quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 234 - Por Luiz Domingues


Outro fator muito desanimador, como se não houvessem vários naquele evento, foi a baixíssima presença de público. Sinal claro que a divulgação também falhara, pois se havia cartazetes e filipetas, a pergunta foi : quantos foram feitos na gráfica, e sobretudo, o que foi efetivamente para as ruas ? Ao olhar para o ginásio vazio, com apenas oitenta pessoas espalhadas pelas arquibancadas e pista, onde caberiam três mil ou mais, realmente foi desalentador.

Ainda mais ao observar as bandas a apresentar-se naquele palco todo improvisado, e sob uma iluminação vergonhosa, que certos festivais colegiais costumam ter bem mais estruturada. No camarim (que também foi para lá de improvisado, por tratar-se de vestiário de times de basquete; vôlei; futsal e afins), a piada da noite entre os membros das bandas, deu conta de que havia mais músicos ali, do que público para assistir-nos. O tal "empresário" e os seus asseclas estavam ainda mais tensos, naturalmente a sentir a iminência do prejuízo, mas o que poderia ser feito, se tudo fora obra deles mesmos ? 

Enfim, a cada banda que subiu ao palco, ficou nítido o desânimo, e uns incentivavam os outros com aqueles comentários típicos para esse tipo de situação, ou seja, a situação estava feia mesmo, e só restou-nos nessas circunstâncias, a dignidade para fazermos o melhor possível pelo público que dignou-se a comparecer, e pagar por um lixo de produção daquele nível. Fomos um dos últimos a apresentar-nos. O combinado inicial fora um tempo em torno de quarenta minutos para cada banda, mas todas, de comum acordo, abreviaram os seus respectivos sets, para visar minimizar o sofrimento generalizado, até do público, que realmente estava a receber um produto deteriorado com aquelas condições de áudio e luz, de baixo nível. O nosso show foi de choque, como o combinado. Tocamos as músicas : "Ufos"; "Segredos"; "Anjo Rebelde"; "Um Minuto Além", e "Luz".

O Beto cantou as músicas com toda a sua boa vontade, mas o equipamento não auxiliava de forma alguma. Tentamos tocar mais baixo do que o confortável para nós no palco, mas a reverberação advinda em um ambiente de ginásio de esportes foi enorme (como foi esperado), e tornou assim, a emissão sonora produzida pela banda, como uma maçaroca inevitável (e lastimável...). Por incrível que pareça, a reação do público foi calorosa, apesar do horror sonoro que ouviam naquelas condições. Acho que reconheceram o nosso esforço, ao tocarmos com uma performance normal, como se tudo estivesse às mil maravilhas. Encerrada a noite de terror, voltamos para São Paulo em profundo silêncio naquele ônibus, pois definitivamente, não seria aconselhável exercer qualquer tipo de comentário, e fomentar a irritabilidade daqueles indivíduos, ainda mais depois de um dia marcado por tantas adversidades. Chegamos em São Paulo no meio da madrugada, e as despedidas foram discretíssimas, pois aquilo pareceu um barril de pólvora prestes a explodir... para não dizer que tudo fora um desastre, contabilizamos a oportunidade do Beto quebrar o gelo com a banda.

E como curiosidade, o fato em termos dado um passeio pelo estádio da Vila Belmiro, o que foi prazeroso, é claro. Além de termos visto e cumprimentado um grupo de ex-jogadores do Santos F.C., que jogavam uma partida de pôquer, animadamente, com o ator, Nuno Leal Maia, entre eles. Quanto ao cachet... ora, seria pedir demais que o tal empresário honrasse o tal contrato, não é ? E já que fomos obrigados a regularizar a nossa situação com a Ordem dos Músicos, levamos o contrato desonrado para o corpo jurídico da Ordem, que teoricamente existia para proteger-nos de contratantes pilantras. Bem, isso ocorreu em novembro de 1985... estou a escrever essa história em novembro de 2013 (refiro-me ao momento em que escrevi este trecho), e até agora o caso não foi resolvido... 

No dia seguinte, teríamos enfim um show dignamente produzido, e o Beto faria de fato a sua estreia em nossa banda, decentemente...


Continua... 

2 comentários:

  1. mais uma bela Historia da queruda Chave Do Sol.Quem ama e gosta da Musica , no seu caso e da banda amantes do bom e velho Rock, sabe que no meio sempre tem acontecimentos desagradaveis.Como esse que a banda pelo conseguiram instrumentos emprestados e houve o som para quem pagou , fruto desse amor pela M|usica que continua nao só com voces mas com a maiorias dos nossos Guerreiros do Rcok.um abraço e tamos aqui do outro lado acompanhando sempre .

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    1. Grande Oscar !

      Sim, é verdade...se não fosse o amigo Zhema trazer um reforço de equipamento, o som teria ainda pior do que foi...

      Essa aventura em Santos foi bem desagradável sob o ponto de vista da produção, sem contar que o pilantra não honrou o contrato, mas isso era previsível...

      Grato por estar acompanhando !

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