quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 119 - Por Luiz Domingues

Eis que mais uma vez um bom convite surgiu para apresentássemo-nos em uma feira popular de rua, ao ar livre, desta feita em um Festival chamado: "Lapa Rock and Roll". 

Marcado para ocorrer muito próximo de um shopping center popular, no coração do simpático bairro da Lapa, na zona oeste de São Paulo, foi óbvio que ficamos honrados com o convite e naturalmente que o aceitamos de pronto.

Para quem não conhece esse bairro super populoso de São Paulo, deixo a informação que ele é tão grande sob o ponto de vista territorial, que é dividido em três grandes quadrantes, chamados como: Lapa, Lapa de Baixo e Alto da Lapa. 

A Lapa de Baixo é uma parte onde existe uma enorme quantidade de galpões industriais, a Lapa, é o coração do bairro com o seu comércio popular e diversos quadrantes residenciais e o Alto da Lapa é uma parte mais requintada, com um panorama residencial de alto padrão. 

Isso sem contar a grande quantidade de subdistritos, ou seja, micro-bairros que estão inseridos no contexto da Lapa, como a Vila Ipojuca, Vila Romana, Vila Anglo-Brasileira etc. 

Em suma, trata-se de um bairro muito tradicional, dividido em quadrantes bem diferentes uns dos outros, e assim foi uma honra estarmos inseridos com outros artistas em um festival bem no centro do bairro, em uma parte bem popular, próximo à estação de trem que serve o bairro e o centro comercial mais popular.

A banda perfilada atrás do palco, em meio a um dos muitos grafites que ornam as paredes da viela onde o evento transcorreu. Da esquerda para a direita: Phill Rendeiro, Carlinhos Machado, Kim Kehl, eu (Luiz Domingues) e Nelson Ferraresso. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Bem, assim que eu cheguei ao local, a se revelar como uma viela para pedestres (viela Ema Angelo Murari), local em que geralmente passam por ali tais transeuntes apressados para chegarem à estação de trem ou ao terminal de ônibus do bairro, notei que seria muito interessante tocar em um beco estreito e todo grafitado, como um ambiente muito rústico, porém a conter o seu charme urbano.

O beco onde o evento ocorreu, em foto clicada na parte da manhã, quando da montagem do palco e das barracas. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Click, acervo e cortesia: Geraldo "GG" Guimarães

Já haviam bandas a se apresentarem e algumas já haviam encerrado as suas respectivas participações, mas os seus componentes circulavam atrás do palco. Caso do pessoal da banda, "Matilha", que eu não conhecia, mas a julgar pela extrema juventude de seus componentes e também da sua entourage que os acompanhava, e sobretudo pelo estilo da sua indumentária, logo deduzi que tais rapazes praticavam o Hard-Rock ao estilo oitentista, como estética adotada como meta artística para tal banda. 

Nesse ínterim, muitos amigos e companheiros que tocam em outras bandas estiveram presentes e claro que foi um prazer estar com eles mais uma vez, nos momentos em que ali estivemos a aguardar o momento da nossa apresentação. Deu para assistirmos o show do grupo, "Marquês", que é na verdade a representação do seu próprio vocalista, que também foi o mestre de cerimônia do evento. Gostei da sonoridade Pop-Rock, bem tocada, com músicos competentes em sua formação. Após a apresentação do bom grupo, "Pompeia 72", eis que chegou a nossa vez. 

A banda em ação! Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap 

Com a presença do nosso grande tecladista, Nelson Ferraresso em seu posto, fizemos um show muito animado e com resposta excelente do público ali presente. Tocamos um set list autoral e apesar do som estar muito prejudicado pela má qualidade do equipamento, levamos adiante o show com resignação. 

É bem verdade que os instrumentistas das cordas, eu (Luiz Domingues), Kim Kehl e Phill Rendeiro, fomos os que mais sofremos nessa tarde, por conta de amplificadores muito ruins ali disponibilizados pela equipe terceirizada. O aparelho usado pelo Kim, estava um horror, ao ponto de falhar muitas vezes e no meu caso, foi pior ainda, pois simplesmente, quando eu fui plugar o meu instrumento, o técnico responsável avisou-me que o aparelho ali presente havia sido inutilizado por falha técnica. 

