quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 423 - Por Luiz Domingues

Bem, de julho a outubro de 2021, a nossa banda não teve mais novidades, a não ser quando houve a execução de uma música nossa ("Sun City"), na edição 246 do programa "Só Brasuca" da Webradio Crazy Rock, com sete execuções marcadas entre os dias 2 e 8 de outubro de 2021.

E também quando o fã e amigo, Beto Ribas, me abordou na rede social Facebook para pedir a minha contribuição no sentido de que eu citasse uma frase extraída de qualquer letra de música nossa que eu considerasse emblemática a representar a banda. A intenção dele foi usar tal frase extraída de um verso de qualquer letra de nossa autoria, para fazer parte de um painel que tencionara criar para homenagear A Chave do Sol.

Ora, fiquei feliz pela sua percepção e sobretudo por conta da intenção de nos presentear com tais peças publicitárias.

Dessa maneira eu recebi a incumbência de tal escolha e na prática, eu poderia ter sugerido diversas outras frases extraídas de letras das nossas músicas. Letras que eu mesmo (Luiz Domingues) escrevi, com teor espiritualizado como "Luz" ou mesmo coadunada com preocupação ecológica, como "Intenções" e que neste caso, mantém no seu bojo uma visão muito particular minha, sob o teor hippie/humanista a respeito do papel da humanidade na preservação do meio ambiente. 

Letras mais diretas escritas pelo Beto Cruz também contém certas frases que poderiam representar aforismos fortes sobre o cotidiano e no caso de: "A Chave é o Show", por exemplo, há todo aquele sentido de auto-enaltecimento da nossa própria banda, que embora eu reconheça ter sido uma postura um tanto quanto altiva da nossa parte, ao ter colocado essa peça de forma pública e oficial em um disco na ocasião em 1987, esta canção possua mesmo assim, o lado poético do nosso pensamento sobre o papel da banda naquele contexto dos anos 1980 em relação aos admiradores do trabalho. Portanto, uma frase extraída dessa letra poderia suprir bem a necessidade de Beto Ribas de usá-la para formatar os cartazes.

E faltou falar sobre uma terceira hipótese, que tem muito a ver com a construção da carreira da nossa banda, no sentido da utilização de poemas oferecidos por colaboradores, e no caso, Edgard Puccinelli Filho e Julio Revoredo foram artistas das letras proeminentes em tal apoio.

No caso do Edgard, a sua contribuição foi única nesse sentido, com a criação da letra da música: "Anjo Rebelde" que está registrada em nosso EP de 1985 e para quem leu a minha autobiografia e em específico sobre a minha história com A Chave do Sol, sabe bem que ele já tinha esse poema escrito e o declamava em diversas ocasiões em público, muito tempo antes de nos cedê-lo para que o musicássemos. De fato, há frases ali que poderiam ser usadas para estes cartazes anunciados por Beto Ribas em 2021.

Contudo, eu acredito que se eu buscasse uma frase em meio às letras que o Julio Revoredo escreveu para musicar algumas peças do nosso repertório, eu faria uma escolha bem sofisticada e profunda para representar a nossa banda em tal empreitada proposta por Beto Ribas.

Então eu nem precisei ponderar muito, pois sempre gostei muito de um verso da canção "Ufos", que eu considero um aforismo, tamanha a sua força por si só e que revela, por conseguinte, uma consideração de cunho filosófico e com o peso da metáfora a aludir ao aspecto metafísico e ouso dizer, com teor transcendental.

Nesses termos, eu escolhi o verso: "A Humildade é o Caminho para a Felicidade Superior", ou seja, uma frase impactante que eu considero muito expressiva e que vai de encontro à minha visão de vida, sempre amparada pelos ideais da contracultura hippie sessentista, sob o viés da igualdade e fraternidade entre os homens. 

E assim, eu comuniquei de pronto a minha escolha para o Beto Ribas que no mesmo dia já me enviou o cartaz montado com a frase criada por Julio Revoredo, em destaque e sob diferentes versões em termos de cores, para ser usado sem restrições para ações de divulgação ao meu livre critério. Muito bem, agradeci ao Beto Ribas e fica registrada aqui nesta parte da minha autobiografia, que fique ad eternum tal gratidão da minha parte e que certamente me emocionou.

Em dezembro, o amigo e apoiador da nossa banda, Beto Ribas, preparou mais três painéis para homenagear A Chave do Sol, a fazer uso da foto que usamos para ilustrar o bootleg "Teatro Piratininga/SP 1983", oriunda do álbum de fotos desse show que fizéramos em abril de 1983. Obviamente que fiquei feliz com tal presente de final de um ano tão dramático para a nossa banda, em função do desaparecimento do nosso cofundador e mentor do nome da banda, Rubens Gióia.

Bem, além dessas ações publicitárias, nada mais relevante ocorreu para a nossa banda até o término de 2021, a não ser uma última ação midiática, quando a convite da webradio Orra Meu, eu representei A Chave do Sol mediante um curto depoimento em um especial de fim de ano que essa emissora apresentou, com a inclusão da nossa clássica peça, "18 Horas" a nos ilustrar sonoramente a falar.

Encerrado o relato sobre o final de 2021, cabe aqui uma pequena reflexão para sintetizar o que a nossa velha banda tão atuante nos anos 1980, protagonizou nesse tempo mais adiante, com o século XXI em curso.

Em 2020, surgiu a oportunidade de um show reunião com a formação original do nosso Power-Trio básico. Estava tudo certo e faríamos enfim o espetáculo tão esperado por nossos fãs, desde 1987.

