terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 217 - Por Luiz Domingues


Planejamos os shows de lançamento do EP com uma certa antecedência. Fechamos três dias no Teatro Lira Paulistana com esse intento, e desde o meio de agosto, praticamente, pensamos nesse lançamento, em vários detalhes. Mais comedida, mas com a mesma intenção dos shows de lançamento do compacto, em 1984, queríamos novamente um show com atrativos extra-musicais. 

Não que tivéssemos arrependimentos em relação às performances nonsense que fizéramos em 1984, mas desta feita, não desejávamos que tais intervenções ofuscassem a banda, e nessa altura, queríamos muito atrair a atenção para o "novo som" da banda e também para o nosso novo vocalista, que afinal de contas, entrara para a banda com essa missão em específico. Outro ponto em que pensamos, foi a ideia de conter um cenário. 

Esta obra acima, foi assinada por Beth Dinola e pertence a uma colecionadora particular de Roma, Itália.

Nesse sentido, encomendamos uma ideia a ser desenvolvida pela irmã do Zé Luiz, a Elizabeth Dinola. Como já narrei, a Beth Dinola era (é) artista plástica, e embora a sua especialidade fosse a arte em cerâmica, ela desenhava e pintava a usar técnicas as mais diversas, como grafite; óleo e aquarela, entre outras. Então, ela concebeu uma pintura que seria reproduzida no tecido, diretamente, mas com um efeito de sobreposição que proporcionaria uma profundidade muito bonita, quase sob um efeito de 3D, natural. A ideia que sugerimos para ela, foi uma síntese do que imaginávamos representar esse novo álbum, no tocante à sua temática contida nas letras das músicas. Evocávamos valores humanistas; falávamos de igualdade social; ética; espiritualidade via vida extraterrestre etc. Então, nesses termos, pensamos em uma representação humana, mas sem identidade específica, como a representar a humanidade como um todo, sob uma atitude contemplativa ou algo similar. 

Posto isso, a Beth mostrou-nos alguns esboços (rafs), e nesse sentido, em meio a tal material prévio, agradou-nos bastante a figura de um homem de costas, a mirar para o horizonte, no topo de uma montanha, e com raios de sol à sua vista. E para imprimir a profundidade, uma segunda camada recortada como o miolo de uma fechadura de porta, faria com que o espectador do show visse o homem a contemplar o panorama, pelo buraco da fechadura. Bem, é necessário esmiuçar a simbologia ? Acredito que não, mas cometerei a análise, assim mesmo : A chave do disco, seria a descoberta do sol, ou coisa que o valha, enfim. Aprovamos o "raf", e assim, posteriormente a Beth trabalhou forte na pintura sobre o tecido que continha uma dimensão grande, portanto, foram dias e dias de labuta em seu atelier.

O Zé Luiz e a sua costumeira habilidade manual incrível para qualquer tarefa de marcenaria & afins, tratou em fazer o recorte do tecido e idealizou todo o esquema com o qual ele seria instalado não somente no Teatro Lira Paulistana, mas como em qualquer outro teatro, doravante. Foi óbvio que tencionávamos usar o cenário durante a turnê inteira do EP, e até o advento de um eventual novo disco, quando providenciaríamos um novo cenário, por conseguinte. Testes de armação foram efetuados pelo Zé Luiz, com a ajuda de sua irmã, Beth Dinola e minha, no atelier e realmente havia ficado lindo. A ideia da sobreposição ficou fantástica, e mais uma vez o Zé Luiz trouxe-nos o seu talento extra-musical para abrilhantar a banda em outros aspectos. 

E no quesito das performances, de novo contamos com a colaboração do poeta, Julio Revoredo; como performer; redator; e consultor, naturalmente. Contaríamos também com aqueles amigos e agregados da banda, que auxiliaram-nos em 1984. Criamos no "brainstorm", algumas loucuras, mas não tão nonsense como as de 1984. Contudo, antes de falar sobre os shows, tivemos um compromisso anterior a ser cumprido, e curiosamente, no mesmo local, o Teatro Lira Paulistana...

Continua... 

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