Conclusão: tive que tocar na "linha" (diretamente ligado na mesa de mixagem do PA) e quem é músico, sabe muito bem o quanto esse dispositivo é desagradável. Além de todo o incômodo que esse tipo de disposição causa em termos de timbragem do instrumento, eu ainda tive que lutar contra o fato de que o monitor estava péssimo, portanto, além de um timbre horroroso ali disponibilizado a esmo, eu nem conseguia ouvir-me a contento. 

Enfim, o lado bom de envelhecer é poder criar um grau de resiliência bem significativo, pois talvez em uma outra época passada, esse fator tão adverso houvesse perturbado a minha concentração e ânimo para apresentar-me, no entanto, nesta altura da carreira e da vida, à beira da idade sexagenária, apenas toquei e sorri, sem irritar-me e assim apenas a preocupar-me em não frustrar a plateia, que em via de regra, nem suspeita da dificuldade que enfrentamos pela estrutura não estar boa. Paciência, o show tem que continuar, com o perdão pelo clichê exaustivamente usado.

Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Fotos 1 e 2 - Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap. Foto 3: Click, acervo e cortesia: Carlinha Manho 

E assim levamos adiante e nesses termos, em meu (nosso) entendimento, foi um ótimo show, a reverberar a reação efusiva da plateia e novamente usarei um clichê ao afirmar: é o que realmente importa no cômputo geral, não é mesmo?

Na primeira foto, Nelson Ferraresso no primeiro plano, com a minha presença (Luiz Domingues) e Carlinhos Machado, na retaguarda. Na foto 2, Kim Kehl em destaque, com Phill Rendeiro ao seu lado. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Clicks: Lara Pap 

Já estava escuro quando encerramos a nossa participação e mais um dado precisa ser mencionado. Por ter sido realizado em uma viela que é tradicional ponto de passagem de pedestres, há décadas, é claro que pessoas alheias ao festival por ali trafegaram durante o tempo todo, a cumprir a sua rotina em ir e vir para a estação de trem e terminal de ônibus. 

Pois eu digo que foi engraçado testemunhar muitas reações da parte de pessoas completamente estranhas ao mundo do Rock, ao entrarem na viela e depararem-se com um palco a conter bandas de Rock a tocar e além disso, pela enorme quantidade de cabeludos, desde veteranos como nós, até uma garotada mais jovem, caso da banda que citei no início, e estes com figurino bem específico e igualmente pela observação do uso de maquiagem bem forte e característica, ou seja, para as pessoas comuns, deve ter sido um choque tal visão e vou além, pois vimos várias a demonstrarem até um certo temor em fazer uso do seu caminho tradicional, com tanta gente "esquisita" aos seus padrões, ali concentrada. 

Daí, foi possível imaginar que tipo de raciocínio elucubraram, inclusive ao alimentar o temor pela sua própria integridade física. Um amigo brincou conosco e despertou muitas gargalhadas, ao refletir que para um sujeito desavisado que apenas dobrou a esquina e pensara em atravessar a viela como todo dia em sua rotina e foi surpreendido pela situação ali completamente inusitada ao seu padrão, este só pode ter imaginado em ter entrado em um filme de terror. 

É claro, imediatamente outras piadas foram agregadas como a sugerir-se uma outra dimensão de um mundo bizarro, ao estilo das histórias do Superman da DC Comics, um episódio do seriado de TV "The Twilight Zone", um planeta visitado pela nave Enterprise do seriado Star Trek, portais para mundos espirituais e por aí foi a pilhéria elucubrada com muito bom humor, naturalmente.

A banda em tomada panorâmica, com a perspectiva do público. Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Acervo e cortesia: Kim Kehl. Click: Lara Pap 

Tarde muito agradável entre amigos, com equipamento ruim, mas com forte poder de reação da nossa banda ante a adversidade, como resultado final, saímos contentes dali. Dia 9 de novembro de 2019, no famoso beco da Lapa, a cumprir mais uma jornada heroica com Os Kurandeiros. 

A próxima atividade da banda esteve marcada para o final desse mesmo mês, com uma volta ao Santa Sede Rock Bar, casa tradicional em nossa trajetória, mas que fazia tempo em que não a visitávamos.

Um compacto com três músicas da apresentação de Kim Kehl & Os Kurandeiros no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Filmagem: Ana Amb

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_PD93iCjRJQ

"Anjo" (Kim Kehl), ao vivo no Festival "Lapa Rock and Roll", no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, em 9 de novembro de 2019. Filmagem: Ana Amb

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=iKqVBpd3ZT0

Continua...

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