de São Paulo.
 
Descanse em paz, meu amigo. "Um minuto Além" e nos encontraremos novamente em meio à "Luz"!
 
Luiz Domingues
 
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Bem, eu captei a intenção da família e jamais desrespeitaria tal determinação firmada por seus membros em um momento agudo de dor. Mas ao mesmo tempo, como eu poderia não comparecer ao seu velório para uma última homenagem e despedida? Mesmo com essa vontade soberana da sua família, eu resolvi comparecer e precisava avisar pelo menos outras duas pessoas que foram muito próximas dele: José Luiz Dinola e Julio Revoredo. O Dinola me disse ter ficado chocado, mas que não iria ao velório, ao alegar que não gostaria de se lembrar do Rubens de outra forma que não fosse com ele em vida e não prostrado em um caixão. Claro, um sentimento a ser respeitado, eu não contestei de forma alguma. 

Liguei para o Julio e a reação de choque foi a mesma, pois pior ainda, ele estava com o seu computador quebrado naqueles tempos, portanto, ficara alheio às informações que abundavam a blogosfera naquele instante. E o Julio também alegou preferir não comparecer ao velório, para guardar em sua mente apenas as suas lembranças com o Rubens de momentos alegres que ele vivenciou em conjunto.

Julio Revoredo preparou essa singela homenagem ao Rubens (foto acima), momentos após ter sabido da sua morte e publicou tal desenho alguns dias depois em sua rede social Facebook.

Bem, por ser notívago por natureza, para que eu pudesse estar às 8:00 horas da manhã no salão da Igreja sugerida, e esta a estar localizada no bairro do Catumbi, na zona leste de São Paulo, eu evidentemente não dormi e assim, logo que amanheceu, pus-me a caminho para usar o metrô. Da estação Belém, até o quarteirão da igreja, eu caminhei bastante, pois se trata de um bairro vizinho, mas mesmo assim, fui o primeiro a chegar ao templo. 

Bem recebido por uma simpática funcionária da faxina e pelo técnico de som que fazia testes com o equipamento sonoro do templo, eu fiquei enfim por quase noventa minutos sozinho na presença do corpo do meu amigo que nos deixara horas antes e então, pude meditar sobre tudo o que passamos, as nossas conquistas, os sonhos que tivemos e o esforço empreendido sob ajuda mútua que motivou o fato concreto de que tenhamos deixado um legado juntos com A Chave do Sol. E claro, vibrei muito por ele, para que a sua passagem da vida material para uma outra realidade, fosse a mais amena possível.

Rubens Gióia ao vivo em uma homenagem que o grupo Heavy-Metal "Viper" lhe fez anos atrás e com direito a uma foto do compacto de 1984 d'A Chave do Sol, no telão. Click de Dener Ariani

Tempo de pandemia, é claro que fui ao triste evento devidamente mascarado e quando as irmãs do Rubens chegaram, ambas simplesmente não me reconheceram. Tudo bem, eu envelheci, estava bem grisalho e diferente da imagem que elas guardavam da minha aparência e ainda por cima mascarado foi que se tornou difícil mesmo para elas saberem quem seria aquele velhinho cabeludo. 

Além do mais, o sofrimento de ambas, assim que adentraram o salão foi tamanho, que tal detalhe tornara-se irrelevante e assim, eu apenas limitei-me a responder para a Rosely Gióia que indagara-me sobre quem eu seria, que eu estava ali por que tocara com o irmão dela por muitos anos. Mais tarde, no avançar da noite, eu fui procurado pelo inbox da rede social Facebook por ambas, com o intuito de pedirem-me desculpas por não haverem me reconhecido, mas foi óbvio que eu entendi a confusão gerada e relevei completamente o esquecimento delas. Isso não foi nada ante o sofrimento que ambas experimentaram naquele dia, portanto, me solidarizei completamente.

Bem, a cerimônia conduzida pelo pastor responsável foi bastante respeitosa e dentro dos parâmetros daquela denominação religiosa, portanto eu considerei normal que ali naquele ambiente, não houvesse nenhuma citação ao lado artístico do Rubens, sobre o seu legado, a sua merecida fama adquirida etc. Bem, a ênfase foi no aspecto familiar e religioso da sua família, uma tradição que veio do seu tio e do pai etc. e tal. Tudo bem, em paralelo, a comoção no mundo do Rock foi grande e ele foi agraciado com inúmeras homenagens e isso perdurou por bastante tempo, aliás.

Já dia seguinte à sua morte, no dia do sepultamento (16 de janeiro de 2021), o programa: "O Contrário de Nada é Nada" da webradio Plano B, anunciou um micro-especial a tocar músicas d'A Chave do Sol e da Patrulha do Espaço para homenageá-lo, com a boa produção de Rafa Bee.