Entretanto, a pandemia mundial decorrente da ação do Coronavírus se agravou sobremaneira e adiou o nosso plano. Por outro lado, eu mesmo em pessoa me esforcei para incrementar o lançamento dos seis discos bootlegs alimentados por áudios raros que eu mantive guardados por anos a fio através de jurássicas fitas K7. Portanto, mesmo com o adiamento do show anteriormente marcado parta julho de 2020, eu tomei a providência de produzir e lançar os seis discos que seriam na verdade revelados no dia do show a seguir a minha planificação inicial. 

Tive o apoio decisivo do meu amigo e companheiro d'Os Kurandeiros, Kim Kehl nessa produção, que colocou a mão na massa para trabalhar o áudio que alimenta tais discos e criar a arte das capas dos seis álbuns piratas e históricos para reforçar a discografia da nossa querida banda. 

Outra ação importante foi ter criado a linha de almofadas a conter todas as estampas com capas de discos d"A Chave do Sol, graças ao esforço e arte de Amanda Fuccia e posteriormente registrado em fotos pela lente da sua mãe, Ana Fuccia.  

Tanto o lançamento dos discos, quanto das almofadas, seriam itens para ilustrar materialmente o show de 2020, mas com o advento da pandemia mundial, tal evento ficou postergado sine die. Entretanto, com a notícia terrível que tivemos em 15 de janeiro de 2021, a dar conta do falecimento de Rubens Gióia, eis que a questão da pandemia passar ou não o quanto antes, não impactou mais a resolução de se promover o show reunião da nossa banda em sua formação original, pois ao perdermos Rubens Gióia, tal ideia foi enterrada junto com ele, de forma triste.

Essa banda também foi/é minha (Luiz Domingues) e do José Luiz Dinola, igualmente e podemos acrescentar os cinco vocalistas que fizeram parte da formação ao longo da nossa carreira, notadamente Verônica Luhr, Fran Alves e Beto Cruz com um pouco mais de proeminência por questões óbvias e amplamente relatadas ao longo da minha autobiografia, embora Percy Weiss e Chico Dias também façam parte dessa história. 

Todavia, é bem sabido que o nome dessa banda foi uma concepção do nosso guitarrista, Rubens Gióia e muito mais que isso, representara a sua percepção lúdica e onírica de um sonho que acalentara desde criança, e neste caso, para ser específico, falo sobre algo que ele fomentara entre 1969 e 1970, ali com seis a sete anos de idade apenas, no sentido de sonhar com a formação de uma banda de Rock. 

Portanto, essa banda foi a priori a concretização do seu sonho infantil e aí sim, somada ao esforço de valorosos companheiros, eu incluso, se formatou efetivamente no ano de 1982, cresceu, lutou, sofreu, teve ótimas conquistas ao longo dessa década e deixou o seu legado muito bonito, ao ponto de manter fãs apaixonados da sua obra e história nos anos e décadas posteriores. Pois se escrevo este trecho ao final de 2021, não é notável que a nossa banda que encerrara atividades no longínquo ano de 1987, ainda despertasse tanta comoção, trinta e quatro anos depois e a se levar em conta que vivíamos em um mundo efêmero, no qual tudo era esquecido e considerado obsoleto, instantaneamente? 

É portanto, motivo de orgulho de minha (nossa) parte, sim e qualquer manifestação de carinho que surja nesse sentido, me emociona certamente e ainda mais a se considerar que escrevo este trecho em 2021, ou seja, uma prova cabal de que a nossa banda marcou a vida de muitas pessoas, positivamente e mais do que isso, com uma longevidade afetiva impressionante.

Por outro lado, a morte de Rubens Gióia, sepultou definitivamente a ideia de um show reunião, por conseguinte, a possibilidade de uma continuidade com material novo, quiçá uma nova fase a ser escrita com material inédito e um novo álbum ao sabor do século XXI. 

Ficou em aberto a chance desse show anteriormente marcado para julho de 2020 ser efetuado, mas com a conotação de uma homenagem ao Rubens. Eu (Luiz) e Dinola conversamos sobre isso e o produtor do show, Gegê Guimarães também me abordou para falar a respeito. No entanto, eu ponderei que sim, aceitaria de bom grado realizar o espetáculo, mas talvez sem usar o nome "A Chave do Sol", exatamente por saber que esse nome calava fundo ao Rubens, por representar o seu sonho e talvez fosse inadequado usar o nome e sem a sua presença física no palco, mesmo que a intenção fosse exatamente lhe prestar um tributo póstumo.  

Bem, independente dessa especulação que surgiu após o seu falecimento, o fato extra foi que a pandemia piorou e assim chegamos ao final de 2021 ainda sem uma perspectiva concreta de que tal show tributo pudesse acontecer. Dessa forma, fecho este capítulo sem poder anunciar oficialmente esta continuidade de história autobiográfica de minha parte com essa banda e mesmo por que, há a possibilidade de que lancemos mais uma safra de discos bootlegs no futuro, pois eu tenho material para tal empreitada, a conter mais shows ao vivo do período de 1986 e 1987, principalmente.

Enfim, lastimo mais uma vez a perda do cofundador da nossa banda em 2021 e que efetivamente fez do seu sonho infantil nos anos sessenta, o mote para a criação do nome do grupo e que a posteriori, marcou a vida de muitos fãs, admiradores e colaboradores nossos, até os dias atuais de 2021, quando encerrei este texto.

Fica em aberto uma continuidade, outrossim, haja vista a possibilidade de um show tributo ao Rubens em algum momento pós-2022 e também sobre o lançamento de mais discos piratas com material raro da nossa produção nos anos 1980.

Portanto (possivelmente), continua...

2 comentários:

  1. Que texto lindo. Obrigada, Luiz! Bjs Martita

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    1. Que maravilha que tenha gostado! Fiquei feliz por sua visita ao meu Blog, atenção e carinho com esse elogio que só me incentiva a prosseguir!

      Grande abraço!

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