Bem, fui de carona no carro de Valéria Namur, a seguirmos a viatura fúnebre quer transportou o corpo de Rubens, da igreja Batista no Catumbi até ao cemitério do Araçá, perto da estação Clínicas do Metrô. Ali não haveria uma outra cerimônia e a ordem em tempos de pandemia foi descarregar o caixão do carro e conduzi-lo diretamente ao jazigo da família e com um restrito número de pessoas a acompanharem tal desfecho. 

Então, me despedi dela que estava sob um sofrimento intenso e também do filho do Rubens, o valoroso, Rubinho Gióia, com o qual eu pude falar um pouco ainda no templo. Deixei claro para o jovem que o adicionaria nas redes sociais e que ele assumiria em lugar de seu pai como legítimo herdeiro, sobre os eventuais lucros obtidos pela venda dos recém lançados discos bootlegs da nossa banda. 

Bem, outras homenagens advieram rapidamente. Como era bem sabido de todos, o Rubens mantinha um programa radiofônico semanal na webradio MKK, chamado: "Blog do Rubão" e com a competente produção de seu próprio filho, Rubinho Gióia. 

Então, a emissora abriu espaço em outra atração sua, o programa: "Sampa Clipping", para reproduzir na íntegra duas edições do programa "Blog do Rubão" e assim ocorreu nos dias 18 e 25 de janeiro de 2021, quando pudemos ouvir a voz do Rubens por mais duas vezes e bem no estilo dele, culto, a escolher um tema ("medicina" e "mulher", nestes específicos casos dos programas repetidos), para sugerir músicas com analogia com tais motes e a fazer inúmeras citações poéticas, filosóficas e até científicas sobre cada tema proposto e a discriminar os nomes dos homens e mulheres célebres que deixaram tais aforismos inscritos nos anais da história. Claro que isso foi fruto da boa produção do seu filho na base da pesquisa, mas eu conhecia e convivi bastante com o Rubens e atesto, ele sempre teve tais citações na ponta da língua, pois foi um homem culto em vida.

De 23 a 29 de janeiro de 2021, o radialista, Julio Cesar Souza fez a sua bela homenagem ao Rubens, através do seu programa: "Só Brasuca" na Webradio Crazy Rock. Na programação, ele selecionou músicas d'A Chave do Sol, Patrulha do Espaço e Yankee, bandas em que o Rubens participou como guitarrista, cantor e compositor.

Programa É Noise – Paulinho Heavy

https://www.youtube.com/watch?v=zRJDmwyB80s

Rockbrasileiro.net – Cesar Gavin

https://www.rockbrasileiro.net/2021/01/um-minuto-alem-para-o-guitar-hero.html

https://www.miltonmedusa.com.br/guitar-heroes-br-metal/

Site Milton Medusa – Guitar Heroes anos 1980

https://www.miltonmedusa.com.br/guitar-heroes-br-metal/

Blog A Chave do Sol – Will Dissidente

http://achavedosol.blogspot.com/2021/01/rubensgioia.html

Blog A Chave do Sol Mensagem de Luiz Domingues

http://achavedosol.blogspot.com/2021/01/luizdomingues.html

Nos dias 6 e 13 de fevereiro de 2021, o guitarrista superb, Milton Medusa usou o seu programa: "Guitarras & Rock'n' Roll", através da webradio "A Música Venceu" para homenagear o Rubens, com muita ênfase, fã declarado d'A Chave do Sol que ele sempre foi. 

E a mensagem do Rubinho Gióia, ainda no velório de seu pai, certamente jamais sairá da minha memória: -"o meu pai estava feliz com a possibilidade do show (que não ocorrera em julho de 2020, mas ainda estava de pé para ocorrer, por conta da pandemia da Covid), e também eufórico pelo lançamento dos Bootlegs".

Poxa, que pena, não deu tempo para que ele pudesse usufruir desse momento de alegria, com uma retomada de proeminência da nossa banda, perspectiva de shows, resgate de material raro, barulho na mídia, enfim, uma lástima que cortou-me o coração. Acho que ele nem chegou a ver os dois últimos discos da coleção dos bootlegs, pois pelo que eu soube, quando a segunda remessa de discos que eu lhe enviei chegou à sua casa, via correio, ele já estava internado.

Bem, a história prosseguirá, justamente por que a repercussão dos Bootlegs seguiu a abrir portas para a nossa velha banda e assim, a gerar mais histórias.

Descanse em paz, Rubens Gióia! Muito obrigado por aqueles cinco anos intensos de 1982 a 1987, pelos sonhos compartilhados, realizações e legado.

Continua...